O capitalismo bestial ataca nas ruas
David Harvey é Professor Emérito do Graduate Center da City University of New York. Pode ser encontrado através de sua página em http://davidharvey.org/.
Tradução do coletivo da Vila Vudu
“Adolescentes niilistas e bestiais”. Foi como o Daily Mail apresentou-os: os jovens enlouquecidos, vindos de todas as vias da vida, que correram pelas ruas sem pensar, desesperadamente atirando tijolos, pedras e garrafas contra os policiais, saqueando aqui, incendiando ali, levando as autoridades a uma também enlouquecida caçada de salve-se quem puder/agarre o que conseguir, enquanto os jovens iam alterando seus alvos estratégicos, saltando de um para outro.
A palavra “bestial” saltou-me à vista. Lembrou-me que os communards em Paris em 1871 foram mostrados como animais selvagens, como hienas, que mereciam ser (como foram, em vários casos) sumariamente executados, em nome da santidade da propriedade privada, da moralidade, da religião e da família. Mas em seguida a palavra trouxe-me outra associação: Tony Blair atacando a “mídia bestial”, depois de ter vivido por tanto tempo confortavelmente alojado no bolso esquerdo de Rupert Murdoch, até que Murdoch meteu a mão no bolso direito e de lá tirou David Cameron.
Evidentemente haverá o debate histérico de sempre entre os sempre prontos a ver a agitação das ruas como questão de pura, simples e imperdoável criminalidade, e os ansiosos por contextualizar eventos em termos de polícia incompetente; de eterno racismo e injustificada perseguição aos jovens e às minorias; de desemprego em massa entre os jovens; de pauperização incontrolável da sociedade; de uma política autista de austeridade que nada tem a ver com a economia e tudo tem a ver com a perpetuação e a consolidação da riqueza e do poder individuais. Haverá até quem condene o sem sentido e a alienação de tantos trabalhos e empregos e tal desperdício da vida de todos os dias, de tão imenso, mas desigualmente distribuído, potencial para o florescimento humano.
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