São Paulo – Economistas avaliam positivamente a medida
provisória anunciada na quinta-feira, 3, pelo governo para vincular o
rendimento da caderneta de poupança à taxa básica de juros da economia — a taxa
Selic, definida pelo Banco Central. Dirigentes das centrais sindicais também
elogiaram a decisão. A nova regra define que a remuneração da poupança seguirá
dois padrões. Caso a Selic seja maior que 8,5% ao ano, tudo permanece como
está, com os juros da poupança sendo calculados pela Taxa Referencial (TR) +
0,5% ao mês. Quando a Selic for igual ou menor a 8,5%, a remuneração da
poupança passa a ser calculada da seguinte forma: TR + 70% da Selic. “É uma
decisão acertada, se o governo pretende continuar empenhado na política de
redução de juros”, avalia Francisco Luiz Lopreato, professor do Instituto de
Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). Caso as regras da poupança
permanecessem inalteradas — diz Lopreato — a taxa Selic dificilmente poderia
seguir em queda. “Neste caso, os rendimentos oferecidos pela poupança seriam
mais atrativos que as demais aplicações disponíveis no mercado, que se guiam
todas elas pela Selic.”
A possível migração de
recursos para a poupança, segundo o professor da Unicamp, colocaria o governo
em apuros. Isso porque parte dos fundos de investimentos guiados pela Selic
trabalham com títulos do Tesouro Nacional. “Ou seja, o governo utiliza esse
dinheiro para financiar uma parte substantiva da dívida pública do Estado
brasileiro”, explica. Com a poupança oferecendo retorno maior, o governo
perderia recursos importantes para honrar seus compromissos. “Seria um
problema.” No Brasil, 65% dos recursos da poupança — atualmente, em torno de R$
430 bilhões — são utilizados para financiar o mercado imobiliário. Com juros
mais atrativos que os demais investimentos disponíveis no mercado, a poupança
poderia concentrar uma quantidade de recursos que, segundo o professor da
Unicamp, desequilibrariam a economia. “O dinheiro ficaria parado nas
cadernetas, porque não há demanda suficiente no setor habitacional para
absorvê-lo.”
Inevitável
Por isso, Evilásio Salvador, professor da Universidade de
Brasília (UnB), acredita que a medida era inevitável. “A poupança vinha se
mostrando uma limitação à redução da taxa básica de juros”, analisa. “Se o
governo não alterasse o regime de remuneração das cadernetas, já teríamos
chegado a um piso para os cortes na Selic. Isso seria péssimo para a economia
do país, porque os juros altos atraem capital especulativo e, na prática,
impedem maiores investimentos no setor produtivo.” O economista da UnB opina
que o governo escolheu um ótimo momento para enviar a MP ao Congresso, pois a
presidenta Dilma Rousseff tem capital político suficiente para sustentá-la.
Evilásio Salvador também indicou como “forçação de barra” qualquer comparação
entre a mudança no regime de remuneração da poupança, realizada hoje (3), e o
confisco realizado por Fernando Collor na década de 1990. “Não tem nada a ver.
Isso é coisa de quem deseja transformar uma solução econômica em problema
político”, criticou. “Collor congelou as poupanças. O que aconteceu agora foi
apenas uma mudança no cálculo dos juros — e apenas para novas cadernetas.”
O diretor-técnico do Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, também
elogiou a decisão anunciada pelo Ministério da Fazenda. “As diretrizes adotadas
pelo governo para o enfrentamento dos juros elevados — seja através da redução
do spread bancário, seja da Selic — é adequada e correta”, avaliou. “O Brasil
precisa ordenar a remuneração dos juros aos padrões internacionais. Nesse
sentido, precisava reorganizar a poupança.” No entanto, Clemente acredita que
os passos seguintes do governo devem ser dados no sentido de aumentar o
rendimento das aplicações de longo prazo — reduzindo as de curta duração. “É
importante que essa mudança atinja todas as aplicações financeiras”, asseverou.
“As alterações na poupança podem até causar alguma perda momentânea de
rentabilidade para algumas pessoas, mas o ganho social de uma política
econômica de juros baixo é muito maior”, ponderou o economista do Dieese.
“Assim asseguramos um crescimento mais duradouro, com juros menores para toda a
população, que poderá consumir mais.”
Fonte: Rede Brasil Atual
Nenhum comentário:
Postar um comentário