A tragédia brasileira
são três séculos e meio de escravidão e uma elite cafajeste, vulgar,
prepotente, arrogante, incapaz, incompetente, ignorante.
Saiu no Barão de
Itararé: Mino Carta: “Civita vendeu minha cabeça à ditadura por U$ 50 milhões”
Em entrevista aos
alunos da PUC-Campinas, o jornalista Mino Carta fundador das revistas Veja,
IstoÉ,CartaCapital e Quatro Rodas conta que os donos da editora Abril Victor
Civita e seu filho Roberto Civita o “venderam” em troca de um empréstimo de 50 milhões de dólares. No
momento em que revive suas emoções, o Michelangelo das revistas perde o
controle e afirma que duas vezes tentou bater no Roberto Civita. “Minha cabeça
foi vendida por 50 milhões de dólares. Eu tentei duas vezes dar um murro na
cara do Roberto Civita, e ele fugiu! Escreve isso, ele fugiu”, conta Carta.
O episódio culminou na
saída do jornalista da editora Abril. Mino Carta diz que foi ele que se
demitiu, não foi demitido como contam os Civita. Carta relembra que foi Richard
Civita, irmão de Roberto, que durante uma partida de tênis contaria para Carta
sobre as dificuldades financeiras da editora Abril, o empréstimo de 50 milhões
de dólares proposto pela Caixa Econômica Federal a mando dos líderes da
Ditadura que só seria possível se os Civita aceitassem a troca: o dinheiro pela
saída de Carta da Abril. Dá primeira vez que toca nesse assunto não estoura em
sentimentos e até brinca: “Vocês viram como valho muito?”.
A entrevista não foi
apenas marcada por essa declaração, houve momentos de forte crítica às elites
brasileiras e a sociedade. “Nós tivemos a pior elite do mundo. Os brasileiros
são os herdeiros da casa grande, né. Eu acho que a tragédia brasileira são três
séculos e meio de escravidão e uma elite cafajeste, vulgar, prepotente,
arrogante, incapaz, incompetente, muito incompetente, muito ignorante. Nossa
elite é uma tragédia”, conclui o jornalista.
O italiano, radicado no
país desde os 12 anos, analisa que o Brasil ainda não é uma nação por não ter
uma identidade. Ele afirma que o povo brasileiro é infantil e estupidamente
festeiro, colocando a culpa nas elites coloniais e da república velha.
“O
problema do Brasil é que sofreu algo monstruoso que foram os três
séculos e meio de escravidão. É que essa elite é tão calhorda que ela permitiu
o inchaço das cidades. Então, há uma péssima distribuição da população
brasileira dentro do território brasileiro, tão ruim quanto à distribuição de
renda. A nossa distribuição de renda nos coloca ao nível da Nigéria e de Serra
Leoa”, contextualiza Carta.
O diretor de redação da
CartaCapital ainda condena os escolhidos pela presidente Dilma Roussef para
compor a Comissão da Verdade. Na opinião de Mino Carta, os integrantes deveriam
ser pessoas que estiveram envolvidas, que sentiram os problemas.
“E por que chama
pilantras notórios? Nelson Jobim na comissão da verdade? Paulo Sérgio Pinheiro
na Comissão da Verdade? José Carlos Dias na Comissão da Verdade? Isso é uma
piada! Ou a Dona Dilma está confusa, ou está sendo enganada, ou está tudo
errado”, defende o jornalista.
Mino Carta ainda
critica as faculdades de jornalismo, afirmando que os cursos de comunicação são
corporativos e que foram criados pela ditadura. Apesar de analisar que não é
mais possível acabar com os cursos, ele aconselha que o estudante faça uma
graduação de História ou Ciências Sociais e apenas posteriormente fazer uma
pós-graduação em Jornalismo. “Para a prática profissional o jornalista deve ter
uma busca canina pela verdade factual, um espírito crítico, e o dever de
fiscalizar o poder”.
Apesar dos problemas
com os Civita, o ítalo-brasileiro revela carinho com os veículos que criou. Ele
afirma gostar da Veja que criou e da Revista Quatro Rodas. “A Quatro Rodas foi
um sucesso de mercado, realmente. Era um momento muito oportuno, porque estava
nascendo a indústria automobilística brasileira”, diz Carta que observa que as
revistas criadas foram aventuras
complicadas por levar muito tempo para se afirmar, como no caso de Veja e da
CartaCapital. Mas brinca que sempre teve que inventar seus empregos: “São
revistas que eu inventei para poder garantir um salário”.
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