domingo, 19 de junho de 2011

A esquerda e a República

Por Juarez Guimarães

Há quase certamente apenas coincidência no fato de que a denúncia feita por um jornal de oposição envolvendo o ex-ministro da Casa Civil e articulador político do governo Dilma Rousseff ter acontecido às vésperas da primeira grande prova de votação da bancada governista na Câmara Federal, a votação do Código Florestal.
Será possivelmente coincidência também o fato desta votação ter exposto a mais forte área de comunicação entre a bancada peemedebista e a bancada da oposição, aquela que organiza os interesses do agronegócio, a bancada ruralista. Mero acaso – “são crimes comuns”, chegou a afirmar a líder da bancada ruralista, Katia Abreu – também a seqüência de assassinatos de lideranças agrárias ecológicas após a vitória parlamentar dos desmatadores. Última coincidência também o fato de o PTB, chefiado pelo indefectível aliado de Fernando Henrique Cardoso, Roberto Jefferson , ter lançado simultaneamente na TV brasileira uma campanha contra o financiamento público de campanha sob o lema “Não dê dinheiros aos políticos corruptos”.

O que importa aqui não é a sedução de uma análise conspirativa da política – mesmo que se suponha ser verdade que há uma inteligência estratégica legítima a guiar os passos do centro político da oposição – mas a lógica comum que ata estes quatro fatos concentrados na mesma cena: o enfraquecimento ou desmoralização do princípio do público desata a sanha e a fúria incontrolada dos interesses privatistas e razões liberais. É esta relação entre a esquerda brasileira - suas identidades e seus programas – e os valores republicanos que é o grande enigma a ser decifrado.

Por que, depois da grande crise de 2005, poucos meses após a queda de outra ex-ministra da Casas Civil, no momento mais decisivo da campanha de Dilma Rousseff à Presidência, um episódio assim pateticamente tão indefensável segundo princípios da mais básica moralidade pública vem ferir justamente aquele nomeado para ser o articulador político do governo? Qual é mesmo a razão desta desinteligência, deste mal-entendido, desta consciência política às avessas, enfim, valha-nos o poeta, deste tão claro enigma?

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