VALMIR PRASCIDELLI - Deputado
federal do PT São Paulo
Uma onda conservadora
vem assolando o Brasil nos últimos anos. A novidade é que esse fenômeno não é
exclusividade do Congresso Nacional e da grande mídia. Quem conversa com a
população percebe que o discurso de direita, intolerante e excludente, vem
ganhando mais adeptos a cada dia.
Vejam-se as
manifestações de racismo, machismo e homofobia que proliferam nas redes
sociais. Esse estado de espírito pôde ser aquilatado pela recente pesquisa do
DataFolha que mostrou que 87% da população são favoráveis à redução da
maioridade penal de 18 para 16 anos.
Tal situação
representa, para a esquerda em geral e o PT em particular, o maior desafio em
décadas. Nós lutamos contra a ditadura militar e depois, na chamada "Nova
República", no sentido de ampliar as conquistas dos trabalhadores e dos
movimentos sociais. No governo, o PT, herdou do PSDB uma herança trágica com
desemprego e inflação. A partir de políticas desenvolvimentistas reverteu a
situação econômica e e promoveu a maior inclusão social da nossa história.
Agora, o Brasil vive momentos difíceis devido à persistência da crise econômica
internacional. E foi nessa brecha que a direita se aproveitou para crescer.
Mas não podemos nos
contentar em acusar a direita com um discurso de vitimização. Para reverter
esse quadro desfavorável, temos de ter a coragem de assumir nossos erros. É
inegável que temos parte de responsabilidade por essa situação. Nos últimos
anos, nós do PT deixamos nos levar pela dinâmica dos embates eleitorais e
acabamos nos afastando das forças vivas da sociedade. Deixamos de fazer o
trabalho de base nos sindicatos, nos movimentos sociais e nos bairros. No plano
propriamente eleitoral, o PT disputou eleições de forma mais pragmática do que
programática, muitas vezes fazendo alianças com setores ultraconservadores
apenas para ganhar eleições. Ajudamos a repaginar várias lideranças que já
deveriam estar na lata de lixo da História.
Em segundo lugar, não soubemos
politizar as grandes conquistas sociais dos governos Lula e Dilma. O PT
promoveu a inclusão de 40 milhões de brasileiros com programas como o Bolsa
Família, o Minha Casa Minha Vida, Luz Para Todos, entre outros. Mas não
dialogou corretamente com esses setores. Não mostrou que essa transformação não
caiu do céu, mas foi fruto de uma concepção de sociedade e de Estado que
prioriza o desenvolvimento econômico com geração de emprego e distribuição de
renda, dando mais oportunidades aos cidadãos.
O resultado é que esses
setores ficaram vulneráveis à pregação conservadora que cresceu com o
acirramento da crise. Com isso, apesar de ganhar a eleição presidencial no ano
passado, o governo não conseguiu se organizar para o segundo mandato. Então,
temos hoje um governo fragilizado, um partido fragilizado e uma bancada
fragilizada.
Logicamente, a direita
se aproveitou disso e arreganhou os dentes. Saiu para as ruas pedindo
intervenção militar e impeachment. E colocou sua agenda no Congresso Nacional,
cuja bancada é a uma das mais conservadoras da história. Eles se uniram para
implementar políticas conservadoras, como por exemplo, a redução da maioridade
penal; a PEC da bengala; o PL 4.330, que é um retrocesso nas relações
trabalhistas; a revisão do Estatuto do Desarmamento e a questão do Pacto
Federativo, que está sendo discutido de forma absolutamente conservadora.
A bancada do PT na
Câmara está reagindo a essa ofensiva, tentando construir uma pauta propositiva
que traga a recuperação econômica do país, mas preservando e ampliando as
conquistas sociais. Uma das propostas nesse sentido é a retomada do projeto que
limita a jornada de trabalho em 40 horas semanais. A outra é a criação do
Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). Sabemos que hoje somente as 15 maiores fortunas
do país somam um patrimônio de US$ 120 bilhões. Um imposto de 1% ao ano
renderia US$ 1,2 bilhão aos cofres públicos. Outra proposta é a mudança no
Imposto sobre Heranças e Doações. No Brasil, a alíquota média de imposto sobre
herança é de 3,8% e o teto de 8%. Só para efeito de comparação, no Chile esse
teto é de 13%, na França de 32,5% e no Reino Unido 40%!
Para viabilizar essa
pauta e, mais, barrar o avanço da direita, é fundamental que o PT retome sua
ação junto aos movimentos sociais. Se a construção do PT superou o método
histórico e tradicional da esquerda radical, agora é a hora de superar o
imobilismo da agenda institucional que seduz os oportunistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário