domingo, 20 de novembro de 2011

Dr. Gu Hanghu - "Ajudo Dilma a buscar o equilíbrio"

Acupunturista explica por que se tornou o preferido dos políticos e diz como ele trabalha para atenuar os efeitos do estresse sobre a presidente da República

por Izabelle Torres – Revista Isto É

O sotaque é carregado e algumas palavras do português ainda não lhe são familiares, embora viva no Brasil desde 1987. Mesmo assim, o médico chinês e acupunturista Gu Hanghu conquistou espaço e tornou-se o especialista favorito de políticos que sofrem com dores e estresse. A lista de pacientes poderosos é encabeçada pela presidente Dilma Rousseff, atendida duas vezes por semana pelo chinês sorridente que costuma tomar cuidado com o que fala para não parecer invasivo. A presidente e alguns de seus ministros como Guido Mantega (Fazenda) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) chegaram ao consultório do dr. Gu depois de testemunharem o êxito do tratamento do médico contra a crônica bursite do ex-presidente Lula. Suas agulhas livraram Lula de uma cirurgia no ombro. Agora, Gu trabalha para atenuar os efeitos do estresse e da pressão do dia a dia sobre a saúde de Dilma Rousseff. Em abril, quando visitou a China, a presidente incluiu o acupunturista na comitiva oficial e se submetia às sessões do dr. Gu quase todos os dias para recuperar a energia.

ISTOÉ entrevistou o médico chinês no consultório onde ele atende integrantes do alto escalão do governo e da política. Móveis simples de madeira e duas salas pequenas com macas cobertas por lençóis finos brancos compõem a decoração do ambiente sem luxo. O destaque fica por conta de paredes tomadas por fotografias de autoridades sorridentes. A maioria delas ao lado do presidente Lula, com registros de peladas, festas juninas e até de um bolo oferecido no Palácio da Alvorada por dona Marisa no dia do aniversário do médico. Orgulhoso da galeria que montou, o acupunturista também aponta para sua foto preferida com a presidente Dilma Rousseff. “Essa foi na festa da posse. Dilma escreveu: Gu, viva as agulhas!”, diz o médico, apontando para o autógrafo de sua mais ilustre paciente.

Istoé - O sr. tornou-se o médico preferido dos políticos em Brasília. Como isso aconteceu?
Dr. Gu Hanghu - Eu atendia o Mercadante (Aloizio, hoje ministro da Ciência e Tecnologia). Ele era meu paciente em 2003 quando o presidente Lula tomou posse. Na época, comentei com ele que eu tinha visto o Lula na posse com dificuldades de mexer o braço. Avisei que poderia ajudá-lo. Comentei também com alguns amigos e outros pacientes que aquilo era bursite e a medicina chinesa poderia evitar a cirurgia. Passaram o recado ao presidente e um mês depois ele me procurou para começar o tratamento. O Lula começou a acreditar na acupuntura. A partir da terceira sessão, quando as dores diminuíram, ele voltou a fazer movimentos com mais tranquilidade. A cura do então presidente foi uma prova do sucesso do tratamento de acupuntura e fez com que muitos políticos começassem a me procurar.

Istoé - Seu consultório é frequentado por políticos de diversas colorações partidárias?
Dr. Gu Hanghu - Há muitos petistas entre meus pacientes. Mas há clientes de outros partidos também. Tenho, por exemplo, como pacientes o senador Álvaro Dias, do PSDB, o presidente do Senado, José Sarney, e o vice-presidente da República, Michel Temer, ambos do PMDB. Não sou filiado, mas particularmente gosto do PT e das pessoas do partido. Tem gente como o Lula, a presidente Dilma, o Gilberto Carvalho (ministro da Secretaria-Geral da Presidência). O Lula virou um grande amigo e ultrapassamos a relação médico-paciente. 

Istoé - Como o sr. reagiu ao receber a notícia sobre a doença do ex-presidente Lula?
Dr. Gu Hanghu - Levei um susto, é claro. Acho que o ex-presidente estava cansado. Lula trabalhou muito tempo sem parar. Forçou demais a voz e a própria saúde. Pela manhã do sábado 29 de outubro, quando os médicos deram o diagnóstico, o Gilberto Carvalho me ligou para contar que eles tinham encontrado um câncer na laringe. Uma hora depois vi a notícia na televisão e fiquei muito preocupado. O problema é que, quando uma pessoa vive sob pressão, essas doenças aparecem uma hora ou outra. Por isso, é tão importante buscar o equilíbrio.

Istoé - A acupuntura pode ajudar no tratamento do ex-presidente?
Dr. Gu Hanghu - Somente depois do fim desse tratamento quimioterápico, que foi iniciado agora. A acupuntura não cura câncer. As sessões podem ajudar numa fase posterior. Elas ajudam a amenizar os efeitos colaterais e a reequilibrar o corpo e as energias. Agora não há o que ser feito além do que os médicos prescreveram. Pelo menos, não por mim. Mas acredito que a personalidade do Lula e os avanços da medicina vão deixá-lo bem muito em breve.

Istoé - O sr. atendia o ex-presidente e agora se tornou o acupunturista oficial da sua sucessora no Palácio do Planalto. Qual é a principal diferença entre Lula e Dilma Rousseff?
Dr. Gu Hanghu - Eu conversava muito com Lula e ainda converso até hoje, mesmo depois que ele voltou a viver em São Bernardo do Campo. Viramos amigos, nossas famílias se aproximaram, frequentei as festas e o Palácio da Alvorada. Com a presidente Dilma a relação é um pouco diferente. Mas também conversamos. Ela é muito educada.

Istoé - E as conversas com a presidente Dilma são parecidas com as que o sr. mantinha com o presidente Lula?
Dr. Gu Hanghu - Minha intenção é descobrir como posso ajudá-la a se sentir melhor. Com a Dilma eu não falo de política, não dou opiniões e não faço muitas perguntas sobre assuntos que não sejam o foco do meu trabalho. Meu papel é tratar de suas dores e ajudá-la a buscar o equilíbrio. Não preciso conversar. Meu trabalho é a acupuntura. O da presidente é a política brasileira. Não misturamos as coisas e nunca falamos mais do que o necessário.

Istoé - O sr. acha que essa discrição é determinante para mantê-lo como o acupunturista favorito dos presidentes?
Dr. Gu Hanghu - Pode ser. Mas médico não tem mesmo de sair falando com o paciente. O momento da sessão é para buscar a cura, para melhorar as energias. Decididamente essa não é a hora adequada para sair opinando sobre as coisas. Muito menos sobre política. Acho que a presidente Dilma gosta que façamos essa diferenciação. Ela me trata com carinho. Vou ao Palácio da Alvorada atendê-la uma ou duas vezes por semana.

Istoé - E como está a saúde da presidente Dilma Rousseff?
Dr. Gu Hanghu - Boa. Mas ela fica muito cansada com a rotina que tem. A presidente Dilma é trabalhadora e está sempre com muita coisa na cabeça. Costumo ajudá-la a recuperar a energia do corpo e da mente. Comecei a atendê-la em 2006, quando ela ainda era ministra. Na época, ela vinha ao consultório, geralmente, com dor nas costas. É um problema comum hoje em dia. A acupuntura ajuda nesse tratamento e acredito que é por isso que os pacientes permanecem comigo. Inclusive ela.

Istoé - A presidente Dilma está curada do câncer?
Dr. Gu Hanghu - Dilma está bem. Mas é claro que precisa manter uma rotina de cuidados. A manutenção e acompanhamento são muito importantes para qualquer um que tenha tido a mesma doença. Mas essa não é minha área de atuação.

Istoé - O fato de a presidente Dilma ter voltado de suas recentes viagens internacionais com gripe, a ponto de remarcar a agenda por falta de disposição, seria um sinal de estresse?
Dr. Gu Hanghu - Não cuido de remédios e medicações. Posso falar da minha área. Minha avaliação é de que qualquer pessoa submetida a uma viagem cansativa e corrida pode acabar se gripando. A presidente não é diferente de ninguém. Precisa se cuidar como qualquer um. Fui com a comitiva presidencial dela para a China, uma das viagens mais longas que ela fez desde que assumiu o cargo. Lá, eu atendia a presidente depois dos compromissos e deu para ver que é tudo muito cansativo. Acho que a ajudei a repor as energias e enfrentar a agenda.

Istoé – Qual é a doença mais comum entre os políticos?
Dr. Gu Hanghu - Acho que é a cabeça cheia de problemas. Eles levam muito tempo para resolver coisas e vivem em clima de tensão quase permanente. Eu os ajudo porque a acupuntura auxilia no combate a essas dores do estresse e do cansaço. Minha missão é tentar equilibrar o corpo e a energia das pessoas, sejam autoridades ou não. Quando atendo políticos influentes ou ministros, minha meta é ajudá-los na busca do equilíbrio para que possam tomar decisões corretas. É nisso que penso.

Istoé - Sua experiência levou à conclusão de que os políticos adoecem mais do que gente comum?
Dr. Gu Hanghu - Na verdade, mostra que eles adoecem como qualquer outra pessoa que trabalha demais e vive preocupada com o que tem a resolver. A cabeça manda em tudo na nossa vida. Manda na saúde também. Quem vive preocupado e sob forte tensão sofre baixa na imunidade e as doenças aparecem. A vida sob pressão não faz bem para a saúde de ninguém. Qualquer pessoa pode sofrer disso (câncer). Basta manter uma rotina de estresse por muito tempo.

Istoé - Quanto o sr. cobra pelas consultas que dá ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff?
Dr. Gu Hanghu - Eles até querem pagar pelo meu trabalho. Mas não aceito. Digo sempre que me interesso em mantê-los saudáveis para que decidam e façam o melhor para o País. Sei que a presidente Dilma, se estiver com a saúde boa, vai poder trabalhar melhor. Digo que se ela trabalhar melhor todos ganham. Por isso, não cobro pelas sessões. Quando me chamam para atendê-la no Palácio, vou no meu próprio carro, levo meu material e trabalho com o maior prazer. Faço assim por Dilma porque acho que, de alguma forma, estou ajudando o País. A mesma justificativa me levava a atender o Lula de graça, quando ele era presidente. Agora faço isso porque tenho um carinho e admiração enormes por ele. Lula é realmente um grande amigo.

Istoé - Então o sr. cobrava da Dilma quando ela era ministra?
Dr. Gu Hanghu - Sim, o mesmo preço que fazia para os demais pacientes comuns. Minha consulta custa R$ 150 a sessão.

Istoé - Alguma vez o sr. usou o acesso que tem às autoridades para pedir ajuda?
Dr. Gu Hanghu - Olha, vou dizer que já falei sobre um sonho que tenho. Fico meio sem jeito, mas como brigo muito pela regulamentação da acupuntura no Brasil, sempre que tenho oportunidade falo com eles sobre isso. Acho que o Brasil precisa de uma lei tratando desse assunto. O ideal não é exigir o registro no conselho de medicina e muito menos liberar qualquer pessoa para virar acupunturista. O Brasil precisa encontrar um meio termo. A acupuntura deve fazer parte da medicina e é preciso haver critérios para controlar quem está apto a exercer a profissão. Esse é meu sonho.

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