domingo, 27 de novembro de 2011

Brasil não vai transferir empregos para outros países, diz presidenta na entrega de navio do PAC

Presidenta Dilma Rousseff durante a cerimônia de entrega do navio Celso Furtado no Estaleiro Mauá, em Niterói. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta Dilma Rousseff participou hoje (25) da cerimônia de entrega do navio Celso Furtado no Estaleiro Mauá. É a primeira embarcação entregue por um estaleiro brasileiro ao Sistema Petrobras desde 1997. Sua construção faz parte do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), que marca a retomada da indústria naval brasileira com a abertura de novos estaleiros e a modernização dos existentes.

No discurso, Dilma Rousseff lembrou o desmonte vivido pela indústria naval no Brasil. Seu ressurgimento, afirmou, é resultado do esforço do ex-presidente Lula, que acreditou no trabalhador brasileiro.

“A indústria naval, quando o presidente Lula chegou ao governo, estava paralisada. E você via no chão, nos muitos estaleiros que já tinham produzido navio, a grama crescendo por entre as pedras. Isso foi responsabilidade de um momento terrível da nossa história, em que nós tivemos uma das maiores perdas para os trabalhadores do setor metalúrgico do Brasil. E aí, o presidente Lula tomou uma decisão. Nós podemos produzir no Brasil o casco, o navio e a plataforma.”

A presidenta Dilma disse ainda que a indústria naval vai continuar gerando emprego. Além da Petrobras, as empresas de petróleo que atuam no país vão manter seus investimentos, o que aumentará a demanda por navios, plataformas e sondas. Os postos de trabalho aqui criados, afirmou a presidenta, não sairão do país.

“Eu lutei muito para que o Brasil voltasse a produzir o que ele era capaz. Nós não vamos transferir emprego para ouros países do mundo. Os empregos gerados para o Brasil serão mantidos no Brasil.”

A presidenta fez uma homenagem ao economista Celso Furtado (1920-2004), que, segundo ela, soube separar crescimento de desenvolvimento.

“Um país só se desenvolvia se os empregos ficassem cada vez melhor, se cada família pudesse colocar seu filho na escola e ter acesso à saúde. Para ter desenvolvimento, teria que ter crescimento, geração de emprego e distribuição de renda. Senão, não era desenvolvimento.”

Programa de Navios - Com o Celso Furtado, já foram lançados ao mar quatro navios, todos batizados em homenagem a importantes personagens da história do Brasil. Com capacidade para 48,3 mil toneladas de porte bruto, ele será responsável pelo transporte de combustíveis (gasolina e diesel) entre os estados.

Segundo a Transpetro, subsidiária da Petrobras, duas mil pessoas trabalharam na construção do navio. Uma delas, Alessandra dos Santos, subchefe de máquinas, não segurou a emoção. No discurso, falou do antigo sonho de ser comissária de bordo que deixou de lado quando conheceu o trabalho da Marinha Mercante. Trocou o céu pelo mar e acompanhou de perto a construção do Celso Furtado.

“Há dez meses acompanho o nascimento do navio que já faz parte da minha vida. Assim, não poderia deixar de prestar homenagem a todos os trabalhadores do Estaleiro Mauá. Vi de perto o empenho e dedicação de cada um deles que ajudaram a transformar esse sonho em realidade.”

Pelo Promef, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), deverão ser entregues, até 2015, 49 navios petroleiros e gaseiros de grande porte, sendo 23 deles na primeira fase do projeto (com 65% de nacionalização) e 26 na segunda etapa (com 70% de nacionalização). Com isso, a frota da Transpetro, hoje com 53 navios, vai superar o número de 110 embarcações.

“Há dez anos, a indústria naval brasileira estava destruída. Não havia navios em construção, não havia funcionários, apenas um resíduo de dois mil funcionários, e nada mais. Hoje são 60 mil funcionários que trabalham na industria naval brasileira”, disse o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Selo e carimbo comemorativos foram lançados pelos Correios na cerimônia no Estaleiro Mauá. Acompanha a imagem da embarcação Celso Furtado, a legenda: Primeiro navio do PAC em operação.

Atletas dos Jogos Parapan-americanos são exemplos para o Viver sem Limite, diz presidenta

Presidenta Dilma Rousseff recebe delegação brasileira dos Jogos Parapan-americanos de Guadalajara 2011. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta Dilma Rousseff recebeu hoje no Palácio do Planalto os atletas brasileiros que participaram dos Jogos Parapan-americanos de Guadalajara, no México, e enalteceu o desempenho da delegação brasileira que conquistou o primeiro lugar nos Jogos. Além de orgulho para todo o país – como definiu a presidenta – os atletas são exemplos para as 45,6 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, público-alvo do Plano Viver sem Limite, lançado na semana passada.

“Vocês provam para o povo brasileiro que é possível superar limites. Vocês são exemplos que com esforço, dedicação e trabalho de equipe é possível”, disse.

A presidenta lembrou que os atletas que recebem auxílio financeiro do programa Bolsa-Atleta foram responsáveis por 79% dos pódios brasileiros, o que demonstra que “é preciso expandir o programa”. Ao todo, a delegação do Brasil conquistou 197 medalhas, sendo 81 de ouro, 61 de prata e 55 de bronze.

“Isso mostra que o investimento do país em vocês está para lá de recompensado. Tenho certeza de que vocês vão voltar de Londres ainda mais bem sucedidos.”

Ela disse, ainda, que o sucesso dos para atletas brasileiros será um estímulo para os grandes eventos esportivos que o Brasil sediará.

“Acredito que este é um momento especial porque tivemos um desempenho fantástico no Parapan e isso para todos nós é um estímulo no momento em que o Brasil vai receber uma Copa e uma Olimpíada”, declarou.

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que também estava na cerimônia que contou com a presença de 85 atletas, parabenizou todos os competidores. “Temos muito orgulho do que vocês protagonizaram em Guadalajara. Sei que vocês têm muito orgulho do que fizeram, do esforço, da superação. Vocês são orgulhos para suas famílias, comunidades e acima de tudo para o país.”

Governo brasileiro lança documento sobre Rio +20


O governo brasileiro lançou, na semana passada, um documento de 37 páginas que sintetiza a contribuição do país para as discussões da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontecerá no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de junho de 2012. Elaborado pelos ministérios do Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e das Relações Exteriores, submetido à consulta pública e à colaboração de outros ministérios, o texto traz oito propostas, algumas delas subdivididas, e muitas baseadas em experiências brasileiras.
A ideia de um ‘Programa de Proteção Socioambiental Global’, por exemplo, enfoca a superação da pobreza extrema, apostando no “componente social”. Para isso, cita iniciativas brasileiras como o ‘Minha casa, minha vida’, ‘Bolsa Família’ e ‘Brasil sem Miséria’. “O objetivo do programa é alcançar um patamar em que a qualidade de vida e condições ambientais sejam incorporadas integralmente aos direitos das populações pobres”, diz o texto. Para Alexandre Pessoa, pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) que vem acompanhando as discussões da Rio+20, um dos problemas dessa proposta é que, ao recuperar a questão social, ainda se trabalha com a ideia de segurança alimentar — que calcula uma cota mínima diária de alimentos para as populações — e não com um conceito que ele considera mais adequado e atual, que é o da soberania alimentar — que leva em conta o direito dos povos à autogestão de sua produção e cultura alimentar. “Quando falamos em soberania alimentar, estamos considerando os diferentes papéis que os países ocupam na divisão internacional do trabalho e do comércio no que diz respeito à produção agrícola, por exemplo. Além disso, o enfrentamento dos agrotóxicos enquanto uma questão de saúde pública deveria ser explicitado nessa parte do documento”, avalia.
Para o pesquisador, outro problema das propostas do governo brasileiro é exatamente não demarcar a diferença dos impactos socioambientais nos países ricos e pobres. A proposta de criação de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — que seguiriam os moldes dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio —, por exemplo, defende que eles deveriam ter “caráter global, voltados igualmente a países desenvolvidos e em desenvolvimento”. O assessor extraordinário do Ministério do Meio Ambiente para a Rio + 20, Fernando Lyrio, também destaca a importância de se dar peso distinto aos países.  “Vinte anos depois, o legado da Rio-92, com a Declaração do Rio e seus 27 Princípios, permanece atual, em particular o princípio de ‘responsabilidades comuns, porém diferenciadas’, segundo o qual os países desenvolvidos devem tomar a dianteira nos desafios do desenvolvimento sustentável, tendo em vista sua responsabilidade histórica pelo uso insustentável dos recursos naturais globais. Os Princípios do Rio incluem a necessidade de que os países desenvolvidos mantenham oferta adequada de recursos financeiros e de transferência de tecnologia, de modo a auxiliar os países em desenvolvimento a alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável”, explica. Ele, no entanto, não acha que isso esteja ausente do documento brasileiro.
Outra proposta contida no documento é a construção de um ‘pacto global para produção e consumo sustentáveis’, que envolve três ações: uma política de compras públicas sustentáveis; programas de “etiquetagem de consumo e eficiência energética”; e o financiamento de pesquisas voltadas para o desenvolvimento sustentável. Para Guilherme Franco Netto, coordenador geral de Vigilância Ambiental em Saúde do Ministério da Saúde, esse é um dos pontos do documento que tem relação mais direta na área da saúde. “Se as compras públicas forem mais ambiental e sustentavelmente adequadas, isso vai implicar benefícios para a saúde”, acredita, lembrando que, no Brasil, só recentemente, na gestão do ministro José Gomes Temporão, foi proibido, por portaria, que o ministério da saúde adquirisse material que contivesse amianto, substância cancerígena. Alexandre Pessoa, no entanto, identifica nessa proposta um enfoque que aponta soluções individuais para os problemas ambientais. Segundo ele, isso aparece sobretudo no item que trata da classificação do consumo que, de acordo com o documento, “possibilita a agentes privados, notadamente os consumidores, avaliar e otimizar o consumo de energia/combustível dos equipamentos, selecionar produtos de maior eficiência em relação ao consumo e melhor utilizar os equipamentos, possibilitando economia nos custos de energia”. Essa individualização dos problemas e das soluções é, aliás, uma das principais críticas que especialistas e integrantes de movimentos sociais têm feito à ideia de economia verde , que está presente em todo o documento do governo brasileiro.
Fernando Lyrio, no entanto, ressalta que a contribuição brasileira está centrada numa ideia de “economia verde inclusiva”, que, ao contrário de uma concepção individualizante, enfocaria uma mudança nos padrões de desenvolvimento. “Na visão brasileira o conceito de ‘economia verde inclusiva’ expressaria melhor o foco num ciclo de desenvolvimento sustentável com a incorporação de bilhões de pessoas à economia, com consumo de bens e serviços em padrões sustentáveis e viáveis, que combatam o desperdício e promovam o reaproveitamento dos recursos. E a Rio +20 representa uma oportunidade para a revisão dos atuais padrões de desenvolvimento, sobretudo, à luz da insuficiência de seus resultados econômicos, sociais e ambientais”, explica, fazendo uma ressalva: “Para tanto, é preciso reforçar a ligação do conceito de economia verde com o de desenvolvimento sustentável, de forma a evitar uma leitura do conceito de economia verde que privilegie os aspectos de comercialização de soluções tecnológicas sobre a busca de soluções adaptadas às realidades variadas dos países em desenvolvimento”.
A ideia de economia verde inclusiva está presente de forma explícita no documento, inclusive como proposta. Trata-se da ideia de se estabelecer um pacto que inclua a publicização dos relatórios de sustentabilidade das empresas e a criação de índices de sustentabilidade. O texto traz como exemplo o índice de Sustentabilidade Empresarial, criado pela Bovespa. “Por esse índice, considera-se um investimento como socialmente responsável se, além dos resultados financeiros para o investidor, há considerações ambientais, práticas de responsabilidade social e padrões éticos para selecionar as empresas participantes dos fundos de investimento”, explica Fernando Lyrio. Criticando o que classifica como um processo de financeirização dos problemas ambientais, que transforma as obrigações das empresas em lucro, Alexandre Pessoa não acredita na eficácia desse tipo de ‘certificação’. Ele lembra o exemplo do complexo siderúrgico ThyssenKrupp CSA, no Rio de Janeiro, que, apesar de responder a diversas denúncias e ações  do Ministério Público Estadual, por poluição e danos à saúde da população, recebeu ‘sinal verde’ do Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, da Organização das Nações Unidas, para obtenção de créditos de carbono.
Na mesma linha, o documento propõe também que se firme um protocolo internacional para a sustentabilidade do setor financeiro, tomando como exemplo o ‘Protocolo Verde’, iniciativa dos bancos públicos e privados brasileiros, que, de acordo com o texto, “assumiram o compromisso de incluir a dimensão ambiental nos seus procedimentos de análise de risco e avaliação de projetos, bem como priorizar ações de apoio ao desenvolvimento sustentável”.
Balanço de duas décadas
Um dos problemas que Alexandre Pessoa identifica na forma como está sendo organizada a Rio+20 e que, segundo ele, o documento elaborado pelo governo brasileiro reitera, é não fazer nem propor um balanço dos problemas e dos avanços da questão ambiental nos 20 anos que separam a Rio 92 do evento que vai acontecer em 2012. “Afinal, são poucas as experiências exitosas na efetivação da Agenda 21 Local”, opina. Ele considera, inclusive , que o documento é um recuo em relação à Agenda 21 , conjunto de propostas  que resultaram da Rio 92. Fernando Lyrio defende o documento: “As propostas apresentadas na Contribuição Brasileira alinham-se com temas da Agenda 21, abrangendo não somente a gestão e conservação dos recursos naturais, como também as dimensões social e econômica, e formas de implementação. Dessa forma, as propostas brasileiras visam tanto temas da Agenda Ambiental já presentes na Agenda 21 quanto temas dos novos desafios ambientais”, diz. Ele exemplifica: “O capítulo 3 da Agenda 21 já tratava do combate à pobreza como fundamental para a sustentabilidade do planeta, o que se alinha plenamente com a proposta da Rio +20 de discutir ‘economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza’ e, nesse contexto, com a Proposta 1, de estabelecer um ‘Programa de Proteção Socioambiental Global’”.
Saúde na Rio + 20
Embora o Ministério da Saúde tenha colaborado com o documento brasileiro após a consulta pública, nenhuma proposta apresentada diz respeito diretamente à área da Saúde. Além das compras públicas sustentáveis, Guilherme Franco Netto acredita que, a partir da experiência dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, a Saúde pode contribuir com indicadores relevantes, por exemplo, para materializar a proposta de criação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. “A questão da saúde do trabalhador, por exemplo, precisa ser tratada de forma melhor. Temos ainda, mesmo nos países desenvolvidos, mas sobretudo naqueles em desenvolvimento, estatísticas inaceitáveis relativas a mortes por acidente de trabalho. Temos tecnologia de ponta, que reduz isso porque mecaniciza tudo, mas, ao mesmo tempo, temos vários processos de extração mineral ou de construção civil no Brasil que se dão ainda no ritmo daquela música do Chico Buarque: ‘morreu na contramão atrapalhando o tráfego’”, exemplifica.
Também está ausente do documento qualquer discussão que relacione a questão ambiental e o perfil epidemiológico brasileiro. “Conseguimos fazer uma referência à mudança do quadro epidemiológico, mas muito superficialmente”, admite Guilherme. No que diz respeito ao Brasil, a Agenda 21 e a discussão da Rio 92 deu destaque às doenças ditas negligenciadas. Hoje, esse problema persiste, mas, segundo Guilherme, o quadro precisa ser ampliado. “Temos a maior urbanização do mundo: nenhum país das dimensões do Brasil teve o volume de urbanização que nós realizamos nos últimos 30 anos, com tendência de crescer ainda mais. E não temos um sistema básico de transporte decente, nosso esquema de relações de trabalho é precário, vivemos um monopólio ou controle absurdo das grandes indústrias farmacêuticas e de alimentos — agora agravada pela questão dos agrotóxicos. Isso acaba criando um cenário de vulnerabilidade e risco. E vamos pagar o preço disso”, alerta.
Outro problema, identificado pelo próprio Guilherme, é que o SUS não aparece no documento como exemplo de política exitosa relacionada ao tema da Conferência. “É até meio contraditório o fato de o SUS enquanto política universalista e seus avanços não entrar e outras políticas públicas de outras áreas serem citadas”, admite. E justifica: “Este é um documento que chama para o debate, não é homogêneo nem completamente acabado”.
Ele acredita, no entanto, que tudo isso será resolvido no documento que está sendo elaborado especificamente para a área da saúde. O Ministério da Saúde está à frente desse processo, mas pretende fazer um debate amplo. “Vamos pegar um pouco dos ensaios que nos interessam desse documento oficial do Brasil para fazermos uma análise. Faremos uma introdução sobre o valor de um modelo universalizante como é o SUS, destacando o quanto avançamos do ponto de vista da redução das iniquidades no país. Vamos fazer uma retrospectiva do que era a saúde na época da Rio 92, com um balanço de como estamos hoje e os desafios que temos para frente”, detalha. Segundo ele, os avanços foram muitos. “Precisamos lembrar que o SUS foi instituído efetivamente em 1991, portanto, apenas um ano antes da Rio 92. Naquela época, nós tínhamos 3% de cobertura de atenção básica no país, hoje estamos com 61%, cobrindo mais de 100 milhões de pessoas, tivemos uma importante redução da mortalidade infantil… Esses são fatos que precisamos explicitar, ao mesmo tempo em que devemos apontar nossos desafios”, diz.
Guilherme conta que já participou de duas atividades relativas à área da saúde na Rio + 20. Uma foi uma iniciativa da Organização Pan-americana da Saúde (Opas), que fez uma consulta aos países da região das Américas para a realização de um debate que gere um documento regional sobre a área da  saúde na Rio + 20. Outra foi uma roda de conversa no Congresso Brasileiro de Epidemiologia, da Abrasco, também sobre como a saúde deve se preparar para a Conferência. O Ministério vai realizar ainda um grande seminário em abril de 2012 para, já com o documento pronto, aprofundar essa questão. Além disso, o ministério vai propor à Organização Mundial da Saúde (OMS), na próxima assembleia mundial da saúde, que o tema Rio+20 seja objeto de uma resolução e que sejam realizados alguns eventos da saúde durante a Conferência. “Estamos montando essa grade, abrindo cada vez mais o debate, para que tenhamos mais precisão sobre qual o projeto da saúde. Vale dizer que tudo que foi feito na saúde até agora foi na contra-hegemonia porque, no fundo, essa agenda entrou de modo muito tangencial na Rio 92. Tomara que inclusive a crítica dos movimentos sociais possa nos ajudar a conquistar um pouco mais de propriedade para fazermos a saúde dialogar com essa agenda”, diz.
Guilherme acredita que  o documento oficial lançado pelo governo brasileiro também pode ajudar nessa busca de espaço para as discussões relacionadas à área da saúde na Conferência. Isso porque, como ele destaca, o texto afirma que a Rio+20 não é apenas uma conferência de meio ambiente. “Há uma disputa importante, principalmente entre a área econômica e a área ambiental sobre quem vai ter a hegemonia desse processo”, identifica. Mas completa: “O Brasil está dizendo que o desenvolvimento sustentável se baseia num tripé em que os elementos precisam estar no mesmo nível: o social, o econômico e o ambiental”.
Outras propostas
As outras propostas concretas apresentadas pelo documento são a criação de um repositório de iniciativas, que tornem públicas práticas e tecnologias relacionadas ao desenvolvimento sustentável; a criação de novos indicadores para mensuração do desenvolvimento, a partir da compreensão de que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e o PIB (Produto Interno Bruto) não são suficientes; e a criação e fortalecimento de uma estrutura institucional do desenvolvimento sustentável, que se subdivide em seis ações: “criação de um mecanismo permanente de coordenação de alto nível entre todas as instituições internacionais que lidam com o desenvolvimento”; a transformação do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas em Conselho de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas; estabelecimento da participação universal e de contribuições obrigatórias para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma); o lançamento de um processo negociador para uma convenção global sobre acesso à informação, participação pública na tomada de decisões e acesso à justiça em temas ambientais; a participação de atores não-governamentais nos processos multilaterais; e a governança da água, que trata do fortalecimento do sistema de gerenciamento dos recursos hídricos da ONU.
(*) Cátia Guimarães é jornalista. Reportagem publicada originalmente na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).

Dilma vai à Venezuela esta semana e tem reuniões com Chávez e Cristina Kirchner

Renata Giraldi* - Repórter da Agência Brasil

A presidenta Dilma Rousseff desembarca na próxima quinta-feira (1º) em Caracas para uma reunião trilateral com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Argentina, Cristina Kirchner. Depois, ela acompanhará as discussões da Cúpula Presidencial da Comunidade da América Latina e Caribe (Celac), nos dias 2 e 3 de dezembro.

A expectativa, segundo diplomatas que acompanham as negociações, é que as questões relativas à crise econômica internacional, o desenvolvimento sustentável e a inclusão predominem nos debates. A Celac é formada por 33 países da região. O bloco foi criado em fevereiro de 2010 com o objetivo de incentivar o desenvolvimento de parcerias regionais.

Na Venezuela, as autoridades preparam formas de transmitir as informações sobre as discussões e os debates ocorridos ao longo dos dois dias da cúpula. Para o governo venezuelano, as reuniões vão consolidar o projeto comum de integração com solidariedade, cooperação e coordenação política.

A Cúpula dos Presidentes da Celac estava marcada para 5 de julho. Mas o governo venezuelano adiou sua realização devido ao tratamento médico a que Chávez é submetido. Desde maio, o presidente venezuelano faz tratamento para o combate a um câncer. Ele fez uma cirurgia, em Cuba, para a retirada de um abscesso na região pélvica.

Nos últimos dias, Chávez, ao aparecer em público, informa que se recupera satisfatoriamente e conseguirá enfrentar uma campanha eleitoral rumo às disputas pela Presidência da República na Venezuela. O presidente perdeu mais de 20 quilos e está sem cabelo em decorrência da quimioterapia.

*Com informações da emissora multiestatal de televisão, Telesur   //   Edição: Lílian Beraldo

Deputados federais do PT homenageiam Lula

A Bancada do PT na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), prestou na quarta-feira, 23, uma homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reforçando os votos para que ele tenha sucesso no tratamento contra um câncer na laringe, com uma plena e rápida recuperação. Entre os presentes estavam o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), presidente da Comissão de Constituição e de Justiça (CCJC) da Câmra; o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS); e os líderes da bancada Paulo Teixeira (SP) e do governo, Cândido Vaccarezza (SP). Os parlamentares do Partido dos Trabalhadores fizeram o "L" de Lula e cantaram a música que marcou todas as campanhas eleitorais do ex-presidente (Olê, Olê, Olê, Olá, Lula, Lula).

“Que coisa boa. Juntar os 86 deputados do PT para mandar energia e gritar alto: Força, Lula! E mais, mostrar para o presidente Lula que ele pode contar com essa bancada para o que der e vier. Afinal, partilhamos do mesmo sonho: ver o Brasil cada vez melhor”, disse João Paulo.

O líder Paulo Teixeira informou que uma foto ampliada, com a assinatura dos 86 deputados da bancada, será enviada a Lula, juntamente com uma cópia de um vídeo gravado durante o ato, que reuniu a grande maioria dos deputados do PT. A cerimônia foi realizada no Salão Negro da Câmara dos Deputados. O ministro da Pesca e deputado licenciado, Luiz Sérgio (PT-RJ), também participou da homenagem.

Somos um inimigo em potencial só por termos nascido negros: Dexter, rapper brasileiro


Brasil de Fato

Condenado a 38 anos de prisão, afirma: “Já peguei uma arma e fui assaltar os playboy… Se a gente for puxar o fio da meada a gente vai chegar até a escravidão. Eu consegui entender essas coisas e sair disso através do rap”

“É o que eu falo pra vocês: o rap salva”. Durante as horas que passou conversando com a gente em Campinas, São Paulo, Marcos Fernandes de Omena repetiu diversas vezes esta frase. De fato, o rap é fundamental nos 37 anos de vida de Marcos, cerca de um terço deles vividos atrás das grades. Ouvindo Racionais MC’s conheceu a política, o movimento negro, teve orgulho de sua cor e disposição de lutar pelo respeito a ela.
O Racionais MC’s, principal grupo de rap do Brasil, surgiu no final dos anos 1980 na periferia de São Paulo, trazendo um discurso agressivo contra a opressão às populações marginalizadas. Quem conhece um pouco de hip hop no Brasil certamente tem referência nos nomes de Ice Blue, KL Jay, Edi Rock e Mano Brown. Não por acaso, o grupo foi a principal influência para Marcos, que pouco tempo depois de se envolver com a música, adotou seu “nome de guerra”, pelo qual todos o conhecem: Dexter.
Atrás de dinheiro para uma gravação, Dexter buscou “meios não convencionais” e acabou preso. Já havia cumprido o período de pena que lhe permitiria progredir para outro regime que não o fechado mas, sem saber desse direito, aproveitou a primeira oportunidade que teve para fugir. Voltou condenado a 38 anos de cadeia. Primeiro no grupo 509-E (número da cela que ocupava com o cantor Afro-X no Carandiru) depois em carreira solo, seguiu compondo e gravando, se tornando um dos principais nomes do rap nacional. Em 2009 lançou o disco Dexter e convidados – ao vivo, com participações de grandes nomes do hip hop brasileiro.
Atualmente em liberdade condicional, Dexter voltou a fazer shows e palestras. O rapper conversou com o Desinfomémonos sobre sua trajetória, suas posições políticas e o atual cenário da música brasileira.

Você pode começar contando da sua trajetória, onde você cresceu?
Nasci no dia 17 de agosto de 1973, em São Paulo e fui criado nas ruas do Jardim Calux, em São Bernardo do Campo. Minha mãe biológica não teve condições de me criar e aos 13 dias de vida me entregou para uma mulher, Dona Marina Maria de Omena, minha mãe de fato, porque mãe é aquela que cria, não aquela que põe no mundo. Vivia nas ruas de terra, nos campinhos do Jardim Calux, um morro que desde aquela época era bastante respeitado. Minha mãe já tinha duas filhas e era viúva quando me pegou pra criar. Ela dava uma segurada em mim, na época tinha uns bailes muito da hora, baile de preto, da função. Ela tinha medo, por conta da malandragem. Ela queria que eu vivesse uma vida padronizada. Acho que é o sonho de toda mãe da periferia, que o filho simplesmente estude, vire um operário padrão, não vire ladrão. Quando o 509-E estourou eu consegui ganhar um dinheiro e a gente fez uma casinha melhor, um sobrado para minha mãe morar.

E a sua adolescência?
No Calux, vi muitos amigos partirem pro crime e não voltarem mais. Vi muitos amigos infelizmente morrerem com essa política retardada que existe dentro da periferia. Essa coisa enraizada da droga, do álcool, e de você querer ser alguém dentro da quebrada. Querer ter um carro, uma mina da hora. Isso muitas vezes o sistema não te oferece, o salário que a gente ganha não permite. Muitos caras não suportam não conseguir esses sonhos de consumo, e vão buscar por outros caminhos, se revoltam. Há muito tempo percebi que a televisão é a pior doutrinadora que nós temos. E a Igreja Católica também, claro. Mas cada um de nós tem uma TV dentro de casa, não um padre. Nunca vi ninguém falar que foi roubar pra comprar os livros, que são caros também, entendeu?

Quais os fatores que geram essa revolta?
São vários os problemas de um cara que mora dentro da favela. Se ele não joga bola, se ele não faz um samba, quem é esse cara? O estudo é precário. Aí o pretinho vai na escola e ouve que o Zumbi [líder negro que fundou o quilombo Palmares, um dos maiores focos de resistência negra da época da escravidão no Brasil] foi assassinado por Domingos Jorge Velho e ponto. O branquinho aprende que na história existiram heróis e sente orgulho de ser branco, mas não sente orgulho de ser pobre. Então é uma confusão de sentimentos. Eu também era um cara revoltado, às vezes é até inconsciente. Já peguei numa arma e fui assaltar os playboy. Mas eu não fui porque eu tinha consciência da minha revolta. Só tempos depois eu entendi o que gera isso. O fato de você ser pobre e ele ter uma condição melhor. Se a gente for puxar o fio da meada a gente vai chegar até a escravidão. O que meu povo herdou? Os pretos e descendentes dos mesmos? Eu consegui entender essas coisas e sair disso através do rap, que é a música do povo, através de outros jovens que entenderam mais cedo que eu, passaram pra mim e eu abracei, falei: “tá aqui minha válvula de escape”.

Como era a sua cabeça quando jovem, vendo os seus amigos e conhecidos do bairro morrendo de graça?
Enquanto você é jovem você sabe que aquilo é uma rotina massacrante, mas não entende porque aquilo acontece, essa política de que a polícia entra na favela pra matar mesmo, que são pagos pra isso, autorizados. Eles têm que mostrar serviço pra sociedade. A gente é um inimigo em potencial, só pelo fato de ter nascido preto, de ser forte, de andar gingando na rua. Tô trabalhando dois paralelos, o social e o racial, que não estão separados. Vamo chegar no shopping aí nós dois, eu com dinheiro e você sem. Você acha que o segurança vai ficar de olho em quem? Em você? Vai ficar em mim. O preto no Brasil é sinônimo de malandragem, de crime, de assalto.
Essas coisas a gente nem sabe antes de ler, se informar, estudar, andar com uma rapaziada com uma mentalidade da hora. Eu sinto muito orgulho de cantar rap, o rap é o melhor amigo que eu tenho, já salvou muitas vidas, já ajudou muita gente a entender as coisas, a ter auto-estima, a discutir de igual pra igual. Hoje você vê meu povo fazendo palestra em faculdade, discutindo com os boy de igual pra igual e até mais, ensinando pros caras como é que as coisas funcionam. Isso é lindo.

Quando você começou a se interessar pelo rap?
A batida do rap acho que em 1984, 1985, eu já ouvia os Metralhas, que cantavam o Rap da abolição e tal. Acho que é coisa de preto mesmo, descendente de africano, a batida do som é outra fita, contagia. Quando eu ouvi o rap, que é derivado do funk, do soul, do blues e tal, aí eu endoidei, as batidas parecem o pulsar do coração. É aquele lance, os caras já tinham a ideia, já sabiam o que era ser preto no Brasil, e a gente ainda não entendia. Decidi fazer rap uns cinco anos depois, em 1990, quando eu ouvi Pânico na Zona Sul, do Racionais. Só que quando eu ouvi essa música foi como se acendesse uma lâmpada: aí o vírus da revolução entrou na minha veia. Comecei a fazer rap no outro dia!

O que você tava lendo na época?
Logo de cara fui ler a autobiografia do Martin Luther King. Hoje eu vejo uns caras fazendo rap de qualquer jeito, eu acho um puta dum desrespeito. Falando de ouro, de carro, de tênis, de mulher. Não dá. As pessoas que se mantém hoje no rap, como linha de frente, a maioria é da minha época, aprenderam a fazer rap dessa forma: tiveram que ler, estudar, buscar o autoconhecimento. Tempos depois que eu comecei a fazer rap, eu ouvi os Racionais cantando “Precisamos de um líder com crédito popular, como Malcolm X em outros tempos foi na América, que seja negro até os ossos, um dos nossos”. Mas espera aí, quem é Malcolm X? Aí fui atrás. Quando eu li Malcolm X, meu Deus, me senti útil, me senti muito bem. Veio o filme “Malcolm X”, fui lá assistir, o cinema lotado: os caras do movimento negro, os caras do rap, todo mundo junto, fiquei feliz, pensei “tamo junto, tamo nos organizando”. Nem o movimento negro conseguiu isso, o rap é foda. Acho que o movimento negro conseguiu reuniões, mas o rap transcendeu, conseguiu trazer quem precisava vir: a juventude. Quando a juventude tá junto ninguém segura. A música tem esse poder, o poder da transformação.

Então o rap te instigou a ir atrás de um conhecimento que a escola não tinha estimulado?
Exatamente. Nem a política da escola alcançou o que o rap deu pra gente. Vem um intelectual pra mim e fala “Dexter, você tem que ler Malcolm X”. Mas aí, o intelectual vai falar o que é que eu tenho que ler? Aí chega um parceiro e fala: “Negão, eu li lá e foi foda, você tem que ler”, imediatamente passo a me interessar. Percebe a diferença? É a identificação. Foi isso que aconteceu com o rap. O rap é pra mim um grande professor.

Você já era o Dexter?
Já era o Dexter. Logo quando eu li a autobiografia do Martin Luther King eu descobri que um dos filhos dele chama-se Dexter. Fui ao dicionário e vi que Dexter significa destro, de direito, correto, passa pelo esperto, sagaz. E me identifiquei com o nome porque pra sobreviver na periferia você tem que ser isso mesmo, senão você vai ser cobrado depois. Você tem que ser um cara ligeiro, porque a polícia está lá pra te exterminar. Aí quando eu li e assisti Malcolm X descobri que o X representa o desconhecido, e os caras do islã usam o X pra representar um sobrenome africano que eles não conhecem. Aí o X do Dexter também ganhou mais força. Com o passar do tempo ninguém mais me chamava de Marquinhos ou de Marcos.

Qual foi o primeiro trabalho do Dexter?
No final de 97 o grupo que eu fazia parte, Tribunal Popular, recebeu a proposta de gravar um single. Entramos em estúdio aí eu chamei o Edi Rock pra participar de uma música chamada De preto pra preto e o Brown pra produzir a Legítima Defesa. Logo em seguida a gravadora ficou sem o dinheiro pra pagar o estúdio. Eu falei “mano e agora? Tenho o Brown e o Edi Rock gravando com a gente, como vou perder essa oportunidade? Não posso!”. E aí eu fui buscar o dinheiro de uma forma não tão convencional. Foi quando eu fui preso. O disco acabou saindo, e eu continuei preso. Era janeiro de 98, e fiquei um ano sem rap, meio frustrado e tal. Graças a Deus, eu consegui fazer do pior o melhor. Um tempo depois comecei a fazer letras e tal. Eu sempre fui um cara que vivi ali, entre a linha do bem e do mal.

Mas também o criem não é um caminho que você necessariamente condene, certo? Porque na música Como vai seu mundo quando você fala do crime, dá o conselho: “se tiver como, desista”…
Por que que eu falo “se tiver como”? Tem o cara que não quer estudar, não canta rap, não joga bola, não lê, não escreve, o que sobra prum cara desse? É pra ele que eu falo: “se tiver como”. Tem cara que não tem, eu tenho vários parceiros lá dentro que me falam: “Dexter, queria eu ter a oportunidade que você teve, irmão, que eu também abandonaria o crime. Mas infelizmente eu tô nele, não sei fazer outra coisa”. Ou seja, é um cara que tá condenado a morrer no crime. O rap não vai ter como mudar a vida de todo mundo.

Você podia contar um pouco do seu dia a dia na cadeia, como surgiu o 509-E. Nas suas letras você fala muito em liberdade…
A liberdade física dentro de uma prisão é 100% presente. Passado um tempo eu comecei a me intitular exilado e não preso. Passei a me identificar como um cara que foi afastado da família e dos amigos por um determinado tempo, mas que um dia vai voltar. E na prisão a recuperação por parte do sistema não existe, política de ressocialização não tem, tudo tem que ser iniciativa própria. Pouco se estuda, pouco se trabalha dentro de uma prisão, seres humanos são jogados dentro de um quadrado dois por dois e já era, se virem. Em algumas cadeias você convive com ratos, baratas, percevejos. Pra resumir: a cadeia não recupera ninguém, ela traz mais revolta, mais mágoa, mais tristeza.

E como foi continuar produzindo música lá dentro?
O que eu fiz foi pegar o que tinha de melhor e apresentar. Tive essa sorte, de poder mostrar do que eu era capaz, e me foi dada essa oportunidade, até mesmo pelo histórico da Casa de Detenção. Porque quando o 509-E explodiu já tinha um trabalho sendo desenvolvido ali dentro, “Talentos aprisionados”, por uma pessoa que trabalhava na época com teatro. No meio desse trabalho foi descoberto o 509-E, a gente teve uma abertura muito grande, foram 7 meses de saídas: shows, palestras em escolas e faculdades, trocando ideia com a molecada. Em 2003 o 509-E acabou porque o Afro-x foi pra rua e a gente já não encontrou motivos pra continuar juntos, eu tava falando de umas coisas, ele tava vivendo outras. Em 2004 eu começo a trabalhar o disco Exilado sim, preso não, foi um disco totalmente gravado dentro da prisão. O disco foi lançado em 2005, e em uma semana a gente vendeu 3 mil cópias.

Como avalia o rap hoje? Essa questão mesmo que você falou que é preciso respeitar o rap e que tem gente que às vezes não faz isso…
Tudo evoluiu né? E às vezes a evolução não é uma coisa muito boa. Acho que antes de você começar a falar de ouro, de carro, de mulheres, você tem que ter algumas coisas que são prioridades na vida de um ser humano. Por exemplo, às vezes o cara não tem nem seguro de saúde, nem casa pra morar e ele tá falando de carro e de ouro na música dele. Será que realmente faz parte do mundo dele isso daí? Acho que esse rap cumpre o mesmo papel que a televisão, te incentiva a ter coisas que você não tem. Esse rap consumista, rap glamoroso, rap de ostentação, pode te levar a caminhos diferentes do que aquele rap que eu conheci, que me incentivou a fazer outras coisas.

Parece muito influenciado pelo rap gringo né?
Parece não, é. Todo mundo quer ser 50 Cent. Só que a rapaziada esquece que o 50 Cent veio no Brasil e desprezou os brasileiros. Um fã subiu no palco, ele se assustou e empurrou o cara com violência, pediu pra trancar o camarim pra ele passar por trás. Isso aí é o rap americano, é o americano em si, os caras têm um lado sexista pra caralho, sei lá qual é que é a fita. E no Brasil a gente tá em outra parada, outra dimensão, outra caminhada.
Você que teve todo esse tempo preso, como diria que é a cabeça do preso para a política? Desacreditado? Revoltado? Tá a fim de participar?
Não existe uma política de ressocialização. E voto, preso não vota, né? A participação do preso na política é inexistente na verdade, porque não tem incentivo. Em 2002 quando o Lula foi entrar, era Serra (PSDB) e Lula (PT) [mesmos partidos que disputam a presidência este outubro de 2010]. Foi traçado um plano dentro das cadeias, de informação. Resumindo, se o Serra entrar ele é de extrema direita, só quer construir cadeia, nossa vida aqui vai piorar, enquanto o Lula não, ele é mais aberto, mais participativo, mais ser humano. Então houve um movimento muito grande de apoio ao Lula dentro do sistema, em 2002. Eu vi a força que a gente tem. Uma ideia, uma sementinha plantada, gerou bons frutos. Eu mesmo trabalhei nessa política, de ir de barraco em barraco [cela] trocando ideia com a rapaziada, explicando o que era a política daquele ano, a eleição.

Então você fez campanha pro Lula?
Claro que eu fiz, eu acreditava e acredito no Lula. Acreditava que ele ia mudar algumas coisas, e realmente algumas coisas mudaram. Ele é um cara que veio do povo, que veio da minha quebrada também, de São Bernardo. Eu diria que o Lula é também Flor de Lótus – que é o título do meu novo CD, eu nunca tinha falado isso, hein? É uma planta, originária da Índia, que só nasce no lodo – e eles consideram a mais bonita de lá. Então acho que nós somos uma flor de lótus.

Esse período em que você esteve preso foi exatamente o da consolidação dos comandos dentro das cadeias. Você sentiu essa mudança?
Com certeza. Muita coisa mudou pra melhor, antigamente morria-se muito dentro da prisão, hoje não mais. Foi política implantada: “não morre mais ninguém”. Porque eu acho que os linhas de frente dessa disciplina acreditam que se somos seres humanos somos capazes de conversar pra resolver, de dialogar sem que alguém tenha que morrer e alguém tenha que matar. Acho válido, a vida é muito preciosa. Obviamente existem outras coisas a se considerar dentro da hierarquia do crime e tal. Às vezes sou tachado pela mídia como PCC, porque estou preso e fazendo rap. E eu não sou PCC, eu sou rapper.

Pra encerrar você podia falar algo sobre o papel da sua família durante esse período que passou preso.
Foi muito importante na minha ressocialização os familiares e os amigos. A minha esposa foi imprescindível pra minha retomada, até mesmo no rap. Família é imprescindível pro presidiário, se você é abandonado as perspectivas de coisas boas se tornam remotas.

Palmério Doria: “A bolinha se tornou mais importante que o Papa”

Uma bolinha de papel bate na cabeça de um presidenciável e o leva para o hospital. Depois, um telejornal diz que a bolinha não foi a causa do ferimento. Outro objeto teria atingido o candidato. As câmeras mostram. Um perito atesta. Na internet, blogueiros separam o vídeo frame a frame e dizem que não se enxerga objeto nenhum. Uma singela bolinha de papel teria mesmo motivado uma tomografia em José Serra. “A bolinha se tornou mais importante que o Papa. A grande personagem das eleições foi a bolinha”, afirma o jornalista Palmério Dória.

O episódio da bolinha de papel é o ponto de partida para a narrativa de Crime de Imprensa – o retrato de uma imprensa murdoquizada, lançamento de Dória e de Mylton Severiano, ambos jornalistas da velha guarda, com passagem por diversos veículos tanto da imprensa nanica, quanto pelos veículos das famílias que dominam a comunicação no pais. É sobre a cobertura destes últimos nas eleições de 2010 que trata o livro. “Esta eleição parece um túnel de trem-fantasma para a Dilma. A cada curva era uma cilada, uma armadilha, uma rasteira. Ela era seqüestradora, bandida, laranja, poste, ela era tudo”, conta Palmério.

A dupla não espera qualquer resenha nos jornais, mas espera, sim, que o livro seja bem vendido. Os dois já fizeram junto Honoráveis Bandidos, que conta a saga de José Sarney, e vendeu cerca de cem mil exemplares, mesmo com pouquíssima divulgação na grande imprensa. “O livro do Sarney também fala das relações da grande imprensa. Todos os grandes irmãos tinham ótimas relações com o Sarney, ele era, inclusive, colunista da Folha de São Paulo. É muito recente o rompimento dos grandes irmãos com o Sarney”, ressalta Palmério.

Sem papas na língua, o jornalista conversou por telefone com o Sul21 e não poupou nem o vice-presidente da República, Michel Temer. Ele revelou que é processado por diversas pessoas – entre elas, o ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi – e que já nem se defende mais na Justiça. “Não quero nem ser defendido. Abri mão de advogado, porque quero que me prendam. Eu sou fora da lei. Esses caras vão me prender? Agora eu quero ver”.

Sul21 – O título do livro é Crime de Imprensa. A imprensa brasileira é criminosa? Por quê?
Palmério Dória – Eu falo da imprensa que perdeu a eleição. Da imprensa que torce para que a crise internacional chegue ao Brasil para jogar uma água fria na Dilma, e no Lula também. É uma imprensa que sabe que pode perder também em 2014 e está desesperada. Eu falo, na verdade, das quatro grandes famílias. Ela (imprensa) é criminosa, no final das contas, porque vem manipulando os prezados leitores e espectadores há décadas.

Sul21 – Quais são as quatro famílias?
Palmério Dória – Estamos falando dos grandes irmãos: os Civita, os Marinho, os Frias e nos meninos daí, filhotes menores, os Sirotsky, que se espalham aí no Sul Maravilha. São basicamente esses.

Sul21 – Os Mesquita foram poupados no livro?
Palmério Dória – Os Mesquita são uma família nascida para perder. Na única vez em que eles apoiaram o Getúlio, ele perdeu, na eleição antes da Revolução (de 30). Eles são pé-frios. A última que eles perderam foi agora. Apostaram brabo no Serra. Eles vêm perdendo todas. Quando apostaram, por exemplo, na Revolução (de 64), conspirando para o golpe, na sequência eles perderam. A ditadura é obra da Família Mesquita.

Sul21 – Mas o livro tem foco na cobertura da grande imprensa às eleições de 2010. O que levou você e o Mylton a escreverem um livro sobre isto?
Palmério Dória – Como sempre, o óbvio. Ninguém vai atrás do óbvio. Você fica pensando: “Todo mundo vai escrever um livro sobre as eleições de 2010”. E a regra é: ninguém faz o óbvio. Este é o primeiro livro sobre as eleições de 2010.

Sul21 – O que esta eleição e sua cobertura tiveram de especial?
Palmério Dória – É um comportamento padrão. A gente sabia que renderia um grande assunto, que os pequenos e grandes golpes aconteceriam. É inevitável. Aconteceram nas outras eleições presidenciais, por que não aconteceriam nesta? Em 2002, O Estado de São Paulo noticiou uma ida, que não houve, do Serra ao Tocantins. Ele sendo recebido em festa pelo prefeito, com o povo na rua, quando na verdade estava em São Paulo, no estúdio, gravando. Então, eles são capazes de tudo. Evidente que o filme iria se repetir em 2010.

Sul21 – Mas a eleição de 2010 teve alguns episódios peculiares. Quais vocês destacam no livro?
Palmério Dória – O episódio da bolinha realmente eu nunca vi… A bolinha se tornou mais importante que o Papa, que as grandes corporações, que a própria imprensa. A grande personagem das eleições foi a bolinha. A narrativa parte deste episódio da bolinha e vai em frente. Esta eleição parece um túnel de trem-fantasma para a Dilma. A cada curva era uma cilada, uma armadilha, uma rasteira. Ela era seqüestradora, bandida, laranja, poste, ela era tudo. Mas eu destacaria o episódio da bolinha como o mais espetacular. Foi onde ficou configurada esta manipulação toda, com o perito Molina na Globo falando do evento bolinha, do evento fita crepe, tentando transformar o episódio da bolinha em um atentado.

Sul21 – O perito (Ricardo) Molina comenta de tudo. Ele entra no livro de forma mais detalhada?
Palmério Dória – Claro que entra. Ele se presta para qualquer papel. Ele não tem noção do ridículo. O ridículo da vida para ele é pouco, ele entra em qualquer cascata. Está aí para o que der e vier. Mas também tem médicos, um cirurgião, gente que trabalhou para o Cesar Maia. O médico que fez a tomografia que ninguém viu até agora.

Sul21 – O livro, segundo você disse, fala da imprensa que perdeu. Pode se dizer então que o crime não compensa?
Palmério Dória – Você vê, por exemplo, este caso da Chevron. A gente vê como a imprensa não está cobrindo este episódio. Eles têm helicópteros, eles cobrem ocupação da Rocinha. Não fazem esta história da Chevron-Texaco, que vai enlamear o litoral carioca e paulista neste verão, vai matar a fauna marinha e tudo mais. Eles não fazem porque a Chevron é a patroa, e é a patroa do Serra. Está nos documentos do Wikileaks que o Serra disse que ia rever o pré-sal se ganhasse. No caso deles, o crime não compensa. Eles perderam. E vão perder de novo na próxima eleição. Como diz o Mino Carta na epígrafe do livro: na maioria dos casos a mídia, hoje em dia, é ponta de lança para grandes negócios. Neste sentido, eles perderam mais ainda. Imagine os negócios que eles iam fazer a partir de Serra no poder?

“Este livro não trata de corrupção, mas da maneira como a imprensa cobre a corrupção”
Sul21 – Como você está vendo estas quedas sucessivas de ministros, que às vezes até parece uma jogada ensaiada entre Dilma e Veja e outros veículos?
Palmério Dória – Um cineasta aí do Sul disse que estava para ver um movimento destes de direita, uma ditadura que não tenha se implantado em nome do combate à corrupção. Eu também estou para ver. Este livro não trata de corrupção, mas da maneira como a imprensa cobre a corrupção. Eu gostaria que a imprensa agora colocasse 1% de seu exército para cobrir os roubos no metrô paulistanos. Todas as linhas são superfaturadas. Neste momento o escândalo é da linha lilás. Se a imprensa usasse este poder de fogo permanente para cercar as malfeitorias tucanas não restaria nada. Se essa mídia usasse seu esforço, digamos, para levantar a vida de um Tasso Jereissati, que tem uma holding chamada Ceará, ele é dono do Ceará. Se ela levantasse agora a vida, os negócios secretos, de Aécio e de sua irmãzinha Andréa por trás de uma rádio chamada Arco-Íris. Quem banca os carros de luxo e os jatinhos de Aécio Neves? Eu não vejo este interesse da imprensa em bombardear diariamente. E não há quem segure um fogo cruzado destes. Não livramos a cara de ninguém, até porque não tenho vínculo partidário nenhum. O único sufixo “ista” que se aplica para mim e para o Mylton é jornalista. O que a gente discute é o instituto de dois pesos e duas medidas.

Sul21 – Mas como você vê a relação entre Dilma e a imprensa passada a eleição?

Palmério Dória – Eles apostavam que ela não iria segurar os fisiológicos do PMDB. Ela segurou, os fisiológicos estão ali quietinhos. Nestas crises sucessivas, eles apostaram o tempo todo em revoltas das bancadas, na quebra da governabilidade – incentivando até. Esta governabilidade quando foi exercida pelo FHC não era tão contestada. Então, ela está administrando muito bem. Está no fio da navalha, mas administrando muito bem esta questão.

Sul21 – O livro fala em imprensa “murdoquizada”. No que as práticas da grande imprensa brasileira se assemelham às dos veículos de Murdoch?
Palmério Dória – A gente viu outro dia um repórter da Veja invadir o hotel em que estava José Dirceu, tentar invadir o quarto dele, instalar câmeras. Todos os métodos que o bilionário australiano que domina a imprensa nos EUA e na Inglaterra usou. O que você acha do grampo sem áudio que a Veja montou naquela operação, que desarticulou todo o esquema anticorrupção da Polícia Federal?

Sul21 – Que ocasião foi esta?
Palmério Dória – Foi o grampo que originou a queda do (Paulo) Lacerda e de todo um grupo de inteligência (à frente da ABIN, Lacerda teria grampeado o ministro do STF. O áudio nunca apareceu). Aquilo desarticulou completamente todo um trabalho que vinha sendo feito contra a corrupção. Eles não estão interessados em combater a corrupção, estão interessados em derrubar governos. Enfim, são dois exemplos. Podemos citar uma série de outros. Mas assim age o Murdoch lá e age esta imprensa, estes grandes irmãos, aqui.

Sul21 – O que escreve Lima Barreto sobre a imprensa da época dele e que vale tanto para o nosso tempo que acabou sendo publicado em Crime de Imprensa?
Palmério Dória – É um texto de Recordações do Escrivão Isaias Caminha. Ele começa assim: “A imprensa, que quadrilha. Fiquem sabendo vocês que se o Barba Roxa ressuscitasse agora, com os nossos velozes cruzadores e formidáveis couraçados, só poderia dar plena expansão a sua plena atividade se se fizesse jornalista”. Ele pega na verdade as grandes famílias da época, que há cem anos já dominavam a imprensa. Hoje em dia, temos pelo menos uma esperança: a internet.

Sul21 – A internet ajudou muito…
Palmério Dória – Os dois lados. Aquela campanha das trevas, do aborto, foi incentivada pela internet. Mas a internet também foi decisiva para a vitória da Dilma. As forças obscuras, que levaram o aborto para o centro da discussão política, ganharam no primeiro turno. As pessoas falam da queda da Erenice. O próprio João Santana veio com esta lorota de que foi a Erenice que garantiu o 2º turno. Não foi, não. Foram o aborto, os valores; foi Dom Luiz Gonzaga, o Torquemada de Guarulhos; o TFP, a Opus Dei. Depois, a internet, que é uma gráfica que você tem hoje em sua casa, de certa maneira ajudou a Dilma a ganhar.


Jornalista lamenta o que é feito com jovens repórteres nas redações de hoje em dia: "jogam a garotada para se cobrir de cagalhões. Não se faz isto com garoto" | Foto: Jair Bertolucci/TV Cultura

Sul21 – Você o Mylton Severiano são jornalistas experientes. A gente tem impressão às vezes que o jornalista atualmente é mais subserviente aos interesses do patrão. É verdade ou é só impressão?
Palmério Dória – O que este menino fez no caso do José Dirceu é o trabalho sujo. Nós tínhamos outrora nas grandes redações pessoas especializadas neste papel. A gente sabia: “Fulano de Tal”. Hoje em dia, estes meninos entram alegremente neste tipo de coisa. Tínhamos até certa ternura por quem metia a mão na merda, coisa que nós não teríamos coragem de fazer. Esta garotada faz alegremente isto. Por exemplo: meninos que saem destes cursos de trainee e vão direto fazer uma capa na própria Veja demonizando o MST.

Sul21 – É como se fosse um batismo de fogo?
Palmério Dória – É um batismo de fogo. Jogam a garotada para se cobrir de cagalhões. Não se faz isto com garoto. Precisa respeitar no mínimo a garotada. Então, a meninada vai achando que vai crescer bonito e topa qualquer parada.

Sul21 – O bloco de esquerda que hoje está no governo federal não teme demais a imprensa ao não enfrentar, por exemplo, o monopólio das comunicações, que a Constituição não permite?
Palmério Dória – Evidente que sim. O Lula se pela de medo. A Dilma se pela de medo. Eles não aprendem. São incapazes de fazer aqui o que a Cristina Kirchner está fazendo. Está encarando esses caras, mandando o cacete. Aqui, participam de todas as solenidades, aniversário da Folha e tudo o mais. E a Dilma ainda recebe uma cacetada da Danuza Leão porque se retirou antes de terminar o concerto. Mas de qualquer maneira, vão, rendem homenagens e não tomam nenhuma medida para uma palavra bem simples: democratização da mídia, que é a única saída para isto que a gente está conversando.

Sul21 – Como você escreveu também Honoráveis Bandidos, vou fazer uma provocação: o governo tem mais medo da imprensa ou do Sarney?
Palmério Dória – Está diminuindo. Você veja que o Sarney não foi à solenidade da Comissão da Verdade. É um bom sinal. Quem me chamou atenção para este detalhe foi o Luiz Claudio Cunha, que escreveu uma das melhores coisas que eu li nos últimos tempos. O nosso projeto é o mesmo: fazer farinha destes caras, que nem broa. O livro do Sarney também fala das relações da grande imprensa. Todos os grandes irmãos tinham ótimas relações com o Sarney, ele era, inclusive, colunista da Folha de São Paulo. É muito recente o rompimento dos grandes irmãos com o Sarney. Eles adorariam e sabem que o Sarney estaria do lado do Serra, como esteve com todos os governos.

Sul21 – O Ministério de Minas e Energia ninguém tira dele.
Palmério Dória – Em um eventual Governo Serra estaria nas mãos do mesmo Lobão, que era um rato da ditadura. Imagine se, dentro de um projeto de direita, o Sarney não estaria, se o Lobão não estaria. São sapões que têm que ser engolidos e estão sendo engolidos.

Sul21 – Existe a possibilidade política de um governo romper com Sarney ou ainda é inviável para qualquer presidente?
Palmério Dória – Tem se provado que é inviável. Está dito em Honoráveis Bandidos que sem o apoio dele cai o sistema. Esta quadrilha está lá em Honoráveis Bandidos: Michel Temer, Wagner Rossi – que abriu um processo contra mim no valor de R$ 600 mil – o Eduardo Cunha, esses bandidos todos estão lá. E está dito também que a imprensa compactuava com o Sarney. Por isto este livro não teve nenhuma resenha. O papel desta imprensa criminosa já estava contado.


Palmério Dória diz que abriu mão de advogado nos processos contra ele: "o que é que eu vou fazer? Vou à falência para me defender?" | Foto: Arquivo Pessoal / Twitter
Sul21 – Como está transcorrendo este processo de Rossi contra você?
Palmério Dória – Não tenho a menor ideia, vou lhe explicar por que. Não tenho no c… o que periquito voa. Eles podem pedir R$ 1 milhão. Não quero nem ser defendido, abri mão de advogado, porque quero que me prendam. Eu sou fora da lei. Esses caras vão me prender? Agora eu quero ver. Tem uma série de processos dos quais abri mão. Tem o filho do Mario Covas, o Zuzinha; tem a viúva do Dante de Oliveira, que se associou com o crime organizado no Mato Grosso; tem juiz. O que é que eu vou fazer? Vou à falência para me defender? Eles quebram você economicamente jogando esses processos para Brasília, para São Luis, não sei para onde.

Sul21 – As editoras tiveram um pouco de medo de publicar Crime de Imprensa.
Palmério Dória – Não tiveram um pouco de medo, fugiram de mim como o diabo da cruz. Nós estávamos a ponto de publicar este livro virtualmente, porque ninguém topava. Todo mundo saiu da área. Alguns não quiseram conversa, outros sentaram para conversar. Amigos fugiram porque tinham contratos com o governo e se tivessem um processo iam se estrepar. Isto faz parte do jogo. Mas encontramos o pessoal da Plena Editorial que encarou. O livro não está nas livrarias, porque seria inviável economicamente. Será lançado em uma banca de jornal em plena Avenida Paulista.

Sul21 – O plano é não ter nas livrarias?
Palmério Dória – O plano é ter em livrarias. Mas, por exemplo, divulgação zero. A gente diz no final do livro: “Leia Crime de Imprensa, um livro sobre o qual você não verá nenhuma resenha nem menção alguma na grande mídia”. Mas não é reclamando, não. A gente sabe que Honoráveis Bandidos, um livro de jornalismo político e história do Brasil, ficou 35 semanas entre os mais vendidos, apesar deles. E eles não podiam deixar de dar nas suas listas de mais vendidos.

Santayana: Brasil à Venda

por Mauro Santayana

Pode ser que, em algum tempo do futuro, a consciência de nação e, no interior dela, o sentimento de pátria, com sua forte emoção, deixem de existir. Consola-nos, aos patriotas de hoje, que não sejamos obrigados a viver esse eventual e terrível tempo. Viver sem pátria, como alguns a isso são obrigados, pelas dificuldades de sobrevivência ou pelo exílio político, é triste e terrível.

Mais triste e terrível é renunciar à pátria por comodismo ou por desprezá-la em suas circunstâncias difíceis. Não se ama a pátria porque ela seja grande e poderosa, mas porque é a nossa pátria – como resumiu Sêneca.

A etimologia nos diz que pátria é o adjetivo para a terra de nossos pais. É a terra pátria, o que sugere a integração entre a realidade geográfica e a comunidade que nela vive, identificada pela língua, pela cultura e, mais do que por esses sinais, pelo sentimento de fraternidade. Por isso Renan diz que a pátria é, no fundo, a solidariedade cotidiana.

Quando a Comissão de Estudos Constitucionais - a Comissão Arinos, como ficou conhecida - discutia as idéias que lhe chegavam, a fim de elaborar uma sugestão articulada da Constituição de 1988, houve uma preocupação geral dos pensadores e da gente comum do povo, com relação à proteção do capital brasileiro contra as investidas estrangeiras. O sentimento nacionalista e a inteligência recomendavam medidas protecionistas claras, dentro de nossa tradição republicana. O grande brasileiro Barbosa Lima Sobrinho as resumiu, na definição do que deveria ser uma empresa nacional. O artigo 323 do anteprojeto, que ele mesmo redigiu, e a maioria aprovou era claro: Só se considerará empresa nacional, para todos os fins de direito, aquela cujo controle de capital pertença a brasileiros e que, constituída e com sede no País, nele tenha o centro de suas decisões.

A Assembléia Constituinte aprovou este, e a maioria dos dispositivos sugeridos pela Comissão. O governo Fernando Henrique Cardoso, em obediência servil aos ditados de Washington, mediante emendas ao texto da Constituição, castrou-o juntamente com outros, que defendiam a nossa economia e nossa soberania. Para os eminentes constitucionalistas convencidos pelo sociólogo, empresa nacional é qualquer uma que for constituída no Brasil, não importa por quem, se norte-americano, chinês ou maltês, com o capital de qualquer natureza, vindo de onde for (limpo ou recém-lavado em qualquer paraíso fiscal), e cujo centro de decisões possa estar em qualquer lugar do universo ou fora dele.

Com todo o respeito pelo presidente Lula, a quem devemos o mais importante passo em busca da democracia – o de reduzir as desigualdades internas -, seu governo não pôde cuidar, dentro das circunstâncias em que se elegeu, da defesa da economia nacional, como era necessário. Falamos de igual para igual com os outros poderosos do mundo e restauramos nossa dignidade diplomática, mas as grandes multinacionais em pouco foram incomodadas. A legislação fernandina (dos dois fernandos, esclareça-se) permanece. Agora, e ainda a tempo, a presidente Dilma Rousseff se dá conta de que essa brecha constitucional está permitindo à China – e também a americanos, espanhóis, italianos e a outros estrangeiros – aumentar a já demasiada extensa propriedade fundiária em território nacional, além de outros abusos.

O capital estrangeiro pode ser, e foi, importante no desenvolvimento brasileiro, mas sob controle. Os imigrantes que chegaram ao país, a partir do fim do século 19, trazendo seus modestos cabedais, e se tornaram brasileiros com seu trabalho e seus filhos aqui nascidos, foram, com todos os outros brasileiros, os construtores do Brasil moderno. Integraram-se em nossos sentimentos e em nossa geografia. Alguns deles deram a vida pela nossa pátria, nas lutas internas pela liberdade e na guerra contra o nazismo e o fascismo. Mas uma coisa é o capital que aqui chegou, nas ferramentas e nas cédulas amarfanhadas reunidas pelos que escapavam da crise européia de então, e outra o capital que vem via eletrônica, e, mais ainda, o acumulado
pela exploração dos brasileiros, com os elevados lucros remetidos em sua totalidade ao exterior, como ocorre atualmente.

Esta é uma boa oportunidade para que possamos recuperar parcelas da soberania alienadas pelo governo neoliberal, e restringir, como é necessário, o direito dos estrangeiros a apossar-se de vastas áreas do território, seja a que título for. E mais do que isso – para que possamos restaurar o mandamento constitucional sugerido por Barbosa Lima Sobrinho e aprovado por uma assembléia constituinte soberana, eleita pelo nosso povo. A emenda constitucional que o derrogou tem a mesma natureza daquela que deu ao então presidente o direito à reeleição.

Na segunda década do século passado, em uma imensa serraria de propriedade de Percival Farquhar, a Southern Brazil Lumber & Colonization Corporation, em Três Barras, no território então contestado entre o Paraná e Santa Catarina, a bandeira norte-americana era hasteada todas as manhãs e recolhida ao por do sol. À cerimônia deviam assistir, em postura respeitosa, os trabalhadores brasileiros. Essa insolência ianque, entre outras causas, levou os pobres caboclos da região a uma guerra que durou quatro anos e foi derrotada a ferro e fogo pelas tropas federais. É necessário evitar que sejamos levados a situação semelhante no futuro.

Luz mais barata. Para todos

Artur Henrique – Presidente da CUT Nacional

Sim, o Brasil precisa e merece ter uma tarifa de energia elétrica mais barata. Porém, ao contrário do que vem sendo apregoado por uma famosa entidade patronal – a mesma que dizia que com o fim da CPMF os produtos iam ficar mais baratos – não será a ocorrência de novas licitações no setor que vão proporcionar essa melhora nos preços das tarifas.

Pela legislação vigente, elaborada durante o apogeu dos processos de privatização, devem ocorrer novos leilões de privatização de empresas do setor a partir de 2014.

Seria repetir a mesma fórmula que não trouxe as tarifas para patamares justos ao consumidor residencial e nem mesmo aperfeiçoou a qualidade do serviço, como deixam claros os apagões constantes e as frequentes demoras na religação da energia que cai nas cidades brasileiras.

Por isso a CUT e sua FNU (Federação Nacional dos Urbanitários), junto com entidades dos movimentos sociais como MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e Conam (Confederação Nacional das Associações de Moradores) e associações profissionais como a dos engenheiros, estão defendendo a renovação automática das concessões existentes no setor elétrico e o cancelamento de todo e qualquer leilão de empresas geradoras e transmissoras de energia.

Nossa opção por renovar as concessões se deve primeiramente ao fato de que uma suposta concorrência no setor, que melhoraria as condições ao consumidor final, não passa de falácia. Ou alguém conhece um consumidor que possa escolher de qual empresa receber a luz que usa em casa? Portanto, esse argumento, fundamental para os defensores do mercado como árbitro número um da vida em sociedade, cai por terra sem qualquer esforço maior.

Outra questão refere-se à vocação dos empreendimentos privados, avessos ao papel social que determinados setores precisam assumir. Não foi o mercado, e sim o Estado, aquele que fez investimentos para levar energia elétrica para o sertão, no programa Luz Para Todos. Muitas famílias que hoje assistem TV nas regiões mais distantes dos centros urbanos foram consideradas desde sempre como consumidores pouco lucrativos, a quem se reservou isolamento e abandono.

No caso de novos leilões ocorrerem, a energia elétrica pode cair apenas para os grupos privados que porventura adquirirem mais empresas de geração e transmissão.

Hoje a relação já é bastante perversa. Enquanto os consumidores residenciais – conhecidos no jargão do setor com o revelador nome de “cativos” – chegam a pagar, em média, R$ 200 pelo megawatt/hora, empresas do ramo de alumínio, por exemplo, pagam apenas R$ 50 pelo mesmo MW/hora (ambos os valores sem considerar impostos). Está claro que o consumidor comum paga pelo subsídio dado aos empresários. Imaginem então o que pode ocorrer se estes últimos tornarem-se donos do que resta de estatal no setor.

Não basta, porém, renovar as concessões. É preciso aproveitar esse processo para incluir nos editais novas exigências que aumentem a qualidade dos serviços e dê transparência às tarifas, tornando-as mais justas para todos.

Artur Henrique, eletricitário, é presidente nacional da CUT


ANÁPOLIS, A VOLTA POR CIMA

Delúbio Soares (*)

Até mesmo os adversários do PT reconhecem a Excelência das administrações realizadas pelo partido. Do magistral governo do Estadista Luiz Inácio Lula da Silva e da gestão competentíssima da presidenta Dilma Rousseff, passando por nossos governadores e chegando aos prefeitos municipais que elegemos, o Partido dos Trabalhadores tem firmado a marca da competência gerencial, da realização em prol das comunidades e do sucesso administrativo.

Há um “jeito petista de governar”, com foco no social e claríssimo compromisso com a boa governança. O PT inaugurou uma maneira diferente de exercer o poder, uma forma democrática e firme, com notável visão humanista dos problemas e a efetiva participação popular na gestão da coisa pública, com a inovação do “Orçamento Participativo” em centenas de Municípios de todas as regiões. Isso tem sido possível pelo aproveitamento dos melhores quadros técnicos e administrativos, gente com inequívoco comprometimento para com o Brasil e seu povo.

Em mil dias à frente da Prefeitura de Anápolis, comandando um governo que orgulha sua população, o prefeito Antônio Gomide detém um acervo impressionante de realizações: 1.000 ações fundamentais para o soerguimento de sua cidade.  Não houve um único dia em que Gomide e sua competentíssima equipe não desenvolvessem uma ação concreta, inaugurassem uma obra absolutamente necessária e consolidassem Anápolis – cada vez mais – como uma das cidades indubitavelmente mais promissoras de todo o Brasil.

Antônio Gomide, depois de vários mandatos como vereador combativo e respeitado, já sendo uma das lideranças ascendentes do PT goiano, assumiu os destinos da grande cidade de nosso interior num momento de excepcionalidade: crise política, crise administrativa, com a baixa estima dominando o cenário anapolino e no horizonte, então, não se vislumbrava o grande futuro que hoje se divisa. Governos se sucederam e se desgastaram no turbilhão da política menor, alternando alguns curtos períodos de tranqüilidade com episódios traumáticos e altamente prejudiciais ao progresso econômico e social dos seus bem mais de 300 mil habitantes. A segunda cidade de meu Estado vivia angustiada, triste e sofrendo a injustiça de receber bem menos do que merecia, adiando um progresso que sempre foi a marca de um povo altamente politizado e trabalhador.

Com Gomide e o estilo petista de administrar, em mil dias de governo, sem excessos, sem personalismos, sem revanches, preconceitos ou perseguições, sem olhar para trás e de forma conseqüente, Anápolis tornou-se um raríssimo exemplo de grande cidade onde o planejamento realista é a fórmula do sucesso e o controle financeiro austero combinado com a firme determinação de fazer mais e melhor, deram as cartas, apontaram rumos e definiram prioridades.

Não há um único setor da administração pública, sem exceção, em que as obras e os números não sejam, no mínimo, surpreendentes e elogiáveis. Gomide e o PT, nos 104 anos da bela Anápolis, estão protagonizando um governo histórico e exemplar: 60 bairros totalmente pavimentados no exitoso programa “Asfalto Para Todos”, pondo fim ao flagelo dos que sofriam com a lama no verão e a poeira no inverno. Na educação foi construído um complexo inédito em Goiás, o moderníssimo CEU (Centro de Educação Unificada), que reúne a instrução  infantil e ensino fundamental, atividades culturais e esportivas, alimentação de excelente qualidade e ótimo atendimento médico e odontológico. Um exemplo para Goiás!

Soma-se, ainda, a construção da Escola Anapolino de Faria, uma referência em estrutura física, com aulas em tempo integral e toda uma gama de inovações pedagógicas e de apoio e assistência aos educandos. O Instituto Federal de Goiás (IFG), oferecendo cursos superiores, prepara técnicos os mais capazes para o mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigente. As centenas de empresas nacionais e internacionais que escolheram aquela cidade como seu porto seguro em território brasileiro, podem recrutar lá mesmo, entre os anapolinos, técnicos e profissionais de todas as áreas com formação digna das melhores escolas e faculdades internacionais! Em Anápolis, a educação não é mais problema: hoje ela é a garantia de que o futuro daquela grande e promissora cidade será ainda melhor.

Com a consagração através de prêmios nacionais (como o “Brasil Sorridente”) pela excelência e qualidade de seu programa “Saúde Para Todos”, o prefeito Gomide, assessorado por uma competente equipe de governo, revolucionou a saúde pública: profissionais capacitados foram contratados, novos postos de saúde foram construídos e os já existentes passaram por profundas reformas e grandes ampliações. O “Remédio em Casa” é um programa solidário e vitorioso, levando aos mais carentes e impossibilitados de se locomoverem, a medicação necessária. O drama das filas madrugada adentro e o descontentamento da população são coisas de um passado tristonho e nada saudoso.

No setor de infra-estrutura, Anápolis está recebendo as realizações que merece desde há muito, mas que só o governo petista de Antônio Gomide teve coragem e competência para implementar. Anápolis hoje é um efervescente canteiro de obras públicas, como a construção de um impressionante complexo de desafogamento do trânsito, com a inauguração em poucos dias de imenso viaduto ligando as avenidas Universitária, Presidente Kennedy e do Contorno, construído integralmente com recursos municipais, com dinheiro do povo anapolino e a um custo dos mais baixos para as dimensões da obra: R$ 9 milhões. Além disso viadutos, pavimentações, ampliações e reformas em todo o sistema viário e praticamente por toda a cidade, conferindo-lhe uma face de modernidade e  oferecendo praticidade ao seu já intenso tráfego automobilístico.

Anápolis é uma das cidades médias que mais cresce em todo país. Seu desenvolvimento, claramente sustentável, se espraia desde a indústria automobilística até um comércio dos mais diversificados e fortes. Não há dia em que uma nova empresa não finque suas raízes por lá. A altíssima qualidade de vida desfrutada por sua população tem sido alicerçada na construção de novos parques ambientais, em intensa programação cultural, na presença forte, mas paradoxalmente discreta e democrática de uma administração que faz muito, mas pouco ou nada propagandeia seus impressionantes êxitos.

Da convulsão política e da estagnação econômica, pelas mãos de um excelente prefeito e seu estilo petista de governar, a cidade tornou-se a visão no presente do que todas as cidades brasileiras devem ser nesse novo milênio. Anápolis, porém, apenas chegou ao lugar que sempre mereceu ter.

O governo do PT, sob o comando sereno e firme de Antônio Gomide, um dos mais notáveis homens públicos surgidos em Goiás desde Mauro Borges – homem público digno e administrador revolucionário nos anos 60 – tem altíssima aprovação popular e esbanja talento, ousadia, seriedade e competência. Mas, apenas aí há esbanjamento: o endividamento do Município é ZERO e sua capacidade de captar recursos e de investimentos é TOTAL.

Anápolis deu a volta por cima. Anápolis voltou a fazer a diferença no cenário político, social e econômico de Goiás. O Brasil olha Anápolis com olhos de admiração e respeito.

Anápolis, cidade que orgulha Goiás, é um exemplo para o Brasil do século XXI.

(*) Delúbio Soares é professor