O Tomate é a Manobra
Diversionista
Por: Gilberto de Souza*, no Correio do Brasil
Daqui a pouco, só vai faltar alguns dos jornalões
incentivarem uma marcha pela família, tradição e… tomates. Bastou a presidenta
Dilma Rousseff desonerar, como preferem os economistas de plantão, em vez de
dizer às claras que passou a cobrar menos impostos sobre os alimentos, e os
preços desde então não pararam mais de subir. Junto com a escalada no valor do
pomodoro, seguiram junto as equipes do jornalismo de secos e molhados para
mostrar sabe-se lá exatamente o quê. Não foi, com certeza, para denunciar que
esse movimento se trata de uma especulação sem precedentes com um produto que,
dentro de mais alguns dias, estará sobrando nas bancadas das feiras e
supermercados, a preços de ocasião. Parece até que a quebra na safra de apenas
um item é capaz de constipar a economia brasileira. Balela.
Na trilha do tomate, seguiram morro acima também os preços da
cebola, do alho, do manjericão e dos demais ingredientes da pizza, enquanto
desaparece do noticiário o julgamento escandaloso que inocentou os assassinos
dos trabalhadores extrativistas no Pará. Simplesmente, não se fala mais do caso
Cachoeira e suas ligações com a Delta Engenharia. E da Privataria Tucana,
então, nem sinal de vida. Talvez com medo de levarem uns tomates para casa,
colados nos paletós bem cortados da Brioni Vanquish II. Vira e mexe, há sempre
uma manobra diversionista para enganar criança e encher as minguadas páginas da
mídia conservadora que, cada vez mais, precisa bater nas tetas do Palácio do
Planalto para receber o colostro nutritivo que supre a absoluta falta de
liquidez do mercado publicitário privado. Arrumam qualquer redemoinho, em copo
d’água, para transformá-lo no tornado que ameaça virar o Brasil de
ponta-cabeça.
Não se sabe, ao certo, quantos incautos mais conseguem
enganar com essa conversa mole feito legume em fim de feira. Alguns deles são
até divertidos, nas redes sociais. Os chargistas fazem a festa e, até aí, é
ótimo para manter o bom humor, diante de crises muito mais sérias que ameaçam a
tranquilidade dos brasileiros. A seca no Nordeste, por exemplo, é um fato que
deveria fazer chorar o mais duro dos capitalistas desalmados. Mas esses não
estão nem aí. Literalmente. Seguem com o pé no jatinho, rumo a Las Vegas ou
Paris, para passar o fim de semana. Estão se lixando para o preço do tomate, da
cenoura, do abacate ou qualquer outro vegetal que não seja aquele extraído das
árvores, pintados de verde e chamados de dólar.
A choldra Pej. Grupo de pessoas desprezíveis; ralé, escória,
súcia, segundo o mestre Caldas Aulete, entupida de dinheiro, mas sempre pronta
a mais um golpe, precisa desses fatores sazonais, que costumam surpreender o
desatento público, para mostrar a crise com a mão esquerda e, com a direita,
fazer o dinheiro do trabalhador desaparecer, num passe de ilusionismo. Um
desses mágicos que fazem a alegria dos desocupados, no Buraco do Lume, Centro
do Rio de Janeiro, não produziria um número melhor do que esse, sob os
auspícios das multinacionais, bancos transnacionais e especuladores de toda
sorte.
Com a história do tomate, porém, a tendência é de quebrarem a
cara, como aconteceu com outras armadilhas montadas na tentativa de mudar os
rumos do país, na direção do brejo, de onde geralmente a choldra costuma sair.
O brasileiro já sabe, muito bem, que se o tomate custa R$ 9 o quilo, basta
passar alguns dias com um belo aglio e olio, ou algum outro molho à altura da
imaginação dos chefs nacionais, que não deixam em nada a desejar diante dos
melhores franceses. Quando a fruta começar a madurar demais na gôndola, entra
em ação o agudo instinto de sobrevivência desse mecanismo fantasmagórico,
conhecido pela alcunha de ‘mercado’, e o molho da nona, no domingo, já estará
garantido em condições normais de temperatura e pressão. Não se espantem se,
depois dessa, inventarem uma nova crise, mais uma vez recheada de abóboras.
Bom fim de semana a todos.
*Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do
Brasil
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