quarta-feira, 18 de abril de 2012

Paul Singer, 80 anos


Lembro exatamente a data em que aportamos em Santos, no dia em que completei 8 anos. Minha família estava tão extasiada por conseguir chegar, que o único que se lembrou do meu aniversário fui eu mesmo 

Por: Rádio Brasil Atual 

O economista Paul Singer, secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho desde 2003, completou 80 anos em 24 de março. Sua trajetória como intelectual e ativista de esquerda foi pano de fundo para muitos debates. Na Rádio Brasil Atual, o professor conversou com Marilu Cabañas sobre a fuga da Áustria anexada por Hitler, seus projetos socialistas, Comissão da Verdade, a criação e as mudança do PT, a situação da macroeconomia e da economia solidária. Confira a seguir um aperitivo e ouça a entrevista completa na rádio.
O senhor é austríaco, não é?
Sim, nasci em Viena. Tive de fugir com a minha família, por sermos judeus. A Áustria tinha sido anexada pela Alemanha de Hitler, que se preparava para apartar e mandar para os campos de concentração os judeus. Lembro exatamente a data em que aportamos em Santos, no dia em que completei 8 anos. Minha família estava tão extasiada por conseguir chegar que o único que se lembrou do meu aniversário fui eu mesmo.
Como começou sua militância política aqui no Brasil?
Entrei numa organização da Juventude Sionista, socialista, em 1948, quando foi criado o Estado de Israel, e isso foi um frenesi nas comunidades judaicas do mundo todo. Os judeus nunca tinham tido um país e haviam sido vítimas de um genocídio. Todos os meus amigos e familiares entramos no Dror, uma organização que pretendia criar kibutzim, comunidades socialistas, em Israel. Em 1950 os camaradas do Dror viajaram para Israel e fundaram um kibutz, que existe até hoje. Um kibutz brasileiro em Israel.
E sua participação na Polop?
Fundamos a Polop em 1959. Eu era do Partido Socialista, que estava nas mãos dos janistas. Nós, que não estávamos satisfeitos, criamos uma organização marxista, revolucionária etc. Polop vem de Política Operária, era o nome de um agrupamento político da Alemanha antes do Hitler. Mas eu não fiquei. Em 1960, o PS apoiou o marechal Lott, junto com a parte mais progressista da política brasileira, que havia evitado o golpe militar contra a posse do JK. Os apoiadores do Jânio saíram e nós retornamos e dirigimos o partido, até o golpe militar fechá-lo.
O que o senhor espera da Comissão da Verdade?
Se não me engano, a primeira Comissão da Verdade foi formada na África do Sul, quando caiu o apartheid e o Nelson Mandela foi eleito. Foi criada com a condição de que tudo fosse esclarecido, quem matou, quem torturou, onde estavam enterradas pessoas assassinadas. Haveria anistia, mas a condição era a verdade vir à tona. E parece que funcionou bem. Uma Comissão da Verdade tem essa virtude, revela a verdade, mas não pune. E a partir daí a convivência pacífica no mesmo espaço democrático torna-se mais fácil. Se houver alguma hipótese de punição, tem de ser pelos tribunais regulares.
E a trajetória do PT?
Tenho deslumbramentos e decepções. O PT foi criado por uma vasta área da população brasileira. Não nasceu pequeno, não. Mas não tinha reconhecimento eleitoral. A partir de 1988, começa a ganhar várias cidades. Em 1989, Lula foi pela primeira vez candidato a presidente e perdeu por um triz. Chegamos ao poder democraticamente pelas eleições, governamos algumas das maiores cidades brasileiras, estados. Depois fomos aceitando alianças com outros partidos, mas ainda na faixa progressista. Agora, estamos no poder federal desde 2003 com uma vasta coligação, coisa que o PT antes não admitia. Eu não quero dizer que tínhamos de ficar naquela posição isolacionista. O PT disputava sozinho e não conseguia ganhar eleição. Mas houve uma mudança bastante ampla, levou o partido mais para o centro.
E a economia do Brasil, que cresceu apenas 2,7% no ano passado, o que a está emperrando?
O que está emperrando é o livre câmbio. Se tivessem me perguntado eu teria aconselhado que não, mas hoje somos membros da Organização Mundial do Comércio, estamos comprometidos a abrir o mercado interno aos produtos importados. Ora, tem uma porção de países que são muito competentes do ponto de vista industrial mas não têm as mesmas leis, sobretudo sociais, de modo que seus produtos são mais baratos que os nossos. O governo tem de defender a existência da indústria brasileira – e está fazendo isso agora. 

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