Sul 21
Com jeitão caipira – até certa semelhança com o personagem Nelson da Capitinga – e a fala confusa, afobada, o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, autor do best-seller A Privataria Tucana, revelou que já investiga mil coisas e que deve escrever um novo livro. Entre os temas que ele demonstra interesse – em terceira pessoa – está a famigerada Lista de Furnas. “A gente está trabalhando nisto sim. Tem alguns focos aí. Tem a Lista de Furnas. Sempre que a Veja começa a inventar que algo é falso é porque está pegando fogo. A gente quer saber se é verdadeiro”.
Ao lado do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), proponente de uma CPI na Câmara dos Deputados para apurar as denúncias contidas no livro, Amaury participou de entrevista coletiva na tarde desta quarta (25), no Sindicato dos Bancários, em Porto Alegre, onde ambos participariam de debate sobre as privatizações. O jornalista explicou que o novo trabalho deve levar tempo. “O Protógenes sabe como é inteligência financeira. Tem que seguir a movimentação do dinheiro”, explicou.
Entre as informações novas que tem apurado, Amaury revelou que muitas são contadas por integrantes do PSDB. “Tucanos têm falado comigo”. O jornalista disse que uma das coisas que lhe confidenciaram foi que um grande jornal de São Paulo queria entrar na farra das privatizações sem gastar um tostão. “Um jornal de São Paulo queria entrar nas privatizações sem pagar nada. Queria cobrar pelo lobby que estava fazendo”.
Amauri também revelou que negocia com mais de uma empresa os direitos do livro para virar filme. — Quem vai fazer o papel do Serra? – brincou um integrante do sindicato, arrancando risadas do jornalista e do deputado.
“Esta CPI nasce com um diferencial”, diz Protógenes
O deputado Protógenes Queiroz se mostrou confiante com a concretização da CPI, cujo pedido deve ser analisado no início do ano legislativo em fevereiro. O parlamentar revelou que o pedido conta com 206 assinaturas (são necessárias 171) e que quem já assinou não pode retirar seu apoio, porque o pedido já foi protocolado. Só uma manobra da diretoria da Casa poderia evitar a comissão. “A expectativa é real. Há um compromisso da Câmara dos Deputados”, disse.
Protógenes acredita que esta CPI não será bloqueada, mesmo que a CPI do Banestado, em 2004, cujos documentos foram importantíssimos para a obra de Amaury, tenha sido abafada em um “acordão” entre os blocos de oposição e situação. “A CPI do Banestado é diferente desta. É só olhar o histórico das duas. Está já nasce com um diferencial, com documentos publicados, com um debate público muito grande, com muitos pedidos de instalação e surge logo no início de um ano legislativo. Dentro do Congresso nunca teve isto”, disse o deputado. Ele disse ainda que deputados de oposição têm apoiado a investigação, porque “não têm compromisso histórico com o conteúdo da CPI”.
O ex-delegado da Polícia Federal explicou que a CPI não deve revisar o processo de privatizações, mas sim os prejuízos que causou aos cofres públicos e a terceiros. “Não se trata de revisar as privatizações, mas de analisar os prejuízos decorrentes destes processos. Tem pessoas que ficaram milionárias da noite o dia no país e ficou por isto mesmo. E outras empobreceram”, afirmou.
Protógenes contou que o objetivo da comissão deve ser identificar as “irregularidades e ilícitos e sugerir a recomposição dos prejuízos”. “A União vai ter que estudar como compor no orçamento a indenização a estas pessoas”. O parlamentar não descartou, contudo, que o Estado reverta alguma privatização. “Outro ponto é que se algum serviço desta estatal tiver fraude tão desproporcional, tão imensa, entendo que tem que voltar para o Estado”.
Amaury diz que “a roubalheira foi muito maior” do que aparece no livro
Amaury, que fez reportagens sobre a CPI do Banestado, afirma que, de fato, o acordão ocorreu quando se descobriu que ninguém menos que o então presidente do Banco Central – autoridade máxima nas questões financeiras no país – Henrique Meirelles também utilizava os serviços de um doleiro investigado pela comissão de inquérito. “Todo mundo sabe que houve acordão. Eu falei isso e ninguém nunca contestou. Descobriram que o presidente do Banco Central estava operando com um doleiro. Isto faltou colocar no livro. Foi uma matéria que foi de colegas da Isto É e ganhou Prêmio Esso de Economia”.
O jornalista acredita que novo acordão poderá ocorrer, mas com o objetivo de que a CPI nem seja instalada. “Se instalar, a casa vai cair. O que eu mostrei aqui foi pequeninho, foi o que eu consegui pegar. A roubalheira foi muito maior”, disse. Revelou também que já entregou documentos para a PF e que se a CPI não sair entrará com uma ação no Ministério Público.
Amaury afirmou que o julgamento do Mensalão pode ser um exemplo de algo que desmotive a base governista em atacar seus adversários. O jornalista disse que vai haver movimentos populares em todo o país pressionando pela criação da CPI quando o Congresso sair do recesso. Ele avaliou que a repercussão do livro é muito grande, porque as privatizações afetaram diretamente a vida de muitas pessoas, o que ele tem percebido em suas andanças pelo país para lançar o livro. “Achei que o livro não faria este sucesso, porque trata de economia. Andando pelo país percebo que as privatizações afetaram a vida das pessoas. Acabaram com a vida de algumas pessoas”.
Ele também avaliou que o livro mudou o quadro político nacional. “Até a publicação, os tucanos eram heróis que viviam caçando ministros. Percebi que serviu também para unificar esquerdas, que perceberam que o inimigo era outro”. O jornalista revelou que ficou nervoso com a reação que poderia sofrer com o livro, mas que a resposta dos denunciados no livro foi pífia. “Eu fiquei nervoso, mas quando vi que as acusações para desqualificar o livro eram fraquinhas demais, a sensação foi de nocaute”.
Jornalista diz que não recebeu nenhum processo após o livro
“Nenhuma. Nenhuma. Nenhuma”. Assim Amaury Ribeiro Júnior garantiu que não recebeu qualquer notificação de processo contra si em decorrência do lançamento de A Privataria Tucana. Ele disse que foi processado pelo presidente do PT, Rui Falcão, antes de lançar o livro, por um depoimento que deu na Polícia Federal, acusando o dirigente de ter sido a fonte de Veja para o “caso do dossiê”. “O Rui Falcão me meteu um processo, gastei R$ 10 mil com advogados. A ação é tão fajuta que ele vai ter que pagar tudo. Eu fui prestar depoimento na Polícia Federal e contei a história da briga interna que aconteceu. Ele mandou também um criminal, que o juiz mandou trancar, de tão ruim que era a inicial”, disse.
O jornalista também fez troça dos demais envolvidos no livro, os acusados de terem se beneficiado com propinas durante as privatizações do Governo FHC. Parte importante dos documentos que obteve para escrever o trabalho jornalístico foi com autorização judicial por exceção da verdade, depois de ser processado pelo ex-presidente do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio. Assim, Amaury parece confiante de que não será processado novamente. “Agora o pessoal está com medo deste negócio de exceção da verdade".
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