domingo, 25 de novembro de 2012

Dilma discursa em Cerimônia alusiva ao Dia da Consciência Negra


Presidenta Dilma nomeia, para a Marinha, a primeira mulher oficial-general

Contra-almirante Dalva Maria. Foto: Divulgação/ Marinha

A presidenta Dilma Rousseff assinou nesta sexta-feira (23) a promoção da primeira mulher a ocupar a patente de oficial general da história das Forças Armadas. Dalva Maria Carvalho Mendes, oficial da Marinha, foi promovida do posto de capitão-de-mar e guerra (equivalente a coronel, no Exército), para o de contra-almirante (equivalente a general de duas estrelas).

A nova oficial-general receberá a platina correspondente a seu novo posto na próxima segunda-feira (26), em cerimônia no Rio de Janeiro, quando sairão publicadas no Diário Oficial da União as promoções dos novos oficiais graduados da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

Nascida no Rio de Janeiro, em março de 1956, Dalva ingressou na Marinha em 1981, na primeira turma do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha. A oficial trabalhou de 1981 até 2009 no Hospital Marcílio Dias, chegando ao cargo de vice-diretora.

Atualmente, ela exerce a função de diretora da Policlínica Naval Nossa Senhora da Glória. Dalva ainda possui o Título Superior de Anestesiologia pela Sociedade Brasileira de Anestesiologia, e as condecorações Ordem do Mérito Naval, Medalha Mérito Tamandaré e Medalha Militar com Passador de Ouro.

Participação feminina nas Forças Armadas

Desde 1980, quando foi iniciada a participação feminina na Marinha, diversos dispositivos legais ampliaram a atuação na Força. Hoje, chegam a 5.815 mulheres, que podem participar do Corpo de Engenheiros, do Corpo de Saúde, de Intendentes, dos Quadros Técnicos, Auxiliar da Armada do Corpo Auxiliar, do Corpo Auxiliar de Praças e do Quadro de Músicos do Corpo de Praças de Fuzileiros Navais.

No Exército, atuam hoje 6.700 mulheres. E a participação deve aumentar com a sanção pela presidenta Dilma Rousseff, em agosto deste ano, da Lei nº 12.705, que permite o ingresso de militares do sexo feminino na linha bélica do Exército.O ingresso acontece desde a década de 90, com profissionais das áreas de administração, saúde e engenharia. A Escola de Administração da Força, em Salvador (BA), formou em 1992 a primeira turma de oficiais. Quatro anos depois, foi instituído o Serviço Militar Feminino Voluntário para médicas, farmacêuticas, dentistas, veterinárias e enfermeiras que ampliou espaço para a atuação feminina. Em 1996, o Instituto Militar de Engenharia (IME) recebeu as primeiras mulheres no quadro de engenheiros militares.

A Aeronáutica comemora 30 anos do ingresso das primeiras mulheres na instituição, chegando a 9.927 hoje. A tenente-aviadora Carla Alexandre Borges se tornou, em 2011, a primeira aviadora a assumir o comando de uma aeronave de caça de primeira linha da Força Aérea, o modelo A-1 (AMX); e a tenente Juliana Barcellos Silva, da primeira turma de aviadoras da Academia da Força Aérea (AFA), foi a primeira a assumir a função de instrutora. O ingresso feminino no Quadro de Oficiais Intendentes foi autorizado em 1995, e, em 2003, a academia recebeu as primeiras mulheres para o Curso de Formação de Oficiais Aviadores.

Ampliar rede de atendimento às vítimas de violência doméstica é o atual desafio, diz ministra

A implementação da Lei Maria da Penha, que endureceu as penas para os agressores das mulheres, o principal desafio nas políticas de combate à violência doméstica é a ampliação da rede de atendimento às vítimas, que inclui delegacias especializadas, centros de referência, casas-abrigo, entre outros.

A avaliação é da ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM), Eleonora Menicucci. Segundo ela, o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher, comemorado hoje (25), é uma data para se reafirmar o enfrentamento do que chamou de “lamentável tragédia brasileira e mundial”.

“Acredito que [o principal desafio] é consolidar e expandir essa rede. As delegacias especializadas, por exemplo, somam 375, que é muito pouco para o tamanho do Brasil”, disse a ministra, acrescentando que, além de poucas, essas unidades são mal distribuídas no país. Somente o estado de São Paulo concentra um terço (125) de todas as delegacias especializadas de atendimento à mulher.

De acordo com dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres, há ainda 115 núcleos de atendimento; 207 centros de referência, que oferecem atenção social, psicológica e orientação jurídica às mulheres vítimas; 72 casas-abrigo, 51 juizados especializados em violência domiciliar e 47 varas adaptadas.

Eleonora Menicucci informou que, para expandir a rede, o governo está renovando um pacto com os estados, que prevê a implementação de medidas de proteção à mulher até 2016, como a criação de unidades de saúde para vítimas de violência sexual e ampliação do número de órgãos do Judiciário que atuam com o tema, a exemplo de juizados especiais. Das 27 unidades da Federação, já renovaram o pacto o Distrito Federal, Amazonas, Espírito Santo e a Paraíba.

Neste ano, a SPM investiu cerca de R$ 30 milhões no enfrentamento à violência doméstica contra a mulher.

A diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, uma organização não governamental que atua em projetos de defesa dos direitos da mulher, Jacira Vieira de Melo, acredita que sem o incremento da rede assistencial será impossível tirar do papel a Lei Maria da Penha.

“O Estado precisa dar respostas a essa situação. Nos municípios, por exemplo, não existe um programa de atendimento integrado às vítimas. As delegacias de defesa da mulher são poucas, não atendem 24 horas e ficam distantes dos locais de atendimento psicossocial, que, além de insuficientes, são desconhecidos da população”, disse, enfatizando que o medo ainda é apontado pela maioria das mulheres como principal razão para não denunciarem os agressores.

Edição: Tereza Barbosa

Renda cresce mais nas áreas pobres rurais

O setor rural brasileiro, no período entre 2003 e 2009, cresceu mais economicamente se comparado ao restante do pais. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a chamada “nova classe média”, que atingia 20,6% da população rural em 2003, chegou a 35,4% dessa população em 2009 e deverá atingir a casa dos 50% em 2014, mantida a tendência atual. A renda cresceu mais nas áreas pobres rurais do que nas cidades. Os dados são do livro ˜Superação da pobreza e a nova classe média no campo˜, lançado na VIII Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária.

Marco Aurélio Weissheimer

Rio de Janeiro - O setor rural brasileiro, no período entre 2003 e 2009, cresceu mais economicamente se comparado ao restante do pais. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), a chamada “nova classe média”, que atingia 20,6% da população rural em 2003, chegou a 35,4% dessa população em 2009 e deverá atingir a casa dos 50% em 2014, mantida a tendência atual. A renda cresceu mais nas áreas pobres rurais do que nas cidades, assim como a renda na região Nordeste cresceu mais do que no Sudeste. Um novo estudo, realizado pela Fundação Getúlio Vargas, revela que a pobreza no campo, em comparação com as grandes cidades, caiu 16,2% entre 2009 e 2010.

Os dados são do livro ˜Superação da pobreza e a nova classe média no campo˜, de Marcelo Neri, Luisa Carvalhaes Coutinho de Melo e Samanta dos Reis Sacramento Monte (FGV Editora), lançado quinta-feira (22), na VIII Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, no Rio de Janeiro. Produzido pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/MDA), o livro é resultado de pesquisa realizada por Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e professor da Fundação Getulio Vargas.

Segundo esse estudo, esse crescimento de renda no campo esteve menos associado ao agronegócio e mais à expansão de transferências públicas no meio rural (aposentadoria rural, Benefícios de Prestação Continuada (BPC), Bolsa Família, entre outros programas. O crescimento acumulado de 71,8%, de 2003 a 2009, aponta ainda o estudo, equivale a 3,7 milhões de brasileiros do campo que passaram a integrar a classe C (um universo de 9,1 milhões de pessoas em 2009).

Entre 2003 e 2009, a renda per capita media do brasileiro que vive na área rural cresceu 6,1% ao ano em termos reais, ou seja, já descontada a inflação e o crescimento populacional, afirma também a pesquisa. Ela passou de R$ 212,58 para R$ 303,30. O crescimento médio nacional no mesmo período foi de 4,72%.

Além dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, dos benefícios da Previdência e do aumento do salário mínimo, as políticas públicas de desenvolvimento rural e de fortalecimento da agricultura familiar vêm desempenhando um papel fundamental na redução da pobreza no campo, destaca o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas. Quem circula pelos pavilhões da Feira Nacional da Agricultura Familiar tem uma amostra bem significativa desse universo em expansão representado pela agricultura familiar brasileira.

Programas sociais aumentam renda no campo

Os programas sociais representam um fator importante desse processo de ascensão social no meio rural. Segundo o livro “Superação da pobreza e a nova classe media no campo”, a fonte de renda que mais cresceu na área rural foi a de programas sociais (21,4% contra 12,9% da media nacional). Esse crescimento foi influenciado principalmente pela criação do Programa Bolsa Família, em 2003, e suas expansões posteriores. O reajuste do salário mínimo, que cresceu 45% nesse período e o crescimento de 5,58% da renda da previdência no piso também contribuíram para o aumento de renda no meio rural. Já a renda do trabalho tornou-se menos importante na área rural do que no resto do pais, correspondendo a 66,5% da renda média da população rural (contra 76% da media nacional).

Entre 1993 e 2009, a taxa de pobreza entre crianças de zero a quatro anos caiu 35,2%, aponta a mesma publicação. Essa queda tende a subir com a idade até chegar a 85,2% na população acima de 60 anos. A maior parte dessa queda da pobreza das crianças no campo, 29,4%, ocorreu entre 2003 e 2009, contra 8,7% entre 1992 e 2003.

O livro organizado por Marcelo Neri traz no final um capítulo sobre o futuro, que defende a construção de uma nova agenda de políticas sociais rurais. O Brasil, sustenta, precisa ir alem do “dar mercado aos pobres”, completando o movimento dos últimos anos. “Devemos tratar o pobre co o protagonista de sua história e não como um passivo receptor de transferências de dinheiro oficiais e de créditos consignados a benefícios. O programa Territórios da Cidadania propõe fazer isso a partir de uma perspectiva pública˜. Os desafios a superar nesta área não são poucos.

Um dos principais “gargalos logísticos” para os pequenos agricultores está ligado ao problema do acesso aos mercados consumidores. Políticas de acesso a esses mercados, tais como a formação de cooperativas de pequenos produtores, podem facilitar o processo de compras governamentais. O mesmo se aplica a uma política de transporte rural, com a garantia de estradas capaz de ligar esses produtores aos mercados consumidores, ao fortalecimento das políticas de microcrédito e à qualificação das escolas rurais.

Programas de transferência de renda favorecem economia do Norte e Nordeste

Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Programas de transferência de renda e de incentivo à desconcentração industrial favoreceram a economia nas regiões Norte e Nordeste, entre os anos de 2002 e 2010. A avaliação é do gerente de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Frederico Cunha, que apresentou  hoje (23) dados do Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo pesquisa divulgada pelo órgão, a contribuição do Norte na economia do país subiu 0,6 ponto percentual – de 4,7% para 5,3%. Já a Região Nordeste aumentou sua participação na economia em 0,5 ponto percentual, indo de 13% para 13,5%. A contribuição do Centro-Oeste no PIB brasileiro também cresceu 0,5 ponto percentual e foi de 8,8%, em 2002, para 9,3%, em 2010.

 “O Brasil é bastante concentrado mas a gente percebe desconcentração nos últimos anos”, afirmou Cunha. “Quando há algum tipo de proteção social – não só transferência de renda, mas aposentadoria rural, garantia de compra para agricultura familiar, incentivo fiscal, isso acaba aumentando a massa salarial e alavancando uma economia que só era puxada pelo consumo”.

Segundo a pesquisa, os avanços regionais no Norte e Nordeste foram influenciados pela exportação de minérios no Pará, cujos preços internacionais saltaram em 2010; pela indústria de transformação, no Amazonas; pela agropecuária, no Maranhão e pelo impacto das políticas públicas nas regiões. Apesar do avanço, os dados revelam que oito estados ainda concentram 77,8% do PIB brasileiro.

Por conta do impacto de São Paulo e do Rio de Janeiro, o Sudeste detém mais da metade das riquezas do país, apesar da queda registrada na última pesquisa (de 56,7% para 55,4%). O resultado é reflexo das perdas na indústria, na agropecuária e na geração de energia elétrica. Em 2010, o Rio sofreu com as oscilações do preço do petróleo no mercado internacional, em relação a 2002.

Frederico Cunha também chama atenção para o estado com menor renda por pessoa – o Maranhão, que registra PIB per capita de R$ 6,8 mil. O pesquisador explica que o tamanho da população puxou o resultado para baixo. O Distrito Federal concentra a maior renda per capita do país (R$ 58,4 mil).

 “Se o PIB per capita é o PIB divido pela população, logo, no estado com uma população grande, a 10ª maior do país, o índice tende ser menor, apesar de o Maranhão ter tido um crescimento favorável na economia. Já no DF, o movimento é contrário, tem população pequena, mas concentra alta renda, reflexo do administração pública”, acrescentou o o gerente.

Edição: Denise Griesinger

Lula recebe na Índia o Prêmio Indira Gandhi

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

O primeiro-ministro Manmohan Singh, o presidente Pranab Mukherjee, Lula e Sonia Gandhi juntos na cerimônia

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta quinta-feira, na Índia, o prêmio Indira Gandhi pela Paz, Desarmamento e Desenvolvimento 2010. A cerimônia aconteceu no palácio presidencial Rashtrapati Bhavan e contou com a presença do presidente Pranab Mukherjee, do primeiro-ministro Manmohan Singh, e da nora de Indira e presidente do partido Congresso Nacional Indiano, Sonia Gandhi.

Para baixar fotos em alta resolução visite o Picasa do Instituto Lula.

Lula foi escolhido unanimemente pelo júri do prêmio, em 2010, por sua “extraordinária contribuição para a causa da eliminação da pobreza e da promoção do crescimento inclusivo no Brasil, por sua forte defesa dos laços entre as nações em desenvolvimento e por sua contribuição singular para a causa da parceria Brasil-Índia”. Na cerimônia, Lula agradeceu o prêmio considerando-o não um reconhecimento pessoal, mas ao povo brasileiro, que “soube entender que só com muita paz e democracia, conseguiríamos liderar o país para o patamar que ele alcançou”. Em seu discurso, Lula defendeu a inclusão do Brasil e da Índia no Conselho de Segurança da ONU, e uma ordem mundial mais democrática como forma de alcançar a paz.

O primeiro-ministro Singh disse que, sob a liderança de Lula, “o Brasil se tornou uma país mais forte e respeitado internacionalmente”, e mesmo fora da presidência “segue sendo uma das personalidades mais respeitadas no mundo”. “O presidente Lula tem uma clara visão global. Ele é consciente da interdependência entre os países, e de que a responsabilidade de um líder não termina na fronteira do seu país.” O primeiro-ministro, que ofereceu um almoço para Lula após a cerimônia, disse que, para ele, foi um privilégio trabalhar com Lula nas reuniões internacionais e que o considera um amigo. “Seu trabalho com a América Latina e a África ainda tocará muitas vidas nos próximos anos”.

O presidente Mukherjee, ao entregar o prêmio, declarou que Lula é um “honorável campeão do mundo em desenvolvimento”.  E desejou saúde e boa sorte em suas novas iniciativas.

Segundo Sonia Gandhi, Lula defendeu a agenda do crescimento inclusivo “talvez como nenhum outro líder de seu tempo”. E continuou: “seu trabalho é uma inspiração não apenas para os brasileiros, mas para pessoas ao redor de todo o mundo. Nós estamos honrados com sua presença”.

Lula havia sido convidado para receber o prêmio há um ano, no dia 22 de novembro de 2011, mas a viagem foi cancelada depois que descobriu um câncer em sua garganta, menos de um mês antes de partir para a Índia. Este ano, o governo indiano retomou o convite e manteve a mesma data, 22 de novembro.

O prêmio Indira Gandhi Pela Paz, Desarmamento e Desenvolvimento é concedido anualmente a pessoas ou organizações, “em reconhecimento a esforços criativos no sentido de: promover a paz internacional e o desarmamento, igualdade racial, e boa vontade e harmonia entre as nações; assegurar a cooperação econômica e promover uma nova ordem econômica mundial; acelerar um avanço abrangente das nações em desenvolvimento; assegurar que as descobertas da ciência e do conhecimento moderno sejam usadas para o bem maior da raça humana; e ampliar o alcance da liberdade e enriquecer o espírito humano”. Desde sua criação, em 1986, o prêmio já foi concedido a 25 pessoas e instituições. Entre os laureados estão Mikhail Gorbatchev, Vaclav Havel, a Unicef, os Médicos Sem Fronteiras, a Fundação Bill & Melinda Gates e Jimmy Carter, entre outros.

O troféu concedido a Lula é um pedaço quadrado de hematita bandada com jaspe, uma das variedades mais duras de rochas encontradas na Índia e com idade estimada em dois milhões de anos. Inserido na rocha, e adornado com prata, está um retrato de Indira Gandhi, com seu nome inscrito em alfabeto devanágari. O troféu é acomodado em uma caixa de jacarandá revestida de prata.

Marcos Coimbra: Presidente da Índia coloca Lula ao lado de Indira e Mahatma Gandhi

por Marcos Coimbra, no Correio Braziliense

É comum haver discrepância entre a imagem de uma liderança em seu país e no resto do mundo.

Nos regimes autoritários, os governantes tendem a ser mais bem quistos em casa, pois não permitem que seus compatriotas desgostem deles. Nas democracias, acontece o inverso, e é normal que sejam mais bem avaliados fora.

Isso costuma decorrer dos alinhamentos partidários internos, que, para um estrangeiro, são pouco relevantes. Ou vem do sentimento traduzido pelo aforismo “Ninguém é profeta em sua terra”.

É mais fácil condescender com quem conhecemos menos.

No Brasil, são raríssimos os políticos que adquiriram notoriedade fora de nossas fronteiras. Só os brasilianistas conhecem a vasta maioria, que chegou, no máximo, à América do Sul e aos países de expressão portuguesa.

Lideranças brasileiras de fato conhecidas internacionalmente são duas: Fernando Henrique e Lula. Dilma está a caminho de ser a terceira.

O tucano é um exemplo daqueles cuja imagem interna e externa é marcadamente distinta.

Fora do Brasil, FHC é visto com olhos muito mais favoráveis que pela maior parte dos brasileiros. É evidente que tem admiradores no País, mas em proporção substancialmente menor que o daqueles que não gostam dele.

Tem, no entanto, reconhecimento internacional, que se traduz em homenagens, prêmios e convites para integrar colegiados de notáveis.

Sempre que é saudado no exterior, nossa mídia e os “formadores de opinião” de plantão registram com destaque o acontecimento, considerando-o natural e como a compreensível celebração de suas virtudes.

Acham injusta a implicância da maioria dos brasileiros para com ele.

Lula é um caso à parte. A começar por ser admirado dentro e fora do país.

Como mostram as pesquisas, os números de sua popularidade são únicos em nossa história. Foi um governante com aprovação recorde em todos os segmentos relevantes da sociedade, em termos regionais e socioeconômicos.

Acaba de colher uma vitória eleitoral importante, com a eleição de Fernando Haddad, a quem indicou pessoalmente e por quem trabalhou. Feito só inferior ao desafio que era eleger Dilma em 2010.

No resto do mundo, é figura amplamente respeitada, à esquerda e à direita, por gregos e troianos. Já recebeu uma impressionante quantidade de honrarias.

Esta semana, foi-lhe entregue o prêmio Indira Gandhi, o mais importante da Índia, por sua contribuição à paz, ao desarmamento e ao desenvolvimento. Na cerimônia, o presidente do país ressaltou que Lula o merecia por defender os mesmos princípios que Indira e Mahatma Gandhi. O que representa, para eles, associá-lo à mais ilustre companhia possível.

Quem conhece a imagem que Lula tem quase consensualmente no Brasil e no estrangeiro deve ficar perplexo.

Será que todo mundo – literalmente – está errado e a direita brasileira certa? Só sua imprensa, seus porta-vozes e representantes sabem “quem é o verdadeiro Lula”? O resto do planeta foi ludibriado pelas artimanhas do petista?

É até engraçado ouvir o que dizem alguns expoentes da direita tupiniquim, quantos adjetivos grosseiros são capazes de encontrar para qualificar uma pessoa que o presidente da Índia (que, supõe-se, nada tem de “lulopetista”) coloca ao lado do Mahatma.

Só pode ser porque não conhece o que pensa aquele fulaninho, um dos tais que sabem “a verdade sobre Lula”.

O México é aqui: o inferno em SP

Mauro Santayana – Jornal do Brasil

As elites paulistanas e sua representação política queriam que o Brasil fizesse parte da Alca, o mercado comum hemisférico. Não entramos no Acordo que, por nossa oposição, implodiu — mas os americanófilos de São Paulo podem comemorar: já estamos no Nafta, ao lado do México. São Paulo voltou a ser o inferno de há alguns anos, com a morte ceifando nas ruas. Os fatos fazem  lembrar os fortes versos de Edgar Allan Poe, em The City in the sea, que Bárbara Tuchman usou como epígrafe ao seu livro, The proud tower: “Assim, tudo parece pendente no ar, enquanto de uma orgulhosa torre na cidade, a morte olha com gigantesco desdém”. 

“O mais dramático na matança em São Paulo é que são soldados pobres os que morrem.”

Ao contrário do que nos quiseram fazer acreditar os perturbados teólogos medievais, os infernos (sempre plurais) não são maldição divina, a nos esperar na Eternidade, mas construção humana.Os infernos se fazem sobre o chão da injustiça, e injustiça é sinônimo de desigualdade. O mais dramático na matança em São Paulo é que, na guerra entre os criminosos e os policiais, são soldados pobres os que morrem. Os soldados do crime e os soldados da Polícia Militar. Não há heroísmo nem romantismo nessa guerra cotidiana, mas sim a brutal expressão da violência. 

Chegamos a um extremo que só outro extremo poderá resolver. Ainda que haja outras organizações de delinquentes (como a do goiano Carlos Cachoeira, colocado em liberdade pela mesma Justiça que a outros condena sem provas), a criminalidade mais brutal é a que se relaciona com o tráfico de drogas. Não há outra saída para o problema senão a de permitir o uso de drogas a quem quiser, e colocar o comércio de narcóticos no sistema das atividades organizadas e fiscalizadas pelo Estado. Em uma visão radical, mas necessária, podemos concordar com Stuart Mill, em seu ensaio clássico On liberty: o indivíduo é livre para fazer tudo o que quiser com ele próprio, até mesmo matar-se, desde que não prejudique os outros. A sociedade não pode intervir nas decisões que só a ele concernem. Sendo assim, as pessoas devem ter o direito de se drogarem, desde que não induzam outras a fazê-lo, nem, sob o efeito do narcótico, venham a cometer qualquer crime. Nesse caso, devem ser punidos conforme as leis.

Se o uso de drogas fosse legalizado, muitos usuários continuariam a morrer de overdose, é certo; e muitos continuariam a agredir e a matar, como se agride e se mata por outros motivos, mas não haveria organizações criminosas para produzir e distribuir entorpecentes, e não haveria  bancos para administrar esse dinheiro encharcado de sangue, como fazem hoje grandes instituições financeiras internacionais. Não havendo tão fortes interesses, não teríamos as guerras entre bandos rivais de facínoras e entre eles e a polícia (na qual há  grupos criminosos, como as milícias, também associadas ao narcotráfico, ao jogo, à prostituição).

As leis penais brasileiras são, elas mesmas,construtoras do crime. Como bem apontou, recentemente, o médico Dráusio Varela, um dos homens que mais conhecem o desespero dos presídios, é uma estupidez colocar, nas mesmas celas em que se encontram os grandes assassinos e assaltantes ousados, os pequenos traficantes de drogas e  trombadinhas. Além do duplo castigo — o da prisão em si e o da violência dos mais fortes, que horroriza os que conhecem a realidade infernal da cadeia — os pequenos delinquentes alimentam, ali, o seu ódio natural contra a sociedade e, ao sair do presídio, já saem vinculados a um bando qualquer.

Há, no entanto, os poderosos que cruzam os braços e, sob a ilusão de que são inatingíveis e invulneráveis, parecem regozijar-se no íntimo com o extermínio mútuo dos pobres. Mas não há, nessa guerra, escudos contra o chumbo.

O medo já começa a atingir a  classe média e os empresários de São Paulo. Muitos dos que têm recursos para fazê-lo  mudam-se da cidade,  mandam os seus filhos  para a Europa. Constroem em condomínios fechados e guardados por exércitos de “seguranças”, eufemismo inexato para designar os antigos capangas dos meios rurais —  se deslocam aos seus escritórios em helicópteros, de forma a evitar o risco das ruas. São tão prisioneiros quanto os capitães do PCC que se encontram entre as grades: não conhecem a liberdade das ruas.

“O Estado tem o dever de segregar os criminosos  mas não tem o direito de os meter em celas superlotadas”

Outra coisa: o Estado, em nome da sociedade, tem o dever de segregar os criminosos punidos pela Justiça, mas não tem o direito sádico de os meter em celas superlotadas, infectas, sórdidas, deixando-os ali a se entrematarem sem qualquer proteção.

Esta guerra não será amainada, enquanto não houver lucidez e solidariedade para com a espécie humana. Se não houver coragem de se resolver o problema da desigualdade — desigualdade diante da justiça,desigualdade diante da vida — daqui a pouco os criminosos serão a maioria absoluta da população. Se isso vier a ocorrer, como será?

Onde hão houver justiça, jamais haverá paz.

Riqueza protegida pelo anonimato

Fernando da Costa

Estudioso há décadas do sistema financeiro, o economista Fernando Nogueira da Costa recebeu em setembro um prêmio do Conselho Federal de Economia (Cofecon) pela publicação do livro Brasil dos Bancos (Edusp), interpretação crítica da história bancária brasileira. Ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal (2003-2007), Costa não seguiu para a iniciativa privada. Preferiu voltar à Unicamp, onde é professor do Instituto de Economia. E coleta indícios sobre a concentração de riqueza no País, que ele supõe seguir em alta, apesar da falta de informações confiáveis a respeito. “O que peço é que os pesquisadores tenham dados próximos da realidade.”

CartaCapital: O senhor tem estudado a concentração de riqueza no País. Ela tem aumentado?

 Fernando Nogueira da Costa: O debate sobre a concentração de riqueza no Brasil está praticamente no começo. Percebe-se que a recente distribuição da renda do trabalho é significativa em termos relativos, mas em termos absolutos a concentração ainda é muito grande. A renda média do 1% mais rico é de pouco mais de 16 mil reais, enquanto a renda média dos brasileiros é de 1,3 mil reais, o que é muito significativo, embora o crescimento da renda tenha sido maior para os que ganham menos. Em razão disso, se fala na diminuição da desigualdade, mas ela ocorre em razão da renda do trabalho, não da riqueza financeira.

CC: Passa a impressão errada?

 FNC: Exatamente, passa a impressão de que vivemos uma desconcentração da riqueza, quando não é verdade.

CC: Mesmo no caso da renda, a redução da desigualdade ainda é muito tímida, não?

 FNC: É tímida em termos das desigualdades, que são heranças históricas. O Brasil era o segundo país com a pior distribuição de renda do mundo no fim dos anos 1990. Em primeiro, vinha a África do Sul do Apartheid. Melhoramos no ranking, hoje o Brasil deve estar em 12º, em razão das políticas sociais, do crescimento, da formalidade no mercado de trabalho… Mas o desafio é muito grande para chegarmos a uma sociedade mais igualitária, com políticas públicas capazes de mudar a concentração de riqueza. E o desafio começa por sabermos do que falamos, pois é um problema conceitual diferente.

CC: Em que sentido?

 FNC: Renda tem a ver com fluxo, é o valor agregado ao longo de um ano. Riqueza não, riqueza é um estoque acumulado ao longo não só da vida de cada pessoa, mas herdado. Então é uma riqueza que se transmite para outras gerações. O problema é extremamente complexo e no mundo todo é assim. No planeta, a tendência é haver uma grande concentração de riqueza. Como não existem dados objetivos, é preciso trabalhar com indícios. E os indícios mostram que mesmo nos paí­ses emergentes, nos BRICS, tem aumentado a concentração.

CC: E nos países centrais?

 FNC: Em razão da crise houve uma certa deflação dos ativos. E aí chegamos a um ponto importante: a riqueza, em termos das divulgações que temos, é medida pelo valor de mercado, no mercado de capitais, por exemplo, e se valoriza ou se desvaloriza no dia a dia das Bolsas. Raramente o homem comum, o assalariado, tem a dimensão exata da sua riqueza. A cotação de seus ativos varia, no mercado de ações, mas também o preço do seu automóvel usado, dos imóveis. No mercado financeiro, existe a “marcação a mercado” dos bens a cada dia, mas no caso dos outros ativos, não. Então qual é a fonte de informação para medir a riqueza? Aí existe muita dificuldade. Nos países de capitalismo maduro existem alguns tipos de estatísticas. Mas o Brasil está muito atrás, embora o sistema brasileiro de gestão de estatísticas do IBGE seja de alta qualidade técnica.

CC: Não é como o Indec argentino…

 FNC: Não, não é. Agora, curiosamente na mensuração da riqueza, a Argentina é o único país da América Latina com estatísticas a partir da declaração de Imposto de Renda.

CC: É um exemplo positivo então?

 FNC: Neste caso, sim, e é um desafio o IBGE fazer o mesmo. E me parece que a sociedade cobra hoje, dentro do debate sobre a concentração de riqueza, que o IBGE avance nesse sentido, faça um convênio com a Secretaria da Receita Federal porque existe a fonte de dados para trabalhar, de maneira agregada evidentemente, por causa do sigilo. Mas para trabalhar com os agregados, a partir de uma estratificação, e recuperar os dados das declarações de pessoas físicas. E depois comparar com as declarações das pessoas jurídicas. O que peço é que os pesquisadores tenham dados próximos da realidade. As declarações de bens e direitos têm um viés muito claro, as pessoas declaram os bens e direitos no fim do ano, e o saldo no caso dos ativos financeiros. Os ativos de base imobiliária, que na estimativa que fiz representam cerca de 40% do total, são, porém, declarados em valores históricos, o que representa uma defasagem expressiva. Isso significa que 40% do total é subestimado. Se o Imposto de Renda permitisse a atualização no valor de mercado de determinados tipos de bens para determinado ano, aí seria mais próximo da realidade.

CC: Por que não acontece?

 FNC: Existem razões para a Secretaria da Receita Federal não solicitar. Evidentemente, isso pode esconder muita riqueza, muito dinheiro frio. Se tivéssemos a declaração estratificada pelos níveis de riqueza financeira, já serviria. A minha finalidade como pesquisador é medir o potencial de funding, de fontes de financiamento de longo prazo. É importante por estarmos em um momento de mudança dos portfólios, nas carteiras de ativos e com mobilidade social. A questão é sabermos para onde vai o País. E aí voltamos aos indícios. Em um desses relatórios de riqueza mundial, o Brasil foi o país onde mais cresceu a riqueza no ano passado, levando em conta as principais nações. Houve um crescimento de 6,2% na riqueza. E poucos países registraram crescimento. A riqueza financeira desses bilionários brasileiros é de cerca de 200 bilhões de reais, mas a riqueza financeira do Brasil é de 3,8 trilhões de reais. Se tivéssemos a informação ano a ano, estratificada, serviria para acompanhar as mudanças no mercado de trabalho. E me parece que esses dados não são divulgados por falta de iniciativa. Do jeito que está, podemos levantar indícios, mas não dá para julgar bem a sociedade com base em indícios, precisamos de provas, inclusive porque o Brasil é extremamente injusto.

CC: O senhor é a favor da taxação das grandes fortunas?

 FNC: É um assunto complexo, e para situações complexas não existem soluções simples. A taxação de patrimônio voltou a ser debatida mundo afora, em governos do centro para a esquerda, e que sempre volta ao debate em momentos de crise. O presidente socialista francês quer voltar a taxar com alíquota de 75%. Mas em uma economia aberta e em um mundo globalizado, esse tipo de política leva à fuga de capitais. Teremos de estudar mais a riqueza, até para bloquear as rotas de fuga.

A quem a história não esqueceu: A Revolta da Chibata


Por Erick da Silva

Em 1910, no dia 22 de novembro daquele ano, após ser dado o toque de recolher, o ataque já estava pronto. Iniciava-se o movimento que entraria para a história como a “Revolta da Chibata”.

Os marinheiros tomaram naquela noite a então poderosa marinha de guerra brasileira e dirigiram os seus canhões contra a capital da república.

O movimento lutava por melhores condições de vida para a categoria. O soldo era muito baixo; as condições de trabalho eram precárias; recebiam alimentação de péssima qualidade, muitas vezes estragada; as mínimas faltas eram castigadas com surras, solitária, ginástica punitiva. Em plena República, 22 anos após a abolição da escravatura, a punição física pela chibata ainda era realidade. Práticas discriminatórias eram correntes, os oficiais orgulhavam-se de seus “sangues limpos” e desprezavam os marujos, que eram em sua quase totalidade formada por negros e mulatos.

A revolta teve entre seus principais comandantes,o marujo João Cândido, gaúcho de nascimento servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e que ficaria conhecido como o “Almirante Negro”. Após o inicio da rebelião, alguns dias mais tarde, o movimento sairia vitorioso, obtendo anistia da revolta, o fim da chibata e o reconhecimento das reivindicações.

A revolta da esquadra brasileira repercutiu no mundo inteiro. Os jornais comparavam-na com a do encouraçado Potemkin. Na Rússia, era apenas um navio rebelado, 500 marinheiros. No Brasil, eram cerca de 2.300 marujos e quatro navios. A vitória dos humildes marinheiros, no entanto, mal pode ser comemorada. A grandiosidade do evento e o temor de que o proletariado pudesse se inspirar nos marinheiros fez o governo brasileiro romper a anistia em poucos dias, fuzilar e colocar na prisão os marinheiros rebelados.

Logo após o fim do movimento, o Governo iniciou o desrespeito da anistia e a repressão dos marujos, que foram demitidos, presos e perseguidos. Apesar da vitória quanto as condições dos marinheiros ( o fim da chibata, melhora na alimentação etc.) os principais lideres foram traídos e a maioria dos participantes foram assassinados.

João Cândido é preso e sobrevive à tentativa de assassinato na Ilha das Cobras, ele foi um dos poucos a sobreviver a traição governamental. No entanto, banido da marinha, com uma tuberculose que o acompanhou ao longo de toda a sua vida, não pode desfrutar dos avanços conquistados pela revolta. Tendo de lutar duramente ao longo de sua vida pela sobrevivência. Sendo perseguido e vigiado por muitos anos devido a sua participação na revolta, João teve um final de fida permeado por dificuldades, falecendo aos 82 anos em 2006.

Passados mais de um século da “Revolta de Chibata”, o legado heroico deste movimento de resistência popular é de fundamental importância. Um exemplo da capacidade "dos de baixo" de lutar e se rebelar. Mesmo o sangue derramado pelos poderosos, não podem frear as mudanças. Ao rebelde João Candido e os marinheiros da revolta seu monumento estará para sempre "nas pedras pisadas do cais".

Gaúcho vai mostrar à Comissão da Verdade que Operação Condor foi criada pelo Brasil

Aos 74 anos, Jair Krischke falará à CNV na próxima segunda-feira em posse de documentos que atestariam a existência da cooperação repressiva internacional no Cone Sul e suas atividades no país, inclusive depois da Anistia

Por: Tadeu Breda, da Rede Brasil Atual

São Paulo – "Vou mostrar com documentos que quem criou a Operação Condor foi o Brasil", disse à RBA o ativista gaúcho Jair Krischke, fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) de Porto Alegre (RS), que na próxima segunda-feira (26) irá fazer uma série de revelações à Comissão Nacional da Verdade (CNV). Krischke promete "provar" a ocorrência de uma série de ações realizadas em conjunto pelos aparelhos repressores das ditaduras sul-americanas para sequestrar e eliminar membros da resistência.

"Vou documentalmente exibir a primeira Operação Condor, levada a cabo em dezembro de 1970, em Buenos Aires, e a segunda, ocorrida em junho de 1971", revelou, sem dar mais detalhes "em respeito à CNV". O ativista exibirá pedidos feitos ao Brasil pelas ditaduras vizinhas com o objetivo de capturar militantes da oposição caçados pela repressão da Argentina, Uruguai e Paraguai, muitos deles até hoje desaparecidos. "Um desses documentos informa com singeleza: 'preso pelo Exército brasileiro e entregue a polícia do Uruguai contra recibo'", antecipa. A audiência está marcada para as 14h e será aberta ao público.

A Operação Condor foi "oficialmente" inaugurada em 1975 durante uma reunião das polícias políticas brasileira, paraguaia, chilena, argentina, uruguaia e boliviana, em Santiago do Chile. "Os representantes do Brasil não assinaram a ata de fundação", lembra o ativista gaúcho. Por isso, costuma-se debitar sua criação à Dina, órgão repressor do chileno Augusto Pinochet. Para Krischke, porém, o grande articulador da cooperação repressiva regional foi Serviço Nacional de Informações (SNI) do Brasil.

"O embaixador brasileiro no Chile à época, Antonio Câmara Canto, era considerado o quinto homem da Junta militar que conduzia a ditadura no país vizinho", pontua. "No Estádio Nacional, um dos centros da tortura chilena, havia interrogadores que falavam português com sotaque carioca." Krischke acredita que a aparência de que o Brasil teve papel secundário na Operação Condor se deve à que considera a grande "qualidade" do regime ditatorial imposto por aqui em 1964: a dissimulação. "Costumamos colocar tudo nas costas dos Estados Unidos, onde cabe tudo, mas o Brasil deu todo o suporte para a criação dos órgãos repressores na América do Sul."

O ativista gaúcho anuncia que mostrará documentos que comprovam ainda atividades da Operação Condor protagonizadas pelos brasileiros inclusive depois da aprovação da Lei de Anistia, em 1979. "Houve ações realizadas no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em março de 1980, e outra em 1984", adianta. "As operações continuaram mesmo depois do regime ter anistiado os militantes."

Respeitado internacionalmente, o MJDH de Krischke salvou da tortura, da morte ou do desaparecimento cerca de 2 mil pessoas perseguidas durante os anos de chumbo das décadas de 1960 a 1980, quando regimes militares sufocaram a democracia nos países do Cone Sul. Krischke vai contestar ainda a versão oficial das autoridades militares brasileiras sobre a queima de arquivos, informando sobre o atual paradeiro de documentos supostamente destruídos sem autorização legal.

A ordem era matar quem foi a Cuba, diz Fonteles

Ao ligar documentos esparsos que encontrou no Arquivo Nacional, o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, concluiu que havia ordem do regime militar para que militantes de esquerda trocados por diplomatas ou que fugiram para Cuba deveriam ser executados ao retornar ao Brasil.

Ele analisou o caso de três militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), Boanerges de Souza Massa, Rui Berbert e Jeová de Assis Gomes, presos respectivamente, em Pindorama, Natividade e Guará, no Norte de Goiás.

Os documentos inéditos mostram que os agentes assinalavam ser necessário aproveitar um momento de racha na ALN, a debilidade do grupo (dois deles estavam com malária) e o fato de ainda não terem conseguido instalar a base guerrilheira.

Fonteles transcreve a recomendação oficial: “É vital a eliminação desses elementos antes que consigam se firmar e quando sua vulnerabilidade é clara”.

Pela versão oficial, Berbert suicidou-se, Jeová morreu ao reagir e Boanerges desapareceu depois de ser transferido para Brasília.

 “Os opositores ao regime, que retornassem de Cuba, seriam, como o foram, sumariamente mortos pelo Estado Ditatorial militar, que os vigiava, passo a passo, mesmo em território cubano e, principalmente, a partir do instante em que de lá partissem”, escreve Fonteles.

O texto toca em outra ferida da esquerda: a de que poderia haver um delator já em Cuba. Dos 26 militantes que retornaram entre o final de 1971 e início de 1972, e que se tornaram alvos da chamada “Operação Ilha”, apenas seis escaparam, entre eles, o então militante José Dirceu.


Dilma: um peso para os malfeitos do governo; outro peso para os malfeitos da mídia [The Teacher põe o dedo na ferida]


O jornal eletrônico Brasil 247 traz reportagem  em que registra a rapidez e a firmeza da Presidenta Dilma na hora de demitir ministros e servidores envolvidos em malfeitos. O último escândalo explorado pela mídia, na sua cruzada infatigável contra LULA, é de uma tal de Rosemary, em cujo caso não vou me demorar aqui porque a essas alturas até as pedras da rua já conhecem detalhes do caso. O que eu quero focar aqui é outra coisa. Os "malfeitos", que em alguns casos é um eufemismo para "crimes", devem ser punidos com rapidez e firmeza mesmo. Talvez, se Lula tivesse agido assim sempre não fosse alvo em potencial da imprensa corrupta todos os dias, embora eu acredite que ele tenha segurado a onda muitas vezes para garantir as condições para que Dilma fizesse o que está fazendo agora. Sim, mas isso é outra discussão. Voltando ao meu foco, a Presidenta está certíssima. 

Agora, a demissão da tal Rose já se tornou um megaescândalo. O baluarte na luta pela derrota política e pessoal de Lula, Reinaldo Azevedo, posta em seu blog que Rose era a "verdadeira mulher de Lula", dando conotação sexual ao caso e desrespeitando a ex-primeira dama Marisa Letícia [aqui]. Outra postagem diz que Lula pode ter caído no grampo da Polícia Federal [aqui]. Só para ficar nessas duas, porque, certamente, já devem ser milhares.

O CASO DA DEMISSÃO DE UMA FUNCIONÁRIA QUE ESTAVA PRATICANDO TRÁFICO DE INFLUÊNCIA SE TRANSFORMARÁ EM ESCÂNDALO QUE DEIXARÁ O GOVERNO NAS CORDAS DURANTE SEMANAS E, MAIS UMA VEZ, DEVASSARÁ A VIDA DE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, ENQUANTO UM JORNALISTA PEGO EM GRAVAÇÕES LEGAIS NEGOCIANDO COM O MAIOR CONTRAVENTOR DO BRASIL E UM PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA PEGO EM FLAGRANTE ATO DE PREVARICAÇÃO PARA POUPAR BANDIDOS ESTÃO SENDO DEFENDIDOS PELA MÍDIA E USADOS, PARA, MAIS UMA VEZ, ATACAR O GOVERNO.

Chego aonde eu queria agora. Sabe por que tudo isso está acontecendo? Porque Dilma é corajosa, rápida e firme na hora de demitir ministros e funcionários, mas na hora de enfrentar uma imprensa que tem praticado, ao longo dos anos, malfeitos milhares de vezes - maiores e mais graves - ela é medrosa, lenta e titubeante. Esse seu discurso de que "prefere o ruído...." é para esconder a covardia que faz com que ela não demita este Paulo Bernado, incompetente e ligado ao cartel das comunicações, e ressuscite o projeto de Franklin Martins. 

DILMA É O PT E O PT É DILMA. O DEPUTADO ODAIR CUNHA DO PT ESTÁ LEVANDO "CASCUDO" DE TODO MUNDO. POR TER INDICIADO POLICARPO E GURGEL E JÁ HÁ QUEM DIGA QUE ELE ESTARIA SENDO ABANDONADO PELA CÚPULA DO PT E QUE POR ISSO MUDARIA O SEU RELATÓRIO. 

JÁ PERGUNTEI VARIAS VEZES E  PERGUNTO DE NOVO AGORA: DE QUE ADIANTA FICARMOS A LUTAR AQUI NA BLOGOSFERA, SEM RECURSO, SEM PODER, SEM AUDIÊNCIA (A MAIORIA DOS BLOGUEIROS SUJOS NÃO TÊM GRANDE VISIBILIDADE), APENAS COM A SUA IDEOLOGIA E UM PARTIDO INTEIRO, COM TODO O SEU PODER E POPULARIDADE,  E UM GOVERNO INTEIRO, COM TODO O SEU PODER CONSTITUCIONAL,  SE ACOVARDAR?

Essa luta é desigual. Só haveria igualdade se o Governo e o PT resolvessem se defender enfrentando a Imprensa Golpista. Se não for assim, daqui a um mês aparecerá, ou será inventada, uma nova Rose, um novo Orlando, uma nova Erenice, um novo domínio do fato e a nós só nos restará sentar no domingo de manhã para escrever lamentações.

Por THE TEACHER.

Sobre o caso Rosemary e a lulofobia

Paulo Nogueira

Acima de tudo, ela é mais uma escada pela qual se tenta pegar novamente Lula

Lula é, certamente, o homem mais odiado pelo chamado 1%, para usar a já histórica expressão do Movimento Ocupe Wall St. (Para os 99%, o posto é de Serra, com o surgimento de uma concorrência potencial em Joaquim Barbosa, o Batman.)

É impressionante o júbilo com que é celebrada pelo 1% qualquer notícia que possa servir de munição contra Lula, o lulismo, o lulo-petismo e outras designações criadas pelos obsequiosos porta-vozes de um grupo pequeno mas barulhento que torce e trabalha para que o Brasil jamais se torne uma Dinamarca, ou uma Noruega, ou uma Finlândia.

São sociedades harmoniosas, não divididas entre 1% e 99%, como o Brasil. Apenas para registro, o Brasil campeão mundial da desigualdade – com todos os problemas decorrentes disso, a começar pela criminalidade – foi obra exatamente deste grupo.

O Estado brasileiro foi durante décadas uma babá do 1%. Calotes em bancos públicos eram sistematicamente aliviados em operações entre amigos – mas com o dinheiro do contribuinte. Cresci, como jornalista, nos anos 1980, com o Jornal do Brasil transformando dívidas com o Banco do Brasil em anúncios.

Este é apenas um caso.

O BNDES foi sequestrado, também, pelo 1%: a inépcia administrativa de tantas empresas familiares malacostumadas pela reserva de mercado era premiada com operações de socorro financeiro. Sempre com o dinheiro do contribuinte.

Apenas para registro também, lembremos que a reserva de mercado sobrevive ainda – não me pergunte por que – na mídia que tanto clama por competição, mas para os outros.

O 1% detesta Lula, não porque Lula tenha nove dedos, ou seja metalúrgico, ou fale errado, ou torça pelo Corinthians. Detesta Lula porque ele não representa o 1%. Se representasse, todos os seus defeitos seriam tratados como virtudes.

Não votei em Lula nem em 2002 e nem em 2006. Portanto, não tenho mérito nenhum na sua chegada à presidência e na consequente, e fundamental, mudança de foco do governo – ainda que cheia de erros — rumo aos 99%.

Mas não sou cego para não enxergar o avanço. O maior problema do Brasil – a abjeta desigualdade social – começou ao menos a ser enfrentado sob Lula.

Hoje, quando homens públicos em todo o mundo elegem a desigualdade social como o mal maior a debelar, parece óbvio que Lula tinha mesmo que prestigiar os 99% ao se tornar presidente.

Mas nenhum presidente na era moderna nacional viu o óbvio. Mesmo ao erudito poliglota Fernando Henrique Cardoso – de quem ninguém pode subtrair o mérito por derrubar a inflação – escapou o óbvio. Tente encontrar alguma fala de FHC, na presidência, sobre o drama da iniquidade social. Em qualquer uma das múltiplas línguas que ele domina. Zero.

É dentro desse quadro de colossal ódio a Lula que se deve entender a forma com quem está sendo tratado o caso de Rosemary Nóvoa de Noronha, indiciada por corrupção pela Polícia Federal em suas funções como chefe do escritório do gabinete da presidência em São Paulo.

Rosemary foi demitida imediatamente por Dilma, e agora vai responder pelas suas supostas delinquências, como um cruzeiro e uma plástica na faixa, pelo que foi noticiado.

Mas ela é personagem secundária na chamada Operação Porto Seguro. O protagonista é Lula. Nos artigos sobre a história, Lula ocupa o pedestal. “A mulher do Lula”, escreveu alguém, embora ela tenha sido secretária por muitos anos de José Dirceu. Foi para Dirceu, e não para Lula, que, segundo agentes policiais, ela ligou desesperada quando a PF chegou a seu apartamento na prosaica 13 de Maio, bairro das cantinas italianas em São Paulo. Nada existe de luxuoso no apartamento, ainda de acordo com a polícia.

Rosemary é uma escada pela qual, mais uma vez, se tenta pegar Lula. Estaria Lula envolvido na plástica suspeita de Rosemary? E no cruzeiro? O dinheiro terá vindo do valerioduto?

Chega a ser engraçado.

Tenho para mim o seguinte. Se os lulofóbicos dedicassem parte da energia que consomem em odiá-lo na procura honesta de formas de convencer os eleitores de que são mais capazes que Lula para combater a desigualdade social, eles já estariam no Planalto a esta altura, e do jeito certo, numa democracia: pelas urnas.

Dirceu: 'Eu estava marcado para morrer, mas não tenho vocação para a morte'

Durante 'Ato em Defesa do PT', em São Paulo, ex-ministro afirma que vai 'ficar de pé' e que sua inocência está 'registrada nos autos do STF'

Por: João Paulo Soares, da Rede Brasil Atual

São Paulo - O ex-ministro José Dirceu afirmou neste sábado (24) que estava “marcado para morrer” desde o início o processo político e midiático conhecido por mensalão. Da cassação de seu mandato de deputado pela Câmara Federal, em 2005, à condenação pelo STF na Ação Penal 470, agora, Dirceu fez um histórico detalhado dos vários momentos em que as leis e as regras democráticas foram reinterpretadas ou ignoradas para que a investida contra ele e o PT se transformasse num “julgamento de exceção, de caráter sumário”.

 “Eu estava marcado para morrer. Só não fui fuzilado porque no Brasil não existe pena de morte. E o problema é que eu não tenho vocação para a morte. Vou ficar de pé”, disse o ex-ministro, arrancando aplausos das pessoas que compareceram ao Sindicato dos Engenheiros, no centro de São Paulo, para o “Ato em Defesa do PT”.

O ato foi organizado pela corrente O Trabalho – na abertura do 5º Encontro Nacional Diálogo Petista. A corrente, adversária histórica de Dirceu e de seu grupo dentro do partido, é uma das que estão mais à esquerda no espectro político petista. Segundo Markus Sokol, um de seus líderes, as divergências internas não impedem a solidariedade aos companheiros e a denúncia da maneira como se deu o julgamento, cujo objetivo real seria atingir o PT, a esquerda e as forças populares.

Participaram da plenária, que também contou com o ex-deputado José Genoino, igualmente condenado sem provas, representantes de movimentos sociais e da CUT, além da militância e de parlamentares, como o senador Eduardo Suplicy (SP) e o deputado estadual paulista Zico Prado.

Dirceu classificou de “desfaçatez” a série de manobras criadas para cassá-lo e depois condená-lo, em especial a “narrativa sem provas e sem contraditório” do STF, que “violou” princípios constitucionais como a presunção da inocência e o direito ao recurso a outras instâncias da Justiça.

 “O que aconteceu (comigo) é grave e transcende ao julgamento, porque suspende as garantias individuais de todos os cidadão”, avaliou. Segundo ele, o seu caso e de outros criou uma jurisprudência segundo a qual, a partir de agora, qualquer pessoa pode ser condenada sem provas ou testemunhos.

 “Mas estou tranquilo”, ressaltou. “Está documentado. Minha inocência está registrada para a história nos autos do próprio STF”.

Dirceu analisou o momento como uma “contra-ofensiva” das forças conversadores. “Como foram derrotados no campo político e social, e também no campo eleitoral, eles criaram outro campo, o da judicialização da política, com a instrumentalização da mídia”, acusou.

Ele afirmou que o PT só vencerá essa contra-ofensiva se fizer um “profundo” balanço político dos último dez anos e traçar uma estratégia de “luta comum”, entre todas as correntes internas e a sociedade, para os próximos dez.

 “Aonde quer que eu esteja, quero participar desse debate”, concluiu.