quinta-feira, 30 de maio de 2013

Novas medidas para a indústria de saúde permitirão que mais medicamentos sejam produzidos no Brasil

Foram anunciados acordos para fabricação de dez produtos, além de R$ 7 bi em créditos para projetos no setor

Um pacote de iniciativas que visam impulsionar a indústria brasileira no setor de saúde foi anunciado pelo governo federal na última quinta-feira (11). Foram firmadas oito parcerias entre laboratórios públicos e privados para a produção nacional de medicamentos e equipamentos, que deve gerar uma economia de R$ 354 milhões em cinco anos, de acordo com o Ministério da Saúde. O governo também vai disponibilizar R$ 7 bilhões para a concessão de crédito a empresas brasileiras com projetos inovadores no campo da saúde, além de R$ 1,3 bilhão para a infraestrutura de laboratórios públicos.

As oito novas parcerias preveem a transferência de tecnologia para produção de cinco medicamentos, uma vitamina e quatro equipamentos que, atualmente, são consumidos por quase 754 mil pessoas. A maior parte desses produtos é importada pelo Ministério da Saúde e ofertado no Sistema Único de Saúde (SUS).

“A economia do governo gerada com a produção nacional chega ao paciente do Sistema Único de Saúde. Quanto menor o gasto do governo com a importação, mais medicamentos poderão ser ofertados gratuitamente pelo SUS”, explicou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, o pacote de medidas visa tornar o mercado de saúde brasileiro mais pujante e independente em relação ao mercado externo. Com isso, será possível reduzir o déficit do setor, que atualmente está em R$ 10,5 bilhões.

Pelos acordos, os laboratórios estrangeiros se comprometem a transferir, aos laboratórios brasileiros, a tecnologia para a produção nacional do medicamento ou da vacina, dentro de um prazo de cinco anos. Como contrapartida, o governo garante exclusividade na compra desses produtos - pelos menores valores cotados no mercado mundial - durante esse mesmo período.

Por meio das parcerias para o desenvolvimento produtivo (PDP) entre laboratórios públicos e privados, o Ministério da Saúde quer garantir o acesso a tratamentos de alto custo e ampliar o atendimento aos pacientes do SUS. Com os novos acordos, estarão em vigor um total de 63 parcerias entre 15 laboratórios públicos e 35 privados para a produção nacional de 61 medicamentos e seis equipamentos. Estima-se que essas PDP resultem em uma economia anual aproximada de R$ 2,5 bilhões para o Ministério da Saúde.

Patentes - O Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) formalizou o compromisso com o Ministério da Saúde de dar prioridade à análise da patente de produtos estratégicos para o SUS, conforme resolução publicada na última terça-feira (9). Com isso, a expectativa é que o tempo de análise seja reduzido de nove anos para nove meses. Estão inseridos no grupo dos produtos estratégicos para SUS, por exemplo, medicamentos para câncer, Aids e doenças negligenciadas.

Os ministérios do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se comprometeram a  elaborar estratégias para agilizar os processos para registro de novos produtos e para a autorização de funcionamento de plantas industriais para investidores nacionais e estrangeiros interessados em implantar novos empreendimentos no país.

Também foi assinado acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Artigos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios, para divulgar à indústria nacional as normas técnicas internacionais específicas para produção de equipamentos e medicamento e, assim, preparar as empresas para competir no mercado global.

Jornal Le Monde: Com Lula, presidente mexicano lança programa inspirado no Fome Zero


 
Na  cidade indígena de Navenchauc, no Estado de Chiapas, no sul do México, que o presidente Enrique Peña Nieto dever lançar nesta sexta-feira (19), sua grande "cruzada contra a fome". Para essa ocasião, ele convidou o ex-chefe de Estado do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, ícone da luta contra a pobreza. Embora promissor --esse projeto interministerial--, que envolve o setor privado e a sociedade civil, provoca uma série de reservas.

"Não se trata de uma medida de assistência, mas de uma estratégia integral para os mais desfavorecidos", insistiu o presidente em 21 de janeiro em Chiapas, ao assinar o decreto de criação de sua cruzada. Três meses depois, o presidente volta ao Estado, um dos mais pobres do país, para dar o pontapé inicial nesse plano destinado a 7,4 milhões de mexicanos em 400 municípios "altamente marginalizados", dos quais 60% são indígenas.

Distribuição de alimentos, oficinas de formação em boa alimentação, acesso aos serviços de saúde e de educação, melhora da produção e da comercialização agrícolas... Medidas dotadas de um orçamento equivalente a 18 bilhões de euros, que visam principalmente erradicar a desnutrição infantil. Esse programa se inspira no plano brasileiro Fome Zero, lançado em 2003 pelo presidente Lula. "Hoje nós convidamos Lula porque o Fome Zero foi um sucesso", justificou a ministra mexicana do Desenvolvimento Social, Rosario Robles, que comanda o projeto.

A aposta é grande: 11 mil mexicanos morreram de fome em 2011, segundo o governo. A pobreza atinge cerca da metade da população. Para enfrentar esse desafio, todos os ministérios foram mobilizados, assim como os Estados e os municípios envolvidos. A sociedade civil não ficou fora. Um Conselho Nacional que reúne representantes do setor privado, ONGs, universidades, assim como os 31 governadores, além do prefeito da Cidade do México -- encarregado de orientar e avaliar o programa.

A juventude e a produção de sentido


Por Frei Betto, no sítio da Adital:

Muitos pais se queixam do desinteresse dos filhos por causas altruístas, solidárias, sustentáveis. Guardam a impressão de que parcela considerável da juventude busca apenas riqueza, beleza e poder. Já não se espelha em líderes voltados às causas sociais, ao ideal de um mundo melhor, como Gandhi, Luther King, Che Guevara e Mandela.

O que falta à nova geração? Faltam instituições produtoras de sentido. Há que imprimir sentido à vida. Minha geração, a que fez 20 anos de idade na década de 1960, tinha como produtores de sentido Igrejas, movimentos sociais e organizações políticas.

A Igreja Católica, renovada pelo Concílio Vaticano II, suscitava militantes, imbuídos de fé e idealismo, por meio da Ação Católica e da Pastoral de Juventude. Queríamos ser homens e mulheres novos. E criar uma nova sociedade, fundada na ética pessoal e na justiça social.

Os movimentos sociais, como a alfabetização pelo método Paulo Freire, nos desacomodavam, impeliam-nos ao encontro das camadas mais pobres da população, educavam a nossa sensibilidade para a dor alheia causada por estruturas injustas.

As organizações políticas, quase todas clandestinas sob a ditadura, incutiam-nos consciência crítica, e certo espírito heroico que nos destemia frente aos riscos de combater o regime militar e a ingerência do imperialismo usamericano na América Latina.

Quais são, hoje, as instituições produtoras de sentido? Onde adquirir uma visão de mundo que destoe dessa mundividência neoliberal centrada no monoteísmo do mercado? Por que a arte é encarada como mera mercadoria, seja na produção ou no consumo, e não como criação capaz de suscitar em nossa subjetividade valores éticos, perspectiva crítica e apetite estético?

As novas tecnologias de comunicação provocam a explosão de redes sociais que, de fato, são virtuais. E esgarçam as redes verdadeiramente sociais, como sindicatos, grêmios, associações, grupos políticos, que aproximavam as pessoas fisicamente, incutiam cumplicidade e as congregavam em diferentes modalidades de militância.

Agora, a troca de informações e opiniões supera o intercâmbio de formação e as propostas de mobilização. Os megarrelatos estão em crise, e há pouco interesse pelas fontes de pensamento crítico, como o marxismo e a teologia da libertação.

No entanto, como se dizia outrora, nunca as condições objetivas foram tão favoráveis para operar mudanças estruturais. O capitalismo está em crise, a desigualdade social no mundo é alarmante, os povos árabes se rebelam, a Europa se defronta com 25 milhões de desempregados, enquanto na América Latina cresce o número de governos progressistas, emancipados das garras do Tio Sam e suficientemente independentes, a ponto de eleger Cuba para presidir a Celac (Comunidade do Estados Latino-Americanos e Caribenhos).



Vigora atualmente um descompasso entre o que se vê e o que se quer. Há uma multidão de jovens que deseja apenas um lugar ao sol sem, contudo, se dar conta das espessas sombras que lhes fecham o horizonte.

Quando não se quer mudar o mundo, privatiza-se o sonho modificando o cabelo, a roupa, a aparência. Quando não se ousa pichar muros, faz-se tatuagem para marcar no corpo sua escala de valores. Quando não se injeta utopia na veia, corre-se o risco de injetar drogas.

Não fomos criados para ser carneiros em um imenso rebanho retido no curral do mercado. Fomos criados para ser protagonistas, inventores, criadores e revolucionários.

Quando Hércules haverá de arrebentar as correntes de Prometeu e evitar que o consumismo prossiga lhe comendo o fígado? "Prometeu fez com que esperanças cegas vivam nos corações dos homens”, escreveu Ésquilo. De onde beber esperanças lúcidas se as fontes de sentido parecem ressecadas?

Parecem, mas não desaparecem. As fontes estão aí, a olhos vistos: a espiritualidade, os movimentos sociais, a luta pela preservação ambiental, a defesa dos direitos humanos, a busca de outros mundos possíveis.

Postado por Miro

A equação do crescimento

Redução da taxa de juros, desoneração da tarifa de energia elétrica são algumas ações do governo Dilma destacadas pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, como fundamento para geração de empregos que sustenta o crescimento da economia brasileira. Convidado a participar de uma reunião do Grupo de Conjuntura da Fundação Perseu Abramo, Augustin foi entrevistado para Teoria e Debate pelos economistas Jorge Mattoso, Guilherme Mello, o diretor da Fundação Joaquim Soriano e a editora Rose Spina

Rose Spina – Em palestra na Fundação Perseu Abramo, o senhor afirmou que estão lançadas no Brasil as bases para uma economia com crescimento sustentável. Quais são essas bases?

Arno Augustin – O Brasil, historicamente, vem trabalhando para o crescimento, mas com uma estrutura de preços ainda insuficiente em áreas fundamentais para crescer em médio e longo prazo. Dois dos preços que precisavam ser alterados e o foram em 2012 são o câmbio e o juro. A mudança que conseguimos com a redução substancial da Selic e com o câmbio mais realista, possibilitando à indústria brasileira melhores condições em um mundo em crise, com guerra cambial, faz com que as perspectivas para o país, em 2013 e nos anos subsequentes, sejam boas.

Nos primeiros dois meses deste ano, reduzimos 20%, em média, o preço da energia elétrica, com o propósito de diminuir custos para a indústria e transferir mais renda para as famílias, estimulando assim a competitividade internacional e o mercado interno.

O objetivo central das ações do governo é reestruturar preços (câmbio, juros) e diminuir custos – como se deu com a energia –, ter tributação mais adequada e preços relativos que estimulem o emprego. E isso está sendo feito, com a redução da tributação sobre a folha de salários, por exemplo, e também com o aumento significativo do investimento público, por meio do PAC, além de um programa de concessões em infraestrutura com participação do setor privado. Mas tudo a partir de uma estratégia que atende ao interesse nacional.

Assim será, por exemplo, com o novo modelo de concessão de ferrovias, que democratiza e possibilita acesso amplo do conjunto da atividade produtiva à infraestrutura. No modelo antigo, beneficiava-se apenas o eventual concessionário, que por vezes tinha por interesse principal garantir o transporte das mercadorias do seu negócio. Então, um sistema com maior infraestrutura para o conjunto da economia é importante e faz com que haja uma expectativa de que o país, em 2013, retome com força o crescimento.

Jorge Mattoso – A dívida líquida do setor público, que vem de 60% do PIB, no início do primeiro governo Lula, está hoje em 35%. Como se dará a continuidade desse processo de diminuição, frente às desonerações que vêm sendo realizadas?

Arno Augustin – Uma das principais conquistas do último período foi retomar os instrumentos de decisão do Estado. Ou seja, o Estado fazer políticas de interesse nacional e política econômica. Hoje, o Brasil tem uma relação dívida/PIB muito confortável, e mesmo em 2012, um ano de crise e crescimento baixo, essa relação não aumentou – é uma variável sob controle. A opção por desonerações e aumento dos investimentos se faz ao longo de cada período de acordo com desempenho da economia. Então, os movimentos de superávit primário maior ou menor se dão em função do que a economia exige. Assim, fizemos um primário menor em 2012 porque achamos que era melhor para a economia, como foi em 2009.

A tendência de queda na relação dívida/PIB é importante, mas isso ocorre porque o juro caiu significativamente – queda que ocorrerá, possivelmente, de forma mais forte em 2013. Todos esses elementos dão ao Brasil condição bem diferente da dos Estados Unidos e dos países da Europa. Os EUA estão com enormes dificuldades para equacionar a questão fiscal, hoje no centro da discussão entre Congresso e Executivo. Na Europa, vários países vivem uma crise fiscal enorme. E, felizmente, o Brasil está em condição mais favorável, tem conseguido inclusive melhorar muito sua curva de juros externa.

Nosso último lançamento de título do Tesouro Nacional no mercado externo, título de dez anos, foi a uma taxa próxima a 2,68%, que é muito baixa. Essa tendência de queda das taxas de risco, cobradas da curva soberana do Brasil e, portanto, também das empresas brasileiras, é prova de que o mercado internacional considera o Brasil com fundamentos sólidos. O mercado financeiro internacional enxerga um país com estabilidade.

A conquista da governabilidade permite que se mantenha a tendência de queda da relação dívida/PIB com investimentos maiores e desonerações. Essa é a equação, a ideia é aprofundar o ciclo virtuoso no qual o Brasil está inserido.

Jorge Mattoso – Temos como reivindicação histórica uma reforma com o objetivo de reduzir a desigualdade tributária. Esse processo de desonerações dá início a outro tipo de reforma nessa perspectiva, sem necessariamente passar pelo Congresso? Nesse sentido duas medidas foram muito importantes: a redução do preço da energia e a desoneração da cesta básica.

Arno Augustin – Historicamente, os tributos indiretos no Brasil têm uma participação alta, mas podem ser seletivos. Reduzir Cofins e IPI da cesta básica contribui para uma tributação mais justa. Reduzir tributação sobre a folha de salários também ajuda a ter uma distribuição, do ponto de vista social, com maior efetividade econômica, embora não mude a relação de quem paga o tributo. Mas, o principal problema da tributação no Brasil é a guerra fiscal com o ICMS, com destaque para aquela vinculada à importação. Vários estados faziam com que o produto importado tivesse uma tributação de ICMS menor, o que prejudicava muito a capacidade de geração de emprego no país.

Então, ao passar a tributação do estado de entrada da mercadoria para o estado de destino, eliminamos a chamada “guerra fiscal dos portos”. Temos um projeto no Congresso da alíquota interestadual do ICMS e confiamos que possa ser votado logo. Isso diminuirá e poderá eliminar em médio prazo a guerra fiscal no Brasil.

O processo de justiça tributária envolve vários elementos, e sempre podemos discutir formas de melhorar a distribuição da carga tributária. O governo, por exemplo, reduziu de forma significativa a tributação das pessoas de menor renda ao zerar todos os tributos federais sobre a cesta básica. Talvez tenha de discutir formas de ampliar isso. Os próprios estados podem também reduzir a tributação e melhorar a distribuição.

Como o Brasil tem uma situação fiscal melhor, podemos fazer parte da reforma tributária por meio da desoneração, como fizemos com a folha de salários em vários setores. Essa medida ajudará a geração e formalização de empregos.

Entretanto, se conseguirmos reduzir de forma significativa a guerra fiscal com o ICMS, haverá ganhos enormes em segurança jurídica, investimentos, arrecadação dos estados e, portanto, em gastos da área social.

Jorge Mattoso – Até recentemente, o estímulo ao crescimento veio dos avanços no mercado de trabalho, principalmente do salário mínimo, e do mercado interno com transferência de renda. Houve também elevação do investimento público, que passou de 1,1 para 4,4 pontos percentuais do PIB no período, e de outros gastos pouco mencionados como em educação... Economistas falam pouco sobre a importância que tem uma elevação nesses gastos. Como você situa essas questões no curto, médio e longo prazo, sobretudo pensando um ciclo de crescimento sustentável?

Arno Augustin – A falta de infraestrutura é um fator que restringe o crescimento. Portanto, o aumento da infraestrutura e do investimento público é objetivo do governo e vem sendo realizado, principalmente, por meio de dois programas. O Minha Casa, Minha Vida, que já entregou 1 milhão de casas com previsão de mais 2 milhões para a segunda fase. E o PAC 1 e 2, conjunto de infraestrutura realizado pelo governo e pelo programa de concessões, em parceria com a iniciativa privada, para colocar infraestrutura pública à disposição da sociedade. Os dois programas aumentam o investimento e geram demanda agregada para o país, o que garante condições de crescimento.

Talvez uma das restrições estratégicas mais relevantes seja a educação. Ou seja, é preciso muito investimento para reduzir os déficits de formação educacional que o crescimento econômico tende a gerar.

A Constituição determina que o gasto em educação seja de 18% da receita. Em 2012, o Brasil destinou 25% para a área. Portanto, há um crescimento forte dos gastos federais em educação, uma vez que se trata de um motor importante para acabar com a restrição de mão de obra em vários setores que impede o crescimento de médio e longo prazo.

 

Na área de educação, há o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), específico em educação profissional e tecnológica e, também, o Programa Universidade para Todos (Prouni), que dá maior acesso dos jovens à educação superior.  Também é importante a ideia de que todo e qualquer recurso novo que a sociedade possa auferir, como o pré-sal, seja empregado em educação. Esse esforço deve ser contínuo, até porque seus efeitos são de médio e longo prazo. Se o Brasil não vencer o desafio de ter maior infraestrutura educacional, essa será a restrição principal no próximo período.

Guilherme Mello – No caso do câmbio houve uma mudança estrutural importante, não só de patamar, mas na institucionalidade de gestão da taxa do câmbio. Criou-se uma série de instrumentos que reduziram sua volatilidade, atualmente com pequenas variações – já foi para R$ 2,10 e está em R$ 1,95. Essa institucionalidade é suficiente para gerir o câmbio e deixá-lo nesse patamar que você considera adequado?

Arno Augustin – O governo não define meta do câmbio, evitamos falar em número. É certo que a valorização que o real já alcançou em alguns períodos, com dólar a R$ 1,50, é evidentemente excessiva e, portanto, um empecilho para a competitividade de nossas exportações. Todos os países do mundo estão praticando guerra cambial, ou seja, desvalorizando a própria moeda com o objetivo de melhorar e aumentar exportações e competitividade.

É necessário proteger nossa economia, e isso significa evitar a volatilidade do câmbio e a valorização excessiva do real. Vários instrumentos são utilizados, como o IOF e a redução da taxa de juros, mas a ideia é que o câmbio garanta às nossas empresas maior nível de competitividade. O câmbio deve ser visto em relação à ação dos outros países. Não há dúvida de que o país que não protege a economia em uma situação internacional como a que estamos vivendo tende a ter muitos prejuízos.

Continuaremos com essa política porque ela é fundamental para manter nossa indústria.

Rose Spina – O termo concessão é recebido com muita reserva pela esquerda. Em São Paulo as concessões dos governos tucanos, por exemplo, são problema sério. As realizadas pelo governo federal são diferentes no quê?

Arno Augustin– O governo da presidenta Dilma trabalhou com parcerias privadas em várias áreas, mas com critérios muito claros que garantem alguns conceitos. Um deles é que compete ao Estado garantir a universalidade da infraestrutura. Por exemplo, durante muito tempo as concessões de ferrovias no Brasil foram feitas para um determinado grupo, restringindo a participação de competidores, o que retirava completamente o caráter público.

Não há nenhuma restrição à participação do setor privado na ação governamental; a obra pública é realizada pelo setor privado. Para nós é fundamental que as condições garantam o interesse público, e isso tem ocorrido. Também, no caso das rodovias o programa estabelece que todo investimento seja feito nos primeiros cinco anos e a cobrança de qualquer tipo de contraprestação, de pedágio, somente ocorra depois que uma parte do investimento seja efetivamente realizada.

Há um conjunto de parâmetros de defesa do interesse público presente no programa de concessões e de parcerias público-privadas que o governo lançou em várias áreas – rodovias, ferrovias, aeroportos, aviação regional, portos –, em que se tem buscado o fim de restrições à entrada de competidores, eliminando, portanto, custos muito altos do uso da infraestrutura.

Há um conjunto de aperfeiçoamentos do ponto de vista regulatório que permitirá um padrão de qualidade da infraestrutura pública no Brasil. O trem de alta velocidade de Campinas ao Rio de Janeiro, por exemplo, será feito dentro de um sistema de duas licitações – uma para tecnologia e operação do serviço e outra para infraestrutura –, de tal forma que teremos modicidade tarifária. Isso fará com que haja competição e as tarifas sejam baixas. Então, a existência de concorrência depende muito de um modelo regulatório adequado.

Guilherme Mello – Por que a opção pela parceria público-privada, em vez de investimento puramente público?

Arno Augustin – A obra pública é feita por meio de uma licitação na qual concorre o setor privado. O que importa para efeito do interesse nacional são as condições em que se dá a participação privada. É preciso garantir que o Estado tenha controle sobre a universalidade da concessão de serviços e a formação dos preços na prestação de serviços, de forma que estes sejam os menores possíveis, preservando a qualidade.

Há várias áreas em que o serviço público pode e deve ser feito por meio de concessão. O importante é a regulação existente. A discussão é muito mais no mérito de cada um dos modelos. Em nenhum caso há venda de patrimônio público constituído, não há privatização. Há processo de investimento novo, no qual, sob condições de interesse nacional, a iniciativa privada participa. O Brasil precisa desse choque de melhorias e de mais investimentos.

O investimento feito através de PPP, eventualmente, pode ter maior velocidade, e isso é importante. Boa parte dos que estamos fazendo tem, inclusive, cronogramas bastante rígidos.

Joaquim Soriano – Sobre os problemas portuários, além de dificuldades burocráticas para importação e exportação, há a questão dos sindicatos, nem sempre afeitos a mudanças. Há como interceder nessa relação?

Arno Augustin – Existe o Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), entidades de caráter administrativo, fiscalizador e profissionalizante, que atuam nos portos públicos, dentro do perímetro de áreas portuárias, e existe o Terminal de Uso Privativo (TUP).

No projeto que o governo encaminhou, o órgão continua a existir, não está sendo alterado no que concerne às estruturas de portos públicos. Apenas está sendo deixado claro na legislação que para os TUPs é optativo. Não há no nosso entendimento nenhuma mudança que implique redução de direitos dos trabalhadores. Não estamos mudando o Ogmo no que ele é relevante. Na verdade, o que se fez nos portos foi impedir barreira de entrada. Havia um conjunto de barreiras de entrada para novos participantes, o que tornava a atividade portuária, em alguns casos, extraordinariamente lucrativa, com custos muito altos para a economia brasileira.

Então, ao abrir para que a infraestrutura possa ser ampliada de forma significativa, estamos mirando custos menores. Nos portos públicos, por exemplo, as licitações serão por menor tarifa para o usuário, ou seja, para o exportador, para nossa economia. Não faremos mais licitação por outorga, por pagamento ao poder público. Ou seja, vamos reduzir muito os custos portuários.

Jorge Mattoso – Nos anos 1980 e 1990, com a ausência de investimentos no campo da infraestrutura, ocorreu uma forte deterioração do Estado, e coube aos governos recentes dar conta de toda a demanda resultante de anos de destruição.

Arno Augustin – O Brasil tinha o Grupo de Estudos para a Integração da Política de Transportes (Geipot), responsável pela realização de projetos, planejamento, infraestrutura etc, que foi extinto. Agora, junto com o lançamento do programa de ferrovias e rodovias, a presidenta Dilma criou a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que é uma forma de voltar a ter estruturas de planejamentos, projetos de médio e longo prazo, porque nessa área o país deixou de produzir capacidade instalada. O potencial de execução de projetos do país é bem menor do que gostaríamos. Há restrição de tempo para fazer o projeto, número de profissionais habilitados, empresas públicas com condição para isso...  

Há um conjunto de necessidades do ponto de vista da capacidade do Estado de planejar e realizar investimentos que está sendo reconstruído, em paralelo com a execução das obras. O Brasil, de alguma forma, perdeu isso com o sucateamento de algumas estruturas do Estado.

Joaquim Soriano – Desde os primeiros momentos do governo do presidente Lula uma questão chave para a esquerda era qual a estratégia em curso. A presidenta Dilma em diferentes momentos constrói uma narrativa dando um sentido estratégico a seu governo. Como está esse debate?

Arno Augustin – O governo do presidente Lula e o governo da presidenta Dilma têm o mesmo sentido estratégico. Evidentemente, as condições e as tarefas são diferentes. Muita coisa foi feita nos governos Lula, e o desafio hoje de caráter estrutural exige uma formulação de longo prazo.

Num primeiro mandato se tratava de recuperar e realizar um conjunto de tarefas iniciais de curto prazo. No seguinte, a primeira tentativa de planejamento mais forte foi o PAC. E agora, há um conjunto de medidas de longo prazo. É hora de mudar algumas condições estratégicas que impediam o crescimento de médio e longo prazo.

O Brasil já foi um país com taxas de crescimento muito elevadas e capaz de fazer sua infraestrutura andar. É preciso retomar isso. A capacidade do Estado de ordenar isso é um fator-chave, e essa é a principal preocupação da presidenta. Ou seja, fazer com que a infraestrutura e os objetivos sociais do governo possam ser realizados nos prazos adequados e ser efetivos para o cidadão.

O Brasil sem Miséria, os programas de melhoria da distribuição de renda, a educação e o crescimento da infraestrutura têm papel importante. Assim como as mudanças de marcos regulatórios e de preços, como é o caso da taxa de juros. Isso é estratégico. Estamos pensando na construção do Brasil no prazo mais longo, e essa inflexão só pôde ocorrer porque o país retomou as condições de governabilidade, com níveis de reservas muito altos e dívida muito menor.

Guilherme Mello é pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura do Instituto de Economia da Unicamp

Jorge Mattoso é economista e consultor, com doutorado pela Unicamp e pós-doutorado pelo IRES, na França. Foi presidente da Caixa Econômica Federal (2003-2006)

Joaquim Soriano é diretor da Fundação Perseu Abramo

Rose Spina é editora de Teoria e Debate

Novos partidos e hipocrisia da oposição


 
Por José Dirceu, em seu blog:

Continua a hipocrisia da oposição, dos novos e antigos oposicionistas, em relação ao projeto que proíbe levar tempo de rádio e TV e dinheiro do fundo partidário para novos partidos. O projeto em avaliação há meses, de autoria do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), foi aprovado em primeiro turno na Câmara na semana passada e continua sua tramitação.

Ele encerra o mercado aberto de mandatos e partidos estabelecido quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em decisão referendada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quebrou a fidelidade partidária e estabeleceu que parlamentar que muda de partido pode levar para o novo o tempo de rádio e TV e a parcela correspondente do fundo partidário.

O presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, fez declarações a respeito: "(Com o projeto) querem esvaziar uma candidatura de Marina (presidenciável ex-senadora Marina Silva) e esvaziar minha possível candidatura. Ou seja, querem anular a eleição (2014). Quando conseguirem isso, vão partir para cima dos Estados e arrasar as candidaturas adversárias em Minas, São Paulo e Pernambuco".

Resposta vem de uma voz insuspeita

Em meio a equívocos e distorções - o mais aberrante deles, a história de que o projeto proíbe a criação de partidos, quando ela nem trata disso - uma voz insuspeita veio desmascarar os fariseus: o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente nacional de seu partido, lembrou bem que quando da criação do PSD, partido do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, os que hoje criticam ou se omitiram ou se aproveitaram para disputar deputados do DEM.

A verdade é que a decisão do STF autorizando o parlamentar que muda para um partido nascido da fusão, ou para um novo, levar tempo de rádio e TV e fundo partidário foi um gravíssimo erro. Enterrou a fidelidade partidária que essa mesma Corte garantira, para depois flexibilizar autorizando a mudança por perseguição, autorização do partido de origem, mudança de programa (sic) e ingresso em legenda resultante de fusão ou que seja um novo partido.

Como vemos, o casuísmo não é privilegio apenas dos que agora se opõem ao projeto Edinho Araujo.

Postado por Miro

Feliciano é a Ponta de Lança da Ameaça de Um Golpe de Estado


Todos que trabalham com a Arte ou mesmo com seres humanos e os que se sentem mortais, humanos, estão putos com esta situação na Comissão dos Direitos Humanos que anuncia coisa pior: o Congresso agora vai votar por uma proposta-lei dos Evangélicos Fundamentalistas pra derrubar o Estado Laico Brasileiro.

Esta ação política corresponde a um Golpe Militar no Estado Democrático Republicano Brasileiro, que há mais de séculos tem sido, felizmente, um Estado Laico.

A regressão aos estados fundamentalistas tem sido a causa de inúmeras guerras e de situações estupradoras monstruosas dos direitos humanos em todo Planeta Terra.

Precisamos todos nos movimentar urgentemente para impedir este Golpe de Estado para não sermos condenados a desumanidade das Ditaduras das Religiões Fundamentalistas.

Este Infeliz Feliciano é a Ponta de Lança da Ameaça de Um Golpe de Estado tão nefasto quanto o de 1964.

Além dos artistas, nós todos, mortais humanos, que assim se aceitam e que não temos versão única da vida, da “verdade”, nem somos proprietários dela, que amamos a liberdade temos de criar juntos meios para que esta regressão nefasta de aprisionamento da vida aqui no Brasil não aconteça.

É trabalho não somente de artista, mas de todos os humanos que tem amor ao Poder de nossa Condição Humana livre de tutela da Boçalidade Fundamentalista de uma Verdade Única.


Nem farda nem toga


A Constituição não deixa dúvidas de que, em casos de choque, a prevalência é do poder político

por Mauricio Dias

De uma só canetada o ministro Gilmar Mendes bloqueou o projeto que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou em velocidade comparativamente semelhante: um minuto. Medida pela contagem de tempo foi assim que teria se formado a explosão do conflito entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) que levou submissos o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Henrique Alves, à sala do ministro do STF, em busca da conciliação.

Não se explica assim, no entanto, a formação da nova crise entre os dois Poderes. O Legislativo e o Judiciário estão em rota de colisão há muito tempo. Mas o poder é político. Não é da farda ou da toga. Nas democracias o predomínio é dos deputados e dos senadores e não dos generais ou dos magistrados.

O estopim atual é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 33) de autoria do petista piauiense Nazareno Fonteles, relatada pelo tucano goiano João Campos. A PEC é um desastre político. Tenta, por exemplo, reinventar o que já existe. Dois exemplos inscritos na Constituição Brasileira, em vigor desde 1988: o artigo 49, inciso XI, na seção II que estabelece as Atribuições do Congresso Nacional, explicita que é da “competência exclusiva” do Congresso “zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa de outros poderes”. Por sua vez, o artigo 52, inciso X, dá poderes ao Senado para “suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal”.

A PEC 33 propõe um retrocesso: se o Congresso não apreciar a decisão do STF em até 90 dias, ela ganha validade permanente. Por fim, mas não menos importante, Nazareno, apoiado por Campos, deu à PEC um caráter partidário no que deve ser suprapartidário para possibilitar a aprovação. Não sendo assim, permitiu à oposição, estimulada pelo fantasma eleitoral, denunciar suposto interesse do Palácio do Planalto na proposta.

Nazareno foi auxiliado pela reação de Gilmar Mendes. O ministro do STF espalhou a brasa ao interferir no projeto que tramitava na Câmara. Assim, por meio de uma corriqueira liminar, soterrou a soberania popular que fundamenta a democracia. Por essa razão, sustentam os compêndios constitucionalistas, a Constituição sustenta a prevalência dos poderes políticos (Executivo e Legislativo) sobre o Judiciário.

Este é um fato acachapante. Por isso, as nomeações para o STF e demais tribunais superiores são privativas dos poderes políticos. Essa supremacia também fica evidente no processo de impedimento de ministros por decisão do Congresso.

Nesse sentido há juristas, insuspeitos politicamente, que apontam para um “grande erro” do governo Lula por patrocinar a Emenda Constitucional 45, que introduziu no Brasil a Súmula Vinculante. Com ela, o Supremo passou a submeter toda a administração, direta e indireta, sem o crivo do Congresso, a exemplo do que acontece com as Medidas Provisórias. Por trás da decisão há o dedo do advogado Márcio Thomaz Bastos, quando ministro da Justiça.

A união faz a força I

São mais fortes os elos que unem o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o procurador e ex-senador Demóstenes Torres. A Constituição de 1988 criou dois regimes jurídicos para o Ministério Público. Os procuradores teriam de optar pela vitaliciedade ou não do cargo. Gurgel e Torres ficaram fiéis ao regime anterior a 88. Abriram mão da vitaliciedade pela liberdade para, licenciados, entrarem na política, como ocorreu com Torres.

A união faz a força II

Nessa condição se mantiveram, entretanto, sujeitos a punição por decisão administrativa e não por sentença judicial.

Entretanto, no dia 25 de abril, por decisão do Conselho Nacional do Ministério Público, em apertada vitória, de 7 a 5, comandada por Gurgel, o ex-senador fugiu do julgamento dos pares.

Ganhou status de membro vitalício e uma cosita a mais. Envolvido até o pescoço com o bicheiro Carlinhos  Cachoeira, mesmo que punido pela Justiça, ele se aposentará com a polpuda renda mensal de 22 mil reais.

Conflito de interesses

Após a batalha travada em defesa da integridade territorial do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, o ex-deputado Liszt Vieira deixou a direção da instituição convicto de que a situação expõe o confronto entre o interesse público e o interesse privado em torno daquela privilegiada área. A maioria das 620 famílias, de ocupantes e invasores, é de classe média, sendo uma minoria de renda baixa e outra de renda alta. Há moradores com salários entre 12 mil e 16 mil reais mensais, além de pequenos empresários donos de oficinas mecânicas e escritórios de paisagismo.

Mutirão contra Dilma I

A oposição unida (a reacionária, a conservadora, a esquerda como o PSOL, e a de oportunidade, como o governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB) joga o destino, em 2014, na criação do partido da ex-petista Marina Silva. Com Marina na corrida presidencial aumenta a possibilidade de ser realizado o sonho da oposição: impedir a vitória de Dilma no primeiro turno.

A tática da oposição é a formação de um mutirão.

Mutirão contra Dilma II

Dos três opositores, Marina seria, hoje, a candidata com mais votos. Serra, fora da disputa de 2014, ainda teria mais votos (12%) do que Aécio e Eduardo. Se a eleição fosse hoje, a soma obtida pelos candidatos de oposição chegaria a 30%. Dilma resolveria a disputa no primeiro turno com 58% dos votos (tabela).

Em tese, o tempo permite mudanças que podem favorecer um lado e outro: a inflação, a criação do partido de Marina e até mesmo o recuo de Eduardo Campos.

Mas o cenário só muda se a economia abalar a popularidade da presidenta.

Eleições: Atropelamentos

Há quem acredite que a candidatura do governador Eduardo Campos à Presidência esteja brotando. É possível. Mas não deixará de ser surpresa.

Campos, da base de um governo, busca apoio da direita para deslocar, à esquerda, a preeminência do PT. Ele não se importa com o tamanho da contradição. Serve à oposição.

O discurso público do contraditório “governista-oposicionista” se resume, no entanto, em dizer que é possível “fazer mais” pelo Brasil. Tímido e capcioso, ele não diz quem e como.

Nos últimos dias, percorrendo esse caminho, já atropelou duas pessoas.

A primeira foi a presidenta. Antecipou-se à presidenta Dilma e prometeu entregar à educação o que Pernambuco ganhar com a redivisão dos royalties do petróleo. Em seguida, vitimou Sérgio Cabral ao oferecer palanque ao secretário de Segurança do governo fluminense, José Mariano Beltrame, caso ele queira ser candidato à substituição de Cabral. Foi desmentido, mas não corou.

Já é público que Beltrame, caso troque a polícia pela política, está nos planos eleitorais de Cabral.

O que está incomodando os norte-coreanos?


 
*Por Gregory Elich

As relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte chegaram a um nadir e na maioria dos noticiários ocidentais é a aparente irracionalidade da dura retórica emanando de Coreia do Norte a culpada de tudo. Inexplicavelmente, assim somos informados, a Coreia do Norte escolheu elevar a tensão.

O que está faltando nessa imagem de comportamento norte-coreano hostil e de vítima inocente estadunidense é o contexto.  Como é frequente, a mídia apresenta os fatos de maneira isolada como se estes surgissem do nada e sem causa.

Não é preciso retroceder muito no tempo para discernir o que está preocupando a Coreia do Norte. Nos últimos meses, o governo Obama tomou uma série de medidas que a RDPC (República Popular Democrática da Coreia, o nome oficial da Coreia do Norte), tem percebido como ameaças.

A primeira medida na direção de uma piora das relações veio em outubro de 2012, quando os Estados Unidos concederam uma isenção à Coreia do Sul no âmbito do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, permitindo a esta estender o alcance de seus mísseis balísticos, que passariam assim a cobrir todo o território da Coreia do Norte.   i Em decorrência dessa isenção passou a haver um conjunto de termos aplicáveis a todas as nações signatárias do tratado e outro conjunto diferente, aplicável apenas à Coreia do Sul, cujo claro propósito é manter sob mira alvos no país vizinho.

No mesmo mês, oficiais militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul encontraram-se para sua Reunião Consultiva de Segurança anual, onde acordaram amplas mudanças em sua aliança. A mais importante destas diz respeito ao plano denominado de “dissuasão sob medida” (tailored deterrence), que preconiza operações militares conjuntas entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul contra a Coreia do Norte em um sem-número de cenários, incluindo incidentes menores. Qualquer “provocação” da Coreia do Norte deve ser respondida com força desproporcional e, de acordo com um oficial militar sul-coreano, “essa estratégia será aplicada tanto em tempos de paz quanto de guerra”.

Um componente essencial da dissuasão sob medida é a “cadeia de destruição” (kill chain) usada para detectar e atacar bases de mísseis norte-coreanos, em que satélites e aviões não tripulados estadunidenses detectam alvos para que mísseis sul-coreanos e aviões de guerra os destruam. O plano prevê um ataque preventivo baseado na percepção de um lançamento iminente de mísseis norte-coreanos. O Subcomandante do Comando das Nações Unidas para a Coreia, General Jan-Marc Jouas, explica que os mísseis norte-coreanos podem rapidamente tornar-se alvos “antes de estarem prontos para lançamento”. Ou seja, objetivamente, poder-se-ia lançar um ataque contra mísseis norte-coreanos com base apenas em suposições, mesmo quando tais mísseis não estejam em posição de disparo.

No dia 12 de dezembro de 2012 a RDPC lançou um satélite de observação terrestre em órbita, provocando uma condenação do governo Obama que acusava o voo de ser um teste de míssil balístico disfarçado. Resoluções das Nações Unidas proíbem a Coreia do Norte de testar mísseis balísticos, mas Pyongyang argumenta que o envio de um satélite ao espaço não é o mesmo que testar mísseis balísticos. Especialistas em tecnologia de mísseis tendem a concordar com isso, apontando para o fato de que o míssil lançado pela RDPC não apresentava um desempenho que o permitisse servir como MBIC (míssil balístico intercontinental) e que seu curso fez uma mudança brusca de direção para evitar um sobrevoo sobre Taiwan e as Filipinas, uma ação contraproducente para um teste de míssil balístico.

Navios de Guerra da Coreia do Sul conseguiram resgatar destroços do míssil norte-coreano e as análises mostraram que um pequeno motor com um empuxo de 13–14 toneladas propelia o segundo estágio.  Em seu relatório, o engenheiro aeroespacial Marcus Schiller, de Munique, afirma que um segundo estágio com baixo empuxo e longo tempo de queima, tal como usado pelos norte-coreanos, é precisamente o projeto requerido para um lançador de satélite. Esse projeto é necessário para permitir atingir altitude suficiente para colocar um satélite em órbita.   No entanto, tal projeto é inapropriado para um teste de míssil balístico, já que este teria um alcance de mais de mil quilômetros. Para testar um míssil balístico, o segundo estágio deveria ter um projeto oposto, com alto empuxo e baixo tempo de queima. Schiller conclui dizendo que as notícias da mídia ocidental de que o lançamento do satélite norte-coreano serviu como teste de míssil balístico “não são verdadeiras”.

Michael Elleman, analista de segurança do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, observa que os resultados de um lançamento de satélite “têm limitada aplicação a mísseis balísticos”, uma vez que apenas uma fração dos procedimentos e itens pode ser testada. “Outros requisitos, notadamente tecnologias de reentrada e requisitos de flexibilidade operacional, não podem ser devidamente resolvidos com lançamentos de satélites”. Elleman diz em seu relatório que, por essas e outras razões, os lançamentos de satélites por mísseis da Coreia do Norte “não são um substituto para um teste de míssil balístico”.

Curiosamente, no mesmo dia em que a Coreia do Norte levou seu satélite ao espaço, a Índia, outra potência nuclear, efetuou um teste de míssil balístico sem que autoridades estadunidenses emitissem uma reclamação. Os Estados Unidos não têm carência de engenheiros aeroespaciais e as autoridades estadunidenses estavam certamente cientes de que o lançamento do satélite norte-coreano não poderia ser tecnologicamente interpretado como um teste de míssil balístico disfarçado. Parece que o governo Obama deliberadamente escolheu falsear a verdadeira natureza do lançamento visando seus próprios interesses políticos.

O lançamento do satélite proporcionou ao governo Obama a oportunidade de apertar o cerco em torno da Coreia do Norte e, após extensas negociações, forçar uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas.  Como a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Victoria Nuland explicou, a intenção do governo Obama era “continuar a aumentar a pressão contra o regime norte-coreano. E estamos examinando como melhor fazê-lo, tanto bilateralmente como com nossos parceiros tomando à dianteira. Até que eles entendam a mensagem, teremos que continuar a isolar cada vez mais esse regime”.

Com a aprovação da Resolução 2087 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, datada de 22 de janeiro de 2013, novas sanções foram impostas à Coreia do Norte a despeito do fato de que o tratado internacional do espaço exterior dá o direito de exploração do espaço a “todos os estados sem qualquer tipo de discriminação”.

A Coreia do Norte reagiu com raiva ao ser eleita como a única nação na terra a ter o direito de lançar um satélite negado. A RDPC não se sentiu inclinada a aquiescer ante a imposição de sanções adicionais em um momento em que sua economia já se recuperava das sanções existentes. Um porta-voz do Ministério do Exterior da RDPC salientou que ao forçarem a aprovação da resolução pelo Conselho de Segurança os Estados Unidos violaram a Carta das Nações Unidas, que declara que “a Organização está baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus Membros”.

Falando nas Nações Unidas, o delegado da RDPC So Se Pyong declarou que “Não havia menos de dois mil testes nucleares e ao menos nove mil lançamentos de satélites no mundo desde que a ONU passara a existir, mas jamais houvera uma única resolução de seu Conselho de Segurança que banisse os testes nucleares e o lançamento de satélites”. Acrescentando que os Estados Unidos haviam conduzido mais testes nucleares e lançamentos de satélites do que qualquer outra nação, o delegado disse que os Estados Unidos não deveriam ter permissão para impedir que a Coreia do Norte exercitasse seu direito “de usar o espaço para fins pacíficos”, nem para usar as Nações Unidas “como instrumento para executar sua política de hostilidade contra a RDPC”.

Para surpresa de ninguém, a Coreia do Norte optou por expressar sua resistência à agressividade da política estadunidense dos Estados Unidos conduzindo seu terceiro teste nuclear em 12 de fevereiro de 2013. Vários dias mais tarde, em aparente referência ao Iraque e à Líbia, a mídia norte-coreana relembrou os destinos que se abateram sobre aquelas nações que haviam abandonado sues programas nucleares em resposta a pressões dos Estados Unidos. Esses exemplos, continuou, “ensinam a verdade que a chantagem nuclear dos Estados Unidos deveria ser combatida com contramedidas substanciais, não pelo compromisso ou retirada”.

Um dia depois de o teste nuclear, o Ministro da Defesa da Coreia do Sul anunciou que o país dispunha de mísseis de longo alcance (cruise) capazes de atingir qualquer ponto da Coreia do Norte e que seria acelerado o desenvolvimento de mísseis balísticos de alcance semelhante. E, ainda, que a implementação da cadeia de destruição seria agilizada. Com conclusão originalmente prevista para 2015, a cadeia de destruição foi antecipada e está para ser implantada até o final deste ano.

Enquanto as discussões transcorriam no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a imposição de sanções adicionais à Coreia do Norte, a União Europeia avançava com seu próprio conjunto de medidas, entre elas a proibição de comerciar com entidades públicas norte-coreanas e de negociar títulos públicos da RDPC. Além disso, a UE também proibiu a abertura de bancos europeus na RDPC e o estabelecimento de filiais de bancos norte-coreanos na União Europeia.

As negociações sobre uma resolução do Conselho de Segurança da ONU em resposta ao teste nuclear da Coreia do Norte levaram mais de três semanas. O maior contencioso foi quanto à inclusão ou não do Artigo 42 do Capítulo 7, que teria autorizado o uso de força militar para fazer cumprir as sanções. Tanto os Estados Unidos quanto a Coreia do Sul argumentaram com veemência a favor de sua inclusão. Outra questão difícil foi a inspeção de navios cargueiros norte-coreanos, com longas discussões se seguindo antes que os Estados Unidos e a China chegassem a um acordo sobre a amplitude das inspeções.

Os chineses recusavam-se a concordar com o uso de força militar para fazer cumprir as sanções, acertadamente temendo que isso pudesse aumentar o risco de uma guerra. Nem tampouco aceitavam respaldar as medidas mais duras que os Estados Unidos haviam incluído em sua lista de exigências na versão preliminar do documento.

O uso de força militar para fazer cumprir as sanções teria sido particularmente perigoso, devido à história de como o Artigo 42 tinha servido de pretexto para os Estados Unidos declararem guerra.

Embora os Estados Unidos não tenham conseguido tudo o que queriam, a aprovação da Resolução 2094 do Conselho de Segurança da ONU, em 7 de março de 2013, viu a consecução de muitos dos objetivos por eles defendidos. A resolução requer de todas as nações que inspecionem navios e aviões norte-coreanos suspeitos de estarem carregando produtos proibidos. Fortes restrições foram aplicadas às operações bancárias norte-coreanas. As nações receberam ordem de impedir que indivíduos norte-coreanos transfiram dinheiro em espécie, inclusive o corpo diplomático, que está sujeito a “vigilância redobrada”, em violação à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. Ao eleger diplomatas norte-coreanos como alvo de vigilância, buscas e detenção, os Estados Unidos visam cortar um dos poucos meios de que a RDPC ainda dispõe para participar de transações monetárias internacionais. Sanções bancárias da ONU e dos Estados Unidos têm feito com que a maioria dos bancos internacionais se mostre avessa a transacionar com a Coreia do Norte, forçando a RDPC a realizar o grosso de seu comércio exterior em dinheiro.

 

A medida que promete infligir o maior dano à economia da Coreia do Norte é a que restringe o comércio com os bancos norte-coreanos. “Perseguir o sistema bancário de maneira a mais ampla é sem dúvida o ponto mais forte da pauta,” observa o ex-funcionário do Departamento de Estado estadunidense Evans J. R. Revere. “Aos poucos isso começa a corroer a capacidade da Coreia do Norte de financiar muitas coisas.” Primordialmente o comércio regular, é forçoso notar.

 

Poucos dias depois o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos adicionava suas próprias sanções, proibindo transações entre o Banco de Comércio Exterior da Coreia do Norte e indivíduos e empresas dos Estados Unidos, e aplicando um congelamento aos ativos mantidos sob jurisdição dos EUA. ’O Banco de Comércio Exterior, assinala o Departamento do Tesouro é “o principal banco de câmbio da Coreia do Norte”. A proibição, com efeito, impede bancos e empresas em outras nações de comerciar com o Banco de Comércio Exterior sob pena de serem excluídos do sistema financeiro estadunidense. “Quando há um banco estrangeiro com o qual os bancos estadunidenses não estão fazendo negócios, os bancos de outros países começam a evitar transações com ele,” observa um especialista financeiro. “Eles ficam preocupados de eles mesmos sofrerem as consequências.” Tipicamente, o comércio internacional está baseado no dólar, requerendo que as transações sejam processadas através do sistema financeiro dos Estados Unidos. Por essa razão os “bancos chineses não poderão ajudar a Coreia do Norte”, acrescenta o analista financeiro.

A Coreia do Sul, por sua vez, adotou políticas que aumentam o perigo de uma guerra. De acordo com um militar sul-coreano, “Foi dada autoridade e poder discricionário aos Comandantes para que tomem a iniciativa na eventualidade de uma provocação norte-coreana e inflijam uma retaliação dez vezes mais forte do que o nível de provocação.”  O Diretor de Operações dos Chefes de Estado Maior Conjunto Kim Yong-hyon diz que em resposta a um incidente as forças armadas sul-coreanas “punirão com determinação não apenas a origem da provocação, mas também suas forças de comando.” Não requer muita imaginação para reconhecer o potencial que tal política tem de transformar uma escaramuça menor em uma guerra.

Os Estados Unidos e a Coreia do Sul assinaram recentemente um plano antiprovocação, em que as forças estadunidenses se comprometem a dar apoio às forças sul-coreanas quando estas ataquem um alvo na Coreia do Norte. O plano detalha as ações a serem tomadas em resposta a vários cenários. De acordo com um militar sul-coreano, o plano leva em conta a política sul-coreana “que prevê o lançamento de contra-ataques não apenas contra a origem da provocação, mas também contra forças que a estejam apoiando e contra seus comandantes”. Em alguns cenários “armas estadunidenses podem ser mobilizadas para contra-atacar as águas e solo territoriais da Coreia do Norte”.  O plano antiprovocação exige que a Coreia do Sul consulte os Estados Unidos antes de entrar em ação, mas se Seul requisitar assistência dos Estados Unidos estes não poderão recusar tomar parte em operações militares.

Em uma poderosa demonstração visando intimidar a Coreia do Norte, os Estados Unidos e a Coreia do Sul iniciaram o Determinação Crítica (Key Resolve), seu exercício militar anual no dia 11 de março, sobrepondo-o ao exercício militar Foal Eagle (Pequena Águia), com duração de dois meses, que começou em 1º de março. Durante o exercício, bombardeiros B-52 com capacidade nuclear decolaram de Guam e despejaram munição de treino na Coreia do Sul. Os comandantes estadunidenses sabiam que essa ação inflamaria a sensibilidade da Coreia do Norte, dada a memória dolorosa que os norte-coreanos têm da Guerra da Coreia, quando os bombardeiros dos Estados Unidos levaram a cabo uma política de terra arrasada e destruíram todas as cidades norte-coreanas.

Os Estados Unidos foram gradualmente aumentando a pressão sobre a RDPC, enviando o submarino nuclear USS Cheyenne, equipado com mísseis Tomahawk, para participar no Foal Eagle. Logo depois, bombardeiros B-2 Stealth (Furtivo) cruzaram os céus da Coreia do Sul em exercícios militares. “Como o B-2 tem uma função que o torna invisível ao radar, ele pode penetrar defesas antiaéreas e lançar armamento nuclear e convencional,” comentou um oficial militar. “É a arma estratégica mais temida pela Coreia do Norte.” Note-se que o B-2 é o único avião capaz de despejar uma bomba de 15 toneladas, a Massive Ordnance Penetrator, que pode perfurar 80 metros de concreto antes de ser detonada. Esse avião pode carregar ainda múltiplas armas nucleares. Continuando a escalada de demonstração de força, em seguida os Estados Unidos enviaram avançados aviões de combate F-22 Stealth para a Coreia do Sul.  O governo sul-coreano pediu aos Estados Unidos que não mostrassem esses aviões em público porque isso seria uma provocação desnecessária à Coreia do Norte, solicitação ignorada pelos Estados Unidos.

Para fortalecer o arsenal da Coreia do Sul os Estados Unidos aprovaram a venda de 200 bombas de destruição de casamatas, apropriadas para atingir instalações subterrâneas norte-coreanas. Há planos prevendo o emprego dessas armas até o final do ano. A Coreia do Sul também tem planos de comprar 200 mísseis ar-solo Taurus de longo alcance da Europa, capazes de penetrar até seis metros de concreto armado.

Como parte de seu planejamento para futuras contingências, os Estados Unidos formaram uma organização militar encarregada de entrar na Coreia do Norte e tomar instalações nucleares e armas na eventualidade de uma crise na RDPC. Nesse cenário, forças dos EUA também prenderiam “figuras-chave” e coletariam informações classificadas. Quais indivíduos norte-coreanos estariam sujeitos à prisão por forças estadunidenses não foi informado. Essa força compreenderia as forças armadas, agentes de inteligência e pessoal antiterrorismo estadunidenses. Um exercício implementando o plano fez parte das recém-concluídas manobras Key Resolve.

Tendo feito tudo para provocar os norte-coreanos, o governo Obama aproveitou a oportunidade para apontar a reação daquele país como justificativa para instalar uma pauta de hardware antimíssil. O Pentágono anunciou que estacionaria mais 14 mísseis interceptores em Fort Greely, no Alaska, e prosseguiria com seu plano de colocar um segundo radar antimíssil no Japão.   Uma bateria de Defesa de Área de Alta Altitude Terminal (Terminal High-Altitude Area Defense – THAAD) está programada para sair de Guam para sua primeira utilização  e o radar sobre a plataforma marítima SBX-1 X-Band Radar está aproximando-se do Pacífico ocidental, no que a Marinha diz poder ser a primeira de outras instalações navais.

O jornal Wall Street Journal relata que a demonstração de força foi planejada antecipadamente, naquilo que o governo Obama denominou de “a cartilha.” Os Estados Unidos agiram com a deliberada intenção de ameaçar a Coreia do Norte. De acordo com o artigo, o governo só decidiu dar uma pausa na cartilha quando a mídia revelou o deslocamento de dois destróieres com mísseis guiados para o Pacífico ocidental e essa notícia foi percebida como ensejando um risco potencial de forçar a mão dos norte-coreanos. O deslocamento dos destróieres, dizia-se, não era para ser publicado. Os passos seguintes da cartilha foram paralisados por ora. Também foi noticiado que os Estados Unidos postergarão um voo de teste do MBIC Minuteman em um mês a fim de não aumentar a tensão.

A percepção que o governo Obama deseja transmitir ao público dos Estados Unidos e do mundo, portanto, é a de que os Estados Unidos estão agindo com responsabilidade e buscando tranquilizar a situação. No entanto, um alto funcionário da defesa diz que “Não houve ordem da Casa Branca para que fosse mantido segredo” com relação ao emprego dos destróieres. Além disso, hardware militar recém-incorporado não está sendo recolhido, enquanto o exercício militar combinado estadunidense-sul-coreano Foal Eagle, de larga escala, às portas da Coreia do Norte segue sem dar trégua.

A despeito das alegações de que está baixando o tom de suas ações, o governo Obama está fazendo o contrário. Autoridades dos EUA dizem que o país não pretende entrar em conflito de novo com a RDPC. A dissuasão sob medida e a cadeia de destruição estão com os cronogramas acelerados, lançando a Península da Coreia no fio da navalha da guerra. Entrementes, os Estados Unidos estão trabalhando duro para persuadirem outras nações a adotar sanções contra o Banco de Comércio Exterior da Coreia do Norte e estão considerando outras maneiras de provocar o colapso econômico da Coreia do Norte. Um funcionário do Departamento de Estado dos EUA, cujo nome não foi revelado, fez notar que ainda havia espaço para aumentar as sanções. “Eu não sei o que vai suceder, mas nós não atingimos o máximo; há espaço para avançar e temos que tentar.”

Autoridades estadunidenses solicitaram à União Europeia que aplique sanções ao Banco de Comércio Exterior e esperam-se outras discussões nessa linha.  O Japão e a Austrália já concordaram em se juntar aos Estados Unidos nas sanções ao banco e ambos o funcionário do Departamento do Tesouro David Cohen e o Secretário do Tesouro Jack Lew pediriam à China que faça o mesmo.  O presidente Obama fez uma ligação pessoal ao presidente chinês Xi Jinping, instando-o a aplicar sanções contra o Banco de Comércio Exterior, ao mesmo tempo em que funcionários dos EUA continuam a pressionar a China, insistindo em que se a China não “reprimir” a Coreia do Norte, os EUA aumentarão suas forças militares na Ásia.

Esse desdobramento, certamente reconhecido pelos chineses, visaria à própria China além da Coreia do Norte. A escolha que os Estados Unidos estão dando à China é que os chineses podem ou olhar os Estados Unidos expandirem sua militarização da região e apertar o cerco em torno da China ou aceitar a pressão estadunidense e cooperar para causar a ruína econômica da Coreia do Norte. É provável que, ao escolherem esta última opção, os chineses venham a descobrir que os Estados Unidos não têm nenhuma intenção de reduzir a velocidade de seu pivô asiático e que sua presença militar na região cresceria de qualquer maneira.

Uma fonte diplomática revela que quer a China concorde em apoiar os EUA em suas exigências ou não, o efeito sobre a economia da Coreia do Norte poderá ser o mesmo. “O que o governo dos EUA está buscando é colocar pressão psicológica nos bancos chineses. Se os bancos estadunidenses evitarem transacionar com bancos chineses que tenham vínculos com bancos, ou outras entidades, da Coreia do Norte incluídos na lista negra, isso poderia acarretar efeitos semelhantes àqueles de sanções secundárias.”

Não há dúvida de que as autoridades e a mídia norte-coreanas têm feito declarações incendiárias e tomado medidas como cortar a linha militar de comunicação emergência (hotline) com a Coreia do Sul, anunciando sua intenção de reativar o reator nuclear de Yongbyon e temporariamente fechando o Complexo Industrial Kaesong, medidas que parecem irresponsáveis e só exacerbam as tensões. Porém, há lógica em seu comportamento. O governo Obama nunca quis negociar com a Coreia do Norte e claramente busca causar uma mudança de regime à medida que vai acumulando sanções e desenvolve planos militares que ameaçam a existência da RDPC. Com efeito, as ações estadunidenses motivaram a Coreia do Norte a desenvolver um programa de armas nucleares como seu único dissuasor contra ataques, dada a tecnologia ultrapassada de seu armamento convencional.

No entanto, as autoridades norte-coreanas sabem que os Estados Unidos sabem que eles ainda não têm uma arma nuclear em condições de uso, nem tampouco um veículo lançador adequado. A RDPC tem poucas opções e, neste momento, o governo norte-coreano aparentemente acha que tem apenas duas escolhas. Ou aceita submissamente uma punição atrás de outra enquanto testemunha impotente o dano crescente à sua economia e ameaças à sua nação ou pode elevar o tom de sua retórica como forma de mandar uma mensagem aos Estados Unidos. A mensagem é que, se os Estados Unidos atingirem a Coreia do Norte, eles terão uma resposta maior do que esperam e deveriam pensar duas vezes antes de atacar; quanto mais os EUA fizerem pressão, mais a RDPC resistirá.

Infelizmente isso gera um ciclo de realimentação, em que quanto mais os Estados Unidos punem a RDPC, maior será a força com que os norte-coreanos defender-se-ão, e quanto mais resistirem, mais punidos serão. A única saída aparente para esse impasse é um processo de paz, mas o governo Obama permanece intransigentemente contrário a negociações.

O analista de questões internacionais Chen Qi, da Universidade Tsinghua, destaca que os Estados Unidos “não respeitaram as preocupações de segurança da RDPC e essa é a razão pela qual a questão nuclear não foi resolvida na Península da Coreia”. Chen sugere que “talvez Washington não queira que a questão nuclear de Pyongyang seja resolvida porque isso fornece uma desculpa para os EUA lançar mão de sistemas antimísseis e realizar exercícios militares na região, que são compatíveis com seu reequilíbrio militar voltado para o Leste da Ásia”. Deve-se ter em mente ainda que funcionários dos EUA jamais escondessem seu desejo de provocar uma mudança de regime na Coreia do Norte, a despeito dos perigos de tal política.

Uma mudança na política dos EUA talvez nunca se materialize a menos que a Coreia do Sul lidere o caminho com firmeza, uma perspectiva pouco provável no presente momento. Tal mudança talvez tenha que esperar cinco anos, quando a próxima eleição presidencial for realizada na Coreia do Sul. Isso é muito tempo, dados os planos estadunidenses de elevar a tensão.  Se a Coreia do Sul não mostrar liderança na busca por uma abordagem alternativa antes disso, a questão é por quanto tempo as tensões podem cozinhar em banho-maria sem ferver e descambar em uma crise perigosa.

*Gregory Elich é membro do Conselho de Administração do Instituto de Pesquisa Jasenovac e dos Conselhos Consultivos do Instituto de Política da Coreia e da Comissão da Verdade da Coreia. Ele é autor do livro Strange Liberators: Militarism, Mayhem, and the Pursuit of Profit [Estranhos Libertadores: Militarismo, Caos e a Busca do Lucro].