Por Paulo Nogueira
O que existe de mais
atrasado, reacionário, vulgar na cena brasileira se reuniu em torno do discurso
de Francisco na Bolívia.
Olavo de Carvalho,
Silas Malafaia e Reinaldo Azevedo saíram dando tiros pouco cristãos no papa.
Não surpreende, dadas
as diferenças abissais de visão de mundo deles.
O que causa estranheza
é o tom de choque dos que atacaram o papa. É como se Francisco tivesse dito o
que disse – essencialmente, uma crítica à desigualdade – pela primeira vez.
Ridículo.
Francisco chegou ao
Vaticano falando o que falou na Bolívia.
Você pode julgar alguém
pela qualidade do que diz e faz, ou pela falta de qualidade.
Ou pode também julgar
pela reação que provoca.
É um tributo a
Francisco o veneno que escorreu de OC, Malafaia e Azevedo.
Problema teria sido
eles aplaudirem.
Compare os dois mundos,
o de Francisco e o de seus críticos.
Qual é mais cristão?
Qual deriva dos ensinamentos de Cristo? Qual estende os braços para os pobres,
os miseráveis, os excluídos? Qual impõe limites aos predadores, aos
gananciosos, aos adoradores do dinheiro?
Coloquemos as coisas
assim: você preferiria viver num mundo com a cara de Fracisco ou num mundo com
a cara de Malafaia?
Olhemos para os
anti-Franciscos.
Olavo de Carvalho é
financiado pela plutocracia para defender seus interesses. Vive num dolce far
niente nos Estados Unidos, entre um hang out e outro com Lobão e incursões ao
Facebook e ao Twitter.
Silas Malafaia explora
gente inocente para viver uma vida opulenta. Prega o exato oposto de Cristo: a
intolerância.
Em torno dele cresce um
cansaço, uma irritação tão profunda que provocou júbilo nacional, recentemente,
uma sugestão para que fosse procurar uma rola.
Reinaldo Azevedo é pago
para escrever (e agora falar) coisas do interesse da plutocracia. Como todos os
outros pagos para fazer aquilo, vive das migalhas que os plutocratas deixam
para seus serviçais.
Para ele,
particularmente, devem ter descido pesado as palavras de Francisco sobre a
mídia.
Não é possível
desqualificá-las pelo método usual e primitivo: é coisa de petralha. (Tolstoi
não se gabava de haver escrito Guerra e Paz e Ana Karenina. Aliás, se
questionava. Mas Reinaldo Azevedo julga poder receber um Nobel por ter
alegadamente criado a palavra petralha.)
Francisco
condenou o monopólio da mídia, um novo tipo de “colonialismo ideológico”.
Quem sabe agora, com o
endosso papal, o governo se anime a colocar na agenda a regulação da mídia,
algo tão importante para a sociedade brasileira?
Francisco é um exército
de um homem só.
Como tal, inspira
tantos outros. Pouco antes de sua visita à América do Sul, a CNBB, num
documento, produziu uma extraordinária ofensiva contra a “politização da Justiça”.
Alguém falou em Lava
Jato, em Moro etc?
Virou “abstração”,
disseram os bispos, o ideal de imparcialidade da Justiça.
Francisco e seus
garotos dizem as coisas como elas são, e por isso são tão preciosos.
Atraem ódio, mas isso
faz parte da vida de quem, como eles, combate o bom combate.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo
Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário
do Centro do Mundo.
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