Cássia Ferreira Andrade
CAXAMBU - A tão falada “nova classe média”, que ascendeu socialmente durante os dois mandatos de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de fato recompensou o PT nas eleições do ano passado pelas políticas públicas feitas em seu benefício.
Um estudo realizado pelos cientistas políticos Vitor Peixoto, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), e Lucio Rennó, da Universidade de Brasília (UnB), mostra como o voto na então candidata Dilma Rousseff teve a ver com o reconhecimento de um ganho de bem-estar.
O trabalho teve como base o Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), pesquisa coordenada pela professora Rachel Meneguello, da Universidade de Campinas, que sondou as razões de voto de dois mil eleitores, logo após a disputa presidencial, como já havia sido feito em 2002 e 2006.
Dos entrevistados, 53,6% disseram ter percebido que ascenderam socialmente, em relação à vida que tinham oito anos antes; 33,6% não perceberam mudança e 7,3% acreditam que descenderam. Aqueles que afirmaram ter mudado de classe tiveram 78% de chance a mais de votar em Dilma do que os que não perceberam mudança. Nos outros dois grupos, a chance não se alterou.
"Para efeito da decisão do voto, ser imóvel ou cair é a mesma coisa e não muda o comportamento do eleitor. Mas crescer faz diferença", disse Vitor Peixoto, durante o encontro anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), em Caxambu (MG).
No trabalho, intitulado “Mobilidade Social Ascendente e Voto: As Eleições Presidenciais de 2010 no Brasil”, os pesquisadores descobriram outros dados interessantes. As pessoas que avaliaram o governo Lula como "muito bom" tiveram 1.170% a mais de chance de ter votado em Dilma do que em qualquer outro candidato. Para os que o consideraram "bom" o crescimento das chances foi de 380%, um pouco acima dos 360% dos que disseram gostar do PT.
"O que moveu mais o voto não foi o lulismo, mas a avaliação de governo", afirma Peixoto. Ser evangélico reduziu em torno de 50% as chances de se votar em Dilma. Ser católico não alterou a probabilidade. Outro ponto interessante: ser intolerante em relação à corrupção não mudou em nada o voto em Dilma.
O artigo será publicado em livro que reunirá o trabalho de outros sete pesquisadores que também foram escolhidos para produzir estudos a partir da base do Eseb.
Por: Cristian Klein, no Valor Econômico.
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