sábado, 11 de fevereiro de 2012

Delfim dá uma surra nos neolibelês (*).

E o Brasil melhora !

O Conversa Afiada reproduz trechos da excelente entrevista de Claudia Safatle com Antônio Delfim Netto, na seção “À mesa com o Valor”, na pág. 10 do caderno “Sexta-feria e fim de semana”

Pela primeira vez, Delfim trata de alguns tópicos de sua vida pessoal.

E revela detalhes de sua relação com Mario Henrique Simonsen – que estava longe de ser tão cordial quanto ele descreve.

(Delfim disse a este ansioso blogueiro, que Simonsen fugiu do Ministerio da Fazenda, no Governo Figueiredo, quando viu que o Brasil ia quebrar. Como quebrou, nas mãos do Delfim.)

Assim como a opinião dele sobre Roberto Campos é muito menos generosa do que a entrevista retrata.

(Delfim deu a entender a este ansioso que não considerava o Campos um economista. Ele deveria ser, isso sim, segundo Delfim, botânico. Porque tinha uma vocação infatigável para catalogar espécies.)

O interessante, porém, é como Delfim desmonta de forma impiedosa alguns mitos ou dogmas da Teologia do neolibelismo (*), tal qual divulgada no Brasil por sua mais notável evangelista, a Urubóloga.

Vamos ao Delfim, que é sempre divertido (atributo que os jenios do neolibelismo (*) não tem.)

(…) “Me dá vontade de dar risada quando alguém diz: ‘Mas vejam! É um absurdo esse negócio de educação e saúde gratuitos!’. Você até pode discutir se quer cobrar mais de um sujeito ou de outro. Mas a antropologia ensina: o macaco virou homem pelo conhecimento; e o homem só ganha a humanidade se tiver saúde”.

(…) “O capitalismo não foi inventado por ninguém. O homem foi procurando formas de produzir sua sobrevivência da maneira mais econômica possível. O capitalismo não tem fim. De vez em quando ele quebra, se recupera e sai da crise diferente de como entrou. O que se chama de capitalismo, portanto, nunca é a mesma coisa.” E conclui: “Cada vez que um cérebro peregrino inventa uma nova forma de organização, termina em porcaria”.

(...) A crise europeia entra na conversa.
“Ah, essa crise, na minha opinião, vai confirmar a nossa teoria. Ou a Europa se salva como uma federação ou vai voltar para a barbárie.” Na hipótese de destruição do euro, o futuro da Europa é sombrio. Se isso ocorrer, o que não acredita, “esses países todos daqui a 20 anos vão fazer uma guerra”.
Haveria o risco de a Europa estar caminhando para uma fase pré-Tratado de Versalhes?

“Se você permitir o desastre, tá tudo perdido! Não posso pedir para o grego: descoma o que você comeu. Não tem como! E você precisa do processo democrático para aperfeiçoar esse sistema. Ele não será aperfeiçoado na marra, a não ser que apareça um Napoleão, ocupe todos os 17 Estados e ponha ordem na casa. Aí, na Itália também vai aparecer um Mussolinizinho….”

(…) A concepção do Plano Real, que finalmente conseguiu derrubar a inflação, era brilhante, Delfim reconheceu por diversas vezes. Mas quando o país celebrava a existência de uma moeda que valia mais que o dólar, ele chamava a atenção para a crise de balanço de pagamentos que a sobrevalorização do real iria gerar. Enquanto Fernando Henrique Cardoso tomava posse como presidente da República, Delfim insistia que aquela política terminaria de forma melancólica.

(E terminou. Ao final dos oito anos de FHC, nem o cadidato dele à sucessão, Padim Pade Cerra, o defendeu. – PHA)

(…) “Não existe mercado sem Estado e não existe desenvolvimento sem mercado.” O mercado, é claro, tem seus problemas e excessos. Mas o Estado também os tem. O melhor, segundo ele, é caminhar numa linha intermediária, e difícil: “Nem considerar a teoria econômica como uma religião, da qual o economista é portador, divulgador e defensor; nem achar que o Estado é onisciente e, portanto, não pode ser nem onipresente nem onipotente”.

(…) A verdadeira revolução ocorreria lá pelos anos 1949, 1950, com a chegada às livrarias do livro “Introdução à Análise Economia”, de Paul Samuelson.
“O Samuelson fez a maior sacanagem com os economistas. A vida inteira ele promulgou que a economia era uma ciência. Antes de morrer, deixou um recado: ‘A economia nunca foi uma ciência e nunca será’. E morreu!”

(…) “Tenho uma grande confiança na dialética entre a urna e o mercado. Cada vez que a urna exagera nos benefícios, o mercado vem e pune. E cada vez que o mercado exagera, vem a urna e pune.”

(…) Num momento em que a crise, tanto nos Estados Unidos quanto na zona do Euro, leva pensadores e movimentos sociais a questionar o regime capitalista e a prever seu fim, o ex-ministro não crê em alternativas.
“O capitalismo não foi inventado por ninguém. O homem foi procurando formas de produzir sua sobrevivência da maneira mais econômica possível. O capitalismo não tem fim. De vez em quando ele quebra, se recupera e sai da crise diferente de como entrou. O que se chama de capitalismo, portanto, nunca é a mesma coisa.” E conclui: “Cada vez que um cérebro peregrino inventa uma nova forma de organização, termina em porcaria”.

(…) De tudo que viveu até agora, para Delfim foi a Constituinte de 1988 a responsável pela grande mudança que deu início ao Brasil de hoje.
“Com todos os seus problemas e suas utopias, a Constituição de 88, na verdade, foi construindo instituições que estão cada vez mais sólidas. Você tem um Executivo funcionando, tem um Legislativo funcionando e tem um Judiciário funcionando. Tem, ainda, uma coisa que não tem em nenhum outro país emergente, que é um Supremo Tribunal Federal independente, que defende as liberdades individuais e que frequentemente é criticado por tentar fazer justiça.”
A Constituição, descreve ele, que foi deputado constituinte, tem três vetores: “Construir uma sociedade republicana em que todos, inclusive o poder incumbente, estejam sujeitos à mesma lei; construir uma sociedade democrática, em que estamos avançando numa velocidade espantosa; e uma sociedade razoavelmente justa”.
“O capitalismo é uma corrida feroz, uma competição. Para a competição ser justa, a justiça se faz na saída. Então, todo mundo tem que sair daqui com os dois pés e uma cabeça, tá certo?”
Independentemente de o sujeito ter nascido numa suíte presidencial do Hotel Waldorf Astória ou debaixo de uma ponte em Brasília, a carta lhe dá acesso à saúde e à educação. O resultado vai depender da sorte, do DNA e de uma porção de outras coisas. É isso que está implícito na Constituição, diz.
“Aparece um sujeito como o Lula e, intuitivamente, descobre que é isso mesmo que o povo quis por lá na Constituição”, completa.
“Quantos votos tem o economista que diz que isso é besteira? Quantos? A mulher dele, provavelmente, não vota nele. Quem decidiu isso tem 50 milhões de votos. É um respeito à forma de organização. O que me parece é isto: Nós estamos nos aperfeiçoando.”

- Ministro, o que o diverte hoje?
Hoje eu me divirto vendo o Brasil melhorar.

(Apesar da Urubologia. PHA)

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