A TV brasileira, tirando as TVs Públicas, como a TV Brasil, NBR, tem como lógica o princípio do mesmo. Todas têm, em termos de qualidade, a obscenidade audiovisual. Ou seja, como diz o filósofo Baudrillard, o êxtase da inutilidade. O vazio onde nenhuma referência de troca racional existe. Tudo reverbera em eco o mesmo. A nulidade. Assim, não há vida inteligente nesses canais de comunicação de massa. Claro que não podia haver: trata-se de massa unidade-inerte. E não massa como potência política capaz de eliminar esses agentes teratogênicos, com seus monstros-acéfalos.
Todavia, entre essas mídias teratogênicas, existe uma que consegue elevar o mesmo ao grau de maior nulidade racional. A campeã de audiência de sua própria nulidade tele-antropofágica: a TV Globo. Contribui para essa anomalia comunicacional o fato de já haver nascido um aborto democrático, visto ser oriunda do padrão mais alienante do planeta em termos de indústria de consumo de massa: o padrão norte-americano de comunicação. Sem deixar de acrescentar a essa violência epistemológica/sensorial sua relação natalícia direta com a ditadura militar, que a tornou sua porta-voz por excelência.
Com esse passado teratogênico, não poderia se esperar que hoje a TV Globo pudesse ter atingido pelo menos o segundo grau de conhecimento. Aquele que sabe que efeitos não são causas. O que a levaria a discernir os modelos importados de entretenimentos patogênicos produzidos pela sociedade alienada de consumo como efeitos dos fetiches capitalistas. O que a faria ter uma grade de programação próxima a outros significados menos imobilizadores.
E como a TV Globo é o que é, e por isso tem tudo a ver, com a baixa potência de agir de seus programas, tristes afetos, ela, compulsivamente, vai criando seus monstros tele-antropofágicos. E, como ela não é proprietária dos direitos democráticos da sociedade, é justo que todas as pessoas, entidades, sindicatos e organizações sociais, toda vez que entendam que sua tirania midiática está violentando a inteligência, os sentidos e a ética social, se manifestem contra esse monopólio deletério à condição humana brasileira.
Foi assim que agiu o Sindicato dos Metroviários de São Paulo diante do acinte feito pelo programa sórdido-mudo Zorra Total, contra as mulheres, no quadro em que transforma as mulheres em objeto insignificante – quem é insignificante vê o mundo insignificante – do vazio sexual da TV Globo no metrô de São Paulo. A misoginia debochada da TV Globo. O que, para o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, incentiva o assédio sexual.
“O que é piada no programa acontece todos os dias com milhares de mulheres no nosso país”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metroviários.
Por sua vez, diante da misoginia da TV Globo, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, parabenizou a posição tomada pelo sindicato.
“Parabenizamos a iniciativa e endossamos a necessidade de ações como esta que visam desconstruir discursos de uma cultura que, até camuflada no humor, perpetua a violência simbólica contra as mulheres”, disse em nota a ministra.
Como era de se esperar, a TV Globo saiu em defesa de seus misóginos televisivos, afirmando que o quadro busca entreter e não incitar comportamentos, muito menos à violência contra a mulher, e que se orgulha de ter sempre defendido os direitos femininos.
Como a TV Globo pode defender direitos das mulheres se, para ela, tudo é mercadoria, lucro, e a mulher não é mercadoria? Além de que, as mulheres, assim como todos os sujeitos históricos, são suas próprias vozes. Não precisam ser defendidas por quem tem do direito o significado alienado. Ela entende tanto de direito que não entende que o que ela chama de entretenimento não passa de conteúdo semiótico tele-tanático. O mesmo significado de humor e sucesso que tem o alcunhado comediante Rodrigo Sant’Ana, que se traveste de transexual.
E o que é patético, tanto quanto o quadro e a defesa da TV Globo, é tacharem a posição do sindicato e do Ministério de censura, quando se sabe que, em relação à liberdade e a inteligência, existem dois tipos de censura. Um que é político-tirânico, quando o poder ditatorial proíbe as pessoas de se expressarem livremente. E outro quando as pessoas, que se imaginam públicas, limitadas em suas inteligências e sentidos se autocensuram – porque são estúpidas –, reagindo contra os princípios democráticos, acreditando estarem exercendo seus direitos. Este segundo tipo é o caso da TV Globo e sua trupe. Todos são autocensurados por si mesmos.
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