Delúbio Soares (*)
O velho continente
passa por um dos seus piores momentos – senão o pior – desde o pós-guerra. A
Comunidade Européia poderá sofrer a baixa da Grécia, economicamente quebrada e
em plena agitação social, e o Euro, moeda única dos diversos países que a
integram, é pouco mais que uma sombra dos tempos em que apresentava valor
bastante superior ao dólar norte-americano e a outras moedas igualmente fortes.
Muitas foram as causas
que levaram à periclitante situação enfrentada pela grande maioria dos países
europeus e que, sabidamente, se reflete por todo o mundo. E os povos de
Portugal, Itália, Espanha e, recentemente, o da França, dispensaram seus
governos, que não conseguiam responder efetivamente às necessidades de momento
tão delicado ou, pior ainda, preferiam jogar nas costas da população imensos e
inaceitáveis sofrimentos pondo-os na conta de suposta “austeridade”.
A Itália se livrou de
uma das piores figuras de sua história recente, o magnata Silvio Berlusconi,
que por longos anos foi seu primeiro-ministro e seu problema maior. A valorosa
nação que se soergueu depois da derrota na II Grande Guerra pelas mãos do
estadista De Gasperi, que livrou-se do experimento fascista de Mussolini,
tornou-se uma economia fortíssima e construiu em poucas décadas uma das mais
sólidas democracias ocidentais, dá mostras de resiliência e de recuperação
através de um novo governo, sério e respeitado. A simples queda do bufão
Berlusconi significou uma injeção de ânimo nos italianos, além da volta da
respeitabilidade e confiança internacionais perdidas. Os problemas continuam
graves, mas existe um governo competente, sério, livre de direitistas xenófobos
e com vontade política de superar os impasses da atualidade.
Os que esperavam na
saída do primeiro-ministro socialista o caminho certo para superar a brutal
crise que sacode a Espanha certamente estarão bastante desapontados. Zapatero
se foi e Mariano Rajoy, líder da direita e sem qualquer traquejo para o
exercício do poder em quadra tão tenebrosa da história de seu país, não tem
atendido senão aos interesses dos bancos espanhóis, quebrados ou em via de
cerrar as portas. O Bankia ruiu sob o comando de Rodrigo Rato, ex-ministro da
economia do governo Aznar e ex-diretor-geral do FMI, precisa imediatamente de
19 bilhões de euros e apresenta rombos em seu caixa (ativos de má qualidade e
créditos de recebimento duvidoso) que chegam à impressionante cifra de 31,8
bilhões de euros. Com apenas 1 ano e 2 meses de vida, o Bankia é a quarta maior
instituição financeira espanhola e sua diretoria é formada, quase que
integralmente, por militantes do direitista Partido Popular, o mesmo do
primeiro-ministro. E Rajoy não apresentou nenhuma proposta consistente para
enfrentar o desemprego que atinge 24,3% da população, o maior índice da
história da Espanha, mas se mostra por demais aplicado na tarefa de salvar
bancos tecnicamente insolventes, banqueiros falidos e companheiros do seu PP…
Na França as urnas
mostraram o caminho de casa ao pequeníssimo Nicolas Sarkozy, o que chamava o
povo de “lixo”, os imigrantes de “escória” e recebeu o entusiástico apoio de
quase totalidade da mídia e das grandes corporações econômicas, às quais
prestava obediência e vassalagem. Transformando-se em acólito da “premiê” alemã
Angela Merkel na exigência de sacrifícios aos demais países da Zona do Euro, o
direitista Sarkozy voltou as costas para as necessidades dos franceses e foi
incapaz de esboçar reação efetiva ou
apresentar soluções palpáveis para a superação da crise que já chegava ao seu
país. Agora, derrotado, terá imenso tempo de refletir sobre o papel desprezível
de governos que se acumpliciam a interesses inconfessáveis e enxergam na
cidadania não mais que uma massa sem alma ou vontade política. O eleito dos
franceses, o socialista François Hollande, exibe o perfil de líder altivo e
preocupado com seus concidadãos, buscando saídas para o presente de
dificuldades e preparando a França para um futuro melhor.
Cito os três exemplo
mais interessantes e expressivos de países que se depararam com crises de
grandes proporções, buscaram soluções e encontraram caminhos para a superação
de suas dificuldades econômicas e contra o agravamento do quadro social. Não
cito a Grécia que, infelizmente, até o momento não conseguiu encontrar-se
consigo mesma e evitar que a hecatombe sócio-econômica se agrave ainda mais.
Entretanto, torçamos pela milenar nação helênica e seu extraordinário povo,
crendo que haverão de vencer o momento dramático vivido em todas as áreas da
vida nacional.
A França, antes mesmo de
tornar-se presa fácil para a crise que avança pelo continente, livrou-se de
Sarkozy, de seu governo de direita e buscou a saída pela esquerda. Ao que tudo
indica, foi acerto dos maiores: Hollande não tem decepcionado pela forma
objetiva, rigorosa e competente como formou sua equipe de governo e, também,
pelos primeiros e acertados passos na condução do país. A Itália trocou um
governo fascistóide e desmoralizado por uma coalizão comandada por um técnico
respeitado, de sólida formação democrática e reconhecida competência. Mário
Monti representou a saída pelo centro, com a participação da esquerda e a
tomada de medidas emergenciais que surtiram efeito e minoraram os efeitos da
crise continental na vida dos italianos. E a Espanha, que buscou a saída pela direita,
aprofunda a cada dia o buraco em que se encontra. Banqueiros recebem o apoio
bilionário do governo enquanto as filas de desempregados em busca dos
raríssimos postos de trabalho disponíveis se tornam maiores a cada dia. E o que
é pior: as perspectivas para a velha e querida Espanha não parecem (e não o
são) nada boas.
Quando o presidente
Lula, em importantíssima aparição no Programa do Ratinho, no SBT, afirmou que
não pode permitir a volta dos tucanos ao poder, ele sabia exatamente o que
estava dizendo. Sugiro aos leitores que busquem na memória o tipo de governo
que o PSDB realizou em quase uma década, precedendo a chegada de Lula, do PT e
da base aliada ao Planalto, em 2003. E mais: releiam as medidas que o candidato
que Dilma derrotou em 2010, o tucano José Serra, propunha para a economia
brasileira. Estivera o PSDB no governo e o Brasil já estaria quebrado ao invés
de, sob o comando de Lula e Dilma, ter-se tornado a sexta economia mundial e
estar absolutamente preparado para enfrentar qualquer percalço.
Os brasileiros sabem em
quem votar e o presidente Lula sabe o que diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário