Foto: Ricardo Stuckert/Instituto
Por Marcelo Odebrecht
O tratamento dado por muitos às viagens de Lula reforça a
desconfiança. Quero minhas filhas orgulhosas do que temos feito mundo afora
Minha tendência natural perante assuntos que despertam
polêmicas, como as reportagens e os artigos publicados nas últimas semanas
sobre viagens do ex-presidente Lula, é esperar a poeira baixar.
Dessa vez, resolvi
agir de modo diferente porque entendo que está em jogo o interesse do Brasil e
o legado que queremos deixar para as futuras gerações.
As matérias, em sua maioria em tom de denúncia, procuraram
associar as viagens a propósitos escusos de empresas brasileiras que as
patrocinaram, dentre elas a Odebrecht.
A Odebrecht foi, sim, uma das patrocinadoras da ida do
ex-presidente Lula a alguns dos países citados. E o fizemos de modo
transparente, por interesse legítimo e por reconhecer nele uma liderança
incontestável, capaz de influenciar a favor do Brasil e, consequentemente, das
empresas brasileiras onde quer que estejam.
O ex-presidente Lula
tem feito o que presidentes e ex-presidentes dos grandes países do hemisfério
Norte fazem, com naturalidade, quando apoiam suas empresas nacionais na busca
de maior participação no comércio internacional. Ou não seria papel de nossos
governantes vender minérios, bens e serviços que gerem riquezas para o país?
Nos últimos meses, o Brasil recebeu visitas de reis,
presidentes e ministros, e todos trouxeram em suas comitivas empresários aos
quais deram apoio na busca de negócios.
Ocorre que lá fora essas ações são tidas como corretas e até
necessárias. Trazem ganhos econômicos legítimos para as empresas e seus países
de origem e servem para a implementação da geopolítica de governos que têm
visão de futuro, como o da China, por exemplo, que através de suas empresas,
procuram, cada vez mais, ocupar espaços estratégicos além fronteiras.
Infelizmente, aqui o questionamento existe, talvez por
desinformação. Permitam-me citar alguns números. A receita da Odebrecht com exportação
e operações em outros países, no ano de 2012, foi de US$ 9,5 bilhões e nossa
carteira de contratos de engenharia e construção no exterior soma US$ 22
bilhões.
Para atender a esses compromissos, mobilizamos 2.891 empresas
brasileiras fornecedoras de bens e serviços. No conjunto, elas exportaram cerca
de 60 mil itens. Dessas, 1.955 são pequenas empresas e, no total, geraram 286
mil empregos em nosso país. É uma enorme cadeia de empresas e pessoas que se
beneficia de nossa atuação em outros países e, obviamente, se beneficia também
do apoio governamental a essa atuação. Esse apoio se dá, dentre outras formas,
com os financiamentos do BNDES para exportação que, no caso da Odebrecht, é bom
que se frise, representam 18% da receita fora do Brasil.
Estamos em 22 países, na grande maioria deles há mais de 20
anos, e exportamos para outros 70. Como ex-presidente, Lula visitou sete, e
esperamos que ele e outros governantes visitem muitos mais.
Esses números falam por si, mas decidi me manifestar também
porque não quero que disso fiquem sentimentos de covardia ou culpa para as
pessoas que trabalham em nossa organização.
Quero minhas filhas e os familiares de nossos integrantes de
cabeça erguida, orgulhosos do que nós e outras empresas brasileiras temos feito
mundo afora, construindo a Marca Brasil para além do samba e do futebol, ao
mesmo tempo em que contribuímos para a prosperidade econômica e justiça social
nos países e comunidades onde atuamos.
A inserção
internacional nos tornou um país socialmente mais evoluído e comercialmente
mais competitivo porque gerou divisas, criou empregos, permitiu trazer novas
tecnologias e estimulou a inovação.
O tratamento que está sendo dado por muitos às viagens do
ex-presidente Lula é míope e reforça entre nós uma cultura de desconfiança.
Caminhar na construção de uma sociedade de confiança, fundada
no respeito entre empresas, entre estas e o poder público e entre o poder
público e a sociedade será muito bom para todos nós.
MARCELO ODEBRECHT, 44, engenheiro civil, é presidente da
Odebrecht S.A., empresa holding da Organização Odebrecht
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