sábado, 1 de outubro de 2011

ARTISTAS QUE ATUAM NO FILME “HOJE”, de TATA AMARAL, NÃO QUEREM QUE OS CRIMES DA DITADURA SEJAM ESQUECIDOS

Artistas que atuam no filme “Hoje”, de Tata Amaral, exibido ontem, dia 29, no 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, declararam que os crimes ocorridos durante a ditadura militar “não dá para esquecer”.

As declarações dos artistas mostram o quanto eles estão preocupados com as discussões que ora ocorrem no Congresso Nacional sobre a criação da Comissão da Verdade, que vai apurar os crimes ocorridos durante o período da ditadura no Brasil, fato que alguns parlamentares não pretendem levar à frente o tema.

Contrário do que pretendem os que são contra a criação da Comissão da Verdade, o filme de Tata Amaral, que começará a ser exibido no ano que vem no circuito comercial, conta histórias de personagens que durante a ditadura foram presos, torturados, mortos e desaparecidos. Chamando atenção para que a sociedade brasileira debata esse período atroz vivido pela história do Brasil para que nunca mais essa barbárie se repita.

Vivendo uma ex-militante política que foi presa, torturada e teve o marido desaparecido, a atriz Denise Fraga defendeu a necessidade de não esquecer as atrocidades da ditadura.

“Não dá para simplesmente fechar o baú. Além disso, é necessário ter acesso à história. Não dá para trancar a história, ter um parente desaparecido e não ter direito de saber o que aconteceu com ele.

Talvez seja a mais complexa personagem que eu tenha feito. É um filme cheio de camadas de sentimentos. Vera é uma ex-militante política, que passou por tortura, teve o marido desaparecido e está tentando se refazer. O filme ajuda a gente a ver, rever e pensar sobre as pessoas que passaram por esse período”, analisou Fraga.

Para o ator uruguaio Cesar Troncoso, lembrando que em seu país a sociedade vem sofrendo da mesma angústia, porque não tem acesso às informações sobre o período de ditadura uruguaia, o filme não estimula apenas lembrar o passado, mas oferecer oportunidades de “construir um futuro” sem erros.

“Quando há uma coisa terrível em sua vida, não dá para esquecê-la. Lembrar não significa olhar para trás e sim olhar adiante. Eu tenho uma filha de 13 anos. Quando ela tiver 20 anos, as pessoas podem querer repetir o que já foi feito e ela precisará saber o que não se pode aceitar.

Para mim, a importância das coisas está no olhar, está no silêncio. O silêncio tem a possibilidade de ser uma coisa muito pesada. Um filme como Hoje, que tem tanta sensibilidade, tem muitas coisas que não são ditas, mas estão ali. Não sei se isso vai ser dito no filme, espero que sim. É um filme de olhares”, examinou Troncoso.

Comungando com as posições dos artistas, assim como também as posições de grande parte da sociedade brasileira, o Comitê Paulista Pela Memória, Verdade e Justiça estará promovendo hoje, dia 30, às 16:30h, no vão livre do MASP, na Avenida Paulista, uma manifestação para pressionar o Senado a apresentar modificações no projeto que cria a Comissão da Verdade.

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