Governo mineiro está
imobilizado pela “Gangue dos Castros”, após receber dossiê com provas da
participação de Aécio Neves em crimes desde 1983
Por Marco Aurélio
Carone
O esquema criminoso
montado pelo secretário de governo do Estado de Minas Gerais, Danilo de Castro,
denominado “Gangue dos Castros”, que vinha sendo noticiado apenas por
Novojornal há mais de seis anos, finalmente começa a ganhar destaque na
imprensa nacional após o assassinato de dois jornalistas, no Vale do Aço.
Porém, operando há mais
de uma década junto aos diversos Poderes e instituições do governo mineiro, a
organização criminosa detém hoje quase que as totalidades do comando das
Polícias Civis e Militares, do Ministério Público e Tribunal de Justiça, além
de maioria quase que absoluta na Assembleia Legislativa e no Tribunal de Contas
de Minas Gerais.
Desta forma, tornando
praticamente impossível qualquer punição de seus membros, principalmente da
cúpula das instituições. Diante desta realidade o governo mineiro, de maneira
surpreendente com o aparente consentimento do Secretário de Defesa Social,
Rômulo Ferras, conhecido anteriormente por sua lisura, como integrante do MPMG,
optou por dar satisfação à mídia e à população, através da prisão dos
integrantes de menor importância no esquema criminoso, provocando uma enorme
insatisfação de seus colegas.
“Estão escolhendo a dedo os peixes pequenos
para serem sacrificados, para livrar a cara dos tubarões, a exemplo do que
ocorreu no TJMG, onde um funcionário que recebia ordens foi entregue aos leões
para salvar quase uma dúzia de desembargadores, verdadeiros culpados pelo
esquema de corrupção denunciado”, afirma a correspondência encaminhada ao
Novojornal.
Acompanha a correspondência
uma cópia do dossiê entregue, segundo informado na mesma, através de Danilo de
Castro ao governador Antonio Anastasia, são 1.626 páginas, contendo cópia de
sentenças, inquéritos, certidões, perícias, fotos, boletins de ocorrências,
autos de apreensões de documentos e drogas.
Em outra parte da
correspondência é denunciada a participação de delegados que,segundo informado
no documento, foram promovidos a secretário de segurança por manter na gaveta
inquéritos que apuravam a participação de diversas autoridades mineiras, dentre
elas o ex-governado e atual senador Aécio Neves em crimes, ocorridos de 1983
até os dias de hoje.
Novojornal, contudo
apurou que o dossiê fora elaborado pela considerada “velha guarda”, da Polícia
Civil, insatisfeita com o caminho tomado pela corporação.
O dossiê mostra o que
sempre foi de conhecimento de um pequeno grupo do Poder Judiciário, Ministério
Público e da área de segurança pública em Minas Gerais o lado escuro do
ex-governador e atual senador Aécio Neves, que introduziu hábitos e costumes na
sociedade mineira que governou por oito anos, capazes de constranger até mesmo
quem o acompanha politicamente.
Fruto de uma década de
omissão e convívio com a criminalidade, o Governo de Minas encontra-se
imobilizado, frente à cobrança nacional e internacional de medidas enérgicas no
combate do que na verdade foi e ainda é seu pilar de sustentação política
montado por Danilo de Castro, principal articulador do grupo, junto à
Assembléia Legislativa, ao Poder Judiciário, Ministério Publico, Polícia
Militar e Civil.
Evidente que dentro das
corporações envolvidas ainda existem membros que resistiram e foram afastados
por este motivo e podem agora servir a sociedade mineira promovendo o expurgo
dos maus integrantes, porém, desde que, a exemplo do ocorrido no Rio de
Janeiro, respaldados pelo Ministério da Justiça, Polícia Federal, pela Força
Nacional de Segurança Publica e até mesmo pelo Exercito Nacional, pois os
principais cargos de comando na Polícia Civil e Militar, no Ministério Publico e
Tribunal de Justiça de Minas Gerais encontram-se hoje ocupados por integrantes
do grupo criminoso.
Sabidamente liderados
no Estado pelo secretário do Governo de Minas Gerais, Danilo de Castro e na
região do Vale do Aço pelo Secretário Alexandre Silveira, o grupo criminoso é
formado por juízes, desembargadores, promotores, procuradores, membros de alta
patente da Policia Militar e delegados da Polícia Civil. Não apenas por cabos,
tenente, sargentos, agentes e outros servidores menores da Polícia Civil como o
Governo mineiro que mostrar.
Segundo a mesma
correspondência diante da ameaça de prisão e “abandonados por seus
companheiros”, em represália pretendem levar consigo outras autoridades. Como informado o relatado vai de participação
em venda de sentenças, assassinatos, assaltos, fraudes, proteção de assaltantes
e traficantes de drogas inclusive dentro do sistema prisional de Minas Gerais.
Uma semana antes de
morrer, o jornalista Rodrigo Neto apresentou, para a Comissão de Direitos
Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, uma relação de crimes em
Ipatinga e outras cidades da região. Nela estão os nomes dos assassinos.
Novojornal teve acesso
e divulga com exclusividade o relatório do Comitê Rodrigo Neto que traz os
principais crimes que se encontravam sendo analisados pelo jornalista pouco
antes de sua morte. Sobre um dos crimes,
o relativo ao assassinato do soldador Natanael Alves de Abreu, 26 anos, Rodrigo
Neto tinha publicado no Novojornal matéria, que já previa o que iria ocorrer,
Após publicação desta matéria assim com outras a este respeito, por determinação do TJMG as mesmas foram
retiradas.
Na Assembléia, quando
Aécio Neves era governador, um deputado deu um tapa na cara de uma jornalista
diretora da Assessoria de Imprensa Parlamentar. Um coronel da guarda do
governador fez uma jovem jornalista ajoelhar, com um revólver engatilhado na
cabeça.
O presidente da
Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, deputado Durval
Ângelo, apontou a participação de um juiz no extermínio de jornalistas no Vale
do Aço, porém indaga-se porque o mesmo não traz a público seu nome e a íntegra
do depoimento prestado pelo jornalista Rodrigo Neto na comissão?
A situação é grave e
vai além da necessidade de se fazer a justiça tão rogada pelos familiares e
pelos amigos dos dois profissionais mortos; assim como no caso Tim Lopes,
quando traficantes cariocas popularizaram o termo “micro-ondas”, estamos diante
de um verdadeiro atentado à liberdade de imprensa e à democracia.
Mesmo com a instituição
comprometida, diante do clamor popular, cinco promotores foram nomeados para
acompanhar as investigações da Polícia Civil de Minas Gerais sobre as mortes de
dois jornalistas, nas últimas seis semanas, na região do Vale do Aço.
A chefia do Ministério
Público designou para os casos os três promotores que atuam nas cidades
contíguas de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, um promotor de BH e a
coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa dos
Direitos Humanos e de Apoio Comunitário, Nívia Silva.
Eles irão acompanhar os
trabalhos da polícia, mas estão impedidos de falar sobre as investigações. O
motivo alegado é que as investigações ocorrem sob sigilo, segundo a
Procuradoria Geral de Justiça. Em razão das mortes dos jornalistas, toda a
cúpula da Polícia Civil na região do Vale do Aço foi trocada. Um
delegado-corregedor assumiu o comando.
O chefe do 12º
Departamento de Polícia Civil da cidade, delegado José Walter da Mota, foi
substituído pelo subcorregedor da polícia, Elder D´Ângelo, que vai acumular os
dois cargos. Já Irene Angélica Franco, que atuava na Delegacia da Mulher,
assumirá o cargo de delegada regional de Ipatinga, que antes era ocupado por
Gilberto Simão. Mesmo admitindo relações de policiais com os crimes, Cylton
negou que os delegados substituídos tenham participação neles.
Para Robson Sávio,
pesquisador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC Minas), as trocas podem indicar alguma
participação ou conivência dos substituídos.
"Uma mudança de
chefes da polícia no meio de uma investigação grave não é comum. Aliás, isso
indica que outros policiais podem ser afastados. A questão é: se as trocas
forem para enterrar o processo ou dar qualquer proteção a esses delegados, o
que pode acontecer, aí temos uma situação terrível".
A troca de comando na
cúpula da Polícia Civil em Ipatinga, na região do Vale do Aço, não é novidade.
Em menos de um ano, essa é a segunda reestruturação em meio a denúncias de
envolvimento de policiais em crimes como o tráfico de drogas e assassinatos. Um
dos delegados que perderam o cargo, em novembro passado, foi investigado por
participação no caso Natanael, um dos crimes sem solução que foi objeto de
matéria no Novojornal e estava sendo investigado pelo jornalista Rodrigo Neto,
morto em 8 de março.
A chefia do 12°
Departamento de Polícia Civil era ocupada até por José Walter da Mota, ele
assumira o cargo em dezembro de 2012, menos de um mês depois do até então
titular, Walter Felisberto, perder o posto. O delegado estava entre um dos
policiais investigados de participação de uma organização criminosa responsável
pela morte do soldador Natanael Alves de Abreu, 26 anos.
Ele foi morto a tiros
em 28 de outubro, depois de denunciar em matéria do Novojornal o envolvimento de Felisberto com crimes. A
Corregedoria da Polícia Civil chegou a investigar o caso.
Meses antes, em maio, o
então delegado regional de Ipatinga João Xingó de Oliveira foi afastado (e se
aposentou) após também ser investigado pela corregedoria por relação com o
tráfico de drogas e com uma organização criminosa. No lugar dele, entrou o
delegado Gilberto Simão, substituído, depois da morte dos jornalistas.
O especialista em
segurança pública e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ciências
Sociais da PUC Minas, Luiz Flávio Sapori, condena a necessidade de constantes
trocas de comando. "Isso não pode ser encarado como uma medida rotineira.
A troca de delegados que estavam há menos de um ano no cargo é um indício claro
de conivência do comando policial local com grupos de extermínio. É uma medida
com um caráter punitivo", afirmou o especialista.
A prisão preventiva de
dois integrantes da polícia civil que são investigados por envolvimento com o
grupo responsável pelo assassinato de dois jornalistas e por mais de 20
homicídios no Vale do Aço não foi suficiente para trazer de volta a segurança a
familiares das vítimas e integrantes da imprensa da região.
A dupla foi presa pela
força-tarefa composta por policiais de Ipatinga e de Belo Horizonte, na tarde de
sexta-feira. Para quem se sente ameaçado pela ação do suposto esquadrão da
morte, as investigações, que ontem teriam resultado na prisão de um cabo do 14º
Batalhão da PM, não confirmada oficialmente pela Polícia Civil, são apenas o
primeiro passo de um longo trabalho.
O fato de um dos presos
ser médico-legista trouxe ainda mais suspeitas aos familiares do fotógrafo
Walgney Carvalho, de 43 anos, executado no último domingo, em Coronel
Fabriciano. “Ele trabalhava para os legistas e para os policiais da perícia,
além de entregar fotos e informações para os jornais. Não sei até onde isso
pode ter relação com essas prisões”, disse uma parente do repórter fotográfico
que pede para não ser identificada.
“Não sei o que pode ter ocorrido com ele.
Estamos no escuro, sem saber de nada das investigações. Mesmo com as prisões,
ainda não dá para sentir segurança”, disse. Ontem, as duas delegacias
permaneceram fechadas.
De acordo com a
Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
(ALMG), há pelo menos 20 policiais envolvidos em mais de 20 homicídios
denunciados pelo repórter do Jornal Vale do Aço Rodrigo Neto, morto na
madrugada de 8 de março, e por seu colega, o fotógrafo Walgney.
“Ainda vai levar tempo para termos segurança
para trabalhar. As prisões são um início, mas muito mais terá de ser feito. Não
adianta também prender, como se fez antes, e a Justiça não condenar os
envolvidos”, declarou ontem um dos participantes do Comitê Rodrigo Neto,
formado por jornalistas da região para acompanhar o desenrolar das
investigações.
Cinco testemunhas da
região foram levadas para locais seguros em outros estados. Uma parente próxima
do repórter assassinado, que não quer aparecer por medo de represálias, também
declara que as prisões estão longe de lhe devolver a paz. “Ainda mais depois do
que aconteceu no último domingo (a morte do fotógrafo).
Estou apavorada. Em
pânico. Não sei de nada que possa comprometer a nossa segurança, mas ainda
assim a gente perde toda a confiança”, desabafou. De acordo com a mulher, a
série de assassinatos e a impossibilidade de contar com a polícia local a
obrigaram a ficar exilada e com medo, juntamente com o filho.
Repórteres locais
também não consideram que o ambiente tenha melhorado. “Estamos cumprindo nossa
obrigação, mas com medo. Não queremos nos expor além da obrigação, porque
nossas vidas estão em jogo e não há ninguém que possa assegurá-las, nem mesmo o
poder público”, diz um profissional de um dos três jornais diários de Ipatinga.
Apesar de todo o
aparato de investigação montado no Vale do Aço e das primeiras prisões,
familiares das vítimas de assassinatos denunciados pelo repórter Rodrigo Neto
não se sentem livres das ações do que consideram um grupo de extermínio que age
na região.
Pior ainda é a situação
daqueles cujos crimes não integram os 14 inquéritos investigados pela polícia,
já que o jornalista preparava mais matérias sobre vítimas do mesmo grupo
criminoso. “Quando colaborei com a polícia, durante as investigações sobre a
morte de meu irmão, recebi várias ameaças”, lembra um dos oito irmãos do
mototaxista, Diunismar Vital Ferreira, o Juninho, de 41, umas das vítimas dos
crimes que Rodrigo Neto ainda iria denunciar nas páginas do jornal em que
trabalhava.
“Recebi mensagens no celular de telefones sem
identificação que diziam: pare de tentar descobrir o que aconteceu, ou você
será o próximo”, lembra. Diante disso, o irmão de Juninho simplesmente parou de
se envolver no caso. “Tenho filho. Gostava demais do meu irmão, mas o que pude
fazer, já fiz. Meu depoimento está lá (com a polícia). Agora, que eles façam
seu trabalho e prendam os assassinos”, cobra.
Juninho foi morto em
2007 em uma padaria da Avenida Macapá, no Bairro Veneza I, no meio de clientes
e funcionários. Um motociclista de capacete entrou no estabelecimento e acertou
seis dos 11 tiros disparados no seu alvo. Segundo testemunhas, a vítima estava
namorando uma mulher que também tinha caso com um capitão da Polícia Militar.
Um dia antes de ser assassinado na padaria, a mulher o ameaçou. “Ela disse: ‘De
hoje você (Juninho) não passa’”, lembra o irmão da vítima.
O investigador José
Cassiano Guarda e o médico-legista da Polícia Civil de Ipatinga José Rafael
Miranda Americano seriam os primeiros detidos durante as investigações dos
assassinatos do jornalista Rodrigo Neto, no dia 8 de março, e do fotógrafo
Walgney Assis Carvalho, no dia 14 deste mês. Os nomes foram revelados pelo
jornal "Diário do Aço", mas não foram confirmados pela corporação.
Além de legista,
Americano também atua em um hospital da cidade. Ele e José Guarda são lotados
na 1ª Delegacia Regional de Ipatinga, mesma unidade onde atuava o delegado
Gilberto Simão, substituído pela delegada Irene Angélica Franco. A Polícia
Civil confirmou que existem indícios das participações dos dois nas mortes, mas
nada será revelado antes dos depoimentos. Os suspeitos já estão recolhidos na
Casa de Custódia da corporação, no bairro Horto, na região Leste da capital.
O clima ainda é de
preocupação entre os profissionais da imprensa. "Nunca se viu tanta
polícia nas ruas. É como se a cidade estivesse sitiada", disse um dos
profissionais da imprensa referindo-se às várias blitze da Polícia Militar
(PM). Ele pediu para não ser identificado.
Somente em uma avenida,
três barreiras policiais foram montadas, ontem e anteontem, em um trecho de
cerca de dois quilômetros. O comandante do 14º Batalhão da PM de Ipatinga,
tenente-coronel Edvânio Carneiro, disse que as ações são preventivas e
"para trazer segurança à população".
O jornalista Rodrigo
Neto já havia comunicado às autoridades o risco que estava correndo há pelo
menos dois anos. No fim de 2010, ele enviou ao Ministério Público de Ipatinga
um e-mail detalhando as ameaças sofridas.
A informação foi
confirmada pelo promotor Bruno Jardini, que atua na área criminal da cidade,
mas que informou não ser possível localizar a mensagem. "Esse e-mail foi
recebido e encaminhado para a PM". O tenente-coronel Edvânio Carneiro
desconhecia o comunicado do Ministério Público, pois assumiu a chefia da
corporação há dois meses.
Relatório do Comitê
Rodrigo Neto
Nota da Redação
Diante dos apelos
feitos pelos colegas jornalistas do Vale do Aço, com o intuito de preservá-los
em suas integridades físicas, e também de seus familiares, o Novojornal está
retirando do ar o link contendo o relatório do Comitê Rodrigo Neto.
Tentamos contato com a
presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Eneida
Costa, em busca de orientação de como proceder em relação a esta retirada, sem
a quebra do Código de Ética que rege o jornalismo. Como não obtivemos sucesso,
estamos procedendo a retirada por cautela.
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