É muito grave a denúncia do ex-deputado Ricardo Zarattini de
que Richard Melton participou de interrogatório em uma dependência do
Departamento de Ordem Política e Social, o famigerado Dops, no ano de 1969. O
diplomata estadunidense veio a ser designado em 1989 embaixador no Brasil e
ficou no cargo até 1993.
A Comissão Nacional da Verdade está encarregada de investigar
a fundo a denúncia, de antemão minimizada pela diplomacia estadunidense, fato
comum de acontecer toda vez que as autoridades de Washington são acusadas de
dar respaldo a governos que praticam terrorismo institucional.
O mesmo tipo de acusação colocou a Federação das Indústrias
de São Paulo (FIESP) sob suspeita. Na época da ditadura já se denunciava a
participação norte-americana e de empresários financiadores da repressão em
interrogatórios.
O professor Luis
Alberto Moniz Bandeira, preso nas dependências do Cenimar (Centro de Informação
da Marinha) nos anos 60 garante que quando estava lá pôde constatar a presença
de pessoas, possivelmente militares, que falavam com sotaque identificando o
país de origem, ou seja, os Estados Unidos. Moniz Bandeira posteriormente
confirmou através de outros oficiais da Marinha a presença dos agentes
norte-americanos. Pode ajudar a Comissão da Verdade a investigar tais fatos.
Nos dias de hoje com a divulgação de informações dando conta
da ação de empresários e diplomtatas estadunidenses em locais onde prisioneiros
políticos eram torturados, procura-se analisar essa participação como atos
isolados de indvíduos. A Fiesp recentemente avaliou, sem confirmar ou desmentir
a participação de seus associados, que a entidade não compactuava com o esquema
da repressão e que se houve alguma participação não era oficial.
Trata-se de uma balela, pois é pública e notória hoje a
informação segundo a qual grupos de empresários vinculados à Fiesp financiaram
a repressão como, por exemplo, a Operação Bandeirantes e assim sucessivamente.
Para passar o Brasil a limpo é necessário conhecer com
detalhes o que se passou por aqui a partir de 1964. Ainda faltam muitas
informações que circulam desde a época da ditadura.
Nesse contexto, é
preciso investigar a fundo o lobie de extrema direita que resultou no
assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Na Assembbliea Legislativa de São
Paulo agia o então deputado Jose Maria Marin, que em um de seus discursos, em
outubro de 1975, poucos dias antes do assassinato do jornalista exortava as
autoridades a tomarem providências contra o que “estava acontecendo na TV
Cultura de São Paulo”.
Marin negou culpa no cartório, mas em sua negativa em nota
oficial no site da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) citou o próprio
discurso, que é comprometedor. E ainda tem um agravante, Marin elogiava o
delegado Sergio Fleury, o agente do Estado brasileiro que cometeu uma série de
violações dos direitos humanos e acabou morrendo, possivelmente como queima de
arquivo da extrema direita civil militar, por temor de outros agentes de que em
algum momento pudesse incriminar figuras notórias.
O esquema de ocultamento de responsabildades do que foi feito
de alguma forma segue a mesma linha do que acontece em outras instâncias, seja
na área econômica ou política institucional. Ou seja, o discurso é de uma
forma, enquanto a prática é distinta e varia de acordo com as necessidades do
momento.
Na política internacional, a recente visita do Presidente
Barak Obama a Israel e poucas horas em território palestino de alguma forma
remete a esse esquema de dissimulação. Mais uma vez Obama defendeu a criação do
Estado Palestino, mas na prática não adotou nenhuma resolução que obrigue o
governo extremista de direita de Israel a mudar a forma de agir na região.
O presidente estadunidense teria força suficiente para agir
visando o enquadramento de Israel.
Tanto assim que depois de muitas recusas, o governo de Israel
pediu desculpas à Turquia, aliada dos EUA, por ter matado cidadãos turcos em
uma flotilha que tentava furar o bloqueio imposto à Faixa de Gaza.
Agora, não adianta apenas condenar verbalmente a continuidade
da construção de assentamentos em áreas palestinas ocupadas. Por que não
encostar na parede o primeiro ministro Benyamin Netanyahu (já conhecido com
primeiro sinistro), exigir a suspensão e o desmantelamento imediato das
construções? Com isso se removeria um dos entraves para a retomada das
conversações palestino israelenses e a criação finalmente do Estado palestino
em terras que não sofressem solução de continuidade.
Por essas e muitas outras, depois de tantos anos de idas e
vindas e total impunidade por parte dos governos de Israel, os tempos atuais
exigem mais do que discursos dos Estados Unidos. Se é que os ocupantes da Casa
Branca estão mesmo a fim de apoiar a criação de um Estado Palestino.
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