Leopoldo Vieira
"(...) Tais batalhões são totalmente devotados à libertação do povo e trabalham inteiramente no interesse deste (...)Como servimos ao povo, não receamos ver apontadas e criticadas as faltas que temos. Seja quem for pode apontar as nossas falhas pois, se tiver razão, nós as corrigiremos; e, se aquilo que propuser beneficiar o povo, agiremos de acordo com a proposta". (Mao Tse Tung, "Servir ao Povo", 1944)
Hoje é o último final de semana que esta coluna, voltada para discutir a Juventude, se apresenta dessa forma, com contribuições fixas. Daqui para frente, este espaço será expandido para - esperamos - centenas, milhares de colaboradores de todos os cantos do país, com os mais diversos temas que envolvem os jovens, mas também envolvidos por eles (nós). Mais um enorme estímulo para que essa geração se coloque o desafio de pensar o Brasil e caminhos para realizar seus sonhos e projetos de vida numa nação que dá certo.
A responsabilidade é grande e eu não poderia encerrar minha participação neste formato sem ser discutindo O PT e como ele organiza (e é organizado) pelos seus jovens militantes. Hoje, abrindo a biografia dos mais recentes líderes chineses, como Hu Jintao, ou Vladimir Putin, na Rússia, será facilmente percebido que não há mais vínculos diretos com os processos revolucionários que fundaram as repúblicas nesses países, mas sim a descrição de uma virtuosa ou afortunada trajetória em partidos e no Estado, tendo como início, quase sempre o trabalho e engajamento num organismo juvenil.
À parte sermos um país que se consolida como potência emergente democrática na ordem internacional, refletir sobre os destinos da organização juvenil do PT, hoje, é mais do que fundamental para visualizar caminhos para a transição geracional de poder no Brasil.
As eleições 2012: Uma nova geração de lideranças
Como parte da mobilização para a disputa eleitoral em 2012, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores realizará no dia 10 de fevereiro, em Brasília, o Encontro Nacional de Prefeitos e Deputados Estaduais.
Pelo que recordo, em 2008, a Direção da Juventude do PT encaminhou uma carta convocando os chefes do Executivo do partido a desenvolverem políticas para os jovens, caso eleitos ou reeleitos. Meses depois, uma Caravana Nacional percorreu diversos municípios se propondo a fortalecer as plataformas eleitorais, candidaturas e os comitês de juventude. Antes, uma cartilha eleitoral foi publicada.
Acredito que é hora de dar passos à frente, avançando ao "novo patamar" a ser alcançado.
Infelizmente, a experiência com o passado recente revela que uma carta é um documento efêmero, que o prefeito facilmente descarta. Isso se dá porque o tema ainda não alcançou a "musculatura" da saúde, educação ou assistência social, por exemplo. É possível e estamos caminhando para chegar lá, porém ainda não é realidade.
Esse Encontro de Prefeitos do PT é um oportunidade para firmar compromissos maiores e incluir o tema no alvo dos holofotes voltados à atividade. Talvez um "Pacto pela Juventude", semelhante ao do Conjuve sim, mas interno, com tópicos que valorizem tanto a parceria estratégica com a presidenta Dilma, via convênios, mas que também apresente uma agenda tipicamente municipalista, inovadora. Embrião, em si mesmo, de uma futura cartilha eleitoral a ser emanada como parte-integrante do conjunto de resoluções do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) Nacional, sem o que pode ser visto como um documento irrelevante para o conjunto partidário, por ser obra apenas setorial. Aqui, claro, é mais do que necessário a consulta e o envolvimento, seja presencial, seja virtual, com a mais dinâmica e produtiva organização territorial possível, dos secretários estaduais da JPT eleitos. De preferência combinando com um factível curso de formação pré-eleitoral especial.
Mas, em matéria de formação política, não só isso e aqui um parêntese: O livro "A Privataria Tucana" é um livro essencial para ser lido pela atual geração de jovens políticos e ativistas, especialmente os novos petistas, que precisam conhecer e estudar a Era FHC para ter uma auto-compreensão mais profunda de sua escolha. É preciso fazer ainda mais campanha de divulgação nas redes sociais, pelo envio de e-mails da versão on line, disponibilização geral para download na blogosfera, enfim...Essa obra tem que ser tomada pelos grêmios, centros acadêmicos, DCEs, comissões de jovens sindicais, curso de formação e distribuída em capítulos, lida coletivamente, estudada em grupos nesses espaços.Até porque prepararia um bom e inovador clima para o sufrágio de 2014.
Profissionalismo e planejamento
Voltando à eleição, consequentemente, é fundamental melhorar o profissionalismo do planejamento eleitoral, inclusive para otimizar os recursos partidários e potencializar projetos eleitorais.
Assim, antes de uma reedição da Caravana, é importante articular com os presidentes estaduais do PT um efetivo mapeamento de viáveis candidaturas jovens, tanto às câmaras municipais quanto às prefeituras. Jovens líderes de comunidades, sindicatos, ONGs de boa repercussão social, etc. As eleições 2012, pelo seu perfil, é uma oportunidade de renovação de dirigentes públicos, com mais vínculos diretos aos movimentos sociais e comunitários, e o PT notoriamente vem investido nisso, haja vista a aprovação da reserva de vagas em suas instâncias de comando para filiados com até 30 anos.Daí, pode-se constituir um itinerário que efetivamente promova essas candidaturas e some forças às campanhas locais, agregando utilidade à iniciativa ante os olhos dos diretórios estaduais e municipais.
Por fim, na mobilização pela retirada do primeiro título, sempre simultaneamente de convite à filiação do PT, seria importante vincular o estímulo à vontade de votar com valores claramente identificados (ou que precisam ser resgatados em sua relação) com o petismo, a esquerda e o socialismo democrático para a disputa da "nova juventude brasileira", dentro da lógica de uma agrupamento que pensa soluções para o Brasil e empunha grandes e "nobres" causas.
Relações institucionais para integrar agendas e "vistas de pontos"
Ainda no planos institucional, não podemos dar passos atrás na perspectiva de desenvolver uma relação orgânica com os petistas do Conjuve e com os gestores estaduais de Políticas Públicas de Juventude, para aproximar idéias, trocar experiências, sistematizar programas, construir agendas comuns e facilitar governabilidades.
Outra questão interessante seria mapear as iniciativas nos legislativos e executivos estaduais, podendo, de acordo com o desenvolvimento das condições, chegar aos municipais, que tem interface ou são diretamente demandas e articulações dos nossos jovens, seja via PT, órgãos institucionais ou movimentos. Quantas propostas inovadoras (ou atrasadas) não brotam todos os anos sem qualquer inventário ou orientação?
Do mesmo modo, é preciso dar consequência ao trabalho conjunto com a representação da bancada na coordenação da Frente Parlamentar de Juventude e construir, buscando apoio da presidência e da SNAI, uma relação periódica de acompanhamento de temas de interesse juvenil, das reuniões e atividades da bancada do PT na Câmara dos Deputados.
Relações internacionais de impacto geracional
No plano internacional, as relações com a Federação Mundial das Juventudes Democráticas e com a IUSY (juventude da Internacional Socialista), embora importantes como canais de interação, seguem um rito protocolar de participação em seus festivais, com pouco encaminhamento prático. Sobre a segunda pode ser relevante uma alteração retórica no sentido de disputar, convencer e ajudar as novas gerações socialistas, trabalhistas e social-democratas européias a fazerem diferente da atual geração de seus dirigentes nas lutas do presente e nas transições geracionais democráticas e partidárias, com uma agenda refundadora do que o reformismo tinha de melhor.
Porém, como juventude do maior e principal partido de esquerda da América Latina, no governo, não pode passar em branco a iniciativa de aproximação política e ação mais ou menos coordenada em termos práticos com as juventudes das organizações que de fato estão à frente dos governos progressistas do continente: Juventude Justicialista, Juventude PSUV, buscar laços com os jovens do MPP de Pepe Mujica, do MAS boliviano, Juventude 19 de Julho (sandinista), da UJC cubana, etc. Neste caso também primando pelo encontro gradual de um pensamento geracional comum entre atores que na situação ou oposição, estarão no centro da transição político-geracional latino-americano.
Fora isso, na mesma seara é deveras importante abrir um diálogo qualificado e mais aprimorado com as juventudes dos partidos governistas do BRICS. Sim, com os jovens da Rússia Unida, Liga Comunista do PCCh, Congresso Nacional Africano...
Esses países constroem uma intervenção comum em diversos fóruns multilaterais e possuem alguns compromissos de cooperação entre sí e vários pontos de contato para agenda estratégica mundial. Do que a juventude pode se beneficiar e como incidir sobre isso? Qual diálogo geracional pretendemos travar com nossos pares que estarão à frente das próximas principais economias da Terra?
Representar a indignação de milhões. Se apresentar ao povo.
No plano da mobilização, sem dúvida, a Juventude do PT pode se transformar numa das vanguardas mais vistas e ativas da sociedade brasileira, basta se propor a sair de sua dinâmica internista e se colocar na condição de "servir ao povo". Ela precisa parecer útil e portadora de símbolos positivos do processo civilizatório do país.
Com a retomada provável da mobilização pela reforma política, a partir da proposta do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), de plebiscito sobre os sistema eleitoral em 2014, assim como a adesão do relator do assunto na Câmara, deputado Henrique Fontana, que deseja acelerar a consulta, a JPT deve resgatar a perspectiva de lançar a campanha por 1 milhão de assinaturas pela reforma política, promovendo debates e panfletagens em todo o Brasil, utilizando as ferramentas de envolvimento e divulgação das redes sociais, inclusive os instrumentos de petição eletrônica.
Em suma, a Juventude do PT tem que se propor a representar anseios, revoltas e frustrações de toda a sociedade, jovem ou não. Afinal, o Brasil está longe de ser um país plenamente realizado nos dilemas seculares de sua formação social e Darcy Ribeiro, por exemplo, foi ministro da educação aos 28 anos e chefe da Casa civil de Jango aos 31.
É mister se comunicar com os jovens e com a opinião pública democrática. Novas linguagens, novos canais e tudo o mais repetido há alguns anos. Uma nova política de comunicação é necessária. Como meta, creio que seria de bom tom planejar que algum tema da JPT, no próximo ano e meio, suba aos Trending Topics do Twitter. Um bom teste, sem inventar rodas.
Ainda nos movimentos da sociedade, pelo menos no movimento estudantil, é nodal seguir aumentando o peso numérico congressual e na base dos petistas, assim como na ocupação de funções centrais de direção, fortalecendo e valorizando a maioria do campo democrático e popular e aperfeiçoando a possibilidade de influenciar de maneira progressivamente superior nas decisões estratégicas de UNE, UBES e congêneres estaduais e municipais. São as maiores entidades juvenis do Brasil, com décadas de tradição em períodos e lutas variadas em restrições e possibilidades. Uma tradição que forma quadros, abre portas e movimenta a sociedade, muito mais fortes do que novas estruturas governamentais alvo de tanta aposta a ambição recente.
Uma organização de massas, com o pé na vida real da luta social
No aspecto organizativo, a trilha mais promissora é setorializar - com uma transição adequada e coordenada - a estrutura da Juventude do PT, criando condições para uma organização mais próxima do chão das lutas e condições sociais, legitimando articulações da Juventude Negra 13, Juventude Cutista, feminista, LGBT e ambientalista e assegurando-lhes assento com direito de voz na executiva para integrar frentes de atuação numa única estratégia e tática. Com isso, seria qualificada a intervenção dos jovens junto aos setoriais do PT, na elaboração setorial com recorte juvenil de programas de governo e na própria transição geracional em cada setor desse. A discussão em torno da setorialização começou antes do II Congresso e deve ser retomada. O ano de 2013 seria ideal para colocar em marcha esse processo, pois engrossaria a mobilização para o principal desafio interno a ser enfrentado: o novo modelo eleitoral e organizativo da Juventude do PT.
Não podemos deixar de aprovar o PED da Juventude, vinculado ao PED geral, e já eleger a nova direção no final de 2013. Primeiro porque é hora de consolidarmos uma organização em sintonia com a concepção de partido de massas, aberto à filiação de quem concorda com nosso projeto, exigindo dos jovens também capacidades de filiação, organização, mobilização, pressão e peso político na definição dos rumos partidários. Segundo porque teremos os novos dirigentes da Juventude daí em diante eleitos com dezenas e centenas de milhares de votos dos nossos jovens filiados, que sairão com muito respaldo inclusive para disputar vereanças e prefeituras, fortalecendo a renovação planejada dos quadros dirigentes internos e externos.
A última coisa que a liderança dos jovens petistas pode ser é conservadora, é apostar no mais do mesmo, ignorar os legados que acumularam melhores postos para o avanço, explorar a analogia que, enquanto funciona, descansa a inteligência.
Ousadia, competência e criatividade podem fazer mais história.
Leopoldo Vieira é da Direção Nacional de JPT
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