quarta-feira, 27 de julho de 2011

A corrupção e seus atores


Por Newton Bignotto* - Carta Capital

Em pesquisa realizada pelo CRIP (Centro de Referência do Interesse público) nos últimos anos nos deparamos com um dado preocupante. Quase a totalidade – cerca de 97%-  dos brasileiros consideram a corrupção um fenômeno grave ou muito grave de nossa vida pública. Esses dados mostram sem equívoco que a população se inquieta com as consequências dos fatos que com frequência povoam os noticiários e que mostram agentes públicos sendo acusados de receber dinheiro ou outros benefícios em troca de favores prestados a terceiros.

Parte dos casos de corrupção não está ligada a delitos facilmente percebidos como tal, mas a complexos mecanismos, escreve o professor Newton Bignotto. A percepção de que a corrupção faz parte de nosso cotidiano e de que ela afeta particularmente os agentes do Estado parece indicar que existe em nosso país consciência dos males decorrentes  das práticas corruptas e um repúdio correspondente das mesmas. Com efeito nossas pesquisas mostram que os poderes públicos, o Legislativo em primeiro lugar, são considerados o verdadeiro lar da corrupção. No polo contrário, quanto mais nos aproximamos da família e dos amigos mais acreditamos que estamos longe de seus efeitos, mesmo quando confrontados com a lógica dos pequenos favores, que costumam acompanhar a prática clientelista tão comum em nossa vida pública.

O que torna esses dados de percepção da corrupção mais interessantes é que eles parecem convergir para o mesmo ponto de uma visão bastante influente entre os teóricos políticos e que foi expressa no conhecido Dicionário de Política organizado por Norberto Bobbio. Nele aprendemos que a corrupção designa “o fenômeno pelo qual um funcionário público é levado a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favorecendo interesses particulares em troca de recompensas”. Em outro lugar do verbete o autor afirma: “A Corrupção é considerada em termos de legalidade e ilegalidade e não de moralidade e imoralidade”.

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