Por foo no site Luis
Nassif On Line
Comentário ao post
"A capa da Veja"
Eu li o artigo da Veja,
e só tenho uma observação: a Veja quer enterrar a CPI, custe o que custar.
O caso Cachoeira pega
diretamente o senador Demóstenes Torres (DEM/Goiás), o governador Marconi
Pirilo (PSDB/Goiás), o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB/GO) e o
editor-chefe da revista Veja, Policarpo Jr.
A primeira reação da
mídia, diante do escândalo, foi tentar envolver todo mundo: Agnelo (PT/DF),
Protógenes (PCdoB/SP), e a construtora Delta -- que, segundo a imprensa,
"faz negócios com o Governo Federal" -- convenientemente omitindo o
fato de que a Delta faz negócios com todas as esferas do governo, em diversos
estados, inclusive São Paulo!!!
Notícias recentes da
Folha, do Estadão, e da Globo, dizem que a CPI preocupa a Dilma e setores do
PT; quando os mais preocupados, obviamente, devem ser o DEM e o PSDB.
Mas vamos assumir que
as acusações sejam verdadeiras, e que Agnelo, Protógenes, e o próprio Governo
Federal estejam envolvidos no escândalo. Este seria, sem dúvida nenhuma, o
maior escândalo da história recente do país. Maior do que o mensalão, que
segundo a Veja foi "o maior escândalo de corrupção da história do
país".
A Veja não quer
investigação, e usa todos os artifícios que têm à sua disposição para isso:
apela para a PT-fobia, para o "risco para a liberdade de expressão",
para a imagem de Hitler e Mussolini... nenhum recurso é deixado de lado no
objetivo de demonstrar, por A+B, que a CPI será péssima para o Brasil.
Vamos a alguns trechos
do artigo (em negrito, intercalado com meus comentários):
"Com o julgamento
do mensalão pelo Supremo a caminho, os petistas lançam uma desesperada ofensiva
para tentar desviar a atenção dos crimes cometidos por eles no que foi o maior
escândalo de corrupção da história brasileira"
Mas quem está fazendo
"uma desesperada ofensiva para desviar a atenção dos crimes
cometidos" é a própria Veja. (Apenas como exemplo, além dos mais de 200
telefonemas entre Policarpo e Cachoeira, agora temos evidências de que a
gravação do Hotel Nahoum -- naquela fatídica capa contra "o poderoso
chefão" José Dirceu -- foi feita pelo bicheiro.)
E a Veja continua,
dizendo que "o PT espera desmoralizar na CPI todos que considera pessoal
ou institucionalmente responsáveis pela apuração e divulgação dos crimes
cometidos pelos correlegionários no mensalão — em especial a imprensa."
A imprensa não precisa
do PT para se desmoralizar. Ela tem feito isso por conta própria.
"Esse truque
funcionou na União Soviética, funcionou na Alemanha nazista, funcionou na
Itália fascista de Mussolini, por que não funcionaria no Brasil?". E
responde: "Bem, ao contrário dos laboratórios sociais totalitários tão
admirados por petistas, o Brasil é uma democracia, tem uma imprensa livre e
vigilante"
O Brasil é uma
democracia, e a liberdade de imprensa não está sob ameaça. Qualquer um pode
escrever o que quiser, e sites na internet começam a dar furos em tempo real --
antes mesmo que as revistas possam chegar às mãos dos assinantes. Isso não
significa que a imprensa possa se associar ao crime, ocultar a existência de
uma quadrilha por 8 anos em troca de informações privilegiadas, obtidas de
maneira ilegal, e promover membros desta quadrilha a "mosqueteiros da
ética".
O delírio prossegue: "Uma
CPI dominada pelo PT e seus mais retrógrados e despudorados aliados é o melhor
instrumento de que a falconaria petista poderia dispor — pelo menos na
impossibilidade, certamente temporária para os falcões, de suprimir logo a
imprensa livre, o Judiciário independente e o Parlamento."
Aqui a Veja deixa bem
claro -- na sua opinião, a CPI é um instrumento para suprimir a imprensa livre,
o judiciário independente, e o parlamento. É um instrumento para transformar o
Brasil em um ditadura. É uma simplificação grosseira -- como outras que
aparecem no artigo -- com o objetivo de causar um mal-estar com relação à CPI.
A essa altura o leitor
típico de Veja deve estar pensando: "esta CPI é um perigo!"
"Enquanto o
triunfo final não vem, os falcões petistas vão se contentar em usar a CPI para
desmoralizar todos os personagens e forças que ousem se colocar no caminho da
marcha arrasadora da história, que vai lançar ao lixo todos os que atacaram o
PT e, principalmente, seu maior líder, o ex-presidente Lula."
O mais curioso, de
acordo com a tortuosa lógica da Veja, é que -- mesmo que a rede de corrupção de
Carlinhos Cachoeira seja "suprapartidária", isto é, envolva
diretamente o PT -- esta CPI seria de interesse do partido.
"Lula viu na CPI a
oportunidade política de mostrar que todos os partidos pecam. Que todos são
farinha do mesmo saco e, por isso mesmo, o mensalão não seria um esquema de
corrupção inaudito, muito menos merecedor de um rigor maior por parte do
Judiciário e da sociedade. Para os petistas, apagar a história neste momento é
uma questão de sobrevivência."
Questão de
sobrevivência? A presidenta Dilma tem o maior índice de aprovação de toda a
história do país, superando até mesmo o Lula; a oposição está desorientada; a
própria Veja diz que o PT estaria caminhando rumo ao poder absoluto. Por que
esta seria uma "questão de sobrevivência"? O artigo da Veja não
consegue manter-se auto-coerente; a única coisa que está perto de se extinguir
é a credibilidade da revista.
"É tamanha a ânsia
de Lula e dos mensaleiros para enterrar o escândalo que, se preciso, o PT
rifará o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, que também
aparece no arco de influência dos trambiques da máfia do jogo."
É tamanha a ânsia da
Veja para enterrar a CPI que, se preciso, deixará o petista Agnelo Queiroz
livre, junto com Cachoeira, Demóstenes, Pirilo, Leréia, e, é claro, o
editor-chefe da revista, Policarpo Jr.
Para defender
Policarpo, sem citar o seu nome, a revista diz: "A oportunidade
liberticida que apareceu agora no horizonte político é tentar igualar
repórteres que tiveram Carlos Cachoeira como fonte de informações relevantes e
verdadeiras com políticos e outras autoridades que formaram com o contraventor
associações destinadas a fraudar o Erário."
É uma simplificação
grosseira. Policarpo Jr. fez muito mais do que apenas usar Carlos Cachoeira
como fonte. Ele usou e foi usado. Durante mais de 8 anos, em mais de 200
telefonemas gravados e reuniões presenciais, Policarpo Jr ajudou a promover os
interesses da quadrilha, enquanto a quadrilha satisfazia os interesses da Veja.
A Veja sabia das
relações de Demóstenes com Carlinhos Cachoeira, e nunca falou nada. Ou melhor:
enalteceu Demóstenes, chegando ao ponto de dizer que ele era um dos
"mosqueteiros da ética" do senado. A Veja também ajudou a melar uma
CPI contra Cachoeira em 2004. Em troca, Cachoeira foi responsável por inúmeros
"furos" da revista, em gravações ilegais que envolviam terceiros.
Mas a Veja prossegue
com a seguinte lição sobre a ética jornalística:
"Os petistas acham
que atacar o mensageiro vai diminuir o impacto da mensagem. Pelo que disse
Marco Maia, eles vão tentar mostrar que obter informações relevantes,
verdadeiras e de interesse nacional lança suspeita sobre um jornalista. Maia
não poderia estar mais equivocado. Qualquer repórter iniciante sabe que maus
cidadãos podem ser portadores de boas informações. As chances de um repórter
obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou
dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido. A ética do
jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando
informações. Isso é básico."
Se Cachoeira tivesse
feito gravações de suas conversas com Demóstenes e Pirilo, isto estaria dentro
da ética jornalística.
Mas Cachoeira fez
gravações contra terceiros -- pessoas que não estavam envolvidas com eles. Para
citar um exemplo, hoje sabemos que as filmagens no Hotel Nahoum foram obra da
quadrilha. A reportagem de capa de Veja foi ironicamente intitulada "O
Poderoso Chefão".
A Veja tinha acesso ao
verdadeiro "chefão" -- e nunca falou nada.
A Veja teve acesso a
todas as informações sobre a máfia de Goiás e nunca denunciou o esquema.
Durante 8 anos a Veja
usou e foi usada por Carlinhos Cachoeira. E é por isso que estão com medo. Mas não é só isso:
"Motivo mesmo para
uma CPI seria investigar os milionários repasses de dinheiro público que o
governo e suas estatais fazem a notórios achacadores, chantagistas e
manipuladores profissionais na internet. Fica a sugestão."
A Veja está com medo
porque não controla mais a informação. Se a CPI sair, não haverá como filtrar
as informações.
Viva os blogs sujos!
Viva a internet!
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