domingo, 20 de fevereiro de 2011

O mito dos 100 dias


A história política é perturbada por lugares-comuns que pouco têm a ver com a realidade. Alguns acreditam que os primeiros dias de um governante definem o desempenho posterior

Por: Mauro Santayana

A expressão nasceu dos famosos “100 dias de Napoleão”, que na verdade foram 114, de 1º de março, quando retornou à França depois de fugir da Ilha de Elba, a 22 de junho de 1815, quando abdicou do trono pela segunda vez. Napoleão reconquistou o trono com exemplar coragem, mas o perdeu porque a correlação de forças militares na Europa já não o favorecia. Desde a retirada da Rússia, em 1812, seu destino estava selado. A um de seus secretários de então – Henry Beyle, famoso com o pseudônimo de Stendhal – ditou decretos de promoção de oficiais, depois de derrotado em Moscou, e assinou “Pompeu”. Era a assunção antecipada da derrota definitiva, como a sofrida por Pompeu contra César.

Os 100 primeiros dias de um governante podem mostrar seu caráter, mas não significam êxito ou malogro do mandato. Quando o governante encontra o país em crise grave, como ocorreu a Roosevelt em 1933, a atuação tem de ser contundente e imediata – o que ele fez com o New Deal, a intervenção fulminante do Estado nas atividades econômicas. Nesse caso, os primeiros dias são decisivos. Outra é a situação de Dilma Rousseff. Ela é conhecedora da realidade nacional e dos mecanismos do poder, pela experiência de sua carreira de administradora. Provavelmente não encontrará situações desconhecidas, embora o poder sempre reserve surpresas: o caráter das pessoas nunca é exposto nas linhas da face.

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