Por Erick da Silva
A revista Veja abandonar os mínimos procedimentos éticos no
seu “jornalismo”, infelizmente, não é uma novidade. O surgimento de gravações
mostrando as relações da Veja com o bixeiro Carlinhos Cachoeira deram
materialidade a um fato: a Veja ultrapassou a fronteira do jornalismo e
ingressou no terreno da contravenção.
O silêncio dos veículos de comunicação de maior tiragem e da
Rede Globo não foram o suficiente para abafar o estreito envolvimento da
revista com o bixeiro. Silêncio este só quebrado pela Carta Capital, Record e
pela força da internet. O silêncio mais notável foi o da própria revista Veja,
que ficou três semanas sem se pronunciar a respeito, como se nada fosse com
ela. Silêncio que foi quebrado nesta semana (edição de 16 de maio), onde adotou
a linha de defender-se atacando.
Apelando para a velha manobra tergiversatória da “liberdade
de imprensa” e recorrendo a requentada cortina de fumaça do mensalão,
apressa-se em adjetivar a todos que exigem o aprofundamento das investigações
como “defensores da censura”, mostrando que o pânico está batendo na porta da
editora Abril.
Este medo que ronda a redação de Roberto Civita (dono da
editora Abril) ficou explicito na matéria onde disfere ataques contra a
internet. A grande mobilização na rede nas últimas semanas colocou a Veja na
berlinda. Ao silenciar sobre as denúncias que pesam em seus ombros, motivaram a
participação ativa de milhares de internautas.
Sem explicar-se, a revista partiu para uma tentativa de
deslegitimar a mobilização, tentando taxá-la como uma “conspiração
manipulatória do comunismo-petista”. Esbanjando desonestidade intelectual, a Veja valeu-se de uma exótica combinação de
argumentos que vão da defesa do capitalismo e do anticomunismo, a distorções e
informações fragmentadas e desconexas (robôs, aranhas, Richard Dawkins, etc.)
A terrível ameça dos
robôs!
A revista buscou, por um lado deslegitimar a critica,
colocando-se acima do bem e do mal, e por outro
tentou delirantemente dizer que os milhares de internautas que tuitaram
mensagens exigindo investigação das denúncias de práticas criminosas da Veja
não existem! Seriam todos robôs ou insetos, que disparariam mensagens
automáticas contra a revista no Twitter. Segundo eles, a hashtag #VejaBandida,
só conseguiu ser um dos assuntos mais comentados no Brasil - e do mundo durante
algumas horas - por força de uma “fraude petista”. Tentando “provar” sua tese a
revista cometeu um dos maiores papelões de sua história. Afirmou que uma tuiteira
carioca (de carne e osso), que usa o perfil @lucy_in_sky_, seria uma “robô”.
Absolutamente tudo o que diz a matéria da Veja sobre “táticas
para fraudar redes sociais” é que é uma imensa fraude. Eles não entende como de
fato funcionam as mobilizações na rede, ou talvez, o que é mais provável, de
forma alarmada e atrapalhada, apela para argumentos distorcidos e tacanhos.
Veja quer censurar a
Internet
A Veja critica os chamados tuitaços, que são mobilizações que
envolvem milhares de internautas para pautas e campanhas específicas. Condenar
e deslegitimar o direito a livre manifestação coletiva na rede é que é uma
tentativa de censura.
Tuitaços, compartilhamento de conteúdos no Facebook, em
blogs, etc. são manifestações legitimas e necessárias. Expressam novas formas
de exercício da cidadania. A rede hoje é um instrumento efetivo de troca de
informação, direito este a informação tantas vezes negado pela Veja/Editora
Abril.
No mundo árabe, a utilização destas ferramentas foi de grande
importância para impulsionar as mobilizações contra regimes ditatoriais. Será
que este exemplo está amedrontando a Veja? Será o fato de perceber que o pouco
que ainda lhe restava de credibilidade está sendo sepultado pela força da
mobilização no território livre da internet? Estaríamos vendo uma espécie de
“primavera” da democratização da comunicação? Sem dúvida isto é algo tão temido
pela Veja, como a democracia para um ditador. Quando movimentos desta magnitude
se consolidam, ninguém poderá freá-lo, nem o poder econômico ou tentativas de
coerção. É isto que apavora Roberto Civita.
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