quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

“A reportagem contra mim desmoralizou a revista Veja”


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Durante o primeiro mandato do então presidente Lula, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu de Oliveira e Silva, o Zé, como é conhecido, era tido por alguns como uma espécie de eminência parda, ou um superministro, tamanha era sua influência em toda máquina pública. Dentro  do Partido dos Trabalhadores (PT)  é  até hoje um dos mais emblemáticos membros e liderança nacional, influenciando ainda muitas das decisões internas da agremiação.
Em função do chamado escândalo do “mensalão” – esquema de pagamento de propina a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo no Congresso Nacional, do qual seria supostamente o chefe – também é considerado um dos políticos mais polêmicos do País. Por conta disso, teve seu mandato de deputado federal cassado e hoje aguarda julgamento do Supremo Tribunal Federal para as acusações de formação de quadrilha e corrupção. Certo de que foi vítima de uma armação orquestrada pela oposição e potencializada pela grande mídia a fim de desmoralizar o governo Lula, José Dirceu afirma ser inocente e também aguarda os resultados das investigações contra a revista Veja, que em edição de 31 de agosto deste ano afirmou que o ex-ministro estaria conspirando contra o governo Dilma Rousseff em um quarto de hotel em Brasília, juntamente com figurões do cenário político nacional. Dessas e outras histórias José Dirceu falou com exclusividade à Nordeste VinteUm quando de sua passagem por Fortaleza para o lançamento de seu livro “Tempos de planície”
Nordeste VinteUm. Por que tanta gente odeia o Zé Dirceu?
 José Dirceu. Talvez pelo papel que desempenhei na história do PT, da esquerda, depois na do PT pós vitória do Lula; também pela imagem que criaram de mim, um personagem que não sou eu. Corrupto, chefe de quadrilha. Em minha vida toda eu nunca fui investigado, mas do dia para noite, com objetivos políticos, criaram essa imagem do mensalão, do chefe de quadrilha. Até hoje absolutamente nada foi provado contra mim. Minha vida foi devassada durante esses quatro anos e nunca houve nada contra mim. É luta política, então sou vítima também. Parte dessa luta política era contra a era Lula, contra o PT, contra o nosso projeto político que tem o apoio pela terceira vez da imensa maioria do povo brasileiro. E o Lula depois de quase um ano fora do governo nunca foi tão popular. Isso eles não perdoam. Eles não perdoam o papel que eu tive, junto com outras lideranças do PT, para construir esse projeto.
NVU. E quanto ao processo que tramita no Supremo Tribunal Federal contra o senhor?
JD. No Supremo Tribunal Federal tenho um processo de formação de quadrilha e corrupção já para ser julgado. A instrução já terminou, apresentei as delegações finais, agora o ministro relator tem que apresentar o voto dele. O ministro revisor dá o seu voto e daqui a quatro, seis meses poderá ser julgado.
NVU. Qual é a expectativa quanto ao julgamento?
JD. Que se julgue como manda a lei e a Constituição. Tenho a certeza de que serei absolvido.
NVU. Mas como o senhor bem relatou, as acusações são muito graves. Isso o atemoriza?
JD. São acusações sem provas. Até hoje, mesmo com a instrução, não tem alegação final e meu advogado mostra que não há provas contra mim. E não há como ter, pois sou inocente.
NVU. Por que o imbróglio chegou a esse nível? E por que com o Zé Dirceu?
JD. De certa maneira já expus. Creio que pelo meu papel na história da esquerda, pela função que desenvolvia no governo. Na verdade esse processo não é contra mim, é contra o governo do presidente Lula, a história do PT e a esquerda brasileira. É uma tentativa de nos envolver em algo que não existiu, esse chamado “mensalão”. Uma tentativa de nos transformar numa quadrilha que não existiu e nos acusar de crimes que não praticamos. Basicamente é isso.
NVU. Qual o motivo de terem criado todo esse espetáculo?
JD. O objetivo era desestabilizar o governo do Lula, provocar o seu impeachment, derrotar o Lula em 2006, desconstituir a imagem do PT. E essa luta continua até hoje, ela não cessou, apesar desse caso chamado “mensalão” não estar comprovado. É só ler os autos que você verá.
NVU. Durante todo esse processo, o senhor se sentiu abandonado, traído pelo seu partido?
JD. Pelo contrário, eu tive e tenho apoio da esquerda de todo o Brasil, mostra disso foi o apoio que recebi no último congresso do PT. Sempre tive esse apoio e hoje mesmo (3 de novembro) estive com a direção do PC do B (Partido Comunista do Brasil) aqui do Ceará, que sempre me apoiou. Sempre tive o apoio do presidente Lula, da então ministra Dilma Rousseff, das bancadas do PT na Câmara dos Deputados e no Senado. Tive a solidariedade de centenas de milhares de brasileiros. Eu sempre lutei, não renunciei ao meu mandato, enfrentei o julgamento da Câmara, apesar de injusto. Cassaram-me sem provas. Nunca me recusei a dar entrevistas, comparecer a um debate ou discussão sobre isso, aliás, o programa Roda Viva (TV Cultura, em 1º de novembro de 2010) foi um programa marcante porque durante mais de 1 hora eu fui perguntado sobre tudo o que diz respeito a esse processo e não me recusei a responder uma única pergunta. Eu nunca tive medo. Acredito na justiça, acredito no Supremo Tribunal Federal e sou inocente.
NVU. A revista Veja publicou em agosto uma matéria informando que o senhor mantinha um gabinete instalado em um hotel em Brasília a fim de receber autoridades da República para, entre outras atividades, conspirar contra o governo Dilma. A revista inclusive fotografou o corredor do hotel no qual estava o seu apartamento. O senhor acredita que há interesse público nessa denúncia ou seria uma forma de influenciar no seu processo?
JD. Eu acho que o objetivo era pressionar para a minha suposta condenação. Evidentemente eu não posso ser contra que a revista Veja faça a matéria, eu não posso me opor. É um direito que ela tem. Eu me defendo, eu respondo. O que eu não posso aceitar é que o jornalista (Gustavo Ribeiro) tente invadir o meu quarto, ele é réu confesso. Ele confirmou isso no inquérito e também que a revista subtrai ou consegue imagens ilegais, aliás, não tem crédito nas imagens da matéria. A justiça está investigando isso. Não posso aceitar que o jornalista tente se passar de assessor da Prefeitura de Varginha (Minas Gerais) para plantar uma prova contra mim. O objetivo da revista pode ser qualquer um: colocar dinheiro e dizer que é meu; colocar droga e dizer que era minha; colocar documentos para me incriminar; deixar documentos como se eu tivesse traficando influências. Evidentemente seria possível fazer várias hipóteses.
NVU. O senhor está acusando a revista Veja?
JD. Eu não estou acusando a revista, estou levantando hipóteses. Ninguém repercutiu a matéria porque ela foi feita com métodos ilegais, criminosos. Inclusive eu mandei uma representação para a Associação Brasileira de Imprensa; para a Sociedade Interamericana de Imprensa; Comissão de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos); informando que a revista Veja violou os meus direitos, violou a lei e a Constituição brasileira para fazer essa matéria. Ainda tem o conteúdo da reportagem, que é uma piada. Ela diz que eu estou conspirando contra o governo da presidente Dilma, como se fosse algo inédito eu encontrar amigos meus de 30, 40 anos que estão ou não no governo, que são ou não parlamentares. O hotel é freqüentado por vários governadores, eu sempre encontro com eles lá, tomo café com prefeitos, deputados, senadores. Faz parte da minha vida política e do Brasil manter relação e amizade com eles. Discuta ou não assuntos políticos, discuta ou não assuntos que dizem respeito ao País, ou apenas ter conversas pessoais, familiares, de amizades. Nada me impede de fazer isso. Eu estou afastado do governo há 6 anos, por que não posso manter essas relações? Na verdade o que a revista pretendia era pressionar o Supremo Tribunal para fazer um julgamento que não seja justo.
NVU. Do ponto de vista da transparência, não faria mais sentido um encontro entre o senhor e o presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli de Azevedo, por exemplo, em uma audiência pública em vez de um quarto de hotel?
JD. Se fosse para tratar de assuntos que dizem respeito à Petrobras, sim, mas não é o caso. A nossa discussão era sobre a Bahia, sobre a eleição, sobre a possível candidatura dele, sobre as eleições municipais. Eram assuntos ligados à política e não à empresa Petrobras, e ele pode se encontrar com qualquer cidadão em qualquer outro lugar que não seja a empresa, isso partindo do princípio de que eu não estava discutindo assuntos que dizem respeito à empresa.
NVU. Que tipos de consultoria o senhor realiza?
JD. Eu sou advogado, tenho um escritório de advocacia e uma empresa de consultoria. Ultimamente tenho me dedicado a consultorias fora do País, consultorias de investimentos no Brasil ou no exterior. Agora mesmo estive viajando para países da América Latina, vou à Europa este mês ainda. São investimentos de empresas que têm interesse no Brasil, de comprar empresas brasileiras, ou empresas brasileiras que têm interesse no exterior. Tenho evitado dar consultoria no Brasil justamente para evitar esse tipo de questão que vira e mexe alguns setores da imprensa lançam contra mim.
NVU. Mas, diante do fato de ter sido e ainda ser uma figura forte no PT, como o senhor se desvencilha quando uma empresa o procura para que o senhor faça uma espécie de lobby?
JD. Não fazendo, não aceitando. Ninguém me propõe isso. Eu não tenho participação no governo. Eu não sou deputado, não sou senador. Então nenhum ex-ministro, nenhum ex-parlamentar pode ser empresário? Quase a metade dos deputados é do ramo empresarial. Se fosse assim, nenhum deles poderia ser deputado. Vários ministros do governo Fernando Henrique Cardoso eram empresários, banqueiros. Então não poderiam ser ministros? Essa pergunta não tem sentido porque isso pressupõe que ninguém que é empresário pode ser deputado, senador, vereador, prefeito. E não é assim. Mais da metade desses parlamentares é de empresários. Eu não sou empresário, nunca fui. Foi porque me cassaram o mandato e me processaram, me denunciaram, que eu voltei a trabalhar como advogado, como já tinha sido; e dou consultoria agora. Quero repetir que estou afastado do governo desde junho de 2005 e nós estamos indo para 2012. Então essa pergunta não tem sentido senão ninguém ia poder exercer nenhuma outra atividade a não ser a empresarial ou a de advogado e consultor, o que não é verdade.
NVU. Ainda sobre a denúncia da Veja, apesar de não haver provas, qual seria o fundamento de que o senhor pretendia desestabilizar o governo da presidenta Dilma?
JD. Isso é ridículo, uma piada. Primeiro porque eu não tenho poder absolutamente nenhum; segundo porque fui um dos maiores entusiastas e defensores da candidatura da presidenta, inclusive vim várias vezes ao Nordeste promover a candidatura dela. Fiz a campanha dela como militante, como cidadão. No meu blog (http://www.zedirceu.com.br/ ) sou um defensor da campanha dela. Isso é uma invenção da revista Veja, que ninguém acreditou. Essa reportagem se voltou contra a própria revista, que perdeu credibilidade. A reportagem desmoralizou a revista.
NVU. Como o senhor avalia essa constante queda de ministros do governo Dilma?
JD. A presidenta considerou que era mais adequado substituir os ministros, até porque eles vão ter condição de se defender. Vamos esperar o término das investigações, inquéritos e processos. Ela deixou claro que não aceita pré julgamento, linchamento, dá o direito à presunção de inocência a cada um deles, inclusive elogiou o ex-ministro Orlando Silva na posse do deputado Aldo Rebelo (atual ministro), no Ministério dos Esportes. A presidenta fez questão de desejar boa sorte a ele e o estimulou a se defender. No Brasil, você tem que provar que é inocente e não quem te acusa tem que provar que você é culpado, como manda a Constituição. Infelizmente isso é uma realidade no País. Eu acredito que a Dilma tem atuado como o Lula atuava, não é diferente. Total liberdade com a Controladoria Geral da União, respeitando a autonomia do Ministério Público e com transparência através do Portal da Transparência. Nunca a Polícia Federal atuou como no governo do Lula e da presidenta Dilma no combate à corrupção. Aqui se acusa prefeito, governador, quando há uma irregularidade ilícita ou corrupção numa Secretaria ou numa instituição do governo, ou quando um secretário ou ministro pratica algum ato ilícito.
NVU. Mas o senhor considera grave o quadro de corrupção no País?
JD. A corrupção é sempre grave em qualquer lugar do mundo. Veja o que está acontecendo em São Paulo com as emendas: é o Geraldo Alckmin que é responsável? É o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) que é responsável? O que aconteceu no Pará na Assembleia Legislativa (senador Márcio Couto/PSDB foi envolvido em escândalo de corrupção), um dos maiores escândalos com um senador do PSDB, então o senador já é culpado? Já tem que renunciar o mandato? O que está acontecendo lá com Leonel Pavan do PSDB, que foi governador durante nove meses em Santa Catarina e sofreu acusações gravíssimas. Então eu pergunto se é o PSDB que é culpado, se é o atual governo que é culpado. Isso na verdade é luta política. Como não tem o que criticar no governo, pois apesar da crise internacional o Brasil está crescendo, tenta-se criar essa bandeira, que na verdade é uma campanha denuncista de que há corrupção como nunca no Brasil. Se nós pegarmos 20 escândalos do governo Fernando Henrique Cardoso, é só ir à internet -, devemos chegar à conclusão de que o governo do Fernando Henrique foi o mais corrupto da História do Brasil? O PSDB é o partido mais corrupto por que aconteceu uma serie de escândalos durante o governo FHC em vários ministérios, em vários bancos e várias empresas? Não.
NVU. Então foi uma situação orquestrada para atingir o então presidente Lula, é isso?
JD. Eles querem tachar o Lula, só que eles não vão conseguir atingir a imagem dele. O que eles temem é a liderança e a força do Lula, do PT, da presidenta Dilma, por isso movem essa campanha. Isso não significa que não há corrupção como está acontecendo na Assembleia Legislativa de São Paulo, como aconteceu em várias denúncias no governo do PSDB em São Paulo, como a famosa operação “Castelos de Areia” (operação da Polícia Federal brasileira deflagrada em 2009 investiga crimes financeiros e lavagem de dinheiro), mas a imprensa não transformou como tenta transformar com a presidenta Dilma e o presidente Lula nesse momento. A revista Veja, esteio das denúncias principalmente, tem objetivos políticos, isso todo mundo já sabe. Mas ela vem perdendo credibilidade.
NVU. Já que o senhor citou São Paulo, como está o cenário político para o PT tendo o ministro Fernando Haddad como pré-candidato à Prefeitura?
JD. A senadora e ex-prefeita Marta Suplicy anunciou dia 3 que retirou sua candidatura, então a candidatura do Fernando vai se consolidar como a preferida do partido, e aí se começa a procurar alianças com PSB (Partido Socialista Brasileiro), PDT (Partido Democrático Trabalhista), PC do B; começa o diálogo com PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), com PR (Partido da República), com os partidos em São Paulo que são próximos e já saíram coligados com o PT sem  que isso signifique que não possam lançar candidatos no primeiro turno das eleições. Acho que a tarefa é buscar as alianças, definir uma estratégia de campanha. O PT tem grandes chances de ganhar a eleição em São Paulo.
NVU. Em entrevista a nossa revista, o ex-ministro Ciro Gomes disse que uma parte do PT apodreceu. A parte venial pela fisiologia e a não venial pela roubalheira. Como o senhor avalia essa declaração?
JD. O PT não apodreceu, é um partido que está crescendo e tem 30% da preferência, que ganhou a Presidência da República. Essa é a opinião dele, eu não concordo. Tanto não apodreceu que está crescendo. E o apoio popular que o PT tem revela isso. Isso é a opinião do Ciro Gomes. Se expressar é um direito dele, mas eu não concordo em gênero, número e grau com o que ele disse. É um equívoco, mas é um direito dele afirmar isso. Eu não conheço casos no PT de vereadores, prefeitos, governadores, lideranças que se enriqueceram, se corromperam, não vejo razão para essa declaração dele.
NVU. Outra declaração de Ciro é que a reforma política é conversa para boi dormir, já que a população não está envolvida, pois não há uma prática de plebiscitos e referendos no País. Qual sua avaliação sobre isso?
JD. O PT defende que haja até uma Constituinte para fazer a reforma política e também defende que se submeta depois a um referendo ou a um plebiscito. A reforma só vai existir se nós lutarmos, não nessa posição cética, nessa posição praticamente derrotista do Ciro Gomes. Nós temos lutado pela reforma política. O Lula, quando ainda era presidente, convocou o ministro da Justiça, o ministro de Relações Institucionais, apresentou uma proposta para o Congresso. O Senado já aprovou uma reforma política, não do Senado, mas do voto proporcional. O Henrique Fontana (deputado federal), que é o relator, apresentou seu relatório; o PT fez uma campanha na televisão com cartazes pelo País inteiro; o presidente Lula se envolveu diretamente. Nós estamos lutando pela reforma política e achamos que ela é necessária. Uma das mais importantes maneiras de se combater a corrupção é a reforma política. Fazer um financiamento público, ter um sistema misto ou de voto em lista, consolidar fidelidade partidária, acabar com coligação proporcional. Então eu acredito na luta pela reforma política, que pode não ser agora, mas será amanhã ou daqui a um ou dois anos. Agora não fazer nada e tentar desmoralizar os que lutam pela reforma é que não é certo.
NVU. Como o senhor avalia o governo Dilma?
JD. A presidenta Dilma enfrentou o principal problema do Brasil e do mundo que é a crise econômica, e bem. No primeiro momento tomou medidas de contenção do crédito, medidas prudenciais do banco, contenção dos gastos públicos, aumento dos juros. E o resultado já está aí com a inflação caindo. E agora, no segundo momento, vai reduzir os juros, já está anunciando os investimentos para 2012. O País vai crescer mais que 3%, vai criar mais de 2 milhões de empregos, talvez até 2,5 milhões, e isso no mundo de hoje é quase uma exceção. Ela conseguiu evitar que a inflação chegasse ao Brasil e evitou que o País tivesse desemprego e recessão. Conseguiu combater a inflação sem levar o Brasil a uma recessão e desemprego. As contas públicas estão sólidas, o País tem reservas sólidas e vai receber quase 70 bilhões de reais de investimento externo. Ela manteve os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), os programas sociais e lançou novos como o Plano de Mobilidade Urbana, a segunda fase do Minha Casa, Minha Vida, vai fazer uma ampla reforma no SUS (Sistema Único de Saúde), lançou o plano Brasil Sem Miséria e uma febre de programas para continuar e aprofundar as mudanças que o Lula fez. Eu, como a maioria do povo brasileiro, faço uma avaliação muito boa do governo da presidenta Dilma.
NVU. Há alguma coisa que o senhor faria diferente?
JD. Sempre depois de olhar o que foi feito, você pode mudar alguma coisa. “Engenheiro de obra feita”. Eu poderia dizer que não teria aumentado tanto os juros, mas como está caindo, está sendo feito.
NVU. Em relação ao câncer do ex-presidente Lula, como o senhor vê a possibilidade dele se tratar pelo SUS como muita gente tem sugerido pela internet?
JD. Acho que é algo que beira entre o mau gosto e a maldade, porque se você tem o seguro saúde, obviamente tem o direito de se tratar pelo hospital que é conveniado com o seguro que você está pagando. Cerca de 40 milhões de brasileiros pagam o seguro saúde. Se você está fazendo algo pelo seu seguro, você não está fazendo o que muitos fazem por aí, que pagam o seguro e vão ser atendidos pelo SUS, deixando um prejuízo para o governo. O Lula pelo menos está sendo atendido pelo Hospital Sírio Libanês (São Paulo), não vejo problema. Só se o seguro saúde fosse proibido no Brasil. Foi no governo do Lula que o SUS avançou, se consolidou, criando programas fantásticos que servem de exemplo para o mundo todo, como o programa de tratamento para AIDS, de esclerose múltipla, hemodiálise e todas essas doenças mais graves. Para todas há programas especiais. Assim como a distribuição de remédios, a expansão das unidades de saúde. A própria perda da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) não levou a cair os recursos da saúde. Temos só bons exemplos do governo Lula e agora a Dilma lançou o programa de mudança de gerência do SUS, de construção de unidade de saúde, ou seja, nós continuamos avançando no sistema de saúde do País.
NVU. O senhor se preocupa com o câncer  de laringe do ex-presidente Lula?
JD. Assim como centenas de milhares de brasileiros têm câncer de laringe e vão ser tratados com quimioterapia, a margem de probabilidade de dar certo é altíssima. Nada indica que o estado de saúde dele vai se agravar, pelo contrário, os médicos estão muito seguros, muito tranquilos. Ele está tranquilo. Falei com o Lula hoje (dia 3 de novembro) mesmo, também falei com Marta (ex-primeira dama) e ele estava de muito bom humor ao telefone. O Lula tem disciplina e o tratamento é tranquilo, apesar de agressivo. Espero que no Carnaval ele já vá desfilar na Gaviões da Fiel (escola de samba de São Paulo), pois vão fazer uma homenagem a ele. E que depois da Semana Santa ele já esteja percorrendo todo o Brasil fazendo a campanha, como aconteceu com a presidenta Dilma, que teve um linfoma e fez campanha eleitoral, tendo sido eleita a presidenta da República. Acho que o Lula vai participar da campanha eleitoral como a Dilma participou e nós vamos vencer como ela venceu.
NVU. Especula-se que o PT tem um plano “A” para 2014, que seria a reeleição da Dilma, e um plano “B” que seria a volta de Lula, isso existe?
JD. O único plano que nós temos é que a presidenta Dilma governe o Brasil bem e seja reeleita. É o único plano que o Lula tem e que nós temos.
NVU. Acredita que o ex-presidente Lula ainda sofre preconceito por parte da elite brasileira?
JD. Não. Hoje o Lula tem apoio de 90% da população brasileira. Se a elite tem preconceito com ele, ela está fora de sintonia, do espírito do povo brasileiro.
NVU. E para as eleições de 2012, quais são as suas expectativas?
JD. Tanto para o PT como para a base aliada, a expectativa é de crescer e que a oposição sofra uma grande derrota. O PSDB, o DEM (Democratas), o PPS (Partido Popular Socialista) vão sofrer uma grande derrota.

NVU. Os tucanos continuarão sendo os grandes adversários do PT nas próximas eleições?
JD. Eles são os principais adversários do PT e isso é bom para a democracia. Já governaram o Brasil, o Ceará, outras importantes cidades e Estados do País. Você pode comparar os governos e botar o cidadão para comparar e votar, isso faz parte da democracia. Eles são o maior partido de oposição, são os nossos principais adversários e não inimigos.
José Dirceu por José Dirceu
“Sou o Zé Dirceu de Passa Quatro, um mineiro que foi para São Paulo com quatorze anos, como milhões de brasileiros, para trabalhar e estudar. Sempre paguei meus estudos, fui office boy, trabalhei em almoxarifado, relações públicas, assessor jurídico, já fiz de tudo. Na universidade, lutei contra a ditadura, assim como o fiz durante a clandestinidade. Na redemocratização participei da fundação do Partido dos Trabalhadores e minha vida se confunde com a história do PT desde fevereiro de 1980. Sou um petista corintiano, mineiro, mas paranaense por adoção e paulistano e paulista também por adoção. Ando pelo Brasil e pelo mundo pregando o que sempre acreditei, o que eu sempre sonhei: um mundo mais justo, um Brasil mais justo, mais democrático”.

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