A senadora Marta Suplicy não foi ontem ao
lançamento oficial da candidatura de Fernando Haddad pelo PT para disputar a
prefeitura de São Paulo. Sua atitude não é só de indelicadeza, mas de
desrespeito político.
Marta sempre teve a militância petista em todas as
campanhas majoritárias que disputou. E não foram poucas.
Em 1998, sua primeira candidatura a cargo
majoritário só não foi melhor sucedida porque uma pesquisa
“bem arrumada” pela dupla Ibope/Globo a tirou do segundo turno contra Paulo
Maluf. Covas venceu-a por 0,4% dos votos.
Na ocasião foi o ex-presidente Lula quem bancou sua
candidatura. Havia muita gente achando que José Genoino ou Mercadante deveriam
ser os candidatos petistas àquela disputa. Lula queria Marta. E convenceu o
partido do jeito dele. Aliás, convenhamos nem sempre Lula ganha. Perdeu com
Plínio para Erundina, em São Paulo. E teve que engolir a candidatura de
Luizianne Lins, em Fortaleza, em 2004. E ambas se elegeram. O que significa que
nem sempre Lula impõe sua vontade ao PT. E que nem sempre acerta também.
Mas voltando a 1998, Genoino topou sair da disputa
também porque vislumbrava a eleição da capital, em 2000, como algo mais
interessante. Mas a votação de Marta ao governo do Estado levou-a a se tornar um nome natural
do partido para a disputa de São Paulo.
E Marta foi a candidata e se elegeu prefeita em
2000.
Montou um grupo político e controlou o partido
localmente com mão de ferro. Alguns de seus desafetos não tiveram espaço na
gestão municipal.
Não há grande novidade nisso e faz parte do jogo
político.
Marta, deste ponto de vista, realizou algo que
Luiza Erundina não conseguiu. O PT governou com Marta. Sem lhe dar maiores
dores de cabeça.
Na reeleição, em 2004, Marta e uma parte de seus
articuladores achavam que a eleição seria vencida pelas qualidades de seu
governo. Que eram muitas, muitíssimas. Mas havia o fator Marta. A prefeita, até
por preconceito midiático, se tornou uma candidata pesada. Muita gente a via
como uma pessoa arrogante, prepotente, metida etc.
Havia muito de razoável nesta avaliação.
Marta não se esforça nenhum pouco para se mostrar
diferente. Ao contrário, Marta é difícil. Uma pessoa bem difícil.
Em 2004, por exemplo, não se esforçou para ter o
PMDB como aliado na disputa pela reeleição. Fez bico e deu de ombros. Ouvi de
alguém bem próximo a ela que “não valia a pena gastar nem uma
vela sequer com aquele defunto”. Ou seja, o PMDB na avaliação daquele
interlocutor não existia. E Marta compartilhava daquela avaliação, em garantiu
o gajo.
Acontece que o partido à época de Quércia tinha um
precioso tempo de TV que poderia ter sido fundamental para diminuir a rejeição
a então prefeita e aumentar a aprovação de sua administração, que era alta.
Quem perdeu aquela eleição não foi a gestão, foi
Marta. Quem tinha rejeição alta era a prefeita. Não seu governo.
Após a derrota de 2004, Marta disputou as prévias
para disputar o governo do Estado com Mercadante e perdeu no olho mecânico. Ou
seja, convenceu boa parte da militância petista de que era a melhor candidata.
E quase disputou o cargo de Alckmin pelo partido.
Em 2008, tentou a prefeitura de novo. E sua
campanha foi um desastre. Foi coroada pelo “é casado, tem filhos?”, que se
tornou uma mácula no seu currículo tão próximo às lutas da comunidade LGBT.
Perdeu feio de Kassab no segundo turno.
Na eleição seguinte, em 2010, disputou a eleição
para o Senado pelo PT. Fez uma campanha fraca, mas se elegeu com a segunda
maior votação. Tendo sido superada por Aloysio Nunes na reta final.
Ou seja, Marta teve de 1998 até 2010 o apoio do PT
para cinco disputas majoritárias. Ganhou duas e perdeu três. Perdeu e ganhou
com o apoio da militância do seu partido.
Fez disputas bonitas, como a de 1998 e 2000. E
disputas mais complicadas, posteriormente.
Fez uma bela
gestão municipal em São Paulo e teve duas chances para defender essa história,
em 2004 e 2008. Não conseguiu convencer o eleitor de que merecia voltar.
Por acaso Marta foi rifada pelo partido? Ela não
teve condições de defender seu legado?
Essa tese que a senadora tenta vender ao não ir ao
lançamento da candidatura de Fernando Haddad é falsa. Ela não tem do que
reclamar.
Sua postura, ao contrário, reforça o preconceito
que boa parte do eleitorado tem dela. De que é uma pessoa arrogante e que se as
coisas não forem do seu jeito, não brinca. Aquela menina(o) mimada(o) que só se
diverte se for o centro das atenções. Quando há alguém disputando espaço, pega
o seu brinquedo e vai embora.
A atitude da
senadora Marta na manhã de ontem de não ir ao encontro municipal do PT São
Paulo e não atender o telefone é de um ridículo ímpar.
Conhecendo um pouco o partido, aposto que ela jogou
fora uma boa parcela de sua credibilidade com a militância principalmente.
Principalmente porque os jornais de hoje exploram mais a sua ausência do que a
festa. Muitos petistas vão guardar essas matérias no bolso.
Marta fez o
que o Serra gostaria que ela fizesse.
E, o pior, talvez tenha se divertido com isso.
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