Por Elói Pietá
A polêmica suscitada pelo ministro do Supremo, Gilmar Mendes,
a respeito de recente encontro seu com o ex-presidente Lula, merece algumas
considerações sobre os juízes e a política.
Os juízes têm muito poder, assim como os governantes e os
parlamentares. E têm ideologia. Às vezes são mais elitistas, às vezes mais
igualitários. Nos processos e nas sentenças eles expressam mais a técnica
jurídica ou mais as suas convicções. Sempre haverá a presença dos dois.
Como tantos fatos demonstram, Gilmar Mendes é um magistrado
tecnicamente preparado, mas profundamente político. Escolhido no governo do
PSDB, seu lado sempre demonstrou ser de oposição ideológica ao PT.
Entre as muitas relações políticas que cultivou na oposição,
uma agora lhe é incômoda: Demóstenes Torres. Compartilhavam eventos familiares.
Viajavam juntos no exterior. Juntos
protagonizaram o anúncio de um suposto grampo telefônico, nunca comprovado, que
levou à demissão de um por eles indesejado diretor da ABIN. Juntos tiveram na
revista Veja seu prioritário canal de expressão midiática. Juntos se enganaram
quanto aos amigos: Demóstenes diz que achava Cachoeira não mais agir na
ilegalidade; Gilmar diz que achava Demóstenes uma pessoa diferente da que agora
foi revelada.
Na versão da polêmica atual a respeito de seu diálogo com
Lula, são dois contra um. O ex-presidente e o ex-ministro do Supremo, Nelson
Jobim, negam a afirmação de Gilmar Mendes de que Lula sugeriu adiar pra depois
das eleições o julgamento do chamado mensalão.
E, se Lula realmente quisesse dizer isso, qual o problema?
Gilmar em nada dependeu ou depende de Lula. É ministro vitalício. Tem posições
fortes. Lula, como principal liderança do PT, teria todo direito de dizer ao
ministro que fazer este julgamento antes das eleições é usar o processo como
arma eleitoral.
Expor um ponto de vista jamais tira a liberdade do julgador.
É do cotidiano no Judiciário. É da natureza de qualquer instituição de poder
receber pressões sociais nesta ou naquela direção. Vide a intensa pressão para
o STF fazer este julgamento antes das eleições. A oposição nacional, em todos
os seus matizes partidários e midiáticos, quer o julgamento agora. Para
influenciar a seu favor o resultado eleitoral. Ao PT, obviamente, interessa o
julgamento após outubro.
O problema então estaria em supostas insinuações de Lula de
que o ministro poderia ser alvo na CPI de Cachoeira. Fato mais uma vez negado.
Dois contra um.
O ministro Mendes, conforme ele mesmo diz, relatou de imediato
suas impressões da conversa a Agripino Maia, presidente do DEM. Evidencia-se
que buscou guarida e conselhos no jogo político, que ele também joga. Tanto que
foi compartilhá-la com um dos principais líderes da oposição, e não com seus
colegas do Supremo. Quando resolveu, calculadamente, jogá-la a público, um mês
depois, pelo canal oposicionista da Veja, certamente buscou tirar algum
proveito político contra o PT ou para blindar preventivamente a si mesmo.
O ministro Gilmar Mendes afirmou que as pressões do PT para
adiar o julgamento do mensalão seguem uma lógica burra, irresponsável, imbecil.
Ao reverso dá para entender que, para ele, as pressões da oposição, em que
milita, seguiriam uma lógica inteligente, responsável, esperta.
Na política, Gilmar Mendes tem lado. No Supremo, se inspira
neste lado.
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