por Ricardo Kotscho
O PSDB sempre foi um partido paulista e paulistano. Desde que foi criado como uma dissidência da ala anti-Quércia do PMDB, nos anos 1980, sairam de São Paulo todos os seus candidatos à presidência da República: Mario Covas, em 1989; FHC, em 1994 e 1998; José Serra, em 2002 e 2010, e Geraldo Alckmin, em 2006.
Agora, a menos de um ano das eleições municipais de 2012, o PSDB não consegue encontrar um candidato viável a prefeito em seu berço paulistano.
Alijados do poder federal desde 2002, divididos internamente, sem novas lideranças e sem um discurso capaz de emocionar a maioria do eleitorado, os tucanos vivem um tempo de agonia, sem qualquer perspectiva de sair do buraco tão cedo.
Já apareceram os nomes de vários possíveis candidatos, nenhum deles com densidade eleitoral para chegar ao segundo turno, discute-se se o partido fará prévias e quando isso deve acontecer, mas o fato é que no momento o PSDB está vendo ameaçada a sua hegemonia de duas décadas em terras paulistas.
Pouco importa se o candidato do PT, seu eterno principal adversário, será Fernando Haddad, como quer Lula, ou mais uma vez Marta Suplicy, como quer Marta Suplicy. O problema é que o PSDB não tem um nome forte para enfrentá-los e, o que é pior, não tem a menor ideia do que dizer ao eleitorado.
Mais uma vez, quem percebeu a gravidade da situação foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que falou o óbvio no colóquio promovido no último final de semana, em São Paulo, no lançamento do portal "Sua Metrópole".
"Ou chegamos mais perto ou o fosso entre o homem público e a sociedade aumentará", advertiu FHC, em sua fala de 38 minutos, em que propôs "maior proximidade com paulistanos da periferia", no período de definição de seu candidato a prefeito.
A distância entre a teoria e a prática, no entanto, pode ser medida pela própria escolha do local do evento: o auditório da FAAP, centro universitário chique do nobre bairro de Higienópolis, onde moram FHC e outros cardeais tucanos. Periferia? A maioria dos presentes certamente não tinha a menor ideia de onde fica e como chegar lá.
Um sintoma desta dificuldade tucana foi a forma como o maior jornal paulista, a "Folha de S. Paulo", noticiou o evento da FAAP em sua edição de sábado: na coluna social.
Em duas notas, a colunista Monica Bergamo anunciou o discurso de FHC sobre "metrópole sustentável" e informou que o partido quer trazer Rudolfph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, para participar de um próximo encontro. Giuliani, como todos sabem, certamente causará o maior furor em Sapopemba.
Certa vez, quando era prefeito de São Paulo, Mario Covas reuniu seus secretários num ônibus para apresentá-los à tal da periferia e aos problemas de quem vive longe do centro paulistano.
Ao perceber durante a viagem que o ônibus estava sendo seguido por um comboio de carros pretos dos senhores secretários, com seus respectivos motoristas, Covas perdeu a paciência e deu uma ordem para todos voltarem.
"Vocês vieram de ônibus comigo e voltarão de ônibus comigo. Podem mandar os carros embora".
O evento da FAAP marcava o primeiro encontro dos pré-candidatos do PSDB (Bruno Covas, neto do próprio, Andrea Matarazzo, José Anibal e Ricardo Tripoli) para falar sobre a campanha municipal, mas o governador Geraldo Alckmin e o ex-governador José Serra não deram as caras, mostrando o grau de união no partido e o interresse dos tucanos pelos destinos da maior cidade do país.
José Serra, que tem aparecido mais nas colunas sociais do que no noticiário político, se auto-descartou da corrida municipal porque quer se preservar para a sucessão de Dilma, em 2014, mesmo tendo sido derrotado internamente nas disputas municipal, estadual e nacional do comando partidário.
Serra está absolutamente isolado e já se fala até numa possível mudança de partido _ para o recém-nascido PSD, do seu aliado Gilberto Kassab, ou o PPS, do sempre fiel Roberto Freire.
Fora ele, Alckmin e FHC, que há tempos decidiu não ser mais candidato a nada, quem sobrou de liderança tucana importante em São Paulo?
A maior humilhação para os tucanos históricos será a aliança do PSDB com o PSD que está sendo costurada por seguidores de Alckmin e Kassab para enfrentar o candidato do PT. É a única chance do partido disputar as eleições com chances de vitória.
A grande questão é que, se tudo der certo na costura da aliança, a rendição tucana estará consumada. O PSD quer a cabeça de chapa para o vice-governador Guilherme Afif (ou o recém-chegado Henrique Meirelles) e o PSDB entraria com o vice, que pode ser qualquer um dos seus pré-candidatos.
Para aliviar um pouco o clima de baixo astral, a boa notícia para o terreiro tucano neste final de semana foi o anúncio de que o "emendoduto" denunciado pelo deputado Roque Barbieri, que envolveria o governo estadual e um terço dos deputados para desviar verbas do orçamento, deverá ser definitivamente enterrado pelo Conselho de Ética da Assembléia nos próximo dias.
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