No segundo evento em Goiânia para apresentar os argumentos de sua defesa no Supremo Tribunal Federal, Delúbio Soares disse ontem que o julgamento do processo do mensalão será “o maior espetáculo midiático do Brasil”. O debate foi promovido pela União Estadual dos Estudantes e pelo DCE da PUC-GO, no câmpus 5 da universidade.
Em discurso de pouco mais de dez minutos, Delúbio afirma que tem a “consciência limpa” e que acredita na Justiça. Ele fala também da polêmica expressão “recursos não contabilizados” em vez de caixa 2. O ex-tesoureiro do PT citou o post do colunista da Veja Reinaldo Azevedo, com críticas ao evento (leia aqui: http://bit.ly/vu5i4S), e rebateu: “Isso não me amedronta”.
No evento anterior, na sede do PT, o evento foi fechado, exclusivo para militantes. Desta vez, foi permitida a entrada de jornalistas.
Leia abaixo os principais trechos do discurso de Delúbio.
“Por que eu estou divulgado a minha defesa? Porque aquilo que eu fiz eu assumi na minha defesa e nas CPIs. Agora eu estou sendo acusado por aquilo que não fiz. Tenho muita tranquilidade em debater este tema. Temos debatido em todos os lugares, entregando a defesa.”
“Houve um problema de déficit de campanha. As pessoas do PT e dos partidos aliados recorreram aos partidos e coube ao tesoureiro do PT na época – pessoa jurídica de tesoureiro do PT, que era eu -, e resolvemos pegar dinheiro emprestado com os bancos e demos o dinheiro para as pessoas pagarem as dívidas. Se as pessoas não contabilizaram o dinheiro na Justiça Eleitoral, o problema é de quem pegou e de quem prestou serviço a eles. O dinheiro tem origem, por isso que nós saímos do termo caixa 2 para os recursos não contabilizados. Foi isso que aconteceu.”
“Minha primeira militância real, quando ingressei na Universidade Católica de Goiás em 1976, foi ingressar no Comitê da Anistia. Quando mudei para Goiânia em 1972 – vindo de Buriti Alegre -, filho de pai e mãe analfabetos, não sabia nem que existia ditadura. Otávio Lage, que é filho de Buriti, havia sido governador, fazia tudo por Buriti, e não se discutia ditadura lá. Vim para Goiânia e a primeira coisa que fiz quando entrei na universidade foi entrar no Comitê da Anistia, coordenado pelo professor Pedro Wilson. E hoje, depois de não sei quantos anos de militância, na Anistia, movimento de professores (CPG, Sintego), fundação do PT, fundação da CUT, eu tenho que pedir anistia para mim mesmo. E se eu não pedir, ninguém vai pedir.”
“Eu quero ser julgado pelos autos, pelo que foi feito. Eu não tenho medo de encarar ninguém. As pessoas tentam amedrontar. Ontem um colunista fez postagens no site da Veja xingando todo mundo: o DCE, o centro acadêmico, os estudantes, a universidade, com todo tipo de palavras. Era o Reinaldo Azevedo. Isso não me amedronta.”
“Tenho a consciência limpa, tranquila. Ando para todo lado, não tenho medo de ofensa. Mas me preservo.”
“Quero e acredito na Justiça. Lutei pela Anistia. Coordenei o Comitê da CUT na Constituinte pelas Emendas Populares, coordenei todas as emendas populares, fazendo uma disputa com o Centrão, para aprovar uma Constituição progressista, que Ulysses Guimarães, denominou de maneira muito correta de Constituição Cidadã. Batalhei muito pela Constituição e pela democracia no nosso país.”
“Meu advogado, dr. Arnaldo Malheiros, tem debatido o caso em reuniões e diz que ninguém quer saber as razões, ninguém quer saber do Direito, principalmente uma parte da classe média-alta. Mas quando um filho deles bate um carro ou é pego em alguma batida, vai atrás de advogado e o filho deles é o maior inocente do mundo. Quando batem o carro e atropelam alguém, aí lembram do Direito. Mas o seu filho é inocente e os outros não.”
“Nós temos que viver em um país para todos. A lei é uma só para todo mundo. Eu faço parte do Brasil, sou brasileiro e queria dizer a vocês, que aqueles que concordarem, leiam, passem a defesa aos amigos, porque quando for julgar, vai ser o maior espetáculo midiático do Brasil. Por isso que fiz questão de conversar com todos alunos de Direito, com todas as seccionais da Ordem dos Advogados, para pedir que leiam os autos.”
“Respeito todas as instituições, mas quero dizer: vamos trabalhar com o que foi feito, não aquilo que dizem que foi feito. Eu não comprei deputado, não comprei parlamentar para votar com o governo.”
Escrito por Fabiana Pulcineli
Fonte: O Popular
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