por Rodrigo Vianna
Há uma semana, escrevi sobre a primeira leva de pesquisas que
mostravam crescimento de Fernando Haddad (PT) após o início do horário gratuito
na TV. E lembrei que a subida inicial do petista não significava que Lula
operaria um “milagre”, levando o candidato a 30% dos votos em duas semanas.
Não! É preciso lembrar que Lula, presidente, perdeu duas vezes em São Paulo
apoiando Marta em 2004 e 2008.
Outro fato: o público costuma prestar muita atenção aos primeiros
dias de horário eleitoral. Depois, fecha os ouvidos, e só vai acompanhar o
assunto de novo faltando dez dias pra eleição. O que isso significa? Que Haddad
deve continuar subindo, mas de forma mais lenta.
Vai subir de que jeito? Com apoio de Lula, mas também com as
figuras de Dilma e Marta na TV. Haddad, que hoje tem baixa rejeição, tende a
ser identificado pelo eleitorado – pouco a pouco – como o “homem do PT”. Ele
precisa desesperadamente dessa marca. É só isso que pode garantir a ele os
votos petistas da periferia que, segundo as pesquisas, Russomano conseguiu
conquistar até aqui. Acontece que, na medida em que (re) conquistar votos da
periferia, ficando mais “petista”, Haddad tende a ganhar para si a rejeição do
eleitorado que detesta o PT e Marta. Em São Paulo, esse sentimento é muito
forte.
Resumo da ópera: para ultrapassar Serra e chegar ao segundo
turno, Haddad terá que ser mais “petista”. Terá que colar sua imagem às
realizações de Marta na periferia. Mas chegando ao segundo turno, a rejeição ao
PT tende a empurrar para Russomano boa parte do eleitorado que vai votar em
Serra no dia 7.
Ah, mas “o segundo turno é outra eleição” – diz o
lugar-comum. Sim. Outra eleição pros dois lados.
Celso Russomano leva uma enorme vantagem tática a essa
altura. Ele não precisa se definir – agora – como “petista” ou “antipetista”. O
candidato do PRB conseguiu avançar pelo caminho do meio. Agrega muitos
eleitores visceralmente antipetistas – que já o enxergam como a melhor
alternativa pra derrotar Lula/Marta/PT. Mas também agrega eleitorado
tradicionalmente petista que vive na periferia. Conseguiu isso mantendo-se
quase amorfo politicamente. Sem fazer marola. Nem sequer esbravejou contra as
“picuinhas” entre PT e PSDB – como fez
Chalita. Não. Russomano cresceu aproveitando-se de uma conjunção de fatores: a
imagem televisiva de defensor dos consumidores, da fadiga de material do
serrismo, a rejeição a Kassab e a opção petista por um candidato desconhecido.
No segundo turno, e só lá, Russomano terá que tomar uma decisão.
Será uma outra eleição também pra ele! Se o adversário for Haddad, como
considero mais provável, Russomano vai estimular (de forma sutil) o velho
conservadorismo paulistano que detesta o PT das “taxas” e das greves. Se o
adversário for Serra, pode fazer o discurso de “base aliada” da Dilma, de homem
que ajuda a construir o novo Brasil da era Lula, e que vai ajudar a aposentar
os tucanos mais atrasados.
A única chance de impedir a vitória de Russomano seria a
descontrução pessoal do candidato – desde já. Como ele pouco fala de política,
o contra-ataque teria que ser fora da política tradicional. Os vídeos
espalhados pela internet, em que ele apalpa moças em velhos Carnavais, parecem
seguir essa lógica. Mas, por esse caminho, ninguém vai derrubar Russomano. O
machismo brasileiro vai aplaudir – e não renegar – o sujeito que dá suas
“apalpadas” numa noite de Carnaval… E cá entre nós, é o fim da picada querer
mudar eleição com base num vídeo desses.
Russomano pode ser desconstruído – pelo PT ou pelo PSDB – se a
imagem de “campeão da defesa dos consumidores” for arranhada. Ou se ficar claro
que ele é um “aventureiro”, sem base para governar. Isso é possível? Não sei.
Parece uma tarefa difícil, se levarmos em conta o que as pesquisas indicam:
dois terços dos votos em Russomano estão ”consolidados”, é de gente que já o
escolheu e não está disposta a mudar.
E Serra? Está morto? Não. Há que se lembrar: na eleição
presidencial de 2010, houve um momento em que ele chegou a cair para 21% nas
sondagens diárias do IG. D ilma, com 45%, ganhava no primeiro turno.
Desencadeou-se então uma campanha virulenta, moralista, contra a petista. Serra
não subiu muito. Bastou a ele que Marina roubasse os votos que escapavam de
Dilma.
A operação agora é mais complicada: Serra precisa desidratar
Russomano e torcer para que Haddad não suba além de 19% ou 20%. Fora isso,
precisa manter o eleitorado tucano dos bairros mais ricos – que torce o nariz
para Russomano. De que forma? Colando a imagem a Alckmin e FHC (como Serra já
começou a fazer), e operando para desidratar Russomano na periferia. Os votos
que sairiam do candidato do PRB teriam que ir para Chalita, e não para Haddad.
Difícil? Claro. Mas não impossível.
Serra pode ter muitos defeitos. Mas é um homem que luta até o
fim. Com as armas que tem. Os jornais amigos estão aí para produzir conteúdo a
ser usado contra Russomano.
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