Por: Redação da Rede Brasil Atual
Videla admitiu
recentemente a morte de 8 mil na luta contra a "subversão", mas é
estimado em 30 mil o número de vítimas (Foto: Gabby DC. Flickr)
São Paulo – Documentos
secretos mostram que a cúpula da Igreja Católica argentina sabia desde 1978 que
os desaparecidos da ditadura argentina (1976-83) haviam sido assassinados.
Diálogos revelados pela edição de hoje (6) do jornal argentino Página12, de Buenos
Aires, revelam que o então ditador Jorge Videla confessou a três cardeais que
havia crimes em massa cometidos pelo regime – ainda que ele desse aos fatos
outro nome.
As conexões dos líderes
religiosos com a repressão não são novas, mas o diálogo guardado em um arquivo
da Conferência Episcopal, no centro da capital, revela um alto nível de
cumplicidade e que já então os ditadores admitiam a morte dos sequestrados,
questão que foi reconhecida oficialmente por Videla há poucas semanas.
Em 10 de abril de 1978,
Videla teve um almoço com a Comissão Executiva da Igreja Católica argentina,
então formada por Raúl Primatesta, Vicente Zazpe e Juan Aramburu. Para o
ditador, mesmo os sacerdotes desaparecidos não eram presos políticos, mas
“delinquentes subversivos e econômicos”, centro da argumentação que justificou
o assassinato de 30 mil pessoas durante os sete anos de regime. Ao escutar que
as prisões eram ações tomadas para combater o terrorismo, Primatesta chega a
lamentar que Videla não possa adotar todas as medidas que julgue necessárias
para dar cabo do que considera problemas.
Em certo momento, os
cardeais chegaram a expressar preocupação por eventuais excessos. O presidente
deixou claro que não podia ter certeza sobre quem estava sequestrado e quem
estava morto. “Uma série de perguntas que a autoridade do governo não pode
responder sinceramente pela consequência sobre as pessoas”, observa o
documento, antecipando em 34 anos a versão apresentada por Videla de que cada
repressor tinha noção apenas das mortes ocorridas em sua jurisdição, sem uma
visão de todo sobre o tamanho da repressão. No último mês, em uma entrevista, o
ditador admitiu a morte de ao menos 8 mil pessoas.
Primatesta observou que
o método de desaparição de pessoas poderia, em algum momento, colocar em risco
a implementação das mudanças necessárias pelo governo, já que provocava aflição entre os argentinos.
Os chefes da Igreja Católica chegam a perguntar a Videla qual versão sobre as
mortes deveriam apresentar aos fiéis.
Aramburu assinala em
seu registro que quando Videla reiterou que “não encontrava solução, uma
resposta satisfatória, eu lhe sugeri, pelo menos, que dissessem que não estavam
em condições de informar, que dissessem que estavam desaparecidos”. Primatesta
acrescentou que a Igreja Católica, “consciente do estado caótico do país”,
tinha a intenção de continuar colaborando para a ditadura.
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