Por Bepe Damasco, em seu blog:
Bertold Brecht, no
século XIX : “Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso eu não
era negro. Em seguida, levaram alguns operários, mas não me importei com isso.
Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei
com isso, porque eu não sou miserável. Depois agarraram uns desempregados, mas
como tenho meu emprego, também não me importei. Agora estão me levando, mas já
é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.”
Pano rápido. Abril de 2013 : será que nem mesmo o provável
indiciamento de Lula pela Polícia Federal, a pedido do Ministério Público do
DF, será capaz de fazer com que a direção do PT finalmente entenda o que esteve
e o que está em jogo no processo do mensalão ? Será que vai cair a ficha dos
muitos petistas graduados que, pouco ou nada solidários com os companheiros
atingidos pelas atrocidades jurídicas do STF, achavam que era possível virar a
página e seguir em frente ?
Remando contra a correnteza, uma parte da militância do PT,
blogueiros, twiteiros,jornalistas de pena não vendida ao PIG e respeitáveis
juristas vêm desde agosto do ano passado chamando a atenção para o caráter
político e visceralmente de exceção da Ação Penal 470.
Alertamos incontáveis vezes para o real objetivo da
empreitada que envolve o monopólio midiático de direita, uma oposição
derrotada, sem projetos e sem rumos, e setores importantes do MP e do
Judiciário : interromper os 10 anos de um projeto que combate a miséria e a
pobreza, gera emprego e renda, reduz a praga da desigualdade social, aumenta a
renda do trabalhador, mantém aquecido um enorme mercado interno de massas,
reinsere o país de forma soberana na cena internacional, enfrenta o rentismo e se
nega a permitir que o povo brasileiro pague pela crise internacional gerada
pela ganância neoliberal.
Contudo, a cúpula
petista e o governo deram de ombros a essa montanha de evidências, adotando uma
espécie de republicanismo autista e, sobretudo, suicida. Suicida porque incapaz
de perceber que o alvo não era Dirceu, Genoíno, João Paulo e Delúbio, mas sim o
PT, sua história e tudo que ele representa. Suicida por teimar em se manter de
olhos turvados para o desdobramento óbvio do linchamento público dos réus
petistas : os próximos a serem abatidos pela artilharia golpista são Lula,
Dilma e o projeto democrático-popular.
Duvido que o bombardeio midiático contra os
"mensaleiros" e o PT surtisse tanto efeito na sociedade se o
ex-presidente Lula, na condição de presidente mais popular e amado da história
do país, tivesse se manifestado sobre o circo midiático montado e a farsa do
julgamento. Mas preferiu se calar. Duvido que os comentários das pessoas nos
botequins da vida fossem tão desfavoráveis aos réus se a presidenta Dilma, do
alto da enorme aprovação ao seu governo, tivesse feito apenas alguns
comentários sobre as seguidas violações do Estado Democrático de Direito
levadas a cabo pelo Supremo. Mas também optou pelo silêncio. Tenho a convicção
também de que se o PT, com toda a sua capilaridade, influência e prestígio na
sociedade, tivesse subido ao ringue para o confronto, honrando sua tradição de
lutas, a história seria outra,
Ah, mas um ex-presidente da República não pode tecer
comentários críticos à atuação do poder Judiciário, dirão muitos. Ah, mas em
respeito à independência e harmonia entre os poderes, a chefe do Executivo não
pode fazer restrições a decisões da Suprema Corte, dirão outros tantos. Pois
lembro que essa mesma dose cavalar na veia de republicanismo levou à nomeação
de adversários empedernidos, e de paupérrimo saber jurídico, para o STF e para
a Procuradoria Geral da República. Em nenhuma democracia do mundo, nas quais os
juízes da Suprema Corte são indicados pelo presidente da República, como nos
EUA, acontece a aberração da nomeação de algozes. No Brasil, deu no que deu.
Como militante e jornalista, tive a oportunidade de
participar da organização e da divulgação de debates, palestras e protestos
contra os rumos tomados pelo julgamento da Ação Penal 470. Em todos esses
eventos, percebia-se um fosso entre a indignação das bases e da militância do
PT e a postura acomodada, burocratizada e acovardada da cúpula dirigente. Não
faltaram, inclusive, apelos ao comedimento (uns mais velados, outros mais
explícitos), coisas do tipo : "vocês sabem o que estão fazendo?"
A vida está mostrando quem tem razão.
Postado por Miro
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