quarta-feira, 18 de abril de 2012

Massacre de Corumbiara é tema do encontro entre João Paulo e ministra Maria do Rosário


O deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) se reuniu na quarta-feira, 11, com a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), para tratar de problemas decorrentes de uma das mais emblemáticas tragédias de luta por terra ocorrida no Brasil - o Massacre dos Corumbiara. “Este episódio impôs uma nódoa indelével na história da violação dos direitos humanos e na luta pelo acesso a terra no País, e ainda hoje, continua vitimando inocentes e perpetuando as arbitrariedades e injustiças praticadas pelos agentes públicos do Estado brasileiro,” disse João Paulo.
Acompanhado do deputado federal Domingos Dutra (PT-MA); do Padre Leo Dolan, coordenador do Movimento de Solidariedade Corumbiara; e da secretária nacional de regularização da Amazônia, Cimar Gebrin; João Paulo pediu o apoio da SDH/PR para, junto aos órgãos competentes, trabalhar por uma nova investigação dos fatos, determinando, se preciso, a reabertura do processo; federalizar o assassinato do líder Corumbiara Adelino Ramos e de seu assassino, Ozias; e anistiar os trabalhadores rurais Claudemir Gilberto Ramos e Cícero Pereira Leite Neto, únicos condenados pelo Massacre.
“O Poder Judiciário do Estado de Rondônia levou a julgamento e condenou, injustamente, por homicídio estes trabalhadores, tendo absolvido a quase totalidade dos policiais militares que participaram do Massacre,” disse o deputado. “O que nos deixa mais indignados é que os policiais que mataram aqueles trabalhadores mataram também uma criança de sete anos pelas costas. E esse ato foi considerado no julgamento como ‘exercício da profissão’,” acrescentou Cimar Gebrin.
Um Projeto de Lei (2000/11) de autoria do deputado João Paulo Cunha que trata da anistia aos trabalhadores condenados pelo Massacre do Corumbiara já tramita na Câmara dos Deputados. A proposta, apresentada à ministra Maria do Rosário, traz como base, além de estudos, obras bibliográficas e relatos de vítimas do Massacre, o relatório  (nº 32/04 – Caso 11.556) da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), que “reconheceu a omissão e as violações de direitos humanos de responsabilidade do Estado Brasileiro na investigação e punição dos verdadeiros responsáveis pelo massacre e determinou a adoção de uma série de providências ainda não adotadas a termo pelo Estado Brasileiro”.
                                              
Além da anistia, o grupo frisou a importância do apoio da SDH/PR para a federalização das mortes do agricultor Adelino Ramos, e de seu assassino, o ex-pistoleiro Ozias. Segundo eles, a mudança de competência no tratamento do caso poderá dar mais celeridade às investigações em torno do assassinato do agricultor.  Adelino é pai de Claudemir Gilberto Ramos, um dos trabalhadores injustamente condenado no episódio do Massacre, e foi assassinado no dia 27 de maio de 2011, no Município de Vista Alegre de Abunã (RO).
“As vítimas do Corumbiara merecem uma investigação completa e isenta e um pedido de perdão da justiça brasileira”, disse o Padre Leo, coordenador do Movimento de Solidariedade Corumbiara. A secretária Cimar Gebrin convive de perto com o sofrimento da família de Adelino. Madrinha da filha do agricultor, Gebrin contou que a menina assitiu o assassinato do pai e está no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH). Mas, apesar do apoio que recebe, vive com muito medo e sofre de problemas psicológicos. “É por isso que estou aqui, ministra. Represento estes familiares e peço justiça”, disse Gebrin, bastante emocionada.
A ministra Maria do Rosário se comprometeu a formar, junto ao deputado João Paulo, o deputado Domingos Dutra, e demais líderes, um grupo de trabalho para agir nas questões trazidas por João Paulo.  Quanto a federalização dos crimes, Rosário garantiu tratar o caso no âmbito do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH). “Faremos a solicitação aos órgãos competentes para que estes encampem esta reivindicação”, afirmou. 
O Superior Tribunal de Justiça decidiu, até hoje,  uma única vez pela federalização de um caso. Foi em 2010, com o processo sobre o assassinato do advogado Manoel Mattos. Na ocasião, o CDDPH foi um dos órgãos que mais se empenhou para o deslocamento de competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal. A medida é baseada na Emenda Constitucional 45/2004, que prevê o deslocamento de competência para hipóteses de grave violação de direitos humanos.

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