Foto: Karol Azevedo/Bahia 247
Em entrevista exclusiva ao Bahia 247, o deputado Nelson Pelegrino (PT) admite que a eleição municipal de 2012 terá dois turnos, conta o que aprendeu com Lula, fala da amizade com Mário Kertész e promete 'refundar' Salvador31 do 10 de 2011 às 08:12
Por Victor Longo e Elieser Cesar_Bahia 247
Empresarial Thomé de Souza, redondezas do Hiperposto, região do Iguatemi, Salvador, Bahia. Nesse endereço e do alto do 10º andar, o deputado federal Nelson Pelegrino garante: só sai dali rumo a outro lugar com o mesmo nome. Ele se refere, é claro, ao palácio onde funciona a Prefeitura Municipal de Salvador, homônimo ao prédio que abriga seu escritório na capital baiana. Pré-candidato assumido ao pleito municipal de 2012, Pelegrino recebeu o repórter Elieser Cesar, o editor de conteúdo, Victor Longo, e a fotógrafa Karol Azevedo na sala 1020 daquele edifício, na tarde desta sexta-feira (28). Lá mesmo, ele disse que aplicará os ensinamentos do ex-presidente Lula nas eleições municipais de 2012 e garantiu que contará com a presença do mestre na campanha. Mesmo antes de o jogo começar, ele assegura que faltam apenas 21% para se consagrar prefeito. Nessa entrevista exclusiva, Pelegrino ainda alfinetou seus potenciais adversários e afirmou: o PT continua o mesmo! Não dá para não ler...
O Lula da vez
Antes de se eleger presidente, Luiz Inácio Lula da Silva disputou três eleições e venceu na quarta, em 2002. A mesma conta faz Nelson Pelegrino, pré-candidato do PT à prefeitura de Salvador, que, em 2012, pretende ser o Lula da vez. "Chegou a hora do PT governar Salvador", assegura. "Vamos disputar eleições em uma situação muito semelhante à de quando Lula foi eleito; o Brasil estava em uma grave crise econômica e no final de um ciclo político; é o que ocorre com Salvador agora", compara. "Almocei com Lula e ele disse que virá aqui na campanha".
Quem ensinou foi professor Lula
"Nelsinho, governar é ter projeto estratégico, é ter equipe e capacidade de tomar decisões". Essas palavras foram ditas pelo ex-presidente Lula, durante seu primeiro governo, quando Nelson Pelegrino era líder do PT na Câmara dos Deputados. Aquelas palavras, lembra o deputado, lhe servem até hoje e devem ajudá-lo a governar Salvador, se eleito em 2012. "Temos que fazer com Salvador mais ou menos o que Lula fez com o Brasil", repete, já dando o tom que provavelmente terá sua campanha.
Na pole position
Pelegrino lembra que, desta vez, o PT sai na pole position na disputa pelo Palácio Thomé de Souza. "As condições são mais favoráveis que nas candidaturas anteriores", considera. "Em 96, disputei a prefeitura contra os governos federal e estadual; em 2000, contra as três esferas; em 2004, contra o governo estadual", recorda, lembrando que "agora é diferente", já que está "mais experiente e mais maduro". Além de 20 anos de vida parlamentar, Pelegrino possui uma curta passagem pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, durante primeira gestão do governo Jaques Wagner (PT).
Corrupção no governo Dilma
Pelegrino assegura que a presidente da República tem sido rigorosa e intolerante com corruptores em seu governo, mas sem esquecer de dar "o benefício da dúvida". Ele defende que as seis quedas de ministros nesse primeiro ano de governo se devem a isso, bem como à transparência do governo. "Há liberdade para a imprensa publicar, para a Polícia Federal investigar, para o Ministério Público denunciar e para o Judiciário julgar", resume. "Os afastamentos são importantes para dar seguimento ao trabalho dos ministérios".
Eleição de dois turnos
Nelson Pelegrino não alimenta esperanças de levar a eleição municipal de 2012 no primeiro turno. Questionado sobre o que fará para conter os desejos dos aliados como Alice Portugal (PC do B) e Lídice da Mata (PSB) de disputar a eleição, ele responde: "Essa é uma eleição de dois turnos; se não der para nos juntarmos no primeiro, nos uniremos no segundo". Ele considera "natural" que os partidos, nesse momento, apresentem seus nomes. "É hora de dialogar, mas o tempo de afunilar virá", arremata.
Faltam 21%
Também seguindo os ensinamentos do professor Lula, Pelegrino diz já ter garantidos cerca de 30% dos votos. "Agora, faltam os outros 21%, e é isso que estamos buscando", diz, ao ser questionado sobre as alianças políticas com adversários de outros tempos. "Só assim será possível viabilizar nosso projeto", repete, em consonância com o discurso do ex-presidente. "Mas os partidos da base do governador Jaques Wagner têm, juntos, mais de 51% da cidade".
Político não teme adversários
Qual adversário o senhor mais teme, deputado? "Não temo nenhum, mas respeito todos". Ele carrega consigo uma máxima, a de que político não pode ter medo nem de aliados, nem de adversários. Por isso, Pelegrino garante também não temer os tentáculos do PSD, novo partido da base aliada do governador Jaques Wagner, que já desponta como segundo colocado em número de deputados na Assembleia Legislativa. "O PSD tem sido o grande parceiro e tem jogado conosco", atesta.
Ainda somos os mesmos e vivemos...
Apesar da filiação de quadros inesperados, como o vereador Alcindo da Anunciação, e da proximidade com políticos que antes pertenciam ao carlismo, Pelegrino garante: "O PT continua o mesmo". Mas não esconde um sorriso (irônico?) ao ouvir o nome do novo correligionário. "Os pilares do nosso projeto permanecem sendo a participação popular, a transparência, as parcerias com a sociedade civil".
Mário Kertész, um amigo?
Em recente entrevista ao Bahia 247, Mário Kertész (PMDB), radialista e potencial adversário de Pelegrino em 2012, garantiu que ambos eram amigos. "Temos uma relação boa, uma relação de amizade, não tenha dúvida; já falei pra ele que a campanha será em altíssimo nível da minha parte", endossa Pelegrino, reiterando que a campanha não vai abalar a relação. Até quando? "Mas defenderei de forma rigorosa nossos pontos de vista", pondera. "Nessa nova fase, sou Nelsinho paz e amor, pode ter certeza!".
ACM Neto, o carlista hesitante
Pelegrino não hesita em provocar um dos seus principais adversários políticos, o também deputado federal ACM Neto. "Acredito que ele hesita em ser candidato por saber que seu patrimônio político (o carlismo) tem teto", alfineta, sem esquecer de completar: "Penso que essa é a grande vantagem das forças que compõem a base do governador Wagner nessa eleição". Para ele, o carlismo perdeu força com a derrota de 2006 e já não é o mesmo. Questionado sobre a presença de carlistas no governo Wagner, no entanto, ele foge do assunto. "Não se trata mais do mesmo carlismo de antes".
Eleição polarizada
"Penso que essa eleição vai ser assim: os candidatos de Wagner, Dilma e Lula contra os que fazem oposição a esse projeto", provoca. Mas... e o PMDB de Mário Kertész e da família Vieira Lima, deputado? "Eles vão estar juntos ao PSDB e ao Democratas, que são partidos que fazem oposição clara a esse projeto".
E o PP de Leão?
Nelson Pelegrino ainda não tem conversado diretamente com os membros do PP municipal, do atual prefeito João Henrique e do chefe da Casa Civil, João Leão, também pré-candidato. "O que temos é um fórum que reúne os principais partidos de base do governo Jaques Wagner, mas não houve conversas diretas". No entanto, ele espera estar com o PP ao menos no segundo turno. "Salvador, Feira e Conquista são as três dessas cidades onde haverá segundo turno", calcula.
João não fez isto, não fez aquilo
Sobre as duas gestões de João Henrique à frente da prefeitura de Salvador, Pelegrino tem críticas na ponta da língua. "Ele não alterou a situação de Salvador do ponto de vista financeiro, e a prefeitura ainda é muito dependente de recursos do governo estadual", critica. Segundo ele, as gestões ainda pecaram por não alterar a estrutura socioeconômica (muita concentração de renda), a baixa arrecadação e a ausência de um plano estratégico para o desenvolvimento da cidade. "Nesses aspectos, João Henrique não fez o dever de casa", critica, sem esquecer de admitir que há pontos positivos, como "uma pequena reforma tributária".
O PDDU falhou
Para Pelegrino, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de João Henrique não cumpre seu papel de planejar o crescimento urbanístico, ambiental e social da cidade. "O próximo prefeito de Salvador terá a tarefa de reorganizar os marcos legais cidade", vislumbra. Aí estariam incluídos um novo PDDU, uma nova legislação ambiental "sem lacunas, mas que não impeçam o crescimento do município", ajustes no regime tributário, na lei de ordenamento do solo e no cadastro de imóveis da cidade.
Um ano para arrumar a casa
Pelegrino também fala em um novo planejamento econômico que atraia mais renda para a cidade e permita maior endividamento junto a fontes de financiamento como o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). "O primeiro ano de governo deverá ser um governo de ajustes", admite. "Só assim dá para manter o bê a BA: as principais vias conservadas, o lixo coletado, os salários dos servidores em dia etc".
Jogo combinado
Hoje, apesar da ajuda que o governo do Estado dá à prefeitura, "falta sinergia", opina o deputado. Um aumento dessa sintonia, com ele na prefeitura, seria "benéfico" para a cidade, ressalta. Mas pondera: "Nós não vamos transformar a prefeitura numa secretaria de luxo do governo do estado; Salvador tem sua autonomia e vai continuar tendo". Apesar disso, ele fala na existência de "um jogo combinado" e da necessidade de um "tratamento diferenciado" a Salvador.
A Copa é minha... o metrô, do Estado
"Salvador vai estar pronta para a Copa das Confederações, tanto a Fonte Nova como o metrô", promete, no caso de ser eleito prefeito. Quanto ao metrô, esse parece ser um pepino do qual pretende se livrar: "Tenho repetido que a solução é estadualizar o metrô". A justificativa é que Salvador não teria condições para subsidiar o transporte sobre trilhos. "A cidade não tem os R$ 50 milhões por ano necessário para isso, segundo cálculos".
E Cajazeiras nessa história?
Maior bairro da América Latina, Cajazeiras foi esquecida e não faz parte das prioridades na reforma do transporte público municipal. O que Pelegrino diz sobre isso? "Não temos que fazer demagogia: primeiro é preciso concluir o metrô até Pirajá". A partir daí, Pelegrino aponta duas alternativas – levar o metrô até Cajazeiras ou inaugurar a Avenida 29 de Março, ligando o bairro gigante ao metrô e ao miolo da capital baiana.
Refundação de Salvador
Se eleito, Pelegrino promete promover uma "refundação de Salvador". Baseado na tríade da administração pública que aprendeu com o ex-presidente Lula, ele diz estar elaborando (desde 1985) um projeto estratégico para Salvador, assegura ter capacidade para montar uma boa equipe e para tomar decisões. Mas... de quem é esse projeto, deputado? Do PT? "Da base do governador Jaques Wagner", assegura, mesmo ciente da tendência de fragmentação na base aliada nas eleições de 2012.
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