O eleitorado de centro-direita de São Paulo está dividido. PSDB e Kassab disputam na mesma faixa. Kassab acaba de fundar o PSD e seria vantajoso para a nova legenda ter um candidato próprio. Alckmin pode ser um bom eleitor no Estado, mas não é tão bom na capital. Haddad está melhor servido: neste momento, estar com Lula é mais negócio.
Maria Inês Nassif
Por fadiga de material, as eleições do próximo ano na capital paulista deverão ocorrer obrigatoriamente sob o signo da renovação. A excessiva polarização entre o PT e o PSDB no Estado e a dificuldade de trânsito de novos nomes pelas máquinas dos dois partidos produziram efeitos semelhantes nas duas legendas.
Do lado do PT, a visibilidade eleitoral era a de Marta Suplicy, eleita deputada, prefeita e senadora e derrotada em duas disputas para a prefeitura e uma para o governo do Estado. Marta mantém, de início, um terço dos votos na capital, mas com uma rejeição semelhante. No PSDB, revezam-se como candidatos, desde a morte de Mário Covas, Geraldo Alckmin (hoje governador) e José Serra (eleito prefeito em 2004 e governador em 2006, e derrotado na disputa pela Presidência em 2010). Os postulantes tucanos à prefeitura - os secretários Bruno Covas e José Anibal - não têm grande visibilidade; Serra, se quiser começar tudo de novo, tem exposição até excessiva, o que faz com que seus índices de rejeição sejam, hoje, maiores do que os de Marta.
Não fosse apenas pelo desgaste dos nomes disponíveis nos dois partidos para à prefeitura, contam ainda as pesquisas feitas até agora, que indicam uma inclinação do eleitor paulistano pela renovação. Foi essa percepção do eleitorado (aliás, desde a eleição do ano passado para governador) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou com tanto afinco para sair dos impasses criados pela falta de renovação de quadros. No ano passado, chegou a sondar o mesmo Fernando Haddad sobre a possibilidade de se candidatar ao governo. A articulação não colou nem no candidato, nem no partido.
A segunda tentativa do presidente Lula foi, então, a de emplacar o deputado Ciro Gomes, cearense do PSB, como candidato ao governo por São Paulo. Ciro transferiu o título mas não se convenceu de que essa era a alternativa para ele; e o PT não se convenceu que Ciro era a alternativa para o partido. A legenda atrasou a definição do candidato e, numa situação eleitoral já desfavorável, diante do favoritismo do candidato tucano, Geraldo Alckmin, foi para a eleição com Aloyzio Mercadante. E perdeu.
Haddad torna-se o candidato do PT com vantagens em relação à disputa eleitoral no Estado nos últimos anos. Em primeiro lugar, tem o incondicional apoio de Lula - e isso, no mínimo, ameniza dissensões internas. É um candidato novo, de fato, mas isso traz a vantagem de não ter sofrido processos anteriores de desgaste, como de alguma forma comprovou a eleição de Dilma Rousseff para a Presidência no ano passado. Numa situação em que os partidos todos estão desgastados, a falta de exposição eleitoral anterior pode ser vantajosa. Haddad, o neófito, leva para o palanque um baixo índice de rejeição. O processo de debate interno para a definição da candidatura não foi agressivo e as prévias não chegaram a acontecer, o que aponta para um PT unido em torno das eleições. Ou menos dividido do que resultaria num processo de prévia mais dramático.
O PSDB carrega desde as eleições de 2008 o "racha" entre os partidários de Geraldo Alckmin (que foi candidato a prefeito com o apoio de parcela do seu partido) e os de José Serra (que apoiaram a reeleição de Gilberto Kassab, então no DEM). Embora Alckmin já tenha trazido de volta parte dos quadros do partido antes aliados a Serra, a divisão permanece um dado. E, de alguma forma, reflete a divisão do eleitorado de centro-direita da capital: PSDB e Kassab disputam na mesma faixa; Kassab acaba de fundar um partido, o PSD, e seria vantajoso para a nova legenda ter um candidato próprio. Alckmin pode ser um bom eleitor no Estado, mas não é tão bom na capital. Haddad está melhor servido: neste momento, estar com Lula é mais negócio.
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