domingo, 13 de novembro de 2011

Ocupe Wall Street ainda não assimilou “luta de classes”, aponta militante do MST em NY


[...]Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade fundada no antagonismo entre classes. A libertação da classe oprimida implica, pois, necessariamente, a criação de uma sociedade nova. Pra que a classe oprimida possa libertar-se, é preciso que os poderes produtivos já adquiridos e as relações sociais existentes não possam mais existir uns ao lados de outras. De todos os instrumentos de produção, o maior poder produtivo é a classe revolucionária mesma.
                                                                                        Karl Marx - Miséria da Filosofia

Radioagência NP

O movimento “Ocupe Wall Street”, que começou em 17 de setembro, mantém o acampamento de centenas de pessoas há mais de um mês no centro financeiro de Nova York, nos Estados Unidos. Com o lema “somos os 99%” contra 1%, eles atacam a desigualdade econômica representada pelos bancos e corporações.
O movimento de ocupações de praças cresceu no dia 15 de outubro, quando manifestações eclodiram simultaneamente em 950 cidades de 82 países.
Para contar o dia-a-dia do acampamento em Nova York e como se organiza o movimento “Ocupe Wall Street”, a Radioagência NPentrevistou a militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Janaína Stronzake, que está na cidade e tem acompanhado as mobilizações.

Radioagência NP: Quais são as principais reivindicações e bandeiras políticas que o movimento “Ocupe Wall Street” levanta?
Janaína Stronzake: As principais palavras que nós escutamos e vemos escritas por lá falam em justiça e democracia. Aprendendo do que houve na Espanha da “Democracia real já”, da indignação, e com a situação aqui dos Estados Unidos de um fim do “Estado de bem estar social”. Então, quando a pobreza veio aumentando, principalmente essas pessoas de classe média foram agora para a rua reivindicando que pare esse processo de concentração [da riqueza], contra o neoliberalismo, contra os crimes de Wall Street.

Radioagência NP: Qual o perfil dos manifestantes?
Janaína Stronzake: Tem muita gente lá que é militante de outros movimentos, que já estiveram em outras lutas. Mas tem muita gente que sentiu a necessidade de se manifestar de alguma maneira, fez o seu cartaz na sua casa e foi pra praça se juntar com as pessoas lá. Nova York é uma cidade muito grande e cada bairro como Brooklin, Queens também fazem seus movimentos e no sábado os movimentos de ocupação desses bairros fazem uma marcha até Wall Street. Alguns movimentos e sindicatos fizeram marchas pelo centro, juntaram-se à ocupação, mas não mantêm uma atividade constante lá no acampamento. Alguns movimentos começam a pensar em como aproveitar esse momento, essa vontade, como transformar esse sentimento em mobilização capaz de realmente transformar.

Radioagência NP: Como é o processo de organização e tomada de decisões no interior do movimento?
Janaína Stronzake: Todas as decisões de o que fazer e das bandeiras se dão em assembleia. Nesse sentido “assembleário”, da democracia horizontal. Cotidianamente na praça estão cerca de 500 pessoas. A formação política está se dando mais pelo estar ali, pelo agir ali, pelo agir contra a polícia. Mas não está havendo ainda um processo mais sistemático de estudo, estudar e compreender esse momento, a conjuntura capitalista e aí buscar a saída, as soluções que se pretende.

Radioagência NP: Qual tem sido a recepção da sociedade estadunidense à manifestação?
Janaína Stronzake: Existe um apoio, muita gente que não pode estar lá porque tem que ir pra escola, ir pro trabalho, porque tem muitos filhos pequenos. Então, manda um apoio principalmente na forma de garantir a alimentação, água. Mas nos sábados a tarde e nos domingos, a mobilização cresce. Muitas pessoas acabam se envolvendo e pensando sobre isso porque “meu filho está lá, porque meu sobrinho, meu amigo está nessa mobilização” e as pessoas começam a pensar, a repensar sobre o que é o capitalismo. Inclusive sobre esse sentido comum do direito, por exemplo, de ter uma casa porque a pessoa merece porque trabalhou para comprar, e ter uma casa porque é direito ter uma casa. Porque não é direito de Wall Street concentrar a riqueza como vem concentrando. Só que nós não podemos falar de um apoio massivo de toda a sociedade estadunidense.

Radioagência NP: Como vem se organizando a oposição ao movimento?
Janaína Stronzake: Existe já um início de organização dos grupos de direita e de extrema-direita contra as mobilizações – de grupos dos republicanos, que teoricamente estão mais a direita –, para se oporem à Wall Street. Então, é uma tentativa de dizer “não, não, o povo não está com esses deliquentes que estão na praça”. A tentativa de levar uma massa a rua se opondo a essas reivindicações e mantendo essa antiga ladainha da compra, do mercado, da concentração, do neoliberalismo.

Radioagência NP: Há relação entre os manifestantes de Nova York com os de outros países com mobilizações similares?
Janaína Stronzake: O que nós sentimos é um processo de animação mútua entre os diversos pontos do país e do mundo. Com o 15 de outubro, com a ocupação de Wall Street e com outras ocupações no mundo, ganhou fôlego novamente no sentido de ocupar as praças. E também porque existe um compartilhamento de bandeiras. As bandeiras da democracia e da justiça felizmente se transformaram em bandeiras universais. O que nós não conseguimos sentir é a necessária vinculação dessas lutas como uma luta de classe trabalhadora. Eu estou segura de que esses movimentos só conseguirão avançar no sentido de democracia e justiça se tiverem uma perspectiva de luta de classes.

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