domingo, 22 de janeiro de 2012

Vale a pena Haddad aceitar o apoio de Kassab?

Na revista Carta Capital, um artigo de Matheus Pichonelli instiga com uma análise sobre uma aliança nas eleições paulistanas entre o PT e Kassab, indicando o vice. Seu argumento chave é a falta de coerência.

Vamos analisar friamente, lembrando que tal aliança ainda é incerta, apesar de ter aumentado a probabilidade nos últimos dias:

Uma coisa é o PT aderir. Outra coisa bem diferente é aceitar adesões.

No primeiro caso, o PT estaria se submetendo ao plano de governo do adversário, e isso sim seria inaceitável. No segundo caso é o adversário quem estará se submetendo, ainda que sempre seja necessário fazer concessões em uma aliança.

É preciso entender que, no Brasil redemocratizado, governar assemelha-se a administrar o caos político. É montar o quebra-cabeça com os fractais do poder dispersos em vários partidos e forças políticas heterogêneas, da melhor forma possível para conseguir executar ao máximo as políticas públicas programáticas.

O que não é aceitável é só a busca do poder pelo poder, abandonando os compromissos populares.

Se a aliança sair e se vencer, o PT terá que fazer concessões, deixando espaço para o PSD de Kassab na prefeitura. Mas não terá que fazer o mesmo, se eleito? Com o próprio PSD ou com outros partidos de centro e direita, para ter maioria entre os vereadores? Aí como fica a coerência?

Quer a perfeição da coerência política? Fique nas universidades escrevendo teorias utópicas, ou em partidos que, na verdade, não oferecem à população uma alternativa de poder, deixando os demo-tucanos de sempre no poder paulista. O povo mais pobre tem pressa em ter governos que possam chamar de seus (que viabilizem boas políticas públicas que atendam suas necessidades óbvias), e se o atalho for essas alianças, que sejam feitas, como fez Lula desde 2002.

O que a campanha do PT perderá é o discurso coerente de oposição municipal, e só. Mas desde quando só coerência ganha eleição em São Paulo?

Coerência entre candidato e vice com mesmo perfil, costumam somar zero votos eleitoralmente. Em 2004 o PT esnobou uma aliança com o PMDB e lançou a chapa puro-sangue Marta Suplicy-Rui Falcão. A soberba levou a perder uma prefeitura que comandava, e com um governo bem avaliado pela população.

Por outro lado, se perde a coerência do discurso oposicionista à Kassab, permite a Haddad fazer uma campanha mais propositiva, coisa que o eleitor prefere à baixarias, sobretudo quando não existe crise econômica, e quando ele não vota com raiva.

E se a campanha é propositiva, Haddad pode manter-se coerente, fazendo críticas construtivas. Simples, não?

Há outros argumentos fortes para justificar as conversações sobre uma aliança:

Ainda que a adesão de Kassab pouco fortalecesse o PT, enfraquece muito os adversários.

Tal aliança, sempre é a contragosto da militância do PT e de outros partidos de esquerda, mas no fundo, todo mundo engole o sapo, porque sabe quem é o cabeça de chapa, e só meia dúzia de votos irão para o PSOL, enquanto ganhará pelo menos uns 10% do eleitorado paulistano desorganizado, sensível à máquina da prefeitura.

Quem acha que Kassab não tem voto, responda então, como ele saiu do 4o. lugar e venceu Marta em 2008?

Por fim, Matheus Pichonelli compara mal a situação atual com a escolha de José Alencar com vice de Lula em 2002.

O vice de Haddad nada tem a ver com o contexto Lula/Alencar. Haddad já tem um perfil palatável para a classe média paulista e nem mesmo assusta a elite paulista (apesar de sempre preferirem um demo-tucano). Haddad precisa de voto é no povão. Na falta de um vice popular, a estrutura política montada por Kassab que funcionou em 2008 não é de se desprezar.

Enfim, ninguém sabe ainda se essas alianças sairão ou se são blefe. Mas a mal-sucedida soberba de 2004, recomenda que as portas do diálogo sejam mantidas abertas.

Em tempo: o blog, que não é instância partidária, e não retira uma linha das críticas à Kassab e sua gestão, e continuará criticando sempre que houver motivo. Também não abre mão da rigorosa apuração dos escândalos de corrupção que se passou tanto na gestão de José Serra na prefeitura, como na de Kassab, doa a quem doer. E espera que Haddad ou seja quem for que seja eleito, corrija coisas contestadas até pelo ministério público,  como a terceirização da merenda escolar.

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