domingo, 14 de agosto de 2011

Rebeldes, mas não “ladrões”

Por Gianni Carta, na CartaCapital

A onda de violência na Grã-Bretanha foi provocada por um bando de “ladrões”´ e “doentes”. Numerosos pertencem a gangues de jovens encapuzados, os hoodies. Palavras do primeiro-ministro britânico, David Cameron, em sessão extraordinária no Parlamento, nesta quinta-feira 11. Em miúdos, os ladrões, ou doentes, ou quem sabe ladrões doentes encapuzados, não têm uma agenda. Só querem saquear.

Foram raros os articulistas britânicos a questionar o discurso simplista do primeiro-ministro conservador. Para minha surpresa, até colunistas de diários de esquerda, como o The Independent, concordaram com Cameron. Esses escribas não levaram em conta como a maior recessão desde os anos 1930 e o programa de austeridade implementado pelo governo suscitaram a erosão da qualidade de vida das classes médias e pobres. Também ignoraram o fato de os integrantes de minorias serem os mais afetados pela crise e pelo programa de austeridade. Colunistas da imprensa brasileira adotaram, acríticos, a fórmula de Cameron: os rebeldes são ladrões.

Cameron, vale exprimir, está atravessando a crise mais grave desde que assumiu o cargo, 15 meses atrás. Teve de encurtar suas férias na Toscana, e, ao chegar a Londres, vestiu a camisa do premier linha-dura. Em grande parte, adotou essa postura devido à sua imagem negativa nas pesquisas. Em uma delas, a maioria das 2.534 pessoas interrogadas (57%) revelou-se insatisfeita com a lenta reação do primeiro-ministro. Na mesma enquete, a maioria dos britânicos (42%) estimou que as manifestações estão ligadas a comportamentos criminosos. E apenas 8% dos interrogados acham que a onda de violência é consequência do programa de austeridade. Criticado por ter tido de cortar 16.200 policiais por conta do programa de austeridade, Cameron cogita usar o exército se houver novos protestos.

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