(Veja abaixo, Rui Falcão convoca mobilização
para apoiar investigação de esquema criminoso e denuncia "operação
abafa", que tenta impedir apuração dos fatos)
Por Rui Falcão -
12.04.12
O episódio que revelou
a escandalosa participação do senador Demóstenes Torres (ex-DEM) em uma
organização criminosa merece algumas reflexões e, olhando para o futuro, uma
ação imediata.
Desde que foi
constatada a cumplicidade do senador com uma gama infindável de crimes,
assistimos a uma tentativa (às vezes ridícula) de explicação para o logro em
que alguns caíram.
Como justificar que o
arauto da moralidade, crítico feroz dos governos Lula e Dilma, trabalhava e
traficava informações, obtidas pelo uso indevido do mandato, para um conhecido
contraventor?
Até a psicanálise foi
fonte de argumentos na tentativa vã de entender as ligações do senador com o
contrabando, o jogo ilegal, a escuta clandestina e a espionagem todas práticas
tipificadas no Código Penal.
O certo, porém, é que a
veneração que setores da mídia nutriam por Demóstenes refletia uma espécie de
gratidão pela incansável luta, essa sim verdadeira, do parlamentar contra todos
os avanços sociais obtidos pelos governos petistas.
Ressalte-se, aliás, que
mesmo depois de flagrado na participação ativa em organização criminosa, o
ainda senador, fingindo ignorar o mundo real, arvora-se a analisar, sob o crivo
crítico dos tempos de falsa vestal, ações do governo Dilma.
Mais do que uma
“vendetta” contra o fanfarrão, porém, o Congresso está diante de uma
oportunidade única de desvendar um esquema que, pelo que foi divulgado até
agora, não se resume à ligação de empregado e patrão entre Demóstenes e o
contraventor Carlinhos Cachoeira.
A morosidade do
inquérito em algumas de suas fases e as ligações pessoais do promotor de
carreira Demóstenes Torres com membros do Judiciário precisam ser investigadas.
O mesmo se exige na apuração de vínculos obscuros do senador com altos
mandatários de seu Estado, Goiás, bem como de sua quadrilha com veículos de
comunicação. Que não se permita a operação abafa em andamento. Que se apure
tudo, até para dissipar suspeitas.
O único caminho para o
esclarecimento passa por uma CPI no Congresso, onde alguns parlamentares também
foram ludibriados pelo falso paladino das causas morais.
Cabe à Câmara e ao
Senado, sem nenhum espírito de corpo, aproveitar a oportunidade única de
desmascarar a farsa até o fim.
Talvez, no caminho da
investigação, descubramos outros pregadores da moralidade que também se
beneficiem do esquema que se abastecia das informações colhidas e transmitidas
ao chefe pelo senador Demóstenes Torres.
A história brasileira
registra outros episódios em que a pregação das vestais serviu para embalar a
defesa de interesses sempre contrários aos da maioria da população. O falso
moralismo udenista não está tão distante.
Se a forma do engodo
não é nova, cabe ao Congresso provar, com a CPI, que o país está disposto a dar
um basta a esquemas de banditismo. O Partido dos Trabalhadores defende a
instalação de CPI no Congresso e conclama a sociedade organizada a se mobilizar
em defesa da mais ampla apuração do esquema corrupto desvendado pela Polícia
Federal na Operação Monte Carlo.
* Rui Falcão, 68, é
deputado estadual (SP) e presidente nacional do PT
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