segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dilma recebe participantes da 1ª Jornada de Lutas da Juventude Brasileira


 Presidenta Dilma Rousseff posa para foto com participantes da 1ª Jornada de Lutas da Juventude Brasileira. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta Dilma Rousseff se reuniu nesta quinta-feira (4), no Palácio do Planalto, com o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, e com entidades representantes da 1ª Jornada de Lutas da Juventude Brasileira. Durante o encontro, Dilma recebeu a pauta de reivindicações dos estudantes, que contém, entre outros pontos, 100% dos royalties do pré-sal para a educação, valorização permanente das bolsas de pesquisa e aprovação do Estatuto da Juventude.
 “Essa audiência com a Dilma foi o momento ápice dessa mobilização da juventude porque a gente pôde apresentar esse manifesto e uma pauta unitária da juventude brasileira”, disse o presidente da UNE após o encontro.

Dilma Rousseff anuncia novas medidas de combate aos efeitos da seca



 Dilma Rousseff durante 17ª Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo da Sudene. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta Dilma Rousseff anunciou nesta terça-feira (2), em Fortaleza (CE), durante a 17ª Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), novas medidas para combater os efeitos da seca no Nordeste, entre elas, a disponibilização de 340 mil toneladas de milho subsidiado nos meses de abril e maio, aumento de 30% no número de carros-pipa, prorrogação do Garantia Safra e do Bolsa Estiagem, ampliação de linhas crédito e renegociação das dívidas dos agricultores da região.
 “Ações estruturantes relativas à oferta de água, seja barragens, adutoras e estações elevatórias, todas as formar de construir aqui na região um nível de segurança hídrica mais efetivo e de grande durabilidade. Essas medidas estruturantes, junto com toda a estrutura de proteção social, montada pelo governo do presidente Lula e pelo meu governo, elas explicam porque a cara da miséria nessa região não foi tão acentuada perversamente pela estiagem”, disse.
Durante o discurso, a presidenta afirmou que já foram entregues 270.611 cisternas para consumo humano e outras 13.369 para cisternas de produção. Segundo ela, o compromisso do governo entregar até julho 130 mil cisternas e construir o restante das 240 mil ainda em 2013. Para o apoio ao agricultor, serão feitos ainda 20 novos poços profundos de grande vazão e 1.100 poços, além da recuperação de 1.400 poços.
 “Assumimos o compromisso de construir 27 mil cisternas de produção e agora acrescentamos mais 40 mil. Porque consideramos que as cisternas de produção são estratégicas no momento de iniciar dois processos, que é salvar os rebanhos existentes e nos preparar para ter de fato uma estrutura mais robusta para não ter uma perda de rebanhos a cada seca”, afirmou.

Dilma inaugura Arena Fonte Nova em Salvador


Danilo Macedo - Repórter da Agência Brasil

Brasília - A presidenta Dilma Rousseff participa hoje (5) em Salvador da inauguração da Arena Fonte Nova, que receberá jogos da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014. Dilma deixa Brasília agora de manhã e a previsão é que chegue a Salvador por volta das 9h30. A cerimônia no estádio, o terceiro a ficar pronto para as competições, está marcada para as 10h30, com a presença também do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, do governador da Bahia, Jaques Wagner, e do prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto.
A inauguração estava marcada para o dia 18 de março, mas foi adiada porque a presidenta precisou viajar ao Vaticano para participar da cerimônia de coroação do papa Francisco, no dia 19. O clássico entre o Bahia e o Vitória, válido pelo campeonato baiano, no domingo (7), será o primeiro jogo na nova arena, que terá a apresentação de artistas como Ivete Sangalo, Cláudia Leite, Margareth Menezes e Olodum, antes da partida.
A Arena Fonte Nova receberá seis jogos da Copa do Mundo de 2014 e três da Copa das Confederações. Em 20 de junho, a Nigéria e o Uruguai se enfrentam pelo grupo B e, em 22 de junho, a Seleção Brasileira joga contra a Itália, pelo grupo A. Em 30 de junho, último dia da competição, o estádio recebe a disputa do terceiro lugar.
O estádio, que custou R$ 591,7 milhões, tem capacidade para 55 mil torcedores, com 5 mil assentos móveis. Do total de investimentos, R$ 323,6 milhões foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômica e Social (BNDES) e R$ 268,1 milhões são recursos estaduais. Realizado por meio de parceria público-privada, a gestão do estádio será feita, nos próximos 35 anos, pelas empresas OAS e Odebrecht, que fizeram a obra.
A Fonte Nova foi inaugurada pela primeira vez em 1951 e implodida em 29 de agosto de 2010 para dar lugar ao novo projeto, mais moderno e cumprindo as exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Segundo o Portal da Copa do Mundo, do governo federal, mais de 10 mil trabalhadores estiveram envolvidos na construção, que durou cerca de dois anos e meio.

Edição: Graça Adjuto

Viaje mais, presidente


Foto: Ricardo Stuckert/Instituto

Por Marcelo Odebrecht

O tratamento dado por muitos às viagens de Lula reforça a desconfiança. Quero minhas filhas orgulhosas do que temos feito mundo afora
Minha tendência natural perante assuntos que despertam polêmicas, como as reportagens e os artigos publicados nas últimas semanas sobre viagens do ex-presidente Lula, é esperar a poeira baixar.
Dessa vez, resolvi agir de modo diferente porque entendo que está em jogo o interesse do Brasil e o legado que queremos deixar para as futuras gerações.
As matérias, em sua maioria em tom de denúncia, procuraram associar as viagens a propósitos escusos de empresas brasileiras que as patrocinaram, dentre elas a Odebrecht.
A Odebrecht foi, sim, uma das patrocinadoras da ida do ex-presidente Lula a alguns dos países citados. E o fizemos de modo transparente, por interesse legítimo e por reconhecer nele uma liderança incontestável, capaz de influenciar a favor do Brasil e, consequentemente, das empresas brasileiras onde quer que estejam.
O ex-presidente Lula tem feito o que presidentes e ex-presidentes dos grandes países do hemisfério Norte fazem, com naturalidade, quando apoiam suas empresas nacionais na busca de maior participação no comércio internacional. Ou não seria papel de nossos governantes vender minérios, bens e serviços que gerem riquezas para o país?
Nos últimos meses, o Brasil recebeu visitas de reis, presidentes e ministros, e todos trouxeram em suas comitivas empresários aos quais deram apoio na busca de negócios.
Ocorre que lá fora essas ações são tidas como corretas e até necessárias. Trazem ganhos econômicos legítimos para as empresas e seus países de origem e servem para a implementação da geopolítica de governos que têm visão de futuro, como o da China, por exemplo, que através de suas empresas, procuram, cada vez mais, ocupar espaços estratégicos além fronteiras.
Infelizmente, aqui o questionamento existe, talvez por desinformação. Permitam-me citar alguns números. A receita da Odebrecht com exportação e operações em outros países, no ano de 2012, foi de US$ 9,5 bilhões e nossa carteira de contratos de engenharia e construção no exterior soma US$ 22 bilhões.
Para atender a esses compromissos, mobilizamos 2.891 empresas brasileiras fornecedoras de bens e serviços. No conjunto, elas exportaram cerca de 60 mil itens. Dessas, 1.955 são pequenas empresas e, no total, geraram 286 mil empregos em nosso país. É uma enorme cadeia de empresas e pessoas que se beneficia de nossa atuação em outros países e, obviamente, se beneficia também do apoio governamental a essa atuação. Esse apoio se dá, dentre outras formas, com os financiamentos do BNDES para exportação que, no caso da Odebrecht, é bom que se frise, representam 18% da receita fora do Brasil.
Estamos em 22 países, na grande maioria deles há mais de 20 anos, e exportamos para outros 70. Como ex-presidente, Lula visitou sete, e esperamos que ele e outros governantes visitem muitos mais.
Esses números falam por si, mas decidi me manifestar também porque não quero que disso fiquem sentimentos de covardia ou culpa para as pessoas que trabalham em nossa organização.
Quero minhas filhas e os familiares de nossos integrantes de cabeça erguida, orgulhosos do que nós e outras empresas brasileiras temos feito mundo afora, construindo a Marca Brasil para além do samba e do futebol, ao mesmo tempo em que contribuímos para a prosperidade econômica e justiça social nos países e comunidades onde atuamos.
A inserção internacional nos tornou um país socialmente mais evoluído e comercialmente mais competitivo porque gerou divisas, criou empregos, permitiu trazer novas tecnologias e estimulou a inovação.
O tratamento que está sendo dado por muitos às viagens do ex-presidente Lula é míope e reforça entre nós uma cultura de desconfiança.
Caminhar na construção de uma sociedade de confiança, fundada no respeito entre empresas, entre estas e o poder público e entre o poder público e a sociedade será muito bom para todos nós.

MARCELO ODEBRECHT, 44, engenheiro civil, é presidente da Odebrecht S.A., empresa holding da Organização Odebrecht

Lula, as ruas e descontrução de sua imagem



 Blog Palavra Livre -  Por Davis Sena Filho

Volto a defender que o ex-presidente trabalhista Luiz Inácio Lula da Silva vá para as ruas, em busca de quem lhe apoia e confia. Lula tem de se reportar à imensa classe trabalhadora brasileira e aos seus eleitores, se o “político” conservador e procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e juízes ideologicamente de direita, a exemplo dos senhores Joaquim Barbosa, Marco Aurélio de Mello e Gilmar Mendes, entre outros, associarem-se novamente aos políticos tucanos derrotados três vezes nas urnas e aos barões da imprensa controladores da mídia oligarca, monopolista e historicamente golpista, que teimam em considerar o Brasil de duzentos milhões de habitantes e a sexta maior economia do mundo como o quintal de suas casas.
Trabalhista no poder deixa realmente a direita desesperada e inconformada.
Nunca é tarde para avisar aos políticos e governantes trabalhistas que eles não podem e jamais devem remediar ou tergiversar sobre a conduta histórica da direita brasileira, uma das mais violentas e poderosas do mundo, que edificou uma ditadura sanguinária que em um tempo de 21 anos fez do Brasil um lugar de barbarismos, onde as leis se tornaram um borrão no papel e os direitos da pessoa humana eram considerados conforme a vontade do ditador de plantão e dos militares, juízes, políticos e policiais que o serviam como subordinados, com o financiamento e a cumplicidade, evidentemente, de grandes empresários.
A direita sabe o que o líder popular, que após oito anos no poder saiu com 86% de aprovação, representa. Lula é a maior personalidade política que surgiu no Brasil após Juscelino Kubitschek e o estadista histórico Getúlio Vargas. Político de grandeza internacional, reconhecido como pop star quando vai às ruas ou às universidades brasileiras e do exterior, Lula tem de ser combatido, sua imagem tem de ser manchada e seus governos desqualificados, porque a desconstrução de sua pessoa política e do que ele representa como humanista são as únicas ferramentas que a direita herdeira da escravidão tem para usar como estratégia para conseguir uma vitória nas urnas.
Lula e certos setores da esquerda sabem o que está a acontecer. E a direita quer o ex-mandatário, ainda muito popular, quieto, no seu canto, talvez dentro de casa, a assistir a imolação de seu caráter, a desconstrução de sua imagem e a destruição de seu legado político, econômico e social. Querem tratar o Lula como se ele nunca tivesse existido e retirado da pobreza, por exemplo, mais de 30 milhões de cidadãos brasileiros, recuperado a economia em praticamente todos os segmentos, ter pago a dívida externa, além de ter livrado o País e seu povo da crise da União Europeia e dos EUA. Lula construiu o Brasil do quase pleno emprego, o que está a ser continuado pela presidenta Dilma Rousseff, com a queda dos juros e a isenção de taxas e impostos para inúmeros produtos.
A direita está desesperada. Ela é incompetente propositalmente, pois extremamente egoísta, moralmente violenta e socialmente sectária. Essa corrente política quer um Brasil para poucos, lugar onde cerca de 30 milhões de pessoas tenham acesso à educação, à saúde, à moradia e ao consumo. É a luta para manter a hegemonia de classe e dessa forma usufruir um País de VIPs. Um Brasil para os ricos, os muito ricos e uma classe média pequena, mas que mantenha seu poder de compra para abastecer os bolsos do empresariado tupiniquim, de cabeça colonizada e com um incomensurável complexo de vira-lata.
Por isto e por causa disto, o combate sistemático e incessante contra os políticos das correntes trabalhista e socialista. Para manter tal combate, a direita partidária e empresarial conta com a substancial cooperação da poderosa mídia de mercado, a de negócios privados cujos donos são alienígenas no que se diz respeito aos interesses do Brasil e de seu povo trabalhador. Lula é o político mais poderoso do País, juntamente com a Dilma, mesmo sem mandato. Consequentemente, ao perceber e há muito tempo a posição de Lula na sociedade brasileira, os conservadores optaram pela estratégia de desconstruir a imagem do líder político trabalhista.
A investigação sobre Lula pelo Ministério Público mais do que uma investigação é um movimento do xadrez político em que a direita se apoia para judicializar a política, além de apostar em uma conotação policialesca a cargo da imprensa alienígena, que vai se encarregar de disseminar a desconstrução de Lula. Por enquanto o sistema midiático privado está em silêncio, mas o ex-presidente é a pauta principal, que se encontra nos escaninhos das redações.
O empresário Marcos Valério, publicitário que iniciou suas atividades no ninho tucano do ex-governador mineiro, Eduardo Azeredo (1995/1998), foi condenado a 40 anos de prisão. Azeredo não foi reeleito, mas deixou rastros de ilegalidades na trilha dos tucanos. Até hoje homens e mulheres do PSDB não foram investigados e o STF dorme em berço esplêndido, pois não se tem notícia de quando o “valerioduto” dos tucanos vai ser, enfim, julgado. Tem um ditado popular que o Judiciário deste País é destinado a punir e a prender os três grupos sociais que formam os três Ps (puta, pobre e preto). A verdade é que pelo andar carruagem os três Ps viraram quatro — puta, pobre, preto e petista.
É uma desfaçatez a atuação do procurador-geral, Roberto Gurgel, aliado da imprensa de tradição golpista e da direita partidária no que é relativo à perseguição a Lula. Gurgel enviou papéis concernentes à acusação de Valério de que Lula teria sido beneficiado pelo dinheiro do “mensalão”, que teria custeado as despesas pessoais do presidente mais popular da história do Brasil, a superar, inclusive, o estadista Getúlio Vargas.(Grifo do ContrapontoPIG)
Acontece que Marcos Valério tem boca, e quem tem boca fala o que quer, do modo que quiser, ainda mais quando se torna necessário e urgente salvar a própria pele. O procurador-geral Gurgel, muito cônscio e zeloso de suas responsabilidades, imediatamente enviou ao procurador da República em Minas Gerais, Leonardo Melo, as declarações de Valério publicadas pela imprensa que está aí e se tornou ferramenta e instrumento de oposição sistemática aos governantes trabalhistas. O procurador Melo descartou investigar a suposto envolvimento de Lula com o “mensalão”, e decidiu devolver os papéis para a PGR, em Brasília.
Segundo a avaliação de Leonardo Melo, as declarações de Valério sobre Lula em nada acrescentam às apurações realizadas em Minas Gerais, bem como às ações que tramitam na Justiça Federal no estado mineiro. A verdade é que Valério quer diminuir sua pena e por causa disso negocia com a PGR do Gurgel uma saída menos dolorosa para seu caso. Envolver Lula beneficia a todos que o combatem fora das urnas. O PSDB e seus aliados de direita, a exemplo da imprensa de mercado, de Roberto Gurgel, da subprocuradora, Cláudio Sampaio, da subprocuradora Sandra Cureau, além de juízes nitidamente conservadores nas pessoas de Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Marco Aurélio de Mello e Luiz Fux, entre outros, que tem lado, ideologia e tomam partido, preferencialmente à direita.
As acusações de Marcos Valério não são substanciais, bem como não existem provas no que é relativo ao ex-presidente Lula. São meramente palavras que visam a desconstrução e a desqualificação de um político de esquerda, que revolucionou a sociedade brasileira e elevou o Brasil a patamares nunca visto antes em termos internacionais. Uma revolução silenciosa, realizada em um governo vocacionado para a democracia, que nunca bateu em trabalhador, além de melhorar as condições de vida dos pobres e da classe média. É visível. Só não enxerga quem não quer ou, simplesmente, faz oposição aos trabalhistas, mesmo a ser beneficiado. É a questão da ideologia.
Os ataques levianos a Lula são um acinte, um deboche à inteligência alheia e uma provocação de fundo e interesse político, que poderá levar o político petista às ruas. Lula não tem mandato. Ele é ex-presidente, mas é atacado pela imprensa e pelos partidos de direita diuturnamente. Interessa ao establishment manter Lula na alça de mira, mesmo se não forem comprovadas as acusações contra o líder trabalhista. Desconstruí-lo é a estratégia, porque a direita sabe que o Lula nas ruas, mas praças e nos palanques eletrônicos da televisão, do rádio e da blogosfera progressista é no momento um político imbatível. A verdade é que não há provas contra o Lula, mas manter o caso em evidência é uma forma de combatê-lo. A direita fez exatamente essa ação quando Getúlio Vargas estava fora do poder, em sua estância em São Borja, no Rio Grande do Sul — o berço do trabalhismo brasileiro.
Lula não vai ficar dentro da sua casa, em São Bernardo (SP), de braços cruzados, a ver sua imolação e a desmoralização moral de sua pessoa. Não é do seu temperamento. Getúlio se matou por causa disso. João Goulart sofreu um golpe de estado e só voltou para o Brasil para ser sepultado. Lula vai às ruas se perceber que a direita partidária, midiática e judiciária enveredar por caminhos antidemocráticos, e, por conseguinte, golpistas. Lula conhece a nossa história e os maus propósitos de uma “elite” herdeira da escravidão. Lula não vai ser emparedado por uma imprensa alienígena e entreguista, sem qualquer compromisso com o Brasil e que fomenta todo tipo de bandidagem por intermédio de suas manchetes irresponsáveis e nitidamente oposicionistas. O lugar de Lula é nas rua, junto ao povo, que não vai tolerar golpes. As Caravanas da Cidadania são estratégicas e solução de apoio e proteção.
A direita está desesperada, principalmente a midiática tucana, que em quase 20 anos no poder em São Paulo se tornou o destino de R$ 2,4 bilhões, apenas nos últimos dez anos. Como se observa, o contribuinte paulista sustentou a imprensa corporativa, que deixou de fazer jornalismo e passou a atuar como assessoria de imprensa, verdadeira chapa branca. Por isto e por causa disto, os políticos, a exemplo de FHC — o Neoliberal —, José Serra, Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin têm tanta ascendência sobre a imprensa, bem como influenciam em suas pautas.
O valor de R$ 2,4 bilhões não é qualquer troco. É um dinheiro de respeito e que é destinado a manter a máquina de propaganda tucana, além de servir também de “canhão” para desmoralizar e desqualificar os adversários dos tucanos tratados como inimigos, como ocorre, sem sombra de dúvida, há mais de dez anos com os presidentes trabalhistas, alvos de todo tipo de ataques e denúncias, muitas delas vazias. A imprensa comercial e privada depende do dinheiro do estado bandeirante, como os seres vivos necessitam de oxigênio para viver. Depois, na maior cara de pau, esse mesmo setor midiático fala em iniciativa privada, como se não fosse sustentado pelo dinheiro público. Durma-se com um barulho desse. A mídia hegemônica tem de ser desprivatizada e parar de tratar os leitores como idiotas.
Voltemos ao Marcos Valério. O procurador mineiro devolveu os documentos para Brasília. Contudo, um inquérito foi aberto na Polícia Federal. Leonardo Melo solicitou o rastreamento dos pagamentos feito pelo Valério. A apuração desses fatos é anterior ao depoimento do empresário de origem tucana. O processo em princípio não envolve o ex-presidente Lula. Além disso, o PT pode pressionar Lula para ser candidato a presidente, se ficar claro que a direita e seus órgãos de ação, como o STF e a PGR, insistirem em judicializar o processo político e eleitoral. O petista ainda pode ser candidato ao governo de São Paulo e, consequentemente, se vencer as eleições, colocar um pá de cal no túmulo de PSDB e no rico dinheirão que a mídia golpista tem acesso a quase 20 anos. Enfim, Lula tem as ruas e a elas deverá ir se se sentir acuado ou desrespeitado em sua cidadania. Golpe nunca mais!
Na minha opinião, Lula deveria ser indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz, razão pela qual, no decorrer de seus dois governos, ter incluído dezenas de milhões de pessoas no que é referente à cidadania, bem como seu trabalho de integração entre as nações que geograficamente ocupam o Sul do planeta. Seu trabalho na América Latina, na África e na Ásia é reconhecido pela comunidade internacional, mas, em contrapartida, é solenemente e cinicamente “esquecido” pela imprensa corporativa, que, se pudesse, o silenciava, como o fez com Leonel Brizola durante os 15 anos que ficou no exílio.
O presidente dos EUA, Barack Obama, mal assumiu o poder e recebeu o Prêmio Nobel da Paz, para logo depois apoiar a invasão da Líbia e o assassinato de Muammar Kadhafi por parte da OTAN, além de ter soldados espalhados pelo mundo, a darem continuidade a uma diplomacia de porrete, que se baseia na intimidação e na violência bélica pura e simples. A premiação de Obama desmoralizou tal prêmio e deixou a academia sueca, que ridiculamente se comportou com subserviência, em maus lençóis, no que diz respeito à sua credibilidade. Se Lula ganhasse o Nobel, a direita escravagista, brega, provinciana e colonizada brasileira cortaria seus próprios pulsos, com navalha cega e enferrujada para doer mais.
É isso aí.

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O processo contra Lula e a força do simbolismo


Como Getúlio e Juscelino, cada um deles em seu tempo, Lula é símbolo do povo brasileiro. Acusam-no hoje de ajudar os empresários brasileiros em seus negócios no Exterior. O grave seria se ele estivesse ajudando os empresários estrangeiros em seus negócios no Brasil.

Mauro Santayana

O Ministério Público do Distrito Federal – por iniciativa do Procurador Geral da República – decidiu promover investigação contra Lula, denunciado, por Marcos Valério, por ter intermediado suposta “ajuda” ao PT, junto à Portugal Telecom, no valor de 7 milhões de reais.
O publicitário Marcos Valério perdeu tudo, até mesmo o senso da conveniência. É normal que se sinta injustiçado. A sentença que o condenou a 40 anos de prisão foi exagerada: os responsáveis pelo seqüestro, assassinato e esquartejamento de Eliza Salmúdio foram condenados à metade de sua pena.
Assim se explica a denúncia que fez contra o ex-presidente, junto ao Procurador Geral da República, ainda durante o processo contra dirigentes do PT.
O Ministério Público se valeu dessas circunstâncias, para solicitar as investigações da Polícia Federal - mas o aproveitamento político do episódio reclama reflexões mais atentas.
Lula é mais do que um líder comum. Ele, com sua biografia de lutas, e sua personalidade dotada de carisma, passou a ser um símbolo da nação brasileira, queiramos ou não. Faz lembrar o excelente estudo de Giorg Plekhanov sobre o papel do indivíduo na História. São homens como Getúlio, Juscelino e Lula que percebem o rumo do processo, com sua ação movem os fatos e, com eles, adiantam o destino das nações e do mundo.
Há outro ponto de identificação entre Lula e Plekhanov, que Lula provavelmente desconheça, como é quase certo de que desconheça até mesmo a existência desse pensador, um dos maiores filósofos russos. Como menchevique, e parceiro teórico dos socialistas alemães, Plekhanov defendia, como passo indispensável ao socialismo, uma revolução burguesa na Rússia, que libertasse os trabalhadores do campo e industrializasse o país. Sem passar por essa etapa, ele estava convencido, seria impossível uma revolução proletária no país.
É mais ou menos o que fez Lula, em sua aliança circunstancial com o empresariado brasileiro. Graças a essa visão instintiva do processo histórico, Lula pôde realizar uma política, ainda que tímida, de distribuição de renda, com estímulo à economia. Mediante a retomada do desenvolvimento econômico, com a expansão do mercado interno, podemos prever a formação de uma classe operária numerosa e consciente, capaz de conduzir o processo de libertação.
Não importa se o grande homem público brasileiro vê assim a sua ação política. O importante é que esse é, conforme alguns lúcidos marxistas, começando pelo próprio Marx, o único caminho a seguir.
Como Getúlio e Juscelino, cada um deles em seu tempo, Lula é símbolo do povo brasileiro. Acusam-no hoje de ajudar os empresários brasileiros em seus negócios no Exterior. O grave seria se ele estivesse ajudando os empresários estrangeiros em seus negócios no Brasil.
Lula não é uma figura sagrada, sem erros e sem pecados. É apenas um homem que soube aproveitar as circunstâncias e cavalga-las, sempre atento à origem de classe e fiel às suas próprias idéias sobre o povo, o Brasil e o mundo.
Mas deixou de ser apenas um cidadão como os outros: ao ocupar o seu momento histórico com obstinação e luta, passou a ser um emblema da nacionalidade. Qualquer agressão desatinada a esse símbolo desatará uma crise nacional de desfecho imprevisível.

Antígona e os corpos insepultos da ditadura brasileira



As outras sepulturas

Sempre é bom começar citando Hegel. Porque dá uma certa classe ao texto e porque, a partir de Hegel, você pode ir para qualquer lado, para a esquerda e/ou para a direita. Marx afiou suas teses criticando e às vezes assimilando Hegel, e Hegel, ao mesmo tempo em que sacudia o pensamento conservador europeu, era o exemplo mais acabado do que Marx abominava, o filósofo que explicava o mundo em vez de tentar mudá-lo. Mas minha citação de Hegel não tem nada a ver com esta divisão, mesmo porque é uma que todo mundo – a partir da redescoberta da peça no século 18 – endossaria. Hegel disse que a Antígona, de Sófocles, era o mais sublime produto da mente humana, e sua heroína a mais admirável personagem, da História.
Escrita 400 anos antes de Cristo, a peça conta a história da filha de Édipo, rei de Tebas, com a sua mulher (e mãe, lembra?), Jocasta. Antígona quer enterrar seu irmão, morto num ataque a Tebas, contrariando as ordens do rei Creonte, para quem o corpo do traidor, que permanecerá insepulto, pertence ao Estado e não à sua família. Antígona rouba o corpo do irmão para que sua alma, sem os ritos fúnebres, não se perca no mundo dos mortos, e o sepulta no meio da noite. Para punir sua desobediência, Creonte a condena a ser enterrada viva. Muitos conflitos são desnudados na peça, mas o principal deles é entre o Estado e o indivíduo, entre a lei fria e costumes antigos, entre o direito do soberano e o direito do sangue comum. O fascínio da peça para Hegel e outros tem muito a ver com o renascente interesse pela cultura grega na Europa de então mas também com a revolução que acontecia nas relações estado/cidadão no explosivo começo do século 19.
A história de Antígona se adapta ao momento no Brasil, quando se tenta investigar o que permanece simultaneamente enterrado e insepulto no nosso passado, tantos anos depois do fim da ditadura. Os corpos ainda não foram devolvidos às suas famílias, os direitos do sangue ainda não se impuseram aos direitos do Estado algoz, os ritos fúnebres de muitos continuam restritos à imaginação de novas Antígonas, tão trágicas quanto a Antígona grega. Os arquivos da ditadura estão sendo aos poucos desenterrados. Já passou da hora de abrir as outras sepulturas

Artigo de Luis Fernando Veríssimo, publicado hoje em diversos jornais do País.

CENTRO-OESTE, A ANTEVISÃO DO FUTURO


Delúbio Soares (*)

Em 2012 a região Centro-Oeste puxou o crescimento econômico do país. Talvez desde que São Paulo, há quase um século, tenha demonstrado sua vocação industrialista, nenhuma outra região brasileira tenha optado de forma tão decidida por um setor da economia como aquela região pelo agronegócio.
E o fez de forma tão competente, com a pujança que vem caracterizando as iniciativas dos que batalham na agricultura e pecuária, que 60% do crescimento do PIB do setor foram devidos ao notável desempenho de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Sem estardalhaço, nem pompa, mas com um profundo sentido de responsabilidade e empreendedorismo sem igual, os brasileiros do Centro-Oeste capricharam no que já vem fazendo há décadas: gerar riqueza, produzir em quantidades que batem recordes e produtos de qualidade ímpar, com aceitação em todos os mercados, o nacional e o internacional.
Os mesmos técnicos e organismos que atestam a importância da região, salientam que ela aumenta quando se considera a estimativa de que tal crescimento das cadeias produtivas de alimentos e energia de biomassa já representou 80% do crescimento total do PIB no ano de 2011. E não ficamos por aí, não.
Ao debaterem o crescimento econômico nacional, no “Fórum do Futuro”, o nosso Centro-Oeste foi considerado pelos participantes do seminário no contexto do crescimento da produção global de alimentos como a fronteira agrícola mais importante de nossa história. E, nesse relevante conclave realizado em fins de 2012, reafirmou-se a previsão da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), de que o Brasil responderá por 40% do crescimento da oferta mundial de alimentos. E a região Centro-Oeste será o principal celeiro abastecedor desse incremento que interesse ao Brasil, aos brasileiros e a um mundo mais sustentável.
Se o Nordeste cresceu e seu bravo povo tem hoje uma condição de vida bastante melhor, com a correção de injustiças seculares através da implementação de programas sociais nos governos dos presidentes Lula e Dilma, na região Centro-Oeste o crescimento se dá, também, por obra de uma sinergia imensa entre a iniciativa privada e esse novo Brasil que surgiu com a chegada de 40 milhões de irmãos nossos à classe média, deixando a pobreza e assumindo plena cidadania. A Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), do Ministério da Integração Nacional calculou um crescimento do PIB da região de 5,9% nos 12 meses até maio do ano passado, mais do que o dobro do PIB brasileiro no mesmo exercício.  E em 2012, mercê de decisão firme do governo da presidenta Dilma Rousseff, os investimentos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) superaram os R$ 5 bilhões previstos, fechando o ano em torno de R$ 6 bilhões voltados ao desenvolvimento econômico e social da região onde o agronegócio que mais cresce.
Urge, é verdade, uma melhor logística de escoamento da abundante produção de grãos, do crescente e moderníssimo polo automobilístico goiano, do polo tecnológico já reconhecido internacionalmente, de indústrias de bom porte atuando em  vários setores, enfim, de todas aquelas empresas que escolheram o Centro-Oeste para fincar raízes e fazer desse país já grandioso uma das maiores potências do século XXI. A duplicação de nossas rodovias, a conclusão das ferrovias Norte-Sul e Leste-Oeste, o novo aeroporto de Goiânia, além de iniciativas contempladas no PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, são algumas das iniciativas que farão a diferença em muito pouco tempo. Houvesse um sistema de escoamento mais eficiente, segundo cálculos de técnicos do próprio governo federal, e o valor final das ‘commodities’ cairia em cerca de 30%. Porém, enfrentando o problema, durante esse ano mais de R$ 1 bilhão e 400 milhões serão investidos nessa infraestrutura tão necessária.
Pelas bandas do cerrado não há lugar para lamúrias. Quem quer crescer, plantar, fazer e acontecer, está no lugar certo. Sua gente olha o horizonte com olhos de futuro. Em Rio Verde, dia desses, um médio produtor me dizia, com simplicidade e antenado no mundo em que vive: “Você, Delúbio, sabia que em pouco mais de 20 anos o Brasil e os outros países dos BRIC’s vão fornecer 40% da comida do planeta? É bom demais, meu amigo!”.
O Centro-Oeste está fazendo a sua parte. Digo mais: o Centro-Oeste está fazendo a diferença. Com ousadia e brasilidade, com o descortino e a coragem de sempre, goianos, mato-grossenses, sul-matogrossenses e brasilienses mostram ao Brasil e ao mundo o seu valor, imenso valor.

Tarso defende luta política pela regulamentação da mídia



Em entrevista à Carta Maior, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, defende a necessidade de intensificar a luta política em defesa da regulamentação da mídia e do setor de comunicação como um todo. Definindo essa agenda como uma promessa não cumprida da Constituição de 1988, Tarso critica a ausência de diversidade de opinião no atual sistema midiático brasileiro e cita a postura editorial do jornal Zero Hora como exemplo de um processo de ideologização das notícias, recorrente no Brasil.
O debate sobre o tema da regulamentação da mídia e do setor da comunicação como um todo enfrenta pesada resistência e oposição no Brasil. Na sua opinião, qual o lugar que essa agenda ocupa – se é que ocupa – hoje no debate político nacional?
Tarso Genro: A questão da chamada “regulamentação da mídia” - que na verdade não trata nem do direito de propriedade das empresas de comunicação e muito menos da interferência do Estado nas redações ou editorias - é uma questão-chave do avanço democrático do país, das promessas do iluminismo democrático inscritas na Constituição de 88 e mesmo da continuidade da presença dos pobres, índios, negros, excluídos em geral, discriminados de gênero e condição sexual, trabalhadores assalariados e setores médios que adotam ideologias libertárias, na cena pública de natureza política.
Mas essa promessa permanece não cumprida. O que é preciso fazer, na sua avaliação, para que ela se torne realidade?
Tarso Genro: É preciso “forçar a barra”, através da luta política, para que ela reflita no Congresso a exigência de uma sistema legal, regulatório e indutivo, para a formação de empresas de comunicação, cooperativadas ou não, estatais e privadas, que possam sobreviver e ter qualidade, independentemente do financiamento dos grandes grupos de poder financeiro e econômico, que tentam controlar a formação da opinião de forma totalitária.
Como fazem isso? Ideologizando as notícias e selecionando os fatos que informam o público consumidor de notícias, a partir da sua visão de Estado, da sua visão de desenvolvimento, da sua visão das funções públicas do Estado, gerando uma espécie de “naturalização” do neoliberalismo e mascarando as premissas dos seus argumentos.
Cito alguns exemplos: reforma do Estado significa reduzir o serviço público e demonizar empresas estatais, como estão fazendo atualmente com a Petrobras; redução dos gastos públicos significa diminuir as despesas de proteção social; o “custo Brasil”, para eles, é originário, não da supremacia da política rentista, característica do projeto neoliberal, mas principalmente das despesas com direitos trabalhistas e impostos; parcerias público-privadas são vistas apenas como “oportunidades de negócios”, para empresas privadas e não como uma relação contratual, que combine o interesse público com o interesse privado; a corrupção é sempre culpa do Estado e dos seus servidores, omitindo que ela tem outro polo, o polo mais ativo, o privado, que disputa obras e serviços, corrompe funcionários e manipula licitações, nas suas concorrências predatórias.
Essa relação entre a política e a mídia costuma ser carregada de tensões e conflitos. Como político e gestor público, como procura lidar com esse tipo de situação?
Tarso Genro: Tive algumas experiências diretas interessantes com este tipo de manipulação: quando iniciei a implementação das cotas para negros e afrodescendentes no país, através do Prouni - ali eu era ministro da Educação - a grande mídia atacava a proposta, apoiada por acadêmicos de direita e da chamada extrema-esquerda, porque as cotas iriam baixar a qualidade da Universidade, já que os negros e afrodescendentes eram originários da escola pública e não tinham uma formação compatível para cursar as Universidades da elite, que são as universidades privadas. Puro preconceito, como se vê, tornado notícia isenta. Hipnose fascista, como argumentava Thomas Mann, na época do nazismo.
Outra experiência bem significativa foi quando, como Ministro da Justiça, deferi –baseado em jurisprudência do Supremo, nas leis e na Constituição, o refúgio para Cesare Battisti. Battisti não era, para a grande mídia, um cidadão italiano buscando refúgio, mas um “terrorista. O pedido de refúgio era divulgado, então, como pedido do “terrorista Césare Battisti”, para induzir o consumidor da notícia a ser contra o refúgio, pois ninguém de sã consciência quer abrigar terroristas em seu território. A grande mídia repassava sem nenhum pudor, para os leitores e espectadores, portanto, a tese do corrupto Berlusconi e dos fascistas italianos, de que Battisti era um simples bandido. Pura manipulação da informação para obter resultados favoráveis às suas opiniões e posições políticas pré-concebidas. Quase conseguiram.
Os exemplos aqui no Rio Grande do Sul também são fartos. Atualmente temos “fronts” onde esta disputa se desdobra. Temos o direito de dizer que é um jornalismo comprometido com uma visão do passado, este, da Zero Hora, que desqualifica constantemente o nosso governo, com distorções em notícias, cujos fatos são selecionados para dar uma impressão de neutralidade.
Com qual visão de passado, exatamente?
Tarso Genro: Ora, a situação financeira estrutural do Estado é ruim há muito tempo e nós nos elegemos com o compromisso de investir, melhorar o salário do servidores - que estavam arrochados duramente- e recuperar as funções pública do Estado. As matérias de Zero Hora criticam as decisões que estamos tomando, baseadas no nosso programa de Governo, a partir da ótica do Governo Britto e Yeda, sem dizer que estão defendendo um programa de governo oposto ao nosso, já que foram e são grandes entusiastas das privatizações e das demissões de servidores públicos de forma irresponsável, as chamadas “demissões voluntárias”.
O governo Britto fracionou e vendeu a CEEE por preços irrisórios, deixando as dívidas trabalhistas e das aposentadorias dos servidores com o Estado. Negociou as dívidas com a União, comprometendo-se a pagar juros exorbitantes e promoveu, assim, um estoque de dívida impagável. A governadora Yeda vendeu ações do Banrisul para pagar despesas correntes, não para - por exemplo - pagar contrapartidas para drenar mais recursos para investimentos, e fez o chamado (falso) “déficit zero”, arrochando salários e promovendo uma redução brutal nas políticas sociais e nos investimentos públicos, além de não captar recursos da União Federal, já que seu governo estava permanentemente atravessado por disputas internas. Ou seja, este jornal - e alguns editoriais de rádio e TV da mesma cadeia - estão já fazendo campanha eleitoral, para tentar restaurar, no Estado, as políticas destes dois governos, pois à medida que escondem as responsabilidades pela situação do Estado e exigem de nós, soluções imediatas, que sabem ser impossíveis e que não foram propostas no nosso Programa de Governo, estão saudosos destas políticas de privatização do Estado, que não deram em nada em lugar nenhum, a não ser atraso e crises sociais.
Um exemplo que chega ser hilário desta paixão saudosista é a forma com que eles tratam a questão dos pedágios no Estado e a parceria público-privada, para a construção da RS 10. Quanto ao primeiro assunto (pedágios), jamais avaliam os superlucros e os preços cobrados pelos pedágios, nem avaliam os investimentos feitos pelas concessionárias, para medi-los com estes preços e lucros. Quanto ao segundo assunto (parceria para a construção da RS 10) nos pressionam (ou pensam que nos pressionam), através de editoriais e notícias mal disfarçadas - mas são recados neoliberais - que devemos ser rápidos, acolhendo a proposta que vinha sendo negociada pela Governadora Yeda, sem pensar um minuto nos custos para o Estado e, inclusive, nas garantias que o Estado deve oferecer, nas suas precárias condições financeiras, herdadas dos governos Britto e Yeda, cujas promessas eles tinham grande simpatia.
Este tipo de crítica dirigida diretamente a uma empresa de comunicação costuma ser associado a um tipo de censura ou ameaça à liberdade de expressão. Como vê esse tipo de objeção?
Tarso Genro: Tem o direito de fazer tudo isso, é óbvio, mas se tivéssemos fortes órgãos de imprensa, TVs e rádios, que fizessem circular de forma equivalente as informações do governo e a opinião dos usuários, obviamente toda a sociedade ficaria bem mais esclarecida e livre, para formar a sua opinião. Para informar, como se sabe, os governos que não adotam o receituário neoliberal, precisam pagar e pagar bem, com as suas peças publicitárias, pois as matérias em regra não são nem isentas nem equilibradas e passam, naturalmente, a ideologia dominante na empresa jornalística, às vezes até editando o trabalho feito pelo repórter, ou encaminhando para ele as “conclusões” isentas que a matéria deve conter.
Considerando a natureza conflitiva dessa relação, é possível, na sua opinião, manter essa postura crítica e, ao mesmo tempo, não fechar os canais de diálogo?
Tarso Genro: Temos diálogo com eles e vamos continuar tendo, até porque não confundimos a nossa função pública com as disputas político-partidárias, que estão na base destes conflitos. Frequentemente temos que usar, porém, os meios alternativos à grande mídia, as redes, os “blogs”, as rádios independentes para divulgar as nossas posições, principalmente em épocas pré-eleitorais, quando a isenção se torna ainda menor e eles passam a preparar os seus candidatos para as próximas eleições. É o que está ocorrendo agora de forma acentuada, em temas de alta relevância para o Estado, como as finanças públicas, as parcerias e as políticas sociais do nosso governo.

Maduro no volante



Lula também é o pai dos chavistas, diz presidente da Venezuela

Herdeiro de Hugo Chávez diz que "direção coletiva" do chavismo está unida, defende Forças Armadas na política e afirma que TVs públicas têm que educar para a revolução. Em campanha para a Presidência da Venezuela, ele diz que o país enfrenta uma 'guerra econômica' e que se inspira na 'ética' e na liderança de Lula.
Mãos ao volante, Nicolás Maduro, que assumiu a Presidência da Venezuela depois da morte de Hugo Chávez, em março, dá uma guinada à esquerda e breca a perua Ford que dirige em frente ao portão de uma casa de Barinas, cidade do interior da Venezuela que fica a 500 quilômetros de Caracas.
"Vocês podem me esperar no carro por dois minutinhos? Vou visitar uma pessoa e já volto", pede ele às jornalistas da Folha, interrompendo uma conversa que já durava quase 20 minutos.
O portão se abre, Maduro estaciona na pequena garagem ao lado da sala da residência. Da porta sai uma senhora que chora. Os dois se abraçam. Ela soluça ainda mais.
É dona Elena Chávez, a mãe de Hugo Chávez. Outro filho dela, Adán Chávez, governador do Estado de Barinas, se aproxima. Os três desaparecem por 30 minutos.
Na volta, Maduro assume novamente a direção do veículo. "Ainda dói para ela, ainda mais quando nos vê. Todas as lembranças do filho voltam, é duro demais", diz ele sobre dona Elena. "Mas siga com suas perguntas", diz. "Fale, fale tudo, sobre o que você quiser".
Depois de seis dias de espera na Venezuela, ele finalmente concedia a entrevista exclusiva. Falava ali mesmo, no carro, no caminho entre o comício que fizera de manhã com cerca de 30 mil pessoas, num ginásio da cidade em que Chávez passou a infância, e o aeroporto, onde embarcaria para nova atividade.
É comum Maduro dirigir o próprio carro na campanha. Apontado como sucessor por Chávez, ele disputa a Presidência com Henrique Capriles, candidato da oposição. Pesquisas colocam Maduro como favorito nas eleições marcadas para o próximo domingo (14).
O evento político em Barinas tinha sido especialmente agitado. Parte da família do líder morto estava ao seu lado no palanque.
"Se todos nós aqui somos filhos de Chávez, o que é Adán para nós? Um tio protetor!", discursava Maduro, braços dados com o irmão do ex-presidente. "Chávez vive! A luta segue!", gritava a multidão.
"Enfrentamos a desaparição física de nosso comandante eterno. Vamos defender esta revolução, o legado de Chávez. Preciso do apoio de vocês, desta linda e gloriosa família de Chávez." E o público: "O povo unido jamais será vencido!".
"Vocês querem o capitalismo?", perguntava. "Nããão", respondia a multidão. "Vocês decidem se querem Nicolás Maduro, um filho de Chávez, ou o burguesinho que entrega a pátria!", dizia, referindo-se a Capriles. "Volta para a sua mansão em Nova York, burguesinho caprichoso. Vou te derrotar com a ajuda desse povo glorioso."
No fim, Maduro ergue a mão: "Juro...", grita ao microfone. A população imita o gesto. E repete: "Juro...". Segue ele: "Cumprir os ditames do nosso comandante Chávez...". A multidão ecoa, em uníssono.
Ex-motorista de ônibus, sindicalista, era deputado e presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, em 2006, quando Chávez o escolheu para ser o chanceler do país. Foi pego de surpresa. Juntou assessores, abriu o mapa-múndi e disse: "O mapa de Caracas eu conheço perfeitamente. Agora tenho que conhecer este aqui".
É casado com a advogada Cilia Flores, nove anos mais velha e militante de destaque no chavismo: ela também presidiu a Assembleia Nacional e foi procuradora-geral da República. Têm um filho, o flautista Nicolás Ernesto, e um neto.
À Folha Maduro disse não acreditar que a oposição chegue algum dia ao poder na Venezuela "no século 21". Afirmou que os meios de comunicação públicos têm que "educar o povo para a revolução", defendeu a participação das
Forças Armadas no processo político e disse que o socialismo venezuelano prevê uma iniciativa privada forte no país.
Apoiado por Lula, que enviou a ele um vídeo para ser usado na campanha, Maduro reagiu às declarações de seu opositor, que diz ter o governo do ex-presidente do Brasil, capitalista mas que combate a pobreza, como modelo. "Lula para nós também é um pai."
Como será o chavismo sem Chávez, que era formulador, estrategista e porta-voz do governo?
Nicolás Maduro - O presidente Chávez fundou um movimento revolucionário e de massas na Venezuela. Deu a ele uma ideologia e uma Constituição. Nosso processo revolucionário está constitucionalizado. Ele nos dotou de um corpo de doutrinas e de princípios. Nos deixou um testamento político, o programa da pátria, com objetivos de curto, médio e longo prazos. E promoveu um nível de participação e de protagonismo das amplas maiorias como nunca se viu na história da Venezuela. Estamos preparados para seguir fazendo a revolução. Ele formou um povo. Nos formou para um projeto.
Mas 44% dos venezuelanos, que votaram na oposição nas eleições presidenciais de 2012, não estão de acordo com esse projeto. E se, agora ou no médio prazo, vocês perderem uma eleição?
Nós aceitamos todas as eleições que perdemos. A Venezuela tem governadores e prefeitos de oposição. Tem deputados, 40% do Parlamento. Se algum dia ganharem, coisa que eu duvido que se passe no século 21, bem, ganhariam e assumiriam a Presidência. E teriam que ver o que fazer com o país. A Venezuela tem um povo consciente e bases sólidas de país independente em vias do socialismo.
Vocês falam muito de unidade. Mas há vários grupos no chavismo. Não pode ocorrer um racha, como houve com o peronismo na Argentina?
O movimento revolucionário nacional está unido ao redor da imagem, da espiritualidade e da ideologia de Chávez. De um projeto de pátria. Pátria grande. Está unido ao redor de uma direção coletiva que ele construiu. E ao redor da designação do comandante Chávez da minha pessoa como condutor da revolução para essa etapa. Estamos unidos.
Sem a figura incontrastável de Hugo Chávez, haverá alternância na liderança do chavismo?
Nem um "pitoniso", um bruxo, um vidente, ninguém pode saber o que nos reserva o destino. O que te digo é que neste momento histórico estamos solidamente unidos. E o mundo deve saber que essa direção coletiva já passou por várias provas de fogo. Estamos prontos para a vitória em 14 de abril e para governar muito bem o nosso país.
Na Venezuela, canais privados de televisão fazem campanha para o candidato de oposição à Presidência, Henrique Capriles. E canais estatais fazem campanha para o senhor. Os canais públicos são de todos. Não deveriam ser neutros?
Os canais públicos, em uma revolução como a que estamos vivendo na Venezuela, têm que formar o povo, educar o povo, prepará-lo para essa revolução. Têm que sair defendendo a verdade frente a uma ditadura midiática que promoveu um golpe de Estado [em 2002, as emissoras privadas apoiaram a tentativa frustrada de depor Chávez]. Foi o primeiro golpe de Estado dado por canais de televisão. É preciso buscar uma leitura mais próxima do que se passa na Venezuela. Os canais públicos têm sido o contrapeso necessário e são o sustentáculo para estabilizar a sociedade. Se tivessem desaparecido nos últimos seis anos, haveria uma guerra civil. Os canais privados nos teriam levado a uma guerra de todos contra todos.
A Globovisión, emissora privada de oposição, está sendo vendida a um empresário amigo do governo. E assim é possível que quase todos os meios sejam favoráveis ao chavismo.
Nós soubemos pela imprensa que a Globovisión estava sendo vendida. Em todo caso, é uma negociação entre empresários amigos. É problema deles, realmente. É preciso ver como termina. Quem sabe a mensagem mais poderosa da venda da Globovisión é a de que sabem que estão perdidos.
Eles dizem que fizeram de tudo para eleger a oposição a Chávez, o que os levou a uma situação precária.
A Globovisión simplesmente jogou para derrubar o governo e fracassou. E o fracasso político e de comunicação os levou a um fracasso econômico. Estão quebrados, dizem eles. E simplesmente estão separados da sociedade. Sabem que vamos governar este país por muitos anos, a revolução continua. E eu creio que estão cansados já. Se cansaram, se renderam.
O candidato Capriles diz que não tem acesso às rádios porque as que dão abertura à oposição são perseguidas. Não é importante que as vozes divergentes tenham espaço?
Bem, mas elas têm 80% dos meios de comunicação. Se você vai agora mesmo a qualquer lugar de Barinas e compra os jornais, verá que são privados e contra o governo. As televisões regionais, as rádios, 80% a 90% delas são contra o governo. Fazem seu negócio, vendem seu produto. Eles [oposição] têm todos os meios, nós temos um só: a consciência popular, que os derrota todos os dias. Quanto mais veneno jogam, mais as pessoas reagem. Você pode andar por qualquer lugar em Caracas. Encontrará um povo com consciência. Como se criou isso? Com a liderança do presidente Chávez, que era pedagógico, saía à rua, falava, formava as pessoas.
Não há um culto à personalidade de Chávez na Venezuela?
Não houve em vida e agora o que há é amor. Culto ao amor, ao agradecimento do povo a um líder que já é chamado na América de Cristo Redentor dos Pobres. Um homem que transcendeu as nossas fronteiras.
A chamada "união cívico-militar" é um dos pilares do chavismo. Em um continente como a América Latina, com histórico de golpes militares, não seria melhor que as Forças Armadas estivessem afastadas do processo político?
Nós temos Forças Armadas que resgataram os valores do libertador Simón Bolívar, que têm uma doutrina anti-imperialista e anticolonialista, latino-americana, própria. Você sabe que os EUA estão funcionando como um vampiro sedento, buscando as riquezas petroleiras e os recursos naturais do mundo com guerras, invasões. E as nossas Forças Armadas têm agora uma doutrina de defesa integral do país, das maiores reservas petroleiras do mundo. Defendem o nosso sonho, a nossa terra.
Têm uma doutrina nacionalista, revolucionária, assumiram o socialismo como causa da humanidade para construir uma nova moral. Aqui se formavam oficiais com os manuais da Escola das Américas [financiada pelos EUA], que formou as Forças Armadas latino-americanas por cem anos. Ensinavam os nossos oficiais em inglês, quase sem tradução. É uma vergonha que não ocorre mais.
No Brasil é considerado uma grande conquista o fato de as Forças Armadas não interferirem mais na política interna. Por princípio, não seria melhor que na Venezuela elas também estivessem nos quartéis e a disputa política ocorresse somente entre civis?
Não, é um erro. As Forças Armadas não podem estar nos quartéis. Têm que estar nas ruas, na fábrica, nos bairros, com o povo, para poder defender a pátria. Não podem ser uma elite alijada. Não. Têm que fazer parte do mesmo povo.
E com forte participação política?
Bom, depende do que você entende por política. O que as nossas Forças Armadas não têm é formação partidária. Você não vai ver nenhum oficial mandando votar por nenhum partido político, nem fazendo campanha por um partido.
Não, presidente? Quando o ministro da Defesa, Diego Molero, diz que as Forças Armadas tudo farão para atender aos desejos de Chávez, isso é interpretado como um pedido de voto para o senhor.
Bem, o que as pessoas têm que saber, e oxalá se saiba no Brasil, é que o nosso almirante-em-chefe Molero deu essa entrevista um dia depois da morte do nosso presidente. E o candidato da oposição havia ofendido fortemente a família do presidente. Duvidou da morte do presidente. Colocou em questionamento a possibilidade de eu assumir a Presidência [Maduro era vice]. Nossos oficiais estavam indignados. E ele [Molero] então disse "respeitamos o nosso novo comandante-em-chefe Nicolás Maduro, presidente da República". Foi um gesto constitucional e também moral. Não eleitoral.
O governo do ex-presidente Lula diminuiu a pobreza mas nunca falou em mudar as estruturas capitalistas da sociedade brasileira, como pregava Hugo Chávez na Venezuela. O que o senhor acha de quando colocam o "lulismo" em contraponto ao "chavismo"?
Cada país tem o seu ritmo. Eu fui testemunha de pelo menos 14 reuniões do presidente Lula com o presidente Chávez. E posso te dizer que eram dois irmãos. Os dois se entendiam perfeitamente. E os dois sabiam que tanto o que Lula fazia, como grande líder do Brasil, quanto o que Chávez fazia aqui era parte de um só processo, de libertação da América Latina.
Não tem a esquerda boa, com Lula, e a esquerda má?
Tentou-se por muito tempo [dizer isso]. Em 2007, havia toda essa campanha brutal contra o presidente Chávez. E Lula propôs, para que eles não brigassem... ele dizia assim: [imitando Lula] "'Chávess', vamos fazer uma coisa. Vamos nos reunir a cada três meses para acabar com a intriga". E assim se fez. Foram mais de 14 reuniões a partir daí. Agora, sim, o que posso te dizer: Lula para nós também é um pai. Porque Lula é fundador das correntes de esquerda de novo tipo que surgiram nos anos 80 adiante. Nós nos inspiramos na ética de Lula, na energia dele, em sua liderança trabalhadora.
Mas Lula, como eu disse, não fala em mudar o capitalismo.
Cada um lidou com a circunstância histórica do seu país. E Lula empurrou o Brasil até uma grande onda progressista, de prosperidade, de desenvolvimento.
O candidato Capriles diz que o modelo dele é Lula.
Para a direita pega muito mal... para uma direita que nunca trabalhou pega muito mal colocar-se "barba a barba" com Lula. Lula ganhou trabalhando nos fornos da luta, da história.
Ele elogia Lula por combater a pobreza sem mexer no setor privado.
Se há algo a dizer de Lula, Néstor Kirchner, Cristina [Kirchner] e outros líderes é que são, na essência, antineoliberais. Libertaram nossos países do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. E essa direita que trata de se colocar disfarçada de Lula é, em sua essência, privatizadora, dependente da forma neoliberal e do FMI. Não têm nada que ver com o legado nem com o patrimônio político e cultural dos valores que Lula representa.
No governo Chávez, a presença do Estado avançou. Mas o setor privado ainda representa 58% da economia. Se vitoriosos, vocês vão estatizar mais empresas, mais setores? Até onde vai o que chamam de "socialismo do século 21"?
O socialismo do século 21 é diverso. Tem as particularidades e está enraizado na dinâmica verdadeira de cada país. Cada um tem a sua realidade. E não podemos achar que há menos ou mais socialismo porque o nosso, o boliviano, o equatoriano, o nicaraguense ou o cubano não se parecem com as experiências da antiga União Soviética ou da Romênia.
Há lugar então para um setor privado forte?
A história está por ser escrita. Há espaço para investimentos que venham a desenvolver um modelo produtivo e inclusivo. Lamentavelmente na Venezuela os cem anos de modelo de rentismo petroleiro não permitiram que surgisse um capital forte. No fundamental, o capital se articulou à renda petroleira sem gerar capacidade produtiva e desenvolvimento tecnológico. Esse capital não tem visão de país, nacionalista.
É diferente do que se passou no Brasil ou na Argentina, por exemplo, que tiveram burguesias nacionais. Na Venezuela não há burguesia nacional. Nossas dificuldades são então maiores. Os setores que se dedicaram à atividade econômica privada têm laços de dependência muito forte com o capital estadunidense.
É por isso que estão em todos os processos de sabotagem da economia e da política. Quem sabe agora comece a surgir, e vem surgindo, um setor misto de capital venezuelano e de investimentos de outras partes do mundo. Capital brasileiro, argentino, uruguaio, em aliança com um novo capital privado na Venezuela.
Uma burguesia vinculada fortemente ao Estado?
Todo esse modelo está em elaboração. Nesse momento estamos fazendo um chamado e buscando instrumentos para financiar e construir setores privados que sejam nacionalistas e que nos permitam diversificar a economia.
Privado integralmente?
Claro. Totalmente. Com financiamento, incentivo. De todos os tamanhos, pequeno, médio, grande, vinculado à tecnologia, à indústria, ao comércio. Vinculado ao capital de outras partes do mundo, Brasil, Argentina, Rússia, China. Capital estadunidense.
Então Cuba é inspiração para o chavismo, mas não o modelo a seguir.
Cada um tem suas particularidades. A Cuba coube viver uma história dos anos 60, 70, muito marcada pela chamada Guerra Fria. Bem, Cuba foi contra nossos antigos modelos políticos, sociais, econômicos.
E está se abrindo.
Cuba tem seu próprio processo de aperfeiçoamento do socialismo. Precisamente o bonito da Alba [Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, integrada por países como Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua] é que nós todos temos formas diversas de economia. E diversos conceitos do que é o socialismo neste momento em cada país. E podemos andar juntos, e vamos aprendendo uns com os outros.
Acredita que é possível o socialismo pela via democrática, como Salvador Allende [ex-presidente do Chile que sofreu um golpe militar em 1973] tentou, sem sucesso?
Até agora, sim, creio que é possível. Creio inclusive que, salvo se o império estadunidense ficar louco e pretender nos derrotar pela via da força, ou invadir esse país, o caminho da Venezuela seguirá sendo a democracia ampla, profunda, de amplas liberdades e transformações pacíficas, que são as que de verdade deixam raízes. Toda transformação que se dá pela via do debate democrático e da decisão popular são decisões verdadeiras que têm solidez na soberania e na consciência dos povos.
Se a Venezuela continuará a ter um setor privado forte, como se chegará então ao socialismo?
O socialismo tem várias dimensões. A principal delas é a espiritual, a moral, a ideológica, de transformação do ser humano. E quando o ser humano dessa sociedade, por todo processo de educação, de nova cultura, de nova prática política, de participação, de novas relações econômicas, de produção, começa a funcionar de outra forma, então existem as condições para a sociedade socialista, que supere o individualismo, o desejo de riqueza individual. E, cavalgando junto, vão as transformações para um novo modelo econômico, que supere, no caso da Venezuela, o capitalismo rentístico, especulador. E que faça as bases de uma economia produtiva, diversificada, que crie riqueza para ser distribuída através da saúde, educação, alimentação, seguridade social, para que o povo tenha níveis de vida dignos, para que se supere a pobreza definitivamente.
Quando Chávez morreu, a presidente Dilma Rousseff fez elogios, mas disse que em muitas ocasiões o governo brasileiro não concordou com o da Venezuela.
Nós integramos a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], o Mercosul, comunidades democráticas onde se debatem ideias. E quando se debatem ideias normalmente surgem opções.
O Banco do Sul, por exemplo, do qual fariam parte os países da América do Sul, não foi aprovado ainda no Congresso brasileiro. Está lento.
Você sabe que os temas que têm que ver com o parlamento sempre são lentos. Nós temos uma comissão já de caráter presidencial que reúne os delegados de cada presidente do Banco do Sul. Tudo está pronto. Só esperamos que o Congresso brasileiro o aprove para que entre em vigência de maneira rápida, automática.
O Brasil também não integrou a TeleSur [emissora financiada por vários países latino-americanos], o projeto do gasoduto do sul [que ligaria Venezuela, Brasil e Argentina] não andou.
Bem, são projetos sobre os quais têm havido debates. A TeleSur é uma linda realidade de comunicação alternativa que venceu a ditadura midiática das grandes cadeias de televisão. Quem sabe mais adiante [o governo brasileiro se integre ao projeto]. Seguramente as portas da TeleSur estão abertas para o governo da presidenta Dilma e de qualquer iniciativa que venha a fortalecê-la.
E a refinaria Abreu e Lima [parceria da Petrobras com a petroleira venezuelana PDVSA que até agora, por divergências em relação ao financiamento, conta com recursos apenas do Brasil], como está?
Não tenho os detalhes atualizados, mas sei que marcha agora melhor. E que vai ter um final feliz.
A economia é considerada uma má herança de Chávez. A inflação é alta. Há um certo nível de desabastecimento, de 20%. E uma dependência muito grande do petróleo. Haverá ajustes no governo?
No dia 22 de fevereiro, conversamos por cinco horas com o presidente Chávez sobre temas econômicos. E ele disse: "Veja, Nicolás, estamos em uma guerra econômica". Porque, com a enfermidade do presidente, os interesses econômicos nacionais e internacionais se lançaram a desabastecer [o país] de produtos, a especular com os preços e com o valor do dólar. Eles acreditavam numa hecatombe econômica que chegaria a uma explosão social e a uma desestabilização política. Nós estamos enfrentando. Vamos torcer o braço do dólar paralelo, vamos torcer até lá embaixo.
E a inflação?
É um problema do funcionamento especulativo do capital. A inflação nos 14 anos antes do presidente Chávez foi de 34%. Nestes 14 anos com ele, baixou para 22%. Planejamos levá-la à metade nos próximos dez anos. Oxalá possamos chegar a um dígito.
Haverá corte de gastos?
O mais importante é que os gastos se convertam em investimento social para proteger o povo e econômico para girar riqueza no país. E isso é uma dinâmica bendita que vai gerando mudanças na estrutura econômica e vacinando o país da especulação como sistema de fixação de preços e de movimentos da economia.
No fAlha