Moradores de Pinheiros querem barrar albergue no bairro
Comerciantes e moradores não queriam abrigo em área residencial; caso foi parar na Delegacia de Intolerância Racial
Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli, em O Estado de S. Paulo, via Blog do Nassif
Em um pedido com 1,2 mil assinaturas levado ao Ministério Público Estadual (MPE) no dia 29, moradores de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, tentavam impedir que um albergue para moradores de rua no bairro fosse transferido para uma área residencial mais nobre da Rua Cardeal Arcoverde. Mas o efeito foi inverso. Ontem, o promotor Maurício Antonio Ribeiro Lopes comparou a iniciativa às tomadas na Alemanha nazista.
Lopes indeferiu o pedido e enviou os nomes de seis síndicos que assinaram a petição para a Delegacia de Polícia Especializada em Crimes Raciais de Delitos de Intolerância (Decradi). Todos serão alvo de inquérito por intolerância social, prevista na Constituição (art. 5.º, inciso 41).
“É de provocar inveja a qualquer higienista social do Terceiro Reich a demonstração de tal insensibilidade. A ideia – ou que ocupa o que deveria ser o seu lugar – associando pobreza e criminalidade e violência não tem guarida teórica e ética”, escreveu. “Esse pedido é muito revoltante”, disse ele ontem ao Estado.
O abaixo-assinado foi organizado por comerciantes e moradores de Pinheiros e se posiciona contra a mudança de um albergue da Prefeitura que hoje funciona no número 1.968 da Rua Cardeal Arcoverde, mas está prestes a ser transferido ao 3.041 da mesma rua – um trecho mais nobre e residencial, entre as Ruas Simão Álvares e Deputado Lacerda Franco. O local oferece melhores condições para o funcionamento do centro e tem mais quartos, segundo o governo municipal.
Mas, segundo o que os vizinhos do novo endereço relataram ao MPE no pedido de intervenção contra o albergue, “o comércio possivelmente não vai sobreviver, uma vez que a população local será acuada em suas residências e os visitantes de outros bairros vão nos trocar por centros comerciais mais tranquilos”. Eles também reclamam de constantes ataques de cachorros de moradores de rua contra “crianças e idosos”. Até um boletim de ocorrência de 2006 com um desses supostos ataques foi anexado no abaixo-assinado.
Indignação. Quase todos os moradores dos Edifícios Rainha Vitória e Magister, ao lado do futuro albergue, assinaram o abaixo-assinado. Entre os signatários há de diretor de multinacional a estudante de Direito.
Ana Arlene Carvalho, relações públicas e síndica do Rainha Vitória, defendeu o documento: “Esse povo já dorme embaixo do meu prédio faz anos, essa turma toda só faz bagunça. O que eles vão fazer durante o dia, ficar perambulando pelo bairro?” Ela reagiu com indignação à comparação do abaixo-assinado com as iniciativas tomadas pela Alemanha nazista. “Manda o albergue para a frente da casa do promotor, quero ver o que ele acha.”
Para a comerciante Joacy Sant’anna, de 57 anos, um albergue poderia ser montado em Pinheiros em galpões da Rua Sumidouro. “Está cheio de galpão vazio lá.”
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