Delúbio Soares (*)
O Brasil, depois de mais de 500 anos de vida, enfim pode assumir a paternidade de seus filhos. E o fez de uma forma exemplar, decidida e generosa, não se furtando a estender a mão a milhões deles que viviam no limiar da miséria, por sobre a tênue divisa que separa a pobreza da fome. Nosso país, com atraso de séculos, mas ainda a tempo, está cumprindo seus compromissos inadiáveis com os filhos desta pátria amada.
Durante os anos 90, a chamada “década perdida”, quando a moda era entregar o patrimônio público a preço de banana, exorcizar a “herança de Getúlio Vargas”, combater o “Estado paternalista”, tachar de “anacrônico” e de “arcaico” tudo o que não rezasse pela cartilha do neoliberalismo mais frio e ortodoxo, nosso país virou as costas para seus filhos. Não se comportou como pai, sequer como padrasto: foi implacável inimigo dos direitos trabalhistas, das conquistas sociais, dos avanços institucionais e políticos da grande massa trabalhadora. Tristes tempos, cuja lembrança é dolorosa, mas necessária.
A expressiva maioria dos brasileiros sentiu o gosto amargo do abandono e do desamparo. O desemprego, as dificuldades de sobrevivência, a inflação galopante, o achatamento salarial, as humilhações de um país onde o presidente desqualificava os aposentados chamando-os de “vagabundos”, um desprestígio internacional jamais visto e a auto-estima abaixo de zero eram os ingredientes que se caldeavam para deprimir os brasileiros e não permitir que eles amassem, mais ainda, um país que deveria cuidar de cada filho seu, protegê-los, dar-lhes garantias e resguardar-lhes direitos. Não era assim.
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