quarta-feira, 27 de julho de 2011

O cinismo cultural brasileiro


Não há nada pior para uma democracia do que o cinismo. Aquele cinismo coletivo com o qual as pessoas fingem que não sabem de alguma coisa apesar de todos estarem carecas de saber. Bom exemplo desse comportamento reside na teoria da “democracia racial” brasileira, segundo a qual os brancos ricos do Sul-Sudeste do país proclamam: “Não somos racistas”. Um comportamento que, aliás, é responsável pela perpetuação da inferioridade étnica no Brasil.
Até há menos de uma década, tal idéia era praticamente incontestável. Apesar de todos saberem que as prisões estão abarrotadas de negros e mestiços em maioria totalmente incompatível com a proporcionalidade estatístico-étnica deste povo, apesar de o perfil majoritário do brasileiro que sofre morte violenta ser o do jovem pobre descendente de negros, apesar de todos saberem que afro-descendentes ganham menos e são reiteradamente preteridos no mercado de trabalho, apesar de a propaganda e até a teledramaturgia brasileiras lembrarem, do ponto de vista de modelos e atores, as de países nórdicos, ao menos na mídia a teoria do racismo cordial brasileiro sempre predominou.
Quer ver hipocrisia? Quantos entre aqueles que professam os mesmos dogmas ideológicos que o extremista de direita que acaba de praticar genocídio na Noruega e que acalenta repulsa à miscigenação ou a direitos para homossexuais não estão se fazendo de “perplexos”? E quantos sabem que as idéias daquela besta-fera são repetidas à exaustão neste país pelos “homens de bem” brancos e ricos do Sul-Sudeste, sobretudo?

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