domingo, 22 de janeiro de 2012

Brizola, pedra 90


Brizola, na linda foto de Aguinaldo Ramos, sempre sem medo se se queimarA maior virtude que os líderes, os coerentes, têm é a de reunir pessoas por objetivos generosos. Por isso, depois de mortos, não são – e sobretudo não devem ser – pranteados por suas ausências, mas celebrados pela permanência de seus sonhos, se estes foram e são lutas ainda por vencer.

Os oportunitas, os vis, os subalternos os citam pelos dividendos que seus nomes podem trazer. Citam um morto, em busca de seu espólio. E a este o tempo, inxorável, desgasta e corrói.

Os companheiros e parceiros de sonho, não. Trazem-no vivo, flamejante, na força das idéias, na coragem de seguir – sem seu brilho e talento, seja – o mesmo rumo, enfrentar os mesmos monstros. As cicatrizes não são medalhas a exibir, porque não se usa medalhas no campo de luta

Os noventa anos de Brizola – um homem como todos, um símbolo como poucos – não são um velório, um momento de dor e tristeza. São um momento de alegria e celebração para aqueles que, na expressão que gostava de usar, aproveitando uma imagem de Darcy Ribeiro, “não vão parar nunca, senão quando tiverem passado este país a limpo.

Por isso, alguns de seus companheiros – e até os que viveram com ele os trambolhões de percurso que a vida política engendra – fazem a ele, nestes dias, a homenagem maior que se pode fazer: recordar e expor aqueles sonhos, aqueles momentos, aqueles destinos que ele viveu e perseguiu.

Abaixo, vai o texto de meu grande companheiro e amigo, a quem tempo e ausência não diminuem, Luiz Augusto Erthal, um colaborador de Brizola – que o chamava de “o nosso alemão” – que tomou a si a tarefa de editar, “Leonel Brizola – A Legalidade e outros pensamentos conclusivos”, com um belo raciocínio do que significa recordar Brizola: lutar como ele lutou, sem medo, sem cálculos marqueteiros sobre “o que pode dar certo”, sem fazer da política uma tramóia lucrativa, mas a arte de caminhar adiante.

A centelha do Trabalhismo

As grandes causas são como a amizade de irmãos, que não se apaga e até mesmo se fortalece com o tempo, mesmo que caminhem distantes.
Há nesse livro, que vamos lançar segunda-feira, na ABI, uma das mais belas imagens de Leonel Brizola, nascida da sabedoria simples e conclusiva que ele extraía da vida comum do brasileiro: a do “pau guarda-fogo” – aquela tora que permanece em brasa, quase adormecida, na fogueira deixada à noite pelo gaúcho no campo. De manhã, basta assoprar para levantar a chama.
Brizola dizia que o Trabalhismo é assim. Por vezes parece até amortecido, mas o processo social se encarrega de reacender no momento certo as verdadeiras causas do povo brasileiro. Felizmente essa e tantas outras imagens certeiras do líder trabalhista, morto em 2004, permanecerão graças ao trabalho desenvolvido por Osvaldo Maneschy, Apio Gomes e os demais organizadores do livro Leonel Brizola – A Legalidade e outros pensamentos conclusivos para preservar e difundir o pensamento brizolista.
Quando nos vejo publicando – seja em livro, como temos feito na Nitpress, seja nos blogs da Internet – o conteúdo impublicável, para a grande mídia, desse pensamento lúcido e honesto, penso que estamos vivendo um desses momentos em que a velha brasa, atiçada pela brisa, começa a reavivar toda a fogueira. Tais realizações seriam impraticáveis até algum tempo atrás para gente pronta como nós – pobres jornalistas desapossados dos meios de produção da imprensa tradicional.
No entanto, graças às novas mídias e à democratização das ferramentas de comunicação proporcionada pela revolução tecnológica, estamos nos tornando cada vez mais aptos a cumprir aquela que, na visão de Brizola, seria hoje a grande missão política: reatar a história e os verdadeiros valores do povo brasileiro, que um dia quiseram cortar com uma tesoura.
PS: O endereço da ABI é Rua Araújo Porto Alegre, 71, esquina com Rua México. Será no 9º andar, a partir das 18 horas. Depois posto aqui sobre o programa, domingo, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, sobre os 90 anos do nascimento de Brizola.

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