sábado, 7 de janeiro de 2012

Assim, a Miriam Leitão pede as contas

Diz o ditado que o pior inimigo do bom é o ótimo. Vocês sabem que, quando aparece uma notícia boa – e têm aparecido muitas – no plano econômico, ela vem acompamnhada de um “porém”. Hoje mesmo a Eliane Cantanhede, na Folha, desdenha do fato de termos nos tornado a sexta maior economia do mundo porque ” os “apaguinhos” são quase rotina, os portos estão cheios de gargalos, as estradas são péssimas, ferrovias praticamente inexistem” e o aeroportos – oh, que inferno, com estes pobres andando de avião – estão superlotados.

“Povoados sem asfalto, um atrás do outro, com crianças barrigudinhas e descalças correndo na poeira, entre mulheres de ar sofrido e pele encarquilhada e homens trôpegos pela cachaça e pelo cansaço de uma vida inteira de trabalho duro, debaixo de sol a pino e em regime de semiescravidão.

Não consta que haja gente e cenários assim no Reino Unido e na França, o próximo país a ser, bem antes do que se previa, ultrapassado pela economia emergente do Brasil.”

Trata-se de uma nova Gilberto Freyre, uma nova Emile Zola, que descobriu a miséria e as deficiências que não via quando a turma da roda-presa governava o Brasil. Agora, que tiveram o estalo de Vieira, perceberam “os homens trôpegos pela cachaça” e as “crianças barrigudinhas”, que a casa grande cheirosa não quer ter por perto.

Mas a realidade – que chicote implacável, a realidade – deixa essa gente ruminando no vazio o seu despeito. Até o “Bom Dia, Brasil”, onde todas as manhãs a Miriam Leitão agoura o que o fim do crescimento brasileiro está próximo, acaba publicando matérias como a que se reproduz acima…

E que horror, como diz o Paulo Henrique Amorim: está sobrando emprego! E no Nordeste! E em tecnologia! E um paulista migrando para o Ceará para trabalhar! Onde vamos parar?

Claro que a matéria lamenta a falta de gente qualificada para os empregos. Nemsequer uma palavra, é claro, sobre o fato de Dilma Rousseff ter sancionado, há dois meses, lei que destina R$ 24 bilhões, em três anos, para o ensino técnico. Muito menos  sobre empresários que são generosos com os Milleniuns e impostômetros da vida e não querem nem saber de montar cursos de especialização, conceder bolsas de aperfeiçoamento ou pensar em formar seus trabalhadores.

Ainda assim, vale a pena ver – e ler – o que até a Globo tem de noticiar.

APRESENTADOR CHICO PINHEIRO: Olha aí, emprego é o que não falta. Tem mais de 100 mil vagas abertas em todo o Brasil. Mas, cadê gente para preenchê-las?

REPÓRTER ALESSANDRO TORRES: Davidson recebeu propostas de emprego. Privilégio dos profissionais de tecnologia da informação. O trabalho deles está em tudo o que é desenvolvido na área da informática.

ANALISTA DE SISTEMAS/DAVIDSON RODRIGUES ALVES: A gente já consegue escolher algumas oportunidades que pagam melhor, ou tenham uma política melhor de benefícios.

REPÓRTER ALESSANDRO TORRES: Quanto mais a tecnologia faz parte da vida das pessoas e está presente em quase todas as atividades, mais o mercado precisa de profissionais para desenvolver o conteúdo deste aparato tecnológico. Mas, eles não estão surgindo na mesma velocidade das inovações e da demanda de mercado por elas. São mais de 100 mil vagas em todo o Brasil. A região que mais emprega é o Sudeste, seguido do Nordeste. Só aqui no ceará, são mil vagas a espera de candidatos. Esta empresa está constantemente à procura de profissionais.

DIRETOR DE TECNOLOGIA/ALEXANDRE MOTA: Nós criamos esse ano 138 vagas de trabalho e o mercado não tem a mão de obra qualificada nessa quantidade para preencher. A gente preenche e surge nova demanda, preenche, surge nova demanda.

REPÓRTER ALESSANDRO TORRES: Foi fácil para Alexandre ser contratado logo que chegou de São Paulo.

GERENTE DE PROJETO/ALEXANDRE PONCE: Não vim com nada certo, não vim com nenhuma proposta feita. Vim pra cá, lancei no mercado, em duas semanas já tava fazendo entrevista, e aí já tava praticamente contratado.

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