TRAGÉDIA, AUTORIA E REDUCIONISMO POLITIQUEIRO DE REPETIÇÃO
por Walter Falceta Jr, no Facebook, sugestão de Maria Luiza
Tonelli
No Rio, um ônibus caiu do viaduto. Sete cidadãos morreram e
outros tantos acabaram feridos gravemente. Nas redes sociais e nas áreas de
comentários do jornais, reduzida consternação. O oportunismo, a calhordice e a
ignorância mais uma vez folgaram no reducionismo de repetição.
Seguem alguns comentários ilustrativos da comoção de propaganda,
devidamente printados.
No UOL, Alonso123, escreveu: “Parabéns ao governo aliado do
PT por mais esta tragédia. Créditos para Lula e Dilma”.
Dasher23 completou: “(…) enquanto isto, o país continua sendo
sangrado, como sempre foi, desde o descobrimento. Ainda não se transformou num
deserto árido devido a sua pujança, mas se depender dos Ptralhas, que
atualmente se revezam no comando das capitanias, isto logo irá ocorrer”.
Advogadoctba faz sua prece macabra: “(…) Torço para que caia
o avião do Cabral, que aliás ano passado quase morreu com o dono da Delta. Pena
que não afundou e virou comida de peixe”.
Benevenutti completou: “É isso aí seu governador e prefeito
do Rio, aí embaixo dessa lona preta devem estar os corpos das pessoas que os
senhores assassinaram”.
No G1, Alfredo Neves
manifestou seu ódio pelo povo do Rio: “(…) Dois cariocas animais em um mesmo
ambiente, só pode terminar em tragédia. Cariocas, em geral, são autênticos
animais mal educados. (…) A Coreia do Norte podia errar os EUA e acertar o Rio
de Janeiro. O mundo ficaria bem melhor”.
Maurício Pereira parece satisfeito com a suposta
desmoralização das autoridades: “Agora caiu a máscara do Estado. A
incompetência, a máfia, o descaso com o sistema de transporte e todos os demais
sistemas de apoio à população carioca virão à tona”.
Em redes sociais, repetiu-se a argumentação de maledicência:
“Mais uma vez o
descaso das autoridades do Brasil sil sil leva a uma tragédia em que pais de
família perdem a vida. Foi o mesmo que aconteceu na boate Kiss, e as pessoas
continuam votando nesse petê”.
“Sete pessoas boas
perderam a vida, enquanto Genoíno e a corja comunista continua viva, eles que
produzem todo esse mal para a sociedade. Mundão injusto”.
Essa tem sido a tônica de comentários públicos sobre acidentes
ou ocorrências trágicas no Brasil. Trata-se de um reducionismo dirigido à
propaganda e à disseminação seletiva do ódio.
Qualquer episódio negativo (pode ser o incêndio na boate, a
enchente em São Paulo ou a queda do ônibus no Rio) serve para que o indignado
neoconservador detrate e criminalize o governo federal e qualquer personalidade
ou entidade vinculada às lutas populares.
Assustador é saber que parte desses comentários não brota do
teclado dos trolls bem pagos pelos bicudos partidos conservadores e
neoliberais.
São produzidos por pessoas comuns, idiotas úteis
influenciados pela propaganda massiva de intolerância gerida pela mídia
hegemônica.
Para o espalhafatoso Arnaldo Jabor, inspirador de certa malta
de revoltosos, tudo precisa ser seletivamente estrutural.
Nada de ruim ocorre no mundo sem que haja a intervenção
“maligna” de Lula, do PT, do finado Hugo Chávez ou daquilo que ele chama de
“esquerdas ultrapassadas e perniciosas”.
Esse oportunismo condenatório criminoso, que alia calúnia e
difamação, está presente também no piadismo azedo de Marcelo Madureira, nas
pândegas neofascistas do CQC e nos horrores chargísticos de Caruso, este que
recentemente retratou Dilma como uma prostituta do velho oeste.
Para que se restitua alguma verdade, a triste ocorrência do
Rio nada tem a ver diretamente com falhas em programas governamentais ou com a
campanha de Maduro para a presidência da Venezuela.
Na sociedade da
violência, divinizada pela mídia de direita, houve uma discussão entre o
motorista do coletivo e um passageiro que se achava membro justiceiro de alguma
tropa de elite.
Depois que o ônibus passou direto por uma parada, Rodrigo
Santos Freire, de 25 anos, estudante de Engenharia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), decidiu aplicar ao responsável a punição que decidiu
cabível.
O brigão reincidente desferiu um poderoso chute na cabeça do
condutor que, na sequência, perdeu o controle do veículo.
Na dimensão da realidade, o episódio conclui-se com dor e
morte. Na dimensão cibernética, inicia-se mais um feliz banquete para as aves
necrófagas.
Walter Falceta Jr. é Jornalista
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