domingo, 13 de março de 2011

CARNAVAL CARIOCA, NA CATEGORIA ESCOLA DE SAMBA, OPTOU PELA DOR: ROBERTO CARLOS

O carnaval carioca como categoria escola de samba só é tido como carnaval apenas por cortesia, pois não é carnaval. Ao contrário do movimento dionisíaco que poetisa o carnaval como potência da ‘embriagadez’, onde os fluxos dos cantos e dos movimentos exaltam a vida, revigorando ontologicamente os brincantes, que em suas performances perdem as formas e as ideias determinadas como normais, constituindo novos modos de ser alegre, a escola de samba é uma terrível falsificação da alegria. Nela não há nada de liberdade cósmica que compõe a alegria. Nada do grito de Tragos, o bode dionisíaco, o desmedido, a força ditirâmbica criadoramente transcendente. A escola de samba é uma triste cama de Procusto. Tudo tem que estar na medida. Não na medida da alegria, visto que a alegria não tem medida, mas a medida da dor, visto que a dor é uma limitação dos fluxos do viver.

A escola de samba, que já começa com a ordem autoritária despótica no momento da disputa pelos compositores do samba enredo, uma verdadeira indústria capitalista do entretenimento doméstico, tem tempo cronológico, tempo pulsado, tempo paranoico. Tem pré-determinação histórica: começo, meio e fim. Tem espaços-alas, todas metrificadas, todas lotes que não podem ser diferentes para seus proprietários. Tem ilusão de movimento na superfície pontuada do sambódromo. Tem imobilidade harmônica musicalmente hipnótica. E tem o pior: a submissão aos tiranos. Os jurados, participantes da elite-ignara, os empresários, as secretarias de Estado e Município e, mais ainda, no caso do Rio de Janeiro, a deplorável tirania da Rede Globo. Elementos despóticos que só mesmo por cortesia de algum bonachão pode ser tido como carnaval, já que o carnaval-dionisíaco não se prende e não se submete em razão de sua potência liberdade poiética.

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