terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Na Nigéria, Dilma defende ordem internacional mais democrática e justa



Ao lado do presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, Dilma Rousseff cumprimenta autoridades. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta Dilma Rousseff voltou a defender neste sábado (23), em Abuja, na Nigéria, a participação do Brasil e de um representante da África como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Durante brinde em almoço oferecido pelo presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, Dilma pediu uma ordem internacional mais democrática e justa.
 “Convergimos na aspiração de tornar a ordem internacional mais democrática e justa. As instituições de governança global não podem ignorar a crescente importância da África e da América do Sul. E isso deve estar expresso numa das principais instituições, que é o Conselho de Segurança da ONU. Temos buscado também, senhoras e senhores, atuar em sintonia com as organizações africanas. Apreciamos o papel da Nigéria, da União Africana na manutenção da paz e da estabilidade regional”, afirmou.
Dilma afirmou que o governo brasileiro vai trabalhar séria e determinadamente para tornar cada vez mais equilibradas e produtivas as relações de comércio com a Nigéria e que vai somar esforços em projetos de infraestrutura, buscando maior participação de empresas brasileiras na Nigéria e construindo formas de financiamento mais adequadas.
Durante o brinde, Dilma parabenizou a seleção da Nigéria pela conquista da Copa da África, e consequentemente, de uma vaga na Copa das Confederações, que será realizada em junho no Brasil. A presidenta citou ainda o Festival da Cultura Negra que será realizado em outubro, em Lagos, como forma de celebração das múltiplas afinidades entre Brasil e Nigéria.
 “Caro presidente e amigo Jonathan, quero aproveitar esta oportunidade para congratulá-lo e ao povo nigeriano pela recente conquista da Seleção Nigeriana de Futebol este ano da Copa Africana de Nações. Asseguro que sua seleção será muito bem recebida no Brasil, em junho, para a Copa das Confederações. Tenho certeza que o presidente Goodluck Jonathan e eu assistiremos juntos a final Brasil e Nigéria no Maracanã”, disse.

Governo federal anuncia cumprimento do cronograma do PAC 2



A segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento chega à metade de seu período de execução com 47,8% da previsão investidos.

Por: Agência Brasil

Equipe do governo federal que apresentou balanço dos dois primeiros anos do PAC 2, no Itamaraty, em Brasília (Elza Fiúza/ABr)

Brasília – O Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2) já investiu 47,8% do total previsto para o período 2011- 2014. O valor corresponde a R$ 472,4 bilhões dos cerca de R$ 1 trilhão planejados, valor 31% maior do que o registrado em 2011. É o que aponta o balanço de dois anos do programa, que foi divulgado hoje pelo governo federal, em cerimônia no Palácio Itamaraty.
No que se refere a empreendimentos concluídos, o programa já desembolsou R$ 328,2 bilhões, ou 46,4% do previsto para o período. Do total, 61% (R$ 201,2 bilhões) dos recursos foram aplicados em 2012, resultado que, segundo o governo federal, é 58,4% superior ao montante de 2011 (R$ 127 bilhões).
 “Chegamos à metade do período do PAC 2 com praticamente metade das ações concluídas, e há ainda muitas obras em planejamento, licienciamento ou licitação”, disse a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, ao classificar como “bons” os índices apresentados.
Pagamentos e empenhos feitos com recursos do Orçamento Geral da União até o final do ano passado representam R$ 39,3 bilhões, uma elevação de 40% se comparado ao volume do mesmo período de 2011. No que se refere a valores empenhados, o aumento registrado, na comparação entre 2011 e 2012, chega a 52%, passando de R$ 35,4 bilhões para R$ 53,8 bilhões.
Transporte
Em dois anos de execução da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), foram investidos R$ 27,7 bilhões em obras de transporte em todo o país. De acordo com balanço do programa, divulgado hoje (22) pelo governo, foram concluídas obras em 1.479 quilômetros (km) de rodovias e há intervenções em mais 8 mil quilômetros.
Em relação às obras em andamento, 2.721 km são de duplicação e adequação de rodovias. Mais 5.279 km estão sendo construídos e pavimentados. Segundo o Ministério do Planejamento, há obras de manutenção para garantir boa qualidade das vias e segurança aos usuários em 53.381 km.
O diretor de Rodovias e Ferrovias do PAC 2, Marcelo Bruto, disse que a ampliação do Regime Diferenciado de Contratação (RDC) tem dado “maior agilidade e reduzido a burocracia nas licitações”. Em relação ao setor aeroviário, o superintendente de Licitação e Contratos da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), José Antônio Pessoa Neto, disse que, nos 34 processos licitatórios feitos pela estatal por meio do RDC, foram economizados R$ 223 milhões, cerca de 11% dos valores estimados.
O PAC 2 concluiu obras em 15 aeroportos. Entre elas estão as ampliações dos aeroportos de Cuiabá, Goiânia, Guarulhos, Porto Alegre e Vitória, que, segundo o governo, aumentaram sua capacidade em 14 milhões de passageiros por ano. Dezenove intervenções para reforma e ampliação de terminais de passageiros estão em andamento em outros aeroportos, como os de Florianópolis, Fortaleza, Foz do Iguaçu, Manaus e Salvador. O balanço lista também como resultado do PAC 2 as concessões dos aeroportos de São Gonçalo do Amarante (RN), Guarulhos (SP), Campinas (SP) e Brasília, que devem gerar investimentos de pelo menos R$ 16,8 bilhões
Saneamento
Mais de 60% das obras de saneamento básico contratadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2) já foram executadas. A previsão do governo é gastar R$ 24,8 bilhões em mais de 3,4 mil empreendimentos que vão beneficiar quase 8 milhões de famílias no país quando as obras estiverem totalmente concluídas.

Os investimentos do PAC ainda preveem a conclusão de 494 obras de drenagem e 151 projetos de contenção de encostas dentro do pacote de prevenção em áreas de risco. Os empreendimentos começaram a ser selecionados em 2007.
Moradia
Mais de 3,5 milhões de brasileiros receberam a chave da casa própria em 2012 na segunda fase do Programa Minha Casa, Minha Vida. No período, o programa concluiu a entrega de 1 milhão de unidades habitacionais – o que corresponde a 46% das moradias contratadas na segunda fase.
A previsão é que, até 2014, mais 1,1 milhão de novas moradias sejam contratadas. Os dados estão no 6° balanço do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC-2), divulgado hoje (22) pelo governo federal.
Ainda dentro do eixo Minha Casa, Minha Vida, na área de urbanização de assentamentos precários, foram concluídos 1.028 empreendimentos e contratados mais 478. Esses empreendimentos totalizaram investimentos de R$ 8,9 bilhões chegando a 872 mil famílias de 381 municípios.

PAC 2 já investiu quase 50% do previsto para o quadriênio 2011-2014



Do Blog do Zé Dirceu

Um avanço e tanto, muito bom, o fato de o PAC 2 já ter investido até agora 47,8% do total previsto para o período 2011- 2014, conforme o 6º balanço do programa divulgado nesta sexta-feira pelo governo. O valor investido já corresponde a R$ 472,4 bi do R$ 1 trilhão planejado para o quadriênio. E é superior em 31% ao investido no programa em 2011.
Para a quitação de pagamento das obras concluídas, o PAC 2 já desembolsou R$ 328,2 bi, ou 46,4% do previsto para o período. Deste total, 61% (R$ 201,2 bi) dos recursos foram aplicados em 2012, resultado que, segundo o governo federal, é 58,4% superior ao montante de 2011 (R$ 127 bi). “Chegamos à metade do período do PAC 2 com praticamente metade das ações concluídas, e há ainda muitas obras em planejamento, licienciamento ou licitação”, disse a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior.
O balanço do governo informa que desse total de R$ 472,4 bi já investidos nos dois últimos anos, R$ 151,6 bi (32,1%) correspondem a financiamento habitacional. Apenas o programa Minha Casa, Minha Vida recebeu R$ 36,3 bi do total realizado nesta segunda etapa do PAC 2. Já as empresas estatais, entre elas a Petrobras, executaram R$ 128,9 bi (27,29%). De acordo com o balanço, o setor privado foi responsável por outros R$ 98,9 bi do total realizado no PAC 2. As ações financiadas pelo Orçamento da União somam R$ 48,4 bi.
O Ministério do Planejamento divulgou o resultado de seu monitoramento das ações apenas sobre os setores de transportes, energia, mobilidade urbana, o programa Luz para Todos e recursos hídricos. Segundo o ministério, 29% das obras desses setores foram concluídas até dezembro de 2012. Outros 58% estão com o andamento considerado adequado. Se consideradas as obras em relação aos seus valores, 21% estão prontas e 72% têm andamento adequado.

Lula discursa no ato de Comemoração pelos 10 anos


Lula comemora “momento histórico para a história dos partidos populares” em SP



Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

"A palavra impossível é apenas para os fracos, para aqueles que não têm projeto", disse o ex-presidente em evento no Anhembi
O ex-presidente Lula, dona Marisa e a presidenta Dilma dividiram o palco com o presidente do PT, Rui Falcão, presidentes de partidos aliados, governadores e prefeitos na noite desta quarta-feira (20), no Anhembi, em São Paulo. O encontro marcou o início das comemorações de 10 anos de governo democrático e popular e foi realizado pelo Partido dos Trabalhadores, pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.
A primeira parte do evento foi dedicada às saudações dos presidentes dos partidos aliados. Eles ressaltaram a satisfação de fazer parte do projeto que governou o Brasil nos últimos dez anos. “Estamos comemorando um novo país”, afirmou Roberto Amaral, presidente do PSB. Alfredo Nascimento, presidente do PR, relembrou o papel importante que o vice-presidente José Alencar teve durante todo o governo do ex-presidente Lula.
O prefeito Fernando Haddad e o presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann fecharam a rodada de falas. “Nunca imaginei que fosse uma mulher que fosse enquadrar o sistema financeiro internacional”, ressaltou Fernando Haddad, falando das realizações dos dez anos de governo. Pochmann destacou que os avanços desse período serão debatidos em seminários por Brasil. O primeiro acontecerá em Fortaleza, no próximo dia 28.
Depois da exibição de um pequeno vídeo sobre as realizações do último decênio, a cerimônia continuou com as falas do presidente do PT, Rui Falcão, do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma.
Rui Falcão destacou a importância da democracia em todo avanço que foi alcançado e lembrou que o que antes era visto como problema, tornou-se oportunidade. “Lula e Dilma provaram que aquilo que era considerado estorvo era na verdade força e impulso para crescer”. O presidente do PT também falou do problema do financiamento privado das campanhas, que caracteriza como insustentável. Ele ainda classificou como inadiável o alargamento da liberdade de expressão e da liberdade dos meios de comunicação.
 “A palavra impossível é apenas para os fracos, para aqueles que não têm projeto”, começou o ex-presidente Lula. Ele destacou que a comemoração de hoje é um importante momento não apenas para o PT, mas para a história dos partidos populares e para a história do país. Lula destacou que muitos preconceitos precisaram ser vencidos para chegar até aqui.
Lula enfatizou ainda que o combate à corrupção é um tema do PT. “Nós aceitamos comparação, nós não temos medo da comparação. Inclusive a comparação no combate à corrupção (…) Eu duvido que tenha, na história do país, um governo que criou mais instrumentos e mais transparência para combater a corrupção do que o nosso”.
A presidenta Dilma terminou o evento ressaltando as marcas dos últimos dez anos: “É a década da esperança, do otimismo, da reconstrução nacional, da nossa autoestima, do despertar da força do nosso povo”. Ela destacou o papel de Lula como liderança do que classificou como “milhões de construtores que a última década teve”.
 “Conquistamos a menor taxa de desemprego da história e 19 milhões de brasileiros conquistaram emprego com carteira assinada”, comemorou a presidenta. Dilma lembrou ainda a importância da sinfonia de opiniões que a democracia proporciona. Ressaltou, contudo, que não pode deixar de reagir àqueles que caracterizam os avanços do governo como “mero jogo estatístico” ou que insistem em exaltar o que falta fazer, sem mostrar o que foi feito. Ela defendeu ainda a reforma política e o uso dos royalties do petróleo para a educação.
Estiveram presentes ao evento os presidentes da base aliada do governo federal: Alfredo Nascimento (PR), Carlos Lupi (PDT), Gilberto Kassab (PSD), Renato Rabelo (PC do B), Valdir Raupp (PMDB), Roberto Amaral (PSB), Daniel Tourinho (PTC), Eduardo Lopes (PRB) e Robson Amaral (PTN), assim como o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto. Ministros de estados, governadores e prefeitos também estiveram presentes.

A caravana do repórter Lula



Viagem ao 'Brasil real', como foi chamada a primeira Caravana da Cidadania, lembra transformações que o país viveu principalmente na última década.

Por: Vitor Nuzzi

Lula cumprimenta pessoas durante passagem da Caravana da Cidadania na cidade de Medina, interior de Minas Gerais (Foto: Protasio Nene/Agência Estado)

Um anúncio feito no final de 2012 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que iria “voltar a andar pelo país”, atiçou obviamente a imprensa e a oposição, que começaram a falar sobre o incerto. E trouxe à lembrança as peripécias da Caravana da Cidadania, cuja primeira edição completará 20 anos no próximo mês de abril – haveria uma segunda em setembro e outras nos anos seguintes, pelo Norte e pelo Sul, totalizando mais de 500 cidades. Lula descarta relação entre aquela caravana e as viagens que pretende fazer neste ano. Mas tanto naquele momento como agora há os comentaristas habituais identificando supostas intenções – e, de olho em 2014, tentando atingir o legado do ex-presidente.
Durante 20 dias, de 23 de abril a 12 de maio de 1993, a trupe liderada por Lula percorreu 4.500 quilômetros, visitando quase 60 cidades em sete estados, mostrando um país pouco visto, pouco falado e muito maltratado. Não foi uma visita pelas capitais ou pela orla brasileira, mas pelos chamados grotões, lugares distantes do noticiário e da ação do Estado. Como cantou Milton Nascimento, “ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil, não vai fazer desse lugar um bom país”..
Além de andar por onde ninguém queria ir, Lula inovou: em vez de discursar, ele entrevistava as pessoas, perguntava como elas viviam ali. Colecionou histórias dramáticas e alguns relatos pessoais, como o de uma senhora que revelou estar insatisfeita com o marido, que bebia muito. Deu bronca em um outro que contou, aos 41 anos, ter 12 filhos. E conversou com um senhor que a princípio ficou nervoso diante do “alto-falante” – como ele chamava o microfone –, mas depois não queria largá-lo. E disse a Lula: “O senhor me desculpe, mas nunca peguei no alto-falante, e agora eu vou falar!”
O projeto original das caravanas é de 1989, mas saiu do papel apenas em 1993. O objetivo, segundo seus idealizadores: levar Lula ao encontro do Brasil real. O jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de imprensa de Lula, contaria depois que mesmo internamente, no PT, houve resistência. Alguns disseram, com certa dose de razão: “Cidadania? O povo desses lugares por onde vocês vão passar nem sabe o que é isso”. 
Combate à fome
O Brasil de 1993 tinha acabado de derrubar o presidente Fernando Collor de Mello, substituído pelo vice Itamar Franco. Idealizador do chamado governo paralelo, Lula apresentou a Itamar um plano de combate à fome. Apenas dois dias depois do fim da caravana, em 14 de maio, o governo lançou o Conselho Nacional de Segurança Alimentar, tendo à frente o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e o bispo dom Mauro Morelli, da diocese de Duque de Caxias (RJ). Nos milhares de quilômetros percorridos pela trupe, não faltaram exemplos de que a pobreza deveria ser uma questão prioritária para qualquer governante. E a avaliação corrente é de que muito do que se aplicaria posteriormente, já no governo Lula, começou a ser esboçado naquela viagem.
Passaram-se 20 anos, com dois períodos bem distintos: a primeira metade teve como grande marco a estabilização da moeda, enquanto a segunda iniciou um processo gradual de redução da pobreza. Dos últimos dez anos, oito tiveram o próprio Lula como presidente, que fez sua sucessora, Dilma Rousseff. Ainda que continue sendo um país muito desigual, nesse período o Brasil tirou milhões de pessoas da linha da pobreza, estabeleceu novos padrões de consumo e reverteu a tendência de informalização do mercado de trabalho. Se a comparação for com 1993, o número de empregos formais no país mais que dobrou.
‘Cutucar o diabo’
Dois dias depois do plebiscito nacional sobre forma (república ou monarquia) e sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo), em 23 de abril de 1993 Lula desembarcou em Recife e fez uma declaração que de certa forma antecipou uma preocupação que se tornaria marca de seu governo: “Quero colocar os famintos do país no cenário político. A fome deve ser assumida não só pelo governo, mas pelos que comem”. Sobre a caravana, manifestou incerteza. “Não sei o que vamos encontrar. O que sei é que vamos cutucar esse diabo com vara curta.”
O trajeto iria reconstituir a trajetória do próprio Lula, que em 1952, aos 7 anos, saiu de Garanhuns com a mãe e sete irmãos, rumo a São Paulo. Durante 20 dias, dois ônibus – um com Lula e convidados, outro com jornalistas – percorreriam dezenas de municípios do Nordeste e do Sudeste, cortando estradas de terra que cruzavam localidades quase esquecidas, distantes do “desenvolvimento” e com dificuldades de comunicação – ainda não existiam celular nem internet, o que muitas vezes causava aflição. Em certo local da Bahia, por exemplo, Kotscho chegou ávido à recepção de um hotel perguntando se ali havia jornais. A resposta foi singela: “Tem, mas é de outros dias”.
Em 12 daqueles 20 dias, a caravana percorreu quatro estados do Nordeste, “a região semiárida mais povoada do mundo”, como lembrou o geógrafo Aziz Ab’Saber, um estimulador da viagem pelo Brasil e que morreu em março de 2012. Percorreria ainda a região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, uma das mais pobres do país, Rio de Janeiro e São Paulo.
Uma das primeiras paradas no Brasil real foi em um acampamento no Sítio Poço Doce, em São Bento do Una, agreste pernambucano. Ali ficavam 25 famílias, tentando sobreviver, acordando de madrugada para andar seis quilômetros atrás de água. “Toda a produção que existe nesta terra é nossa. Esta área é totalmente abandonada, menos o roçado que a gente fez. A única vez que ele (proprietário) apareceu aqui foi para nos intimidar”, relatou o representante do acampamento, José Maria da Silva. Para aquelas pessoas, não era incomum se alimentar de um peixinho chamado chupa-pedra. “É a descoberta de sobreviver por meio do que sobrevive na lama”, observou o professor Aziz, conforme anotou o jornalista e escritor Zuenir Ventura, que também andou uns dias por lá.
No meio da conversa, um violão chega às mãos de Hilton Acioli – autor, em 1989, do jingle “Lula lá” e integrante do Trio Marayá, nos anos 1960. E ele canta a música-tema da caravana, Clareia:
 “Duvido que um homem queira tudo/
Quando tem quem não tem nada/
Desde que nasceu”.
Coordenador da caravana, Francisco Rocha da Silva, o Rochinha, lembrou em entrevista à TVT que o objetivo era “ouvir o que as pessoas pensavam”. Ele chefiou a equipe que andou antes para mapear os locais. A viagem foi bem planejada, mas todo roteiro acaba tendo seus desvios. Em muitos lugares, a população bloqueava a estrada e fazia com que os ônibus desviassem para este ou aquele lugar. “Na grande maioria dos casos, a gente tinha de sair da trajetória”, disse Rochinha.
Faroeste sertanejo
O marco da caravana de 1993 foi, certamente, a passagem pela cidade de Canapi, no sertão de Alagoas. Local emblemático, por ser a terra natal da família Malta, de Rosane Collor, primeira-dama até o ano anterior. Lugar de pistoleiros e de um certo faroeste. Em 1991, um dos irmãos de Rosane havia atirado contra o prefeito, e o bar onde a história aconteceu quase virou atração turística. Em agosto de 1992, Ricardo e seu irmão Ronaldo Kotscho, fotógrafo, foram a Canapi, a trabalho, e acabaram expulsos por um segurança dos Malta.
 “Era uma temeridade (ir a Canapi). Até eu dei um passo atrás. Mas o presidente Lula deixou muito claro que era uma das cidades em que ele fazia questão de passar”, recordou Rochinha. Passou, foi recebido por uma multidão, andou pelas ruas e nada anormal aconteceu. Susto, com a visão do Centro Integrado de Atendimento à Criança (Ciac), uma obra luxuosa no meio da pobreza e sem funcionar – batizada por Zuenir Ventura como um “monumento à insensatez”. Ele descreveria assim o Ciac: “Construído num descampado, o visitante se aproxima dele – ou ele do visitante, não se sabe bem – como se fosse uma miragem, uma ilusão de ótica provocada pela inclemência do sol”.
Atual secretário de Direitos Humanos do município de São Paulo, Rogério Sottili acompanhou o grupo que percorreu o país antes de Lula para mapear cada local, fazer contatos e identificar possíveis problemas. Ele lembra que a recomendação foi para não passar por Canapi. “Ninguém falou com a gente. Todo mundo andava armado”, recorda Sottili, que na época trabalhava na Secretaria Agrária do PT.
 Em sua primeira fase, o grupo precursor era formado por Sottili, a jornalista Cyntia Campos e três seguranças, também responsáveis pela logística. O diagnóstico era feito com movimentos sociais, sindicatos, associações, igrejas e, quando possível, prefeituras, além dos contatos com a imprensa local. As indicações que seriam usadas na caravana eram minuciosas – chegavam a apontar, por exemplo, que em determinado quilômetro de uma estrada havia um buraco. Em São Paulo, pessoas como Clara Ant e José Graziano preparavam relatórios detalhados com indicadores econômicos e sociais, entre outras informações. Clara é assessora de Lula até hoje. Graziano integraria o Programa Fome Zero, implementado no início do governo do petista, e em 2011 tornou-se o primeiro brasileiro a se tornar diretor-geral da FAO.
Achismo
Para José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Lula, a caravana representou um segundo retorno à terra de origem. Ele esteve lá no final de 1964, após cinco dias de viagem. Ficou 15, ganhou um jipe no bingo com um amigo, vendeu e, na volta a São Paulo, comprou sua primeira casa. Em 1993, constatou que muita coisa ainda não tinha mudado, com o poder local concentrado em determinadas famílias e regiões isoladas. Além disso, permanece o desconhecimento em relação à realidade do Norte/Nordeste. “Tem um monte de achismo”, diz Frei Chico.
A ignorância também se dá em relação aos fatos históricos. Ele cita casos como o de Delmiro Gouveia, empresário precursor assassinado em 1917 que hoje dá nome a uma cidade no sertão de Alagoas, na divisa com Bahia, Pernambuco e Sergipe. Ou sobre a cidade baiana de Cachoeira, pioneira na luta pela independência do Brasil.
Duas coisas, particularmente, impressionaram Frei Chico durante a viagem: a realidade dos trabalhadores do sisal, muitos deles mutilados, e a contaminação do Rio Jequitinhonha, em Minas Gerais, por mercúrio, usado na extração do ouro. “Acho que isso (preservação ambiental) é o grande drama brasileiro, a grande luta nossa no futuro”, afirma, acrescentando que é possível “crescer sem destruir”.
Ele também guardou boas lembranças, como uma disputa de sanfoneiros no interior da Bahia, que lamenta não ter visto até o fim. Do ponto de vista político, Frei Chico percebeu a necessidade de buscar união mesmo com aqueles com outros pontos de vista, para começar a mudar o país – e a situação melhorou bastante de lá para cá. Com certeza, observa, “a caravana ajudou muito o Lula a formar a sua visão de Brasil”. Sottili reforça: “Acima de tudo, ele queria mostrar o país”.